com atraso, reproduzo aqui o publicado terça-feira no diário da manhã e quarta no colunão. no primeiro, a estréia da prometida “resenha fora de época“; no segundo, uma nota que escrevi para o senadinho [que aguarda a colaboração dos leitores deste blogue], a prosa leve de andré resende e a agenda cultural. na primeira página do semanário, walter rodrigues dá um triste aviso, a seguir transcrito:
atenção, assinantes e demais leitores
vamos ter que parar. não ainda de uma vez por todas, mas apenas por uma ou, no máximo, duas semanas. tempo necessário para repensar o projeto, melhorar a administração, inclusive a distribuição, redefinir contratos, reduzir custos, pôr os pés no chão e dar uma trégua à saúde. é absolutamente indispensável. como está – quase uma “escola de samba do eu-sozinho” – acaba virando um suplício, uma coisa que maltrata e diminui a vida.
desculpem a fraqueza momentânea. muito breve estaremos de volta. palavra. (wr)
1.
É um Braseiro, mora!
do Diário da Manhã de 6 de junho
A imprensa funciona (quase) sempre no calor das coisas. É o furo de reportagem, é a notícia quente. Na contramão disso, Diário Cultural fará, de vez em quando, resenhas fora de época, abordando discos e livros que não foram lançados recentemente. Na estréia um “faixa a faixa” de “Braseiro”, de Roberta Sá.
Não acredito em ídolos fabricados. O único lugar em que sucesso vem antes de trabalho é no dicionário, maldito clichê, talvez desnecessário, maldita rima. Roberta Sá participou do Fama, da TV Globo e não venceu sua edição. Sorte a dela, sorte a nossa. Acercou-se de gente boa a boa moça e pariu “Braseiro” (MP,B, Universal, 2004, preço sob consulta em http://www.robertasa.com.br).
A comparação com Marisa Monte talvez seja inevitável, embora apressada: ambas são bonitas, cantam bem e não são produtos descartáveis de uma mídia eternamente ávida por novidades. Mas já na faixa de abertura – “Eu Sambo Mesmo”, de Janet de Almeida, já gravada pelo “gênio” João Gilberto – Roberta atesta: “há quem sambe por ver os outros sambar / mas eu não sambo para copiar ninguém / eu sambo mesmo com vontade de sambar”. Proposital ou não, está dado o recado.
“Pelas Tabelas”, de Chico Buarque é a segunda. Samba acelerado, animado, com percussão de Marcos Suzano. Samba esquema novo, para citar o clássico de Ben. “Tão vendendo ingresso / pra ver nego morrer no osso” são versos certeiros de “No Braseiro”, da lavra de Pedro Luís, um dos mais importantes compositores brasileiros surgidos ao fim do século passado, antenado com a urbanidade, a batucada de sua Parede, eles que participam da faixa.
Quem aparece na quarta faixa é a melancolia samba (a)lento de Marcelo Camelo (Los Hermanos) em “Casa Pré-Fabricada”. Pedro Amorim e Teresa Cristina – outra sambista muito interessante da geração de Roberta – assinam “Lavoura”, cantada com a participação especial de Ney Matogrosso, que em 2004 – ano de lançamento deste “Braseiro” – gravou, com Pedro Luís e A Parede, o ótimo “Vagabundo”.
Em “Ah, Se Eu Vou”, o samba nordestino de Lula Queiroga, com pitadas de coco, no ritmo e na letra: “Todo santo dia / ela ia / ela ia lá me chamar / prá dançar coco / a beirada da saia querendo rodar”. Aqui, novamente, a batucada da Parede de Pedro Luís, parceiro de Queiroga [não nessa faixa, a parceria]. Em “A Vizinha do Lado”, a beleza do samba de Dorival Caymmi, algo distante das pragas que passaram a “representar” a música baiana em épocas de tchans e similares.
Só duas músicas de “Braseiro” se distanciam do samba. Uma é “Valsa da Solidão”, de Paulinho da Viola e Hermínio Bello de Carvalho. É a tristeza de “toda essa vontade de morrer de amor”. É a beleza disso. Com participação especial do MPB-4, “Cicatrizes”, de Miltinho e Paulo César Pinheiro, é outro samba prova de tristez’alegria: “acho que estou pedindo uma coisa normal / felicidade é um bem natural”.
A outra longe do samba predominante fecha o disco. “Olho de Boi”, de Rodrigo Maranhão – coincidência? – que acaba parecendo, embora não seja, uma “reza” em causa própria: “olho de ajudar boi / rezo pelo popular”. É bem brasileiro o “Braseiro” de Roberta Sá. Ela, de já, uma cantora popular.
2.
O nome da ponte
nota no Senadinho, seção de “idéias & toques sem muita formalidade”, no Colunão de 5 de junho, que só circulou hoje.
A coluna de PH, n’O Estado do Maranhão de quinta-feira 1/6, trata do batismo da nova ponte sobre o Estreito dos Mosquitos. A “disputa” estaria entre Ivar Saldanha e Maria Aragão, o primeiro indicado pelo deputado Pedro Fernandes. PH não diz quem sugeriu a “médica comunista”, mas informa que “a maioria das pessoas consultadas” (onde?) optou por Ivar. Consultadas onde?
3.
Fidelidade a três – ou mais
Tristeza e beleza: carne e osso da literatura de André Resende, que em obra de leitura rápida, toma “o destino exato dos passos aleatórios”, como somos advertidos na orelha do livro.
“Costumam acontecer coisas surpreendentes na sua vida que jamais passaram por suas idéias ou mesmo imaginação? Alô. Acorda. Isso é a vida”. A advertência, mais que verdadeira, está em “Amor Vário” (Editora Altana, 2005, 95 páginas, preço sob consulta em http://www.altanalivros.com.br), de André Resende.
A cor da capa anuncia o nome – inventado, não apenas por tratar-se de obra de ficção – de uma das protagonistas: Violeta, mulher que se diverte com homens vários na casa que herdou do marido e que faz questão que não tenha trinco na porta de entrada; no acordo que faz com aquele que será seu hóspede mais constante, esta é uma das exigências. A outra é que ele nunca se envolva com Rosa, a outra – flor de cheiro estranho, perceberá o leitor – personagem que compõe o trio central da história. Estranhos que dividem o mesmo teto, cada qual com suas reservas.
Num recurso estilístico, o autor não faz uso de travessões para anunciar as falas dos personagens; sem uma divisão anunciada, integram-se ao texto os diálogos, aparentemente sem sentido. Mas só aparentemente, como é, por vezes, a própria vida.
Triste e bonito, como a vida, às vezes, o livro é ligeiro. Proposital, talvez: para que não se perca tempo com literatura e se viva a vida, plenamente, como celebra a pena de André Resende.
Serviço
O quê: “Amor Vário”.
Quem: André Resende, que pela mesma editora lançou “O Mundo Enquadrado”, em 2004.
Onde: Editora Altana (http://www.altanalivros.com.br).
Quanto: sob consulta no site da editora.
4.
Agenda Cultural
(como nada do “agendado” “caducou” ainda, reproduzo aqui).
Teatro
Ballet Roma – O espetáculo, da Escola de Dança Adágio, será apresentado dias 17 e 18 de junho, às 19h30min, no Teatro Arthur Azevedo. Com roteiro de Tereza Medeiros e direção geral de Ana Cristina Dourado, mais de duzentos bailarinos das mais diversas faixas etárias sobem ao palco para contar a história de Roma. Ingressos à venda na bilheteria do Teatro, com preços entre R$ 10,00 (balcão e galeria) e R$ 15,00 (platéia, frisa e camarote). Maiores informações pelo telefone (98) 3235-8578.
Imprensa
Revista – Prima distante do Bar do Léo, a Mercearia São Pedro, na Vila Madalena, em São Paulo, lança, no próximo dia 7 de junho, às 20h, a primeira edição de sua revista. Com organização de Joca Reiners Terron, a publicação reúne textos de nomes como Xico Sá [link ao lado], André Sant’anna e João Cabral de Melo Neto, além do próprio organizador, entre outros. Para adquirir: http://www.merceariasaopedro.com.br
Livro
Paisagem feita de tempo – A obra do poeta e compositor Joãozinho Ribeiro já pode ser encontrada em diversos pontos da Ilha: Banca do Dacio (estacionamento, Praia Grande), Banca do “seu” João (Praça João Lisboa), sebo Papiros do Egito (Rua da Cruz, 150, Centro), Chico Discos (Fonte do Ribeirão) entre outros. O livro, recomendado por nomes como Zeca Baleiro, Hamilton Faria e Celso Borges, custa apenas R$ 15,00.
Esta Agenda Cultural é fechada quarta-feira. Notas para o e-mail zemaribeiro@gmail.com