De Zeca Baleiro a Bruno Batista… ainda bem que “eu não ouvi todos os discos”*

por Ricarte Almeida Santos**

Já faz uns cinco anos que recebi do então estudante de comunicação social, Hamilton Oliveira, um pequeno artigo de sua autoria, cujo título era “Adeus “MPM”! Salve o Compositor Popular Brasileiro”. Hoje Hamilton é jornalista, pós-graduado em História da Cultura e músico. Naquela ocasião, em seu belo texto de estudante, Hamilton levantava uma discussão que agora a meu ver ganha cores, ou melhor, ganha sons reais em novos discos e novos artistas que têm surgido por estas bandas daqui. Hamilton afirmava categoricamente que “no caso do Maranhão, o rótulo criado por certos artistas, produtores e comunicadores para vender a nossa música, só contribuiu para esconder a sua verdadeira natureza”.

De fato, durante “bons” anos se buscou rotular a produção musical do Maranhão pela sigla MPM. Ainda que tenha sido com a melhor das boas intenções, de demarcar um espaço para o Maranhão no cenário nacional e, assim, abrir mercado para o reconhecimento dos nossos artistas da música, ainda assim não se pode deixar de fazer o mea culpa e reconhecer o equívoco da estratégia. Basta lembrar as várias safras de grandes talentos, entre compositores e intérpretes, que o Maranhão produziu nos anos 70, 80 e 90, sem, no entanto, ocupar espaço nacionalmente, como fizeram os mineiros, os cearenses e os baianos. E não foi por falta de tentativas, nem por falta de talento e muito menos de matéria prima.

Contratos foram assinados com médias e grandes gravadoras de distribuição nacional e, quase sempre, acabaram em grandes frustrações; foram três décadas de intensa produção musical; além do quê, o Maranhão em matéria de cultura popular é tão rico e diverso como nenhum outro Estado brasileiro.

Negros vindos de diferentes cantos da África, diferentes povos indígenas que aqui viviam, o toque europeu do colonizador. Portugueses, franceses e holandeses, além da contribuição árabe também marcante por aqui. Tudo isso é Maranhão. Agora imagine todas essas matrizes em quatro séculos de sincretismo cultural, musical, religioso e, ainda, recebendo e promovendo novos contatos com outras culturas, novas informações. É, porque esse processo não parou no tempo. A mistura que ajudou a constituir a nossa cultura continua acontecendo e em ritmo cada vez mais intenso.

Portanto, não dá pra reduzir a produção musical do Maranhão a uma sigla, a uma receita de sucesso, como se tentou . E aí eu retomo novamente o texto do estudante Hamilton quando afirma que “o termo MPM não comporta a totalidade da identidade cultural expressa em manifestações que incorporam elementos da cultura européia, indígena brasileira e africana (…)” e de tantas outras culturas que vieram depois.

Zeca Baleiro desde quando cantava pelos festivais universitários e pelos bares da Ilha, deixava claro que não se encaixava nesse modelo. Pois é justamente ele (Zeca) e Rita Ribeiro que primeiro rompem com a bolsa d’água da MPM e são paridos para o Brasil inteiro. E quando nascem os dois balançam com as estruturas da dita “música popular maranhense”. Faltou terra nos pés.

Bom, de lá pra cá, num andamento bem mais cadenciado, novos nomes têm surgido e já desobrigados de vestir a camisa de força com a sigla no peito. Se não em grande quantidade, como fora antes, mas em originalidade . É, parece que novos ventos começam a soprar nesta direção, sacudindo poeira, desordenando tudo e liberando a moçada pra fazer música, simplesmente música, com qualidade e com as informações e recursos que se têm hoje.

Assim é o disco de Bruno Batista, 23 anos, compositor e intérprete de suas próprias criações, pelo menos nesse seu primeiro CD, que acaba de sair. Bruno traz dez faixas, numa produção independente, que alia com bastante equilíbrio boa poesia, na qual não esconde boa dose de melancolia e leves pitadas de acidez e bom humor, com informações musicais consistentes, que revelam a diversidade das influências do jovem artista. Baião, samba, cordel, música erudita, evidenciam as digitais de Luís Gonzaga, Chico Buarque , Cartola, Josias Sobrinho, Edu Lobo, Zeca Baleiro, Chico César, Zé da Luz, Cesar Teixeira e tantos outros na poesia e na música de Bruno Batista.

Tudo isso sem falar no canto meio que descompromissado e leve que imprime a suas interpretações, conferindo-lhe um certo despojamento, e nos arranjos refinados do maestro carioca Alberto Farah, que garantem a roupagem instrumental necessária e um ótimo resultado, para ser ouvido e apreciado em qualquer parte do Brasil e do mundo.

De Zeca Baleiro a Bruno Batista, um intervalo perigoso para arriscar qualquer opinião a respeito da música feita no Maranhão fora da receita da MPM. Mas isso não é privilégio só de Baleiro, nem de Rita, nem de Bruno Batista, nem de Cláudio Lima. Isso já faziam seu Antônio Vieira, Josias Sobrinho, Chico Maranhão, Joãozinho Ribeiro, Cristóvão Alô Brasil, Cesar Teixeira, Seu Bibi, Dilu e tantos outros que por aqui produziram a verdadeira Música Brasileira. Bom, se ficou alguém de fora desta lista, como de certo deve ter ficado, justifico pelo título da música do Bruno Batista. É porque “eu não ouvi todos os discos”.

*publicado na edição de 23/5/2004 do Diário da Manhã

**Ricarte Almeida Santos, é Radialista e Sociólogo, produtor e apresentador do programa Chorinhos e Chorões.

e-mail:
ricochoro@hotmail.com

A VIDA É UMA FESTA!

por Zema Ribeiro

Em maio de 2002, seguindo conselhos de Nunes do Acordeom e mais alguns amigos, Zé Maria Medeiros resolveu “se apresentar” enquanto músico. Multifacetado, o artista é um militante cultural há aproximadamente dezesseis anos, tendo publicado livros, comandado a Cia. Circense (o que faz até hoje) e atuado em outros segmentos.

Escolhido o palco, o simples e aconchegante Bar do Adalberto na Praia Grande, o artista, acompanhado por uma trupe fiel apresenta-se todas as quintas feiras. É sagrado: com ou sem chuva, feriado ou dia santo, não importa; Zé arma a aparelhagem e “manda ver”, ora empunhando sua guitarra, ora seu saxofone, acompanhado pela irreverente banda percussiva Casca de Banana. O espetáculo acaba tornando-se uma vitrine, por onde já passaram diversos nomes da música (e da arte como um todo) popular maranhense: Lobo e o Tambor de Siribeira, Nego Ka’apor (antiga Som do Mangue), Lampejos de Xaxados na Bagaceira (antiga Xaxados e Perdidos), Cesar Teixeira, Joãozinho Ribeiro, Macaxeira, J. M. Cunha Santos, Eduardo Júlio, Chico Saldanha, Laura Amélia Damous, Sânzio Rossiny, Vanessa Serra e o presente missivista, entre inúmeros outros “habitantes” do cenário.

Hoje, às 20h30min, acontecem as comemorações de dois anos de aniversário do espetáculo. “A Vida é uma Festa” terá um palco armado no meio da rua com a apresentação de diversos artistas. Sem couvert artístico, com cachaça na aroeira.

SERVIÇO

Dois anos de A VIDA É UMA FESTA, com Zé Maria Medeiros, banda Casca de Banana e diversos artistas maranhenses.

Hoje, 20/5, às 20h30min

No Bar do Adalberto, Praia Grande

Sem couvert artístico

Por um mundo sem fome: Fundação Assis Chateaubriand / Projeto Memória promovem concurso de redação sobre Josué de Castro, médico e escritor pernambucano.

Conforme anunciado, tratarei aqui, sempre que possível de temas ligados à(s) cultura(s) de outro(s) estado(s). Em breve, pretendo voltar à Josué, tema inesgotável

“Ô, Josué, nunca vi tamanha desgraça,

quanto mais miséria tem, mais urubu ameaça!”

(Chico Science)

Estão abertas as inscrições para um dos maiores concursos de redação do país; destinado a alunos dos ensinos fundamental, médio e universitário, o Prêmio Nacional Assis Chateaubriand de Redação / Projeto Memória distribuirá prêmios de até R$ 8.000.

O material deve ser entregue/enviado, via correios ou eletronicamente até o dia 31/8; a premiação ocorrerá em novembro. O tema dos trabalhos é “Josué de Castro: por um mundo sem fome”.

O regulamento pode ser solicitado pelo e-mail zema_ribeiro@yahoo.com.br ou em visita aos sítios http://www.josuedecastro.com.br e http://fac.correioweb.com.br

SHOPPING BRAZIL – O BLOG: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES NECESSÁRIAS

por Zema Ribeiro

Finalmente chega ao mercado o primeiro disco de Cesar Teixeira: Shopping Brazil é, com certeza, o trabalho mais esperado de todos os tempos no cenário musical maranhense. De carona, lanço Shopping Brazil, um blog nada esperado. É uma surpresa até mesmo para o presente missivista. Algumas considerações se fazem necessárias, e apesar de saber ser impossível tecer todas, tento, pelo menos algumas por ora (coloco-me à disposição para maiores informações, públicas ou não, pelo e-mail zema_ribeiro@yahoo.com.br)

Editei entre 9/10/2002 e 19/12/2003 – por coincidência data de meu aniversário – uma lista eletrônica, batizada Olho de Boi, carona que peguei na composição homônima de Gildomar Marinho que, tempos antes, havia batizado-me Zema. “Um olho de boi chegou lá do Maranhão…” diz sua letra.

A proposta de Shopping Brazil (o blog) é a mesma da – agora extinta – lista: difundir a cultura maranhense. Aqui, porém, estarei, vez em quando, escrevendo também sobre a(s) cultura(s) de outros estados.

FIM DA LISTA

A lista Olho de Boi teve seu fim quando, por motivo de força maior, tive que mudar sua hospedagem; com isso, o número de adesões (eram cento e cinqüenta assinantes, aproximadamente) diminuiu bastante e, como detestamos spams, preferi perdê-los, digamos assim, a forçá-los a continuar. A sinceridade por que tanto prezo, talvez seja encontrada com mais facilidade no presente blog, que tentarei atualizar com certa freqüência, em respeito a quem nos acompanha nessa árdua batalha.

Fica aqui, mais uma vez o meu apelo: visitem (e voltem) sempre, mostrem a um amigo, divulguem. Essa lista é para (e por) vocês.

Colaborações podem ser enviadas pelo e-mail zema_ribeiro@yahoo.com.br

AGRADECIMENTOS E HOMENAGENS

(Esta lista não existiria, se não existissem vocês)

Obrigado: Alberico Carneiro, Ana Paula de Oliveira Teixeira, Andrezza Cerveira, Antonio Viana (vovô), Antonio Vieira, Arinildeni, Beto e a galera do Nego Ka’apor, Bira Milhomem, Célio R. Muniz, Celso Borges, Cesar Teixeira, Che Guevara, Chico Nô, Chico Saldanha, Chico Science e a moçada da Nação Zumbi, Clarício Filho, Coxinho, Daffé, Eduardo Júlio, Edvaldo Sousa Barros, Erasmo Dibell, Fábio Trummer e toda Eddie’s Family, Flávio Silveira, Francineide, Fred Zeroquatro e a turma da mundo livre s/a, Frederico Luiz (meu poetinha), Gildomar Marinho (a poesia vestida de homem), Glauco Porto Barreto, Graciana, Gutemberg Bogéa, Hugo (o homem que ri), Ivanildo (Campeão), J. M. Cunha Santos, James Abraão (pai da humanidade), João do Vale, João Guilherme, Joãozinho Ribeiro, Jorges (Ivan e Luiz), Josias Sobrinho, Josué de Castro, Leandro “Léo” Santana, Lidiane Dutra (minha mãe espiritual, em Fortaleza), Lobo e o tambor de Siribeira, Lourdes (do Bar Catarina Mina), Luiza Cristina (que vai fazer a capa do meu primeiro livro, em Fortaleza), Lula (nosso presidente. Força!), Mabuse, Marcos Fábio Belo Matos, Maria Lindozo (vovó), minha família toda (inclusive os parentes mais distantes), Moema (Papiros do Egito), Ná, Nando Cruz, Nauro Machado, Nonato (Companheiro), os feirantes da Praia Grande, Riba (Poeme-se), Ronaldo Bressane, Rose Ferreira, Sérgio Habibe, Solange (minha mãe), Tom Zé, Valente, Vanessa Serra, Wilson Zara, Xico Sá, Yuri Oliveira, Zecas (Baleiro e Tocantins) e um sem-número de irmãos, soltos por esse mundo de meu Deus: impossível colocar aqui todos os nomes que fazem a minha vida.

Obrigado!

Roda Cultural

Projeto, do qual o articulista cultural deste blog é membro da Comissão Organizadora, segue firme em sua segunda edição.

por Zema Ribeiro

Aconteceu no último dia 30, a segunda edição do Roda Cultural, projeto idealizado e desenvolvido pela coordenação do Curso de Comunicação em parceria com alunos do mesmo, da Faculdade São Luís.

Como convidado, o fotógrafo Márcio Vasconcelos debateu o tema “Imagem e Cultura”, sorteando, ao final do acontecimento, dois “Shopping Brazil”, primeiro disco de Cesar Teixeira, do qual Márcio é responsável por toda a produção gráfica.

O evento contou com a presença de um público eclético, envolvendo professores, alunos (inclusive de outras instituições) e a comunidade em geral.

“Estamos conseguindo atingir os objetivos e proposições do projeto, que é promover um debate entre os presentes, mantendo a qualidade no diálogo; não tivemos um auditório lotado, é verdade, mas obtivemos bons resultados”, afirma Rose Ferreira, coordenadora do Curso de Comunicação Social da Faculdade São Luís.

A próxima “Roda” deve acontecer no dia 28/5, última sexta-feira do mês. As propostas para o próximo nome giram em torno de Cláudio Farias (cineasta), Cesar Teixeira (jornalista e compositor) e o Movimento Babaçu Livre; dado o sucesso dos dois primeiros eventos, a comissão organizadora já pensa em “fazer a Roda girar” quinzenalmente. Fica a torcida!

É cultura, tá na “Roda”!