Cantar, a sagrada vocação de Renato Braz

Passarim cosmopolita, Renato Braz solta o canto no Chorinhos e Chorões

Extremamente simpático e bastante modesto – “eu tou tocando errado aqui”, desculpou-se ao interpretar, em off, o Cigarro de paia, de Armando Cavalcanti e Klécius Caldas, sucesso de Luiz Gonzaga –, Renato Braz esteve em São Luís sábado passado (20), para um show reservado. Era a terceira edição do projeto Ponta do Bonfim – Música e Por do Sol, organizado pelos amigos Eden do Carmo, Aristides Lobão e Lúcio. Cabelos ao vento, ele trajava calça xadrez e uma camisa com uma estampa de Amarcord, de Federico Felini. Emoldurado pela bela paisagem, Renato Braz fez um show onírico qual o cinema do italiano: vê-lo e ouvi-lo era também a realização de um sonho.

Além do paulista, também desfilaram talentos ao palco Zeca do Cavaco e João Neto Trio (com o próprio na flauta, João Eudes, violão sete cordas, e Vanderson, percussão), Milla Camões (acompanhada de Celson Mendes ao violão, Jeff Soares, contrabaixo e Fleming, bateria) e Sérgio Habibe (com Edinho Bastos, guitarra, e Rui Mário, sanfona). Aposto que alguns dos poucos mas fiéis leitores estão indignados de só estarem sabendo disso agora.

Renato Braz passeou pelo repertório de seus discos e cantou coisas que gosta, lembrando os centenários Wilson Batista e Dorival Caymmi, elogiando ainda os maranhenses que o antecederam no palco. Celson Mendes e Marconi Rezende subiram ao palco para acompanhar-lhe, em participações especiais. Puro deleite.

Aproveitando a passagem pela ilha, o músico compareceu aos estúdios da Rádio Universidade FM (106,9MHz), e concedeu uma entrevista a Ricarte Almeida Santos e este blogueiro, imensa honra – como disse o apresentador, “fazer Chorinhos e Chorões tem seus privilégios”. O bate papo musical vai ao ar amanhã (28) domingo que vem (4/8), às 9h.

Renato Braz aponta influências – “o primeiro grande artista que eu quis ser era o Tim Maia, é minha primeira referência como cantor” –, fala da carreira (sete discos lançados desde 1996, incluindo Por toda a vida, inteiramente dedicado ao repertório dos irmãos paulistas Jean e Paulo Garfunkel, e Papo de Passarim, dividido com Zé Renato, ex-Boca Livre, outro ídolo), da relação com a música maranhense (a amizade com Rita Ribeiro e Zeca Baleiro, de quem gravou Bambayuque no disco de estreia, e Flávia Bittencourt, em cuja estreia cantou em Flor do Mal, de Cesar Teixeira), discos fundamentais para sua formação, como Brazilian Serenata, de Dori Caymmi, e Urubu, de Tom Jobim, as novas tecnologias e a feitura de seus discos, hoje independentes – “só canto aquilo que me emociona”, rodas de choro e, em tom brincalhão, da amizade com o casal-música Paulo César Pinheiro e Luciana Rabello.

Em meio a tudo isso, música. Muita música, de qualidade. Além de faixas de seus discos, surpresas, como interpretação sua ao violão para Só louco, de Dorival Caymmi (que completaria 100 anos em 2014), além de uma inédita de Fred Martins – Depressa a vida passa, como depressa passou esse Chorinhos e Chorões. Mais não digo para não estragar a surpresa – ou já o fiz?. Nada, este texto é nada perto do programa.

Errata: os poucos mas fiéis leitores deste blogue e os muitos e fiéis ouvintes do Chorinhos e Chorões terão que esperar mais um bocadinho para ouvir o programa acima anunciado apressadamente. Amanhã (28), aproveitando sua passagem pela ilha, Ricarte Almeida Santos conversa com o professor Marco César.

Amor e dor é rima óbvia. Essa festa, não

Os cotovelos gastos no balcão do bar, o ombro do garçom amigo encharcado do nosso pranto. A agulha risca o vinil como a navalha, afastai as navalhas!, quer riscar os próprios pulsos. A carta de amor só vale se escrita com sangue. E o amor, você sabe o que é ter um amor, meu senhor? E viva Lupicínio Rodrigues, que ano que vem completaria 100 anos, mestre maior na arte de musicar a dor de cotovelo.

Encontro de chorões sábado na AABB

Menos chorados e mais frevados, os dois vídeos acima dão pequena amostra do talento do bandolinista pernambucano Marco César, que, além de executar magistralmente seu instrumento, assina a direção musical da Orquestra Retratos do Nordeste, a que assistimos antes de começar esta falação acá.

Tudo isso para deixar-lhes com água na boca: o mestre estará em São Luís neste sábado (27), ocasião em que tocará acompanhado do Regional Tira-Teima, às 21h, na Associação Atlética Banco do Brasil (AABB). A produção não informou o valor do ingresso.

Descendente direto da nobre linhagem do também pernambucano Luperce Miranda e de Jacob do Bandolim, Marco César é tão importante que sua vinda tirou a poeira do blogue do radialista Ricarte Almeida Santos, que em primeira mão nos deu esta ótima notícia.

Provocação: foi num deste encontros de feras, como o próprio radialistamigo classifica, em agosto de 2007, que surgiu a ideia do saudoso Clube do Choro Recebe. Na ocasião, Paulinho Pedra Azul, após um show na ilha, encontrou-se informalmente com os chorões daqui, no Bar do Chico Canhoto. No sábado seguinte, 1º. de setembro, o Tira-Teima recebeu Léo Spirro e o resto é a deliciosa história que durou cerca de três anos e os poucos mas fieis leitores deste blogue bem conhecem. Sábado agora  eu mesmo já imagino a grande roda de choro que se formará em torno do ilustre Marco César, com canjas as mais diversas, instrumentais e cantadas.

Subiu o grande Dominguinhos

Embora o nome artístico fosse um diminutivo, Dominguinhos foi grande. Talentoso e plural, modernizou a música nordestina, que tem ainda em Luiz Gonzaga, nosso primeiro artista pop, seu maior representante, de quem o saudoso sanfoneiro é o maior discípulo.

Dominguinhos é autor de um sem número de clássicos da música brasileira, em parceria com nomes tão diversos quanto Abel Silva, Gilberto Gil, Moraes Moreira, Nando Cordel, Chico Buarque, Djavan, Fausto Nilo, Manduka, Yamandu Costa, os irmãos Clodo, Climério e Clésio, Guadalupe e, quiçá a mais constante, Anastácia, entre outros.

Sua sanfona passeava pelo forró, xote e baião nordestinos, mas também espraiava-se com igual desenvoltura por choros, sambas, tangos, baladas e o que mais aparecesse – para executar ou inventar. Seu talento de melodista é conhecido de todos nós, que por vezes assobiamos, aqui e ali, músicas suas, muitas vezes desconhecendo sua autoria.

Sabem quando uma música é tão cantada e tocada em todo canto que a noção de autoria fica um pouco perdida? Aquela sensação que nos leva a perguntar: como é que isso sai da cabeça (coração e mãos) de uma pessoa? E a afirmar: gênio! Eis aí um adjetivo perfeitamente cabível a Dominguinhos.

Além de talentoso, Dominguinhos era generoso: teceu merecidos elogios a Rui Mário, em uma apresentação no Rio Grande do Sul, história que ele contou à Chorografia do Maranhão [O Imparcial, 7 de julho de 2013, em breve penduro acá no blogue], e tocou nos dois primeiros discos de Flávia Bittencourt, o segundo, Todo Domingos, inteiramente dedicado ao repertório do sanfoneiro. “Ele foi [participar do disco] numa boa, super atencioso. […] Tem uma coisa de alma, você bate mais com umas pessoas que com outras, foi isso que aconteceu com Dominguinhos. […] Ele me apoiou, me emprestou os discos todos, ajudou na liberação das músicas. […] Vou agradecer sempre a participação dele ativa nesse processo todo”, a cantora me contou em entrevista.

Depois de seis anos de luta contra um câncer de pulmão, o filho mais ilustre de Garanhuns – perdoem-me os lulistas, é apenas uma opinião – partiu ontem para o colo de Santa Luzia, onde certamente já se juntou com Sivuca e o velho Lua Luiz Gonzaga – iluminados pela lua que nos guia com seu sorriso em noite escura.

A festa no céu começou agora, embora alguns apressados já tivessem decretado sua morte, dado o coma em que esteve por sete meses – algo parecido com o que fizeram recentemente com Zé Ramalho, outro artista com quem tocou. Hora de atualizarmos o Choro de pássaros de Ubiratan Sousa, homenagem a Luiz Gonzaga em cuja gravação Dominguinhos desfilou seu talento: “Galo de campina soltou/ sabiá escutou e transmitiu/ que o Dominguinhos/ disse adeus, partiu”.

Três dias de passeio pela Arte em São Luís

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Estão abertas até 16 de agosto, limitadas às 50 vagas oferecidas, as inscrições para o Curso de História da Arte – Da Arte Contemporânea à Moderna, realização do Itaú Cultural, através da Lei de Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura, com apoio do Sesc, que em São Luís sediará a atividade.

Gratuito, o curso será realizado no Auditório do Sesc Saúde (Rua do Sol, 616, Centro) e é dividido em três módulos, que acontecerão dias 27, 28 e 29 de agosto, das 9h ao meio dia e das 14h às 17h.

Maiores informações e inscrições: (98) 3216-3830 e/ou galeriadeartesescma@gmail.com. Confira a programação e o currículo dos ministrantes. Continue Lendo “Três dias de passeio pela Arte em São Luís”

New York em São Luís

O poeta e tradutor Rodrigo Garcia Lopes é mais um autor confirmado para a 7ª. Feira do Livro de São Luís. Ele participará de um recital, ocasião em que lançará seu novo disco, Canções do Estúdio Realidade, e do Café Literário, quando debaterá com o escritor Reuben da Cunha Rocha o tema Tradução é traição?

Lopes já lançou o disco Polivox (poemas com trilhas, 2001) e os livros de poesia Nômada (2004), Visibilia (1996, 2004) e Solarium (1994), entre outros, além de Vozes e visões – Panoramas da arte e cultura norte-americanas hoje, que reúne entrevistas dele com Allen Ginsberg, Chick Corea, John Cage e William Burroughs, para citar apenas alguns. É dele também uma elogiada tradução de Folhas de relva (2004), de Walt Whitman. Lopes traduziu ainda Ariel (2007), de Sylvia Plath (com Cristina Macedo), e Iluminuras (1996), de Rimbaud.

Confiram o clipe de New York, de Canções do Estúdio Realidade.

Este blogue voltará a trazer novidades da 7ª. Feira do Livro de São Luís, com periodicidade de-vez-em-quandal. Acompanhem!

Floresta na selva de aço e concreto

De sangue e alma maranhenses, a cantora Ligiana Costa lança amanhã e domingo seu segundo disco, Floresta, em São Paulo.

O álbum, cujo título homenageia sua avó, dona Floresta, é impregnado de Maranhão: do título a Sousândrade, passando por seu pai, o jornalista maranhense Celso Araújo, radicado em Brasília, que musicou àquele, os rios Corda e Mearim, título de outra faixa, e ainda a regravação de Boi de Catirina, de Ronaldo Mota, originalmente registrada no antológico Bandeira de aço, divisor de águas da música do Maranhão que completou 35 anos neste 2013.

A paulistas e turistas, e principalmente à colônia maranhense por aí, recomendo fortemente. O disco você baixa aqui. E aqui lê entrevista que a talentosa moça me concedeu.

Um por do sol diferente

Ocuparte, ocupraia

A segunda edição do BR 135 acontece neste sábado (20), a partir das 17h, na Praia de São Marcos. A primeira, em maio, homenageou os 35 anos do disco Bandeira de aço, no Teatro Arthur Azevedo.

O palco será armado na Praça do Pescador, na Av. Litorânea. A entrada é gratuita, mas recomenda-se ao público doar um quilo de alimento não perecível. O projeto unirá arte e ação social, na tarde e noite que contará com pedalada, coleta de lixo, exposições artísticas, intervenções poéticas e música.

Segundo o produtor Alê Muniz, a ideia é ocupar os espaços públicos com arte. Para 2013 há ainda duas edições do BR 135 previstas: uma em teatro e outra na praia, todas gratuitas.

O show deste sábado, que reunirá diversos artistas, tem o título de Arte e cidadania – essa é a nossa praia! e será realizado em parceria com o Movimento Nossa São Luís. Dele participarão o Bloco Afro GDAM, Nathália Ferro, Phil Veras, Gallo Azhuu, Pedeginja e Mano Bantu. Haverá ainda performances teatral e poética, grafitagem, malabares e participação do Movimento Brechoniano.

Choro & Companhia relê repertório pouco conhecido de Ernesto Nazareth

Disco Nazareth: fora dos eixos é bela homenagem ao pianista, por seus 150 anos de nascimento

ZEMA RIBEIRO
ESPECIAL PARA O ESTADO

Não passa em brancas nuvens este 2013, ano do sesquicentenário de nascimento de Ernesto Júlio de Nazareth (1863-1934), um dos pais do choro. A efeméride tem gerado justas e belas homenagens, a exemplo de um site inteiramente dedicado à vida e à obra do pianista, criado e mantido pelo Instituto Moreira Salles.

Completados no dia 20 de março, os 150 anos de Nazareth também são lembrados pelo grupo Choro & Companhia, de Brasília/DF, que lançou Nazareth: fora dos eixos (Brasilianos, 2013), disco inteiramente dedicado à obra do músico que lhe batiza, de maneira nada convencional.

Amoy Ribas (percussão), Fernando César (violão sete cordas), Pedro Vasconcellos (cavaquinho) e Ariadne Paixão (flauta), ela responsável também pelos textos do encarte, (re)visitam um repertório de Nazareth praticamente desconhecido do grande público – e por vezes mesmo de aficionados pelo músico ou pelo gênero musical cujas bases ajudou a definir.

“Nazareth deixou uma extensa gama de composições diversas […]. Esse legado recebeu nossa atenção quando vimos que muitas dessas obras ainda continuavam raras ou muito pouco conhecidas do público em geral”, afirma um dos textos do encarte.

Músicas – Nas 11 faixas predominam tangos (e suas classificações brasileiro e carnavalesco), sambas, valsa, polca e polonesa, sob direção geral de Marcos Portinari e Hamilton de Holanda. O bandolinista participa do disco em Jangadeiro (tango brasileiro de 1922). Outros convidados especiais são Alexandre Dias (piano em Cataprus, tango brasileiro de 1914), Juninho Alvarenga (banjo na faixa-título, tango carnavalesco de 1922), Ricardo Dourado Freire (clarineta e clarone em Polonesa, polonesa anterior a 1922 – o encarte não traz a data precisa de algumas faixas) e Roberto Corrêa (viola caipira em Matuto, tango de 1917).

Como a obra do autor de clássicos como Brejeiro, Odeon e Apanhei-te, cavaquinho, Nazareth: fora dos eixos é disco plural em que o quarteto desfila por diversos climas. O banjo na faixa título lhe dá ares festivos, lembrando em determinados momentos o bumba meu boi e o cacuriá maranhenses (o azulejar selo do disco também nos faz pensar em São Luís); a viola caipira em Matuto dá à música ares rurais; e o uso de vibrafone (pelo percussionista Amoy Ribas) confere ar de música infantil (da rara, não a que se vê e ouve em programas para o público na tevê aberta) à Segredos de infância (valsa de data desconhecida) – título mais que apropriado.

“Queremos acrescentar nosso grão na interpretação da grande obra de Nazareth”, afirma ainda aquele texto no encarte, pura modéstia. O belo resultado certamente ficou à altura do homenageado. Na contracapa do disco, além do conteúdo, uma inscrição mostra que o grupo está à frente: em vez do “disco é cultura” de outrora, um “moderno é tradição” de agora.

[Reseninha no AlternativoO Estado do Maranhão de ontem]

A intrusa: eis a questão

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Neste sábado (20), às 18h, o escritor Bruno Azevêdo lança A intrusa [Pitomba/ Beleléu, 2013]. A noite de autógrafos acontecerá na livraria Leitura, no Shopping da Ilha. O livro, originalmente publicado em capítulos no jornal Vias de Fato, recria as tramas eróticas de romances de banca, encontrados por quilo em sebos, como Barbara Cartland, Bianca, Julia e Sabrina. Escrevi sobre aqui.

Promoção: deixe sua resposta para a pergunta que ilustra este post aí embaixo, na caixa de comentários. A que o blogue achar melhor leva um exemplar dA intrusa. Só valem respostas deixadas na caixa de comentários deste post até sexta-feira (serão desconsideradas respostas, ainda que criativas, engraçadas etc., deixadas nos comments de outros posts, facebook etc.). Sábado de manhã o resultado, por aqui mesmo.

Sarau de Bailados do Laborarte acontecerá sexta-feira (12)

Espécie de extensão do período junino em São Luís, o Sarau de Bailados promovido pelo Laborarte já é tradição. Desde 2011 realizado em maio, o baile popular acontecerá em 2013 como um lava-pratos do São João. A festa é capitaneada pela cantora Rosa Reis, pesquisadora dos ritmos de nossa cultura popular, e este ano tem, além de seu show, uma apresentação do cantor maranhense Tião Carvalho, radicado em São Paulo.

O repertório passeará por bumba meu boi, coco, carimbó, cacuriá, ciranda, maracatu, tambor de crioula e muito mais. A festa acontece nesta sexta-feira (12), às 21h, na sede do Laborarte (Rua Jansen Müller, 42, Centro). Os ingressos já estão à venda no local.

“O público vai ter um repertório dançante, o que torna o espetáculo participativo. A ideia é que todos entrem na roda pra dançar com gente, conhecendo e experimentando as peculiaridades dos ritmos maranhenses. No final, é o público quem constrói o espetáculo conosco”, promete Rosa Reis.