por Cesar Teixeira
Na Inquisição da História
testamento é uma arte
pro forno da Aeronáutica
criado por Bonaparte.
Eu também serei queimado,
ofendido e esquartejado
na porta do Laborarte.
Laborarte que este ano
tem a idade de Jesus,
porém, cheio de pecados,
mereceria uma cruz.
Trinta e três anos perdidos,
um bordel no Céu florido
de bêbados urubus.
Ficam muitas carapuças
para a escória obsoleta
que busca o meu tropeço
em sua alma abjeta,
que a mediocridade empalha
dando pernas aos canalhas
nas calçadas dos poetas.
Para o presidente Bush,
esse vampiro de fraque
que defende a eutanásia
e bebe o sangue do Iraque,
deixo em seu peito cravado
o voto dos trucidados
nessa guerra de almanaque.
Não, aos Estados Unidos,
esse país é escroto:
fala que no Sul é peido
e que no Norte é arroto.
Vende armas e as discrimina,
mata, polui, não assina
Protocolo de Kyoto.
Ao repórter Larry Rohter,
um fantoche presepeiro
que diz que o Brasil é gordo
e que Lula é cachaceiro,
deixo um visto permanente
pra malhar seu Presidente,
que é outro fuxiqueiro.
Para o Fernando Henrique
e seu ato desonesto
contra a América Latina
ficará o meu protesto,
bastam Kissinger e a CIA
para a Democracia
condenar seu manifesto.
Lá na Zona Industrial
vou botar uma porteira,
pra não fazerem da Ilha
um Cabaré de terceira.
Patativa, sem babado,
trocou logo o Pau Deitado
pela Ponta da Madeira.
Se a chinesa Baosteel
a Lei do Solo mudar
libero uma encruzilhada
para o Bulcão despachar.
No Itaqui vou fazer bico
vendendo no meu penico
sushi com arroz-de-cuxá.
Deixarei as minhas lágrimas
no Rio Itapecuru,
que o Pólo Siderúrgico
vai beber feito urubu
no copo do Italuís,
para ver o infeliz
se acabar no leito nu.
Lá no Rio dos Cachorros
vou rezar um Pai Nosso.
A Vale do Rio Doce,
no seu navio de ossos,
levará para o Espaço
um bumba-meu-boi de aço
pra dançar sobre os destroços.
Quase 15 mil pessoas
sei que vão pedir esmola
lá na Vila Sarney Filho
ou lá na Vila Kiola.
Suicídio eu já tentei
da ponte José Sarney,
roubaram minha viola.
Vou deixar o meu pandeiro
como uma alternativa
pra quando Sarney voltar
à TV Educativa,
pois, enquanto ele mentia,
a mão direita tremia
no programa Roda Viva.
Pras almas da Liberdade
vou acender 20 velas,
foi o povo brasileiro
quem deu o sangue por ela.
Tancredo não teve cura
e o filho da Ditadura
se enfiou pela janela.
O Convento das Mercês
quero devolver à plebe
para ver no Big Brother
ou no Programa da Hebe
o caixão da Oligarquia
sobre o mármore da pia
onde o Demônio bebe.
Mandarei de São Luís,
capital do rendez-vous,
placa de aço pra China
e pra Coréia do Sul,
camarão para o Timor,
banana pro Imperador
da ilha de Curupu.
Vou deixar uma cartilha
pros feitores na nação
contra o Trabalho Escravo
do homem que, sem ter chão,
já nasce escravizado
e com fome é exportado
para uma outra prisão.
Levo contas do Ricardo
ao TCE com urgência,
pois a Procuradoria
hoje pede transparência,
mas, procura o que não vê,
tem fantasma que não crê
no avanço da Ciência.
E na Base de Alcântara,
onde morador não passa,
deixo a nave do passado
que subiu pela fumaça.
Tecnológico muro,
a Bastilha do futuro
é cercada de desgraça.
Deixo um “agronegócio”
que devasta a esperança
ao Ministério da Fome.
A soja só enche a pança
dos porcos do Ocidente,
mas no Cerrado indigente
esvazia as crianças.
No cofre do Banco Santos
a muamba que eu guardei
era dos aposentados
e da Assistência, eu sei,
mas por causa da herdeira,
compadre Cid Ferreira
me ligou e eu saquei.
Jackson e Zé Reinaldo,
ex-amiguinhos da Branca,
agora juntam os trapos
pra alternarem a pelanca
do poder no Maranhão
– quarenta anos se vão
e a mula ainda é manca.
Ao guri pela Polícia
no formigueiro amarrado
deixo a corda da Vitória
para que seja laçado
o ex-prefeito bufalino,
da natureza assassino
protegido pelo Estado.
Deixo pro Governador
um jatinho alugado
pra festejar com a Grande
o IDH do Estado
Aniversário em Cancun
é o segredo do jejum
de um povo condenado.
Esta herança de farinha
do mesmo saco é modesta
pra Roseana e Alexandra
que brigam só pela festa,
pois a mamata não muda
duas meninas buchudas
com um brilhante na testa.
Deixo ao Jornal Pequeno
essa farofa maluca
pra tirar gosto de pinga
e esfriar logo a cuca.
É melhor não puxar saco,
a mão do velho macaco
tá dentro dessa cumbuca.
Eu falei pra esse Judas
que não ama o chão natal
dos 30 milhões de dólares,
mas na Cena Federal
o boicote é o seu hobby
para combater o pobre,
não a pobreza rural.
Deixo verbas desviadas
do projeto Salangô
para irrigar o Inferno,
onde faz muito calor.
A Lunus foi lá pra baixo,
já desviou um riacho
com bomba d’água e trator.
Agora posso plantar
e colher o meu conforto,
exportando breu e soja,
ferro e cruzes pelo Porto.
Se esperasse a ordinária
dessa tal Reforma Agrária
eu já estaria morto.
Lula riscou Severino,
mandou José pro sembal,
porém, vou botar a Branca
num Ministério legal,
nem que seja o do Barraco
pra chutar pau do sovaco
de aleijado em Carnaval.
Disse ao Fantasma da Ópera
que devolva enquanto é cedo
a herança que roubou
do “Seu” Arthur Azevedo.
Com Lei não se faz beicinho,
porque senão o padrinho
não lhe dá outro brinquedo.
Para o Ministério Público
deixo empresas de valor:
Petra, Diamantina, Trasco,
Sercen, Beton e Primor.
L.J. é Trans-Parente
e a Ducol também tem gente
de um esperto Senador.
Jota-Jota me lembrou
nessa lista fantasmeira
para acrescentar no Sinfra
uma estrada pro Teixeira.
Guerreiro ainda habilita
Machado, Izidro, Mesquita,
Dominice e Bandeira.
Para Gasparzinho e Pluft
deixo a estrada rupestre
de Arame a Paulo Ramos,
onde a força extraterrestre
da EIT e Planor
fez milhões virarem pó
naquele Golpe de Mestre.
O Governo Federal
vai herdar um souvenir
que o Severino trouxe
do sertão do Cariri.
É um tal supositório
que meu compadre Gregório
chama de abacaxi.
Pedirei ao Severino
que aumente o salário
do trabalhador que arrasta
a sua cruz de otário.
Nessa Câmara de Nero
come o alto e o baixo clero
o pão do nosso Calvário.
A Jorge Sudam Hussein
deixo foro especial:
por causa da Usimar,
lá no Juízo Final
o seu couro utilitário
vai pro Pólo de Rosário
e bloco de Carnaval.
Para o Raimundo Louro,
ex-prefeito de Pedreiras,
deixo a minha Bolsa-Escola
e a fome prisioneira
para mostrar no Fantástico
em um saquinho de plástico
feito uma caranguejeira.
A foto de um Carcará
com sua cara-de-pau
vou colocar no projeto
contra fraude eleitoral.
Se eu fosse João Alberto,
com Zé Vieira por perto,
não votava em Bacabal.
Pro Governo Zé Reinaldo
não continuar aflito,
eu vou deixar uma ponte
toda feita de palito
para atravessar inseto
sem cair feito concreto
no Estreito dos Mosquitos.
Deixo aos bravos jornalistas
que o Sistema embalsama
uma procissão de asas
pra salvarem-se das chamas,
que a palavra é um abismo
cavado pelo cinismo
em seu Mirante de lama.
A velha Turma do Quinto
nenhum segredo nos trouxe:
seu enredo para o ano
é a Vale do Rio Doce.
“Do Itaqui pra todo mundo:
Vale festejar”, no fundo,
é puxar saco, e danou-se!
Preparei para a Favela
um kit contra acidente.
Atrás do seu trio elétrico
eu vou beber uma quente
pra não ver, desenganado,
o samba eletrocutado
por um júri impertinente.
A herança do Maurício
lá do “Boguedá” Café
são minhas luvas de boxe
pra ele fazer cafuné
em um músico golpista,
papagaio de artista,
que não respeita mulher.
Entrego a Ópera Night
uma produção vendida
para Maria Vitória,
que será muito aplaudida
de fralda e mamadeira,
“arrasando” na primeira
apresentação da vida.
A Mirante foi vaiada
porque meteu o seu bico
naquele show arriscado
de Zeca, Cesar e Chico.
Ópera, vendo o motim,
se escondeu no camarim
para não pagar o mico.
Fica para Márcio Jerry
o meu velho celular.
De Imperatriz a Brasília,
todos vão participar
da sua Rede de Intrigas:
toda vez que ele liga,
põe um besta pra falar.
Pra Joãozinho Ribeiro,
meu parceiro de água benta,
eu vou deixar a cachaça
“Recordação de 50”.
Cada dose é um comício
quando faz tributo ao vício
e novo projeto inventa.
Vou devolver os troféus
do Paraguai importado
pra Rádio Universidade,
já que vou ser enforcado.
Eu sei que Rose Ferreira
quis ver a minha caveira,
porque cheguei atrasado.
Deixo para Chico César
um jurará com ervilha
e o champanhe da humildade
que é pra tomar na bilha.
Entre pedras de responsa,
foi montado nessa onça
que Zeca voltou pra ilha.
Falei ao Príncipe Charles
que não posso lhe deixar
a calcinha de Faustina
se o IPHAN não liberar.
Por que é que a realeza
não fica só com a Duquesa
que a Cornualha lhe dá?
O castelo lá da FUNC
mais parece o Chantilly,
para receber dinheiro
ninguém mais pode subir.
Moisés Nobre foi barrado
por quatrocentos soldados
e nem Cicarelli eu vi.
Por isso deixo a Veloso
o cachê do ano passado
das brincadeiras juninas
nas Eleições divulgado.
Prêmio só quem recebeu
foi o prefeito Tadeu
pela Gazeta ofertado.
A pomba da paz eu deixo
para a dor-de-cotovelo
do Prêmio Carnavalesco,
que já virou pesadelo.
Nesse Baile do Cabide,
Moraes cuspiu no Euclides,
que puxou o seu cabelo.
Em Brasília, Seminário
de Cultura é agonia,
um turista se perdeu
na mão de João “Desguia”,
mas Michol botou no trilho
a prole Vieira Filho
em seu trem da alegria.
Mandei um ovo pintado
numa cesta de palhinha,
mas Escrete recusou
dizendo: “Não sou galinha!”
Insistir não adianta,
durante a Semana Santa
só quer ser a Coelhinha.
Deixo pra Seu Adalberto
uma vela pra queimar,
expulsou o Zé Maria
Quinta-Feira do seu bar,
porém, hoje ele confessa:
a Festa foi só promessa
que terminou de pagar.
Eu vi no show das mulheres,
enquanto a chuva caía,
que a cantora Patativa
não comemorou seu dia
entre modelos, travessa,
com a sunga na cabeça
pra também cantar Maria.
Pelos dez anos de glória
no seu JP Turismo,
vou deixar pra Gutemberg
o troféu do heroísmo,
Sacrificado entre festas,
viagens, louras, serestas,
é tão árduo o jornalismo!
Vou pedir a Leonardo,
Bogéa e Cecílio Sá
pra convencerem São Pedro
a me permitir entrar
disfarçado de Noel
num barzinho lá do Céu,
onde Rui vai me cobrar.
Para o Léo eu deixo um rádio
Voz de Ouro ABC
e um caixão de defunto
cheinho de LP,
já que morto é só motivo
para proibir o vivo
de cantar para beber.
Fabriquei para a Cemar
lamparinas do futuro
pra iluminar o Programa
que só tem deixado furo.
A gestão é um engodo,
desvia Luz para Todos
e deixa o pobre no escuro.
Para as crianças indígenas
no Céu guarani-kaiowá
deixo o coração de pano
para que possam enxugar
a chuva que dói sem data,
sem teto, terra ou mata
como lágrimas no ar.
Em Mato Grosso do Sul
morrem de desnutrição
depois que o madeireiro,
o gado, a soja e o ladrão
invadiram sua casa.
Hoje a Funai e a Funasa
levam cestinhas de pão.
Boto o dedo na ferida
e a Justiça tem que olhar,
porque João Leocádio
é a prova que um crime há
na sua própria impunidade,
então, que surja a verdade
– tem Buriti pra cobrar.
Se Brasil é um cinema
que vive de bang-bang,
deixo estes versos de luto
pra Irmã Dorothy Stang.
Nesse governo de Lula
a Reforma Agrária é nula
e também vive de sangue.
– FIM –
