Single “Agô” antecipa “Karawara”, novo disco de Rommel

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Faixa chega às plataformas de streaming 3 de setembro; álbum sai em novembro

O cantor e compositor Rommel. Foto: divulgação

No próximo dia 3 de setembro (sexta-feira), chega a todas as plataformas de streaming a música “Agô”, primeiro single (pré-save aqui) de “Karawara”, álbum que o cantor e compositor Rommel lança em novembro, pela gravadora Biscoito Fino. O videoclipe de “Agô” será lançado no dia seguinte (4 de setembro, sábado) e no dia 5 de setembro será disponibilizado o mini-documentário “Agô – Até o sopro derradeiro”.

Composta por Rommel, em parceria com Enrico Lima e Orlando Macedo, “Agô” é um ijexá, ritmo pelo qual o artista sempre foi apaixonado. A música passeia pela cultura afro-brasileira, em diálogo com a sonoridade dos terreiros das religiões de matriz africana.

“Pedindo a paz de Oxalá/ dizendo agô aos Orixás/ Agô/ Levando flores para ofertar/ e as pegadas vão pro mar/ Amor”, diz um trecho da letra, que também reforça a importância da arte como uma forma de resistência, o que se manifesta em outras faixas de “Karawara”.

O videoclipe de “Agô” foi rodado no Rio de Janeiro, com a presença de Aline Valentim, professora de danças afro-brasileiras, e é dedicado ao centenário de Mercedes Baptista, bailarina e coreógrafa brasileira, pioneira no combate ao racismo.

“Karawara” tem canções em português, inglês e francês e conta com a participação de músicos do Brasil e do Canadá, onde o maranhense Rommel mora atualmente.

Em “Agô”, Rommel (voz e violão) é acompanhado por Carlos Bala (bateria), André Galamba (baixo e guitarra), Vovô Saramanda (percussão), David Ryshpan (teclado), Parrô Mello (saxofone), Márcio Oliveira (trompete), Debson Silva (trombone), Jordan Zalis e Pryia Shah (backing vocals).

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Leia a letra:

“Agô” (Rommel Ribeiro/ Enrico Lima/ Orlando Macedo)

Ijexá repica e retumba no fim da tarde
Um sonho que passa e o tempo corre ligeiro
Levada que arde ao sol da eternidade
Subindo a ladeira até o sopro derradeiro

Ijexá repica e retumba no fim da tarde
Um sonho que passa e o tempo corre ligeiro
Levada que arde ao sol da eterna Arte
Subindo a ladeira até o sopro derradeiro

Pedindo a paz de Oxalá
Dizendo agô aos Orixás
Agô
Levando flores para ofertar
E as pegadas vão pro mar
Amor

Didê, agô, didê
Didê, agô, didê
Agô
Didê, agô, didê
Didê, agô, didê
Agô

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Assista ao teaser:

SERVIÇO

O quê: lançamento do single e videoclipe “Agô” e mini-documentário “Agô – Até o sopro derradeiro”
Quem: o cantor e compositor Rommel
Quando: dias 3 (single), 4 (videoclipe) e 5 de setembro (mini-documentário)
Onde: nas plataformas digitais
Quanto: grátis

Quando o carteiro chegou e meu nome gritou com uma carta na mão

Divulgação

Uma das figuras mais marcantes de minha infância certamente é Araújo, carteiro na cidade de Rosário/MA, onde morei até os sete anos. Percorria a cidade inteira numa bicicleta cargueiro, a sacola de correspondências no bagageiro da frente, de onde ele habilmente as tirava e entregava aos destinatários, após gritar “Correios!”, a anunciar-se de porta em porta.

Conhecia pelo nome e era conhecido idem pela cidade inteira. Uma tia, que fazia pedidos nos antigos catálogos Hermes, costumava servir-lhe água, para aplacar o calor e o suor que sempre empapavam seu fardamento azul e amarelo, numa época em que as cores da bandeira eram motivo de orgulho, e não da vergonha de terem sido usurpados pelo neofascismo tupiniquim.

Ao lado de professores, carteiros estão entre os profissionais por quem mais nutro respeito. Ou admiração. Ninguém é nada sem os primeiros, com raríssimas e honrosas exceções; os segundos sempre foram motivo de alegria, quando batem palmas, tocam a campainha ou, como um outro dia, telefonam, para não serem obrigados a devolver uma encomenda, dada a dificuldade em entregá-la, visto que moro em prédio sem porteiro.

Não raros são os carteiros que já viram meus olhos brilhando quando da chegada de alguma aguardada encomenda, em geral livros ou discos.

O anúncio da vitória da privatização da estatal na Câmara dos Deputados, ontem (5), por 286 a 173 (placar nada apertado), entristeceu-me profundamente. Trata-se de uma empresa pública, eficiente e lucrativa. Os que caíram na balela de que cobrar bagagem baratearia passagens aéreas ou que a reforma trabalhista ajudaria a gerar empregos, agora caem na esparrela de que a privatização (ou desestatização, no dizer de eufemistas em conversas para boi dormir) vai “modernizar” os Correios.

Ora, é justamente o fato de ser uma empresa pública – com toda a responsabilidade social efetiva (em vez de mera jogada de marketing) que isso implica – que permite aos Correios atender todos os mais de cinco mil municípios brasileiros, com tarifas justas. Que permite, por exemplo, a um sebista, enviar um livro cobrando um frete de menos de 10 reais, num prazo razoável (há opções mais caras para quem desejar agilizar o recebimento de suas encomendas).

É lógico que não esqueci a imagem que circulou e, por ocasião da triste notícia de ontem, tornou a aparecer nas redes sociais: funcionários da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) fardados queimando a bandeira do Partidos dos Trabalhadores (PT), defendendo o voto em Jair Bolsonaro, nas eleições de 2018. Não foi falta de aviso, mas não gosto de pensar em vingança, embora espere que tenham aprendido a lição – obviamente, também, é impossível generalizar ou atribuir responsabilidades a toda uma categoria pela irresponsabilidade (ou crueldade ou masoquismo) de alguns.

O que é impossível é compreender o patriotismo entreguista de um governo com pulsão de morte, que revelou o pior do brasileiro: como conceber um negro racista (há um na presidência da Fundação Palmares), uma mulher misógina (outra é titular do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos) ou um homossexual homofóbico?

“Faça chuva ou faça sol, o carteiro sempre cumpre o seu dever”, ouvíamos dizer um deles em um desenho animado. A privatização não mais permitirá: se o carteiro, este artista merecedor do Nobel, do Grammy ou do Oscar na arte de ir aonde o povo está, chegava aonde Judas perdeu as botas, gastando as suas, os funcionários concursados de uma empresa pública passarão, como empregados do setor privado, a ir tão somente aonde o lucro (da empresa, não dos carteiros) permitir-lhes.

Pessimismo? De jeito nenhum! Não conhecer o mínimo de História é estar fadado a repetir erros do passado, vide o espetáculo grotesco em que se transformou a política no Brasil, em que um presidente da República chama o presidente de um tribunal superior de “filho da puta” (aqui sem os pudicos asteriscos ou reticências da grande mídia). Não regozijo-me, no entanto, usando de escudo o “não foi falta de aviso” ou o “eu avisei”. O buraco é mais embaixo e nele acabamos todos, afinal. “Não há abismo em que o Brasil caiba”, como afirma o título do mais recente disco do mestre Jorge Mautner.

O placar de ontem não é o resultado final deste jogo bufão. Mas, realista, pouco espero do congresso nacional, que se apequena a cada dia, ao permitir ao despresidente continuar seu script de perversidades e falta de respeito com qualquer um/a.

Cachorros são mais dignos e coerentes: tidos como inimigos número um dos carteiros, os cães em geral são mais fiéis a seus donos que o centrão, cujo fisiologismo permite fidelidade a quem pagar melhor. O que infelizmente ajuda a explicar muita coisa neste país.

O professor me ensinou fazer uma carta de amor, mas muito em breve, a depender do endereço, ela poderá não mais ser entregue.