Pela primeira vez após ele ter assumido a presidência da Fundação Municipal de Cultura (FUMC), encontrei Euclides Moreira Neto no Baile da Maranhensidade [Grêmio Lítero Recreativo Português, Anil, 13 de fevereiro], quando o cumprimentei, desejei-lhe um bom trabalho à frente dos frangalhos – com o perdão da rima pobre, é necessário dizer o estado em que as coisas chegaram-lhe às mãos – que restaram do “órgão da cultura do município” e disse-lhe para contar comigo naquilo que fosse preciso para que ele obtivesse o sucesso que merece. Disse-lhe mais: que eu tinha certeza que sua função na FUMC trataria de ampliar os bons trabalhos já realizados à frente do Departamento de Assuntos Culturais (DAC) da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), nem preciso dar exemplos, desde que lhe garantissem orçamento e liberdade para sonhos e voos.
Repórteres apressados e inescrupulosos, caso tivessem ouvido nossa conversa, não hesitariam dizer, ante aquele abraço entre amigos: eu estava pedindo emprego a Euclides. Não é o caso, caros abutres. Euclides tem tudo para se destacar na administração de João Castelo e não se trata de torcer contra (contra Castelo e a favor de Euclides): sua gestão enquanto governador biônico do Maranhão, a gestão da atual primeira dama quando prefeita da capital, além de governos do PSDB Brasil afora, nos fazem prever uma administração no mínimo conservadora. A gestão Castelo, que tem logomarca bonita e o slogan Cidade de todos inicia-se em 2009, justo no ano em que completa 30 anos a Greve da Meia-Passagem (1979), até hoje um calo em seu currículo, e encerra-se em 2012, quando São Luís comemora 400 anos de fundação (1612). Explicando o que quero dizer, é necessário “mastigar” as informações aos mal-intencionados de plantão: se acerto minhas previsões e Castelo faz uma administração tipicamente tucana, a FUMC poderá fazer um bom trabalho – se assim permitirem, cabe frisar, a Euclides e equipe os falados orçamento e liberdade.
O primeiro tiro certeiro do atual presidente da FUMC: a “moralização” da Passarela do Samba. Desfiles começaram e terminaram no horário e nem mesmo a liberação da entrada na arquibancada da passarela (grátis!) causou tumultos. As escolas, blocos e demais agremiações que por ali desfilaram cumpriram bem seu papel, seja por temer punições (perdas de pontos etc.), seja por seus membros saberem a que horas teriam que estar ali e a que horas dali tornariam a seus lares ou iriam para outros pontos de folia – houve um déficit no sistema de transporte coletivo, para não dizer que não havia transporte coletivo na cidade, ao fim dos desfiles.
Tiro pela culatra: a radiola de reggae Itamaraty, de propriedade do deputado federal Pinto da Itamaraty (no Maranhão as propriedades se confundem tanto que não sabemos se ele é da radiola ou se a radiola é dele), partidário do prefeito João Castelo, fazer uma festa nas imediações da Passarela do Samba – o Bar Marujo, no Aterro do Bacanga. É no mínimo tentar tirar o brilho do primeiro acerto da gestão na área cultural. Ora, se o deputado desejava fazer um extra no período, poderia ter escolhido um ponto mais distante da folia, afinal, quem sai de casa para ir ver o desfile das escolas, não desviará seu caminho para uma festa de reggae, para onde vai, penso, quem não gosta de Carnaval – ou quem realmente gosta de reggae.
Abutres de plantão comentam o esvaziamento dos circuitos de rua, com estratégias baratas: por exemplo, escolher um horário x, onde o esvaziamento já se deu e fotografar um ponto de som antes ou bem depois do início do desfile de atrações. Ou escolher entre os entrevistados justamente aquele(s) que reclama(m) que “a população foi para o interior”. Sabem por que fugi, por exemplo, da Madre Deus neste carnaval? Justo por fugir de grandes aglomerações, preferindo locais mais tranquilos. A ida de foliões para o interior não é algo, por si só, ruim: é a prova real da dinamização do carnaval nos municípios, através da firmação de convênios entre a Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão (SECMA) e diversas prefeituras municipais – o número cresce ano após ano. Os “revoltados” com o “esvaziamento” do circuito de rua na capital deveriam se esforçar um “tiquinho” mais e cobrir o carnaval nas cidades beneficiadas. Existe Maranhão para além do Estreito dos Mosquitos, sabiam?
Particularmente penso que os circuitos carnavalescos não deveriam atingir áreas tombadas pelo Patrimônio Histórico (IPHAN, Unesco etc.), dada a fragilidade de algumas edificações, o aumento do trânsito de pessoas na área no período, além da “violência” dos potentes equipamentos de som. A Praia Grande (leia-se o Centro Histórico como um todo) deveria abrigar programações alternativas, mais “lights” para, quem sabe, incluir a capital maranhense na rota de turistas que preferem programações não-carnavalescas (por exemplo, Guaramiranga, no Ceará), digamos assim.
São Luís continua tendo e fazendo um bonito carnaval. Graças ao Governo do Estado, através da SECMA, graças à Prefeitura Municipal através da FUMC, graças aos artistas e grupos que embalam a alegria dos dias do reinado de Momo, graças a cada folião que dá cor e vida a esta grandiosa festa popular. E apesar dos mal-intencionados abutres inescrupulosos de plantão.