no que diz respeito ao mundo bíblico e à pedofilia

o padre botava o pequeno coroinha no colo e lia e lia e lia a bíblia religiosamente, meu deus. o menino foi crescendo, crescendo, crescendo, até que um dia a ordem dos colos inverteu-se.

xico sá (link ao lado), à página 344 do catecismo de devoções, intimidades & pornografias, sobre o qual escrevo amanhã, no diário da manhã, com reprodução aqui.

A urbanidade rural da música de Silvério Pessoa

(Ou: Nas pegadas dos nômades)

[Diário Cultural de hoje]

Aliando tradição e modernidade, Silvério Pessoa chega, de arroba em arroba (aqui tanto a antiga unidade de medida de peso quanto o símbolo usado nos endereços de e-mail) e com competência, ao terceiro disco solo. Um pé no antigo – embora não necessariamente ultrapassado – outro no novo – tão novo que ainda vai surgir; ou melhor, surgiu na música de Silvério. Um pé no acústico, outro no elétrico; ou melhor, a cabeça na eletricidade, o coração desplugado. “Eletric head, acoustic heart”, que Silvério agora é universal!

Cabeça elétrica coração acústico. Capa. Reprodução

Tradição e modernidade são dois temas cada vez mais difíceis de trabalhar. Por andarem juntos, hoje em dia, e a linha que os separa, ser muito – e cada vez mais – tênue. Silvério Pessoa sempre soube casar as tradições da música pernambucana – nordestina – com as “mudernices” eletrônicas que tanto incomodam os puristas. “’Cumpade’ Zema, toda a força do som do nosso povo”, escreveu-me na dedicatória de meu exemplar do seu “Batidas Urbanas – Projeto Micróbio do Frevo”, segundo disco solo do músico, um tributo a Jackson do Pandeiro, um dos pilares da música nordestina.

Silvério vem mostrando a força de sua música desde a estréia, ainda com o grupo Cascabulho. “Fome Dá Dor de Cabeça” é um disco excelente, a começar pelo título, forte e verdadeiro como a música do grupo – e de Silvério, em particular. Lá já se apresentavam as influências que iriam compor o trabalho de Silvério, que com o grupo gravou apenas um disco. (No segundo disco do Cascabulho, já sem Silvério, o grupo gravou a música “Choro de Lera”, conhecida dos maranhenses na voz de Dona Teté do Cacuriá).

Perene temporal

Junte num balaio – ou num cofo? – Jackson do Pandeiro, Luiz Gonzaga, Jacinto Silva, Frank Zappa, o aboio dos criadores de bode nordestinos e a poesia dos repentistas. Eis aí o trabalho de Silvério Pessoa, que neste terceiro disco solo, “Cabeça Elétrica, Coração Acústico”, se apresenta como compositor: todas as músicas são de sua autoria, com exceção de “Sabor de Frevo”, de Luiz Guimarães e Alvacir Raposo.

Silvério consegue fazer um disco carnavalesco para ser ouvido o ano inteiro. Ou um disco para o São João que pode ser ouvido no carnaval? Enfim, um disco perene, forte, sincero, como é toda a sua obra. E muito mais vem por aí. Preparem-se! Apertem o cinto na boléia da toyota.

“O título “Cabeça Elétrica, Coração Acústico” vem de um cordel do poeta Bráulio Tavares [que assina uma parceria com Silvério neste disco: “Eu vi a máquina voadora”]. Essa imagem reproduz bem os textos e a sonoridade das canções. (…) Essa novela musical, resultado de composições e parcerias, mestiça não só por ter início em Pernambuco, Nordeste do Brasil, mas envolvendo a França e a Occitania, resultado das minhas últimas turnês, promove uma nova possibilidade étnica de reencontros e formação de novas conexões culturais. Mas isso fica para um novo futuro.”, adverte/explica Silvério “Nas pegadas dos nômades”, texto bilíngüe do encarte do disco.

Pode(m) ter certeza: o futuro já chegou, “cumpade”! Boas audições, turma!

Discografia

“Fome Dá Dor de Cabeça” (1998), com o grupo Cascabulho; “Bate o Mancá (a música de Jacinto Silva)” (2000); “Batidas Urbanas – Projeto Micróbio do Frevo (a música de Jackson do Pandeiro)” (2002); e “Cabeça Elétrica, Coração Acústico” (2005).

Serviço

O quê: “Cabeça Elétrica, Coração Acústico”
Quem: Silvério Pessoa, com participações especiais de Alceu Valença, Dominguinhos, Fábio Trummer (Eddie), Lenine, Lula Queiroga e Zé Vicente da Paraíba.
Quanto: sob consulta no site da Casa de Farinha Produções e/ou pelo telefone (81) 9967-7815.

clima de carnaval

1.

acabo de enviar, por e-mail, ao diário da manhã, minha coluna de amanhã; escrevo sobrecabeça elétrica, coração acústico, disco novo de silvério pessoa. tem sua porção carnavalesca frevada pernambucana; mas como os outros discos de silvério, um trabalho para ser ouvido em qualquer época.

2.
ouvindo carmen miranda, coletânea acervo (1993). “vou me atirar na gandaia / pois só assim vivo bem”, ela canta em dona balbina, no exato instante em que escrevo aqui.

Diário Cultural de hoje

É Carnaval!

“Vou sair / não sei se voltarei / não me entendas mal / hoje é carnaval”, cantava Nelson Cavaquinho. “No carnaval eu sempre saí fingindo / que passo a minha vida inteira a cantar / três dias pra sorrir / um ano pra chorar / mas desta vez a ilusão não vai me pegar”, filososamba Elton Medeiros. Los Hermanos avisam: “todo carnaval tem seu fim”. Seja qual for o seu pensamento, é chegado o carnaval. Diário Cultural dá as dicas. Você se programa.

Hoje: Te Gruda No Meu Fofão

Acontece hoje, a partir das 18h, na Viva Água (Rua das Gaivotas, quadra 2, lote 1, Renascença II, atrás do Medical Center) apresentação do espetáculo “Te Gruda No Meu Fofão”, que mistura música carnavalesca e teatro de rua. A concepção original do espetáculo critica acontecimentos carnavalescos e políticos. A produção é do Laborarte.

Amanhã: Bigurrilho

Acontece amanhã, a partir das 18h, o tradicional Baile do Bigurrilho, que este ano muda de local e agitará a Casa do Maranhão (Praia Grande). Fazem a festa a Banda do Vandico, com participações especiais de Rosa Reis e Smith Junior. Uma promoção do Centro de Cultura Popular Domingos Vieira Filho.

Segunda: mais Laborarte!

Dia 27, segunda-feira de carnaval, acontece o tradicionalíssimo Carnaval de Segunda, uma festa de primeira. Em frente ao Labô, no casarão 42 da Rua Jansen Muller. Confira a programação: 15h: tambor de crioula; 16h: baile da chupeta; 18h: brincadeiras tradicionais; 23h: show Fuzarca, com diversos artistas maranhenses; e à meia noite, mais brincadeiras tradicionais. Gratuito.

Quarta-feira: o Carnaval não acaba terça!

Uma boa dica é curar – ou aumentar – a ressaca no Mikarroça, em Rosário/MA, a 60km da capital. A partir do meio-dia de quarta-feira, desfile do bloco irreverente, cujos carros alegóricos são enfeitadas carroças puxadas por jumentos. Há, também, eleição da rainha gay do carnaval. A concentração acontece em frente ao Bar do Meio, próximo ao Terminal Rodoviário.

E no mais…

Bom, no mais, o de sempre: sexo seguro (leia-se: use camisinha!) e trânsito seguro: se for dirigir, não beba; se for beber, não dirija! E com isso, trânsito livre no carnaval. Divirtam-se! (Esta coluna não entrará em recesso no período carnavalesco).

Artista da Terra

O texto abaixo foi publicado no Jornal Cazumbá, edição 23, de 15/2/2006. [Seguem, entre colchetes algumas observações do perfilado]. A foto que ilustra o texto está disponível em nosso fotoblogue, link ao lado.

De bem com a vida com Zema Ribeiro

Estar à vontade e de bem com a vida é o jeito simples de ser de Zema Ribeiro (prefere, inclusive, ser chamado pelo apelido, como já é conhecido). Aos 24 anos, o estudante de Jornalismo da Faculdade São Luís, que divide o tempo dos estudos [eu deveria estudar mais, admito] e do trabalho, com a poesia [escrevo cada vez menos poesia; não quero ser lembrado como poeta num futuro, breve ou não. Minha poesia é muito limitada. Prefiro ser reconhecido como um bom jornalista, ético, honesto etc. Se eu conseguir isso, serei feliz, profissionalmente. Mas não é uma decisão minha como serei reconhecido, se é que serei] e prosa, já publicou um livro [livreto], “Uma crônica e um punhado de poemas de amor crônico”, em 2005 (a primeira e renegada obra) [renegada sim!, renegada mesmo!: eu já disse que não falo mais do assunto. Quem conseguiu, conseguiu; quem não, eu já não faço mais a mínima questão de vender ou passá-la]. Mas prefere, ao lançar o segundo trabalho [não publicarei nada tão cedo], amadurecer mais a idéia e não se precipitar nas armadilhas de amor que a vida apronta [lembro do Ronaldo Bressane (linkao lado) me dizendo uma vez: “você não precisa publicar pra ninguém (ele se referia à público); tem que se sentir seguro. É isso que você quer? Então publica”. Eu devia ter ouvido o “conselho”; ele sabia o que dizia, ele sabe o que diz].

A iniciação de Zema na literatura começou cedo, aos 13 anos [acho que todo mundo passa por isso, né? Eu já tive uma ânsia, tipo, tudo o que eu escrevia era pensando: “oba!, mais um (poema) pro livro”; já não acontece. Cresci. Acho.]. “No início era mais o impulso de escrever para as garotas [de novo: acho que todo mundo já passou por isso; quem atira a primeira pedra?], uma produção infantil. Mas com o tempo percebi que a poesia estava no meu dia a dia”, ressaltou o jovem poeta [argh!]. Atualmente seu trabalho, além de exteriorizar os sentimentos amorosos [meus sentimentos amorosos são, agora, particulares; viram que/como caiu o número de poemas aqui neste blogue?], está engajado também com as causas sociais: Zema finalizou um estágio na Sociedade Maranhense de Direitos Humanos [continuo sócio daquela entidade; atualmente estou estagiando no Sindicato dos Ferroviários].

Tendo como ídolo, tanto no campo das artes como no aspecto profissional e pessoal, o cantor, compositor, poeta e jornalista Cesar Teixeira [(hoje) amigo pessoal, mas antes de tudo, um ídolo, como dito], Zema Ribeiro vislumbra um futuro no Jornalismo Cultural. Pretende se formar, fazer especialização, mestrado [talvez, sinceramente] e trabalhar na área da produção cultural. “O envolvimento cultural em nosso Estado é muito limitado. Para você lançar um livro, por exemplo, tem que atuar em todas as frentes: produção, captação [de recursos] e confecção” [por exemplo: o livro de Joãozinho Ribeiro ainda não foi publicado por isso, creio], desabafou o estudante, que vê em outro aluno de Jornalismo, Heuben Júnior [é o Reuben, linkado aí do lado], um jovem de futuro brilhante.

Assinando uma coluna semanal no jornal Diário da Manhã (terças, quintas e domingos) e escrevendo para o blog http://olhodeboi2.zip.net, Zema vai levando a vida [melhor que nunca!]. No periódico, os leitores encontrarão dicas de cultura, resenhas de livros, trabalhos literários, inseridos também no endereço eletrônico já mencionado. Para esse jovem estudante e poeta [argh! argh!], aproveitar o melhor da vida é isso: trocar idéias, poemas, prosas com os amigos espalhados em todo o país, através da rede de relacionamentos via internet, resquícios da época que estagiava no Banco do Nordeste, assistir boas aulas e tomar aquela cervejinha bem gelada! [faltou “namorar”…]

Diário Cultural de hoje

Ligeirinhas

Festival, lançamento, a babel escatológica madredivina e vinte anos sem Nelson Cavaquinho. Ligeiras aqui no Diário Cultural. Confira!

I Festival Sabará de Música

O Núcleo Artístico e Cultural da Cidade Operária (NACCO) promove nos dias 18 e 19 de março o I Festival Sabará de Música. O festival acontece em comemoração aos vinte anos daquele conjunto habitacional. As inscrições podem ser feitas entre os dias 6 e 11 de março na Associação de Moradores do Jardim América (Av. 3, s/n, Jardim América). Para maiores informações: 3247-6830 (manhã), 3247-2410 (tarde), artenacco@ig.com.bre/ou http://www.no.comunidades.net/nacco

Laranjeira

Acabam de sair, com o selo da Laranjeira Produções, três discos de Saulo Laranjeira. A caixa com os três títulos, que pode ser adquirida por R$ 75,00, traz “Coletânea”, “Assunta Brasil” e “Faróis do Tempo”. Os discos podem ser comprados também separadamente. Mais no site http://www.saulolaranjeira.com.br e mais em breve, aqui no Diário Cultural.

A babel escatológica madredivina

Domingo. Carnaval no circuito madredivino. O de sempre: porta-malas abertos, música (ruim) a todo volume. Na Praça da Saudade, um palco. Mas os barraqueiros não se contentam: cada um com seu som, geralmente nada a ver com carnaval. O folião não sabe no que se concentrar; e se soubesse e tentasse, não conseguiria. Como bem disse um amigo/ídolo, quando lhe perguntei, sexta-feira, se ele iria à Madre Deus no fim de semana: “Madre Deus? A Madre Deus não existe mais!”.

Há vinte anos Nelson Cavaquinho passava a se chamar saudade

Um dos maiores sucessos de Nelson Cavaquinho é, com certeza, “Quando eu me chamar saudade”, gravado pela dama Elizete Cardoso: “depois que eu me chamar saudade / não preciso de vaidade / quero preces e nada mais”, diz a letra, que falava da morte, tema recorrente em sua obra. Há vinte anos, em 18 de fevereiro de 1986, Nelson subia. Boêmio inveterado, o senhor de cabelos prateados é autor de diversos clássicos do cancioneiro nacional: “Rugas”, “Pranto de Poeta”, “Folhas Secas” e “Luz Negra”, entre outras. Diário Cultural homenageia o compositor transcrevendo a letra de uma de suas mais belas músicas, acreditando em sua mensagem. “Juízo Final”:

“O sol há de brilhar mais uma vez,
a luz há de chegar aos corações,
do mal será queimada a semente,
o amor será eterno novamente.
É o juízo final,
a história do bem e do mal.
Quero ter olhos pra ver
a maldade desaparecer”.

A Vida de Seu Francisco

[Diário Cultural de hoje]

Era quarta-feira à tarde e o sol inclemente esmorecia a Ilha de São Luís quando “Diário Cultural” toca a campainha da casa de Chico Maranhão. O arquiteto-músico abre a porta pessoalmente, trajando uma camisa preta com a propaganda de um arraial de uma escola de inglês da capital maranhense, bermuda e sapatilha. A sala divide o espaço com a garagem (ou é o contrário?), onde “dormem” um [veículo] gol branco, uma parelha de tambor de crioula, uma escrivaninha, uma lancheira e muitos, muitos livros. A seguir, recortes do rápido papo [ao fim da entrevista, ele desculpa-se: “daqui a pouco tenho que dar aula”].

A arquitetura da casa na rua Graça Aranha, Centro, causa estranheza: a garagem toma a frente e mistura-se à sala. “Esta é uma casa do século passado, anos quarenta, cinqüenta. São Luís está muito alterada, tem hoje uma quantidade muito grande de asfalto, para a qual ela não foi projetada. Há quarenta anos, a Ilha tinha uma temperatura de dez graus à noite; hoje, não fica em menos de vinte e cinco. As casas têm que ser readaptadas. Isso aqui era uma porta-e-janela, a reforma é necessária para se criar um ambiente saudável”, explica Chico, professoral, sobre suas idéias para o espaço reformulado por ele.

Sobre a “entrada” da arquitetura em sua vida, conta: “Quem mora numa cidade como São Luís tem arquitetura na alma, queira ou não queira. A cidade foi muito bem feita pelos mestres dos séculos XVIII e XIX. Nasci num sobrado tradicional, meu interesse por arquitetura não se dá somente quando vou para São Paulo estudar. Quem mora assim, com um avarandado, irá se interessar de qualquer forma por arquitetura. Minha música tem muito a ver com arquitetura. Diversos amigos dizem que eu sou um arquiteto-músico”. Lembra-se de Chico de Assis, amigo seu, dos idos tempos em Sampa: “O Chico dizia que o arquiteto é uma profissão em disponibilidade, adaptável a qualquer coisa. A formação do arquiteto é muito criativa”. E acrescenta: “Mas na verdade eu não me considero arquiteto nem músico. Sou um criador, um homem criador, um cidadão que faz coisas e procura fazê-las com qualidade”.

Mais que de agora: lances de sempre

Em 1969, Chico Maranhão estréia em disco. O antigo escritório de publicidade de Marcus Pereira vira gravadora a partir do lançamento de um disco brinde que trazia, de um lado, músicas de Chico Maranhão, que à época assinava somente “Maranhão” [assim os amigos o chamavam, dada a procedência nordestina] e do outro, Renato Teixeira. “Só eu e Renato temos esse privilégio na música brasileira, um disco em parceria em início de carreira. Se pensarmos em Caetano e Gil, por exemplo, não há”, coloca.

Diversos nomes talentosos foram descobertos, Brasil afora, pela gravadora Discos Marcus Pereira, entre os quais Cartola e Canhoto da Paraíba. Em 1978, a gravadora colocava dois antológicos discos (de) maranhenses no mercado: Bandeira de Aço, de Papete, e Lances de Agora, de Chico Maranhão. Se o primeiro reunia um time de compositores de primeira linha — Josias Sobrinho, Cesar Teixeira, Sérgio Habibe e Ronaldo Mota —, o segundo reunia, para registrar canções de autoria do “maior compositor vivo do Maranhão”, na opinião do jornalista e poeta Roberto Kenard, um não menos importante time de músicos — Arlindo Carvalho, Antonio Vieira, Sérgio Habibe, Paulo Trabulsi e Ubiratan Sousa, entre outros — e foi gravado entre os dias 22 e 25 de junho de 1978 na sacristia da Igreja do Desterro.

Indagado sobre a(s) diferença(s) entre os trabalhos [seu disco nunca teve reedição em cd], Chico Maranhão não se mostra rancoroso e comenta: “São dois destinos diferentes. O Bandeira de Aço, por mais que seja um disco da Marcus Pereira, tem um cuidado especial dado pelo Papete. As músicas foram levadas para São Paulo, trabalhadas, e o disco foi feito. Em Lances de Agora, não: meu disco é muito mais amador, muito mais ingênuo, romântico, descompromissado com o mercado. Era uma reação à posição da Rede Globo, não era pra tocar na novela. De certa forma, eu paguei um preço, com muito orgulho. Mas esse preço ainda será ressarcido, quem sabe. Um dia será reconhecido”. Essa postura é mantida até hoje na obra de Chico Maranhão. “E acho que sempre será assim”, completa o próprio.

Gerações

Sobre a nova geração, Chico opina: “Estou com 63 anos e me sinto com 25, graças à qualidade que busco sempre. Cada vez mais a peneira se fecha buscando qualidade, seja enquanto artista, seja enquanto pessoa. Em relação à minha geração, a diferença básica é que éramos ingênuos e isso é fundamental. A geração de hoje é completamente diferente: competente, decidida, autoritária, competitiva. Falta um pouco de inexperiência, de olhar algo e se impressionar. Banalizou-se tudo. Falta autenticidade. Mas há muita gente boa fazendo coisas novas e boas por aí”.

E continua: “O manguebit foi uma experiência interessante do Nordeste, aqui do nosso lado. Quando eu fiz a Ópera Boi, cheguei a ser colocado no mesmo balaio, no mesmo padrão. Aproximou-se Recife de São Luís, misturou-se um pouco com Hermeto Pascoal. Achei isso interessante”. E cita matéria de Tárik de Sousa, no Jornal do Brasil, à época, fazendo essas comparações.

Magistério

Antes mesmo de concluir a graduação, Francisco Fuzzetti de Viveiros Filho [nome de pia de Chico Maranhão] já ajudava no departamento de projetos da escola de Santos/SP. Aqui ele lembra como entrou no magistério: “Recém formado fui dar aulas, há quase quarenta anos. Muito tempo depois, quando fiz a Ópera Boi, cansei, resolvi dar um tempo. Mas como não consigo descansar, revisei toda a arquitetura e fiz uma tese de mestrado, coisa que eu me devia [a tese virou livro, intitulado “Urbanidade dos Sobrados”, que deverá ser lançado ainda este ano, junto a dvd, disco, e songbook]. A partir daí, comecei a querer ver como estava a arquitetura em São Luís. Formou-se o curso de Arquitetura do CEUMA e fui dar aulas lá. Foi uma grande mudança de vida. Eu não sou professor, eu estou professor. Uma aula é diferente de um show, embora toda aula seja um show. É arte e ciência. A minha aula hoje, é artística e científica; a minha obra também”.

Para dar aulas, Chico carrega seu material em uma lancheira azul. O fato chegou a causar algumas reações, “o preconceito”, como ele mesmo frisa. Depois os alunos gostaram. “Sou um artista que dá aulas”, diz. “Elementos como este, ajudam a quebrar barreiras entre professor e alunos. O aluno precisa do professor, muito. E no Maranhão, precisa muito mais. Não há conhecimento se não houver liberdade”, arremata, de forma certeira.

Serviço

O único disco de Chico Maranhão disponível no mercado é “Só Carinho” (1997). Lá, há, entre inéditas, uma regravação de “Pastorinha” – clássico de seu repertório, lançado no antológico e já citado “Lances de Agora”, 1978. Este mais recente trabalho pode ser adquirido com a produção do compositor, através do e-mail lenavido@hotmail.com


Notas

Sobre o título: No disco “Fonte Nova” (1980), de Chico Maranhão, há uma música chamada “A Vida de Seu Raimundo”, que “trata da morte do jornalista Wladmir Herzog, mesclando-a com a violência ‘popular’”, segundo afirmou o compositor durante a entrevista.

Sobre o texto: A presente matéria foi escrita com base em entrevista dada por Chico Maranhão a Zema Ribeiro em 23 de novembro de 2005; tratava-se de trabalho acadêmico para a disciplina Jornalismo Revista, ministrada pela professora Ana Patrícia Choairy, no quarto período do curso de Comunicação Social, habilitação em Jornalismo, da Faculdade São Luís. [O texto sofreu pequenas alterações para efeito de publicação no Diário da Manhã].

O Carnaval do Povo no Reino da Serpente

Musical, com roteiro e direção de Cesar Teixeira, será apresentado como parte das comemorações pelos vinte e sete anos da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos. Na ocasião, será lançado também o primeiro número da revista Direitos Humanos, periódico editado pela SMDH. Diário Cultural, em edição extra, dá conta ainda, do site da entidade, já no ar: http://www.smdh.org.br; confira!

[Diário Cultural, extra, de hoje]

“Para o povo da Ilha… nada!”, grita o coringa e todos respondem, a certa altura de “O Carnaval do Povo no Reino da Serpente”, espetáculo musical que será apresentado hoje, às 19h, no Teatro Alcione Nazareth (Centro de Criatividade Odylo Costa, filho, Praia Grande), com entrada franca. A idéia é comemorar os vinte e sete anos da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos (SMDH).

O espetáculo é resultado de um trabalho desenvolvido ao longo dos últimos seis meses pela SMDH, que coordenou o projeto “Ritmando a Cidadania”, através do Consorcio Social da Juventude da Ilha de São Luis, parceria do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Delegacia Regional do Trabalho/MA, Centro de Cultura Negra do Maranhão (CCN) (entidade âncora), além de um conselho gestor, composto por entidades da sociedade civil.

Vinte e três jovens da Vila Embratel aprenderam, ao longo dessas atividades, a confecção de instrumentos musicais, noções de canto, dança e teatro. Entre agosto e dezembro do ano passado, os participantes do projeto foram contemplados com bolsas mensais de R$ 150,00, além de lanche e vale transporte (para atividades fora do bairro).“O objetivo principal do projeto foi proporcionar a estes jovens a oportunidade de conquistar sua cidadania através do aprendizado de ritmos maranhenses e da confecção de instrumentos regionais, buscando sua inserção em um mercado alternativo de trabalho e a melhoria de sua renda familiar”, afirma Joisiane Gamba, advogada da SMDH e coordenadora do projeto Ritmando a Cidadania.

Diversos artistas participaram da montagem do espetáculo: Cesar Teixeira (roteiro, direção e concepção cenográfica), Kleber “Bamba” Lopes (coreografia), Negreiros Xavier (percussão) e Diego Viegas (confecção de instrumentos), estes, para além do espetáculo, trabalharam com o grupo de jovens como instrutores; ao grupo, soma(ra)m-se Zelinda Lima (fantasia do bloco tradicional), Édson Mondego (painéis de fundo), Paulo César (confecção da serpente), Dida Magalhães e Analice (dança do tambor de crioula).

“Mais que um espetáculo teatral, “O Carnaval do Povo no Reino da Serpente” é um musical”, Cesar Teixeira faz questão de frisar. Mas percebe-se ao longo da apresentação a preocupação com a pesquisa histórica para a produção do mesmo; através da música são apresentadas algumas histórias que compõem a história do Maranhão, numa agradável mistura: a invasão de europeus, a dança de blocos tradicionais que já nem existem, pontos de mina e cantos do tambor de crioula, além, é claro, da conhecidíssima lenda da serpente, que hoje tem, talvez, sua melhor representação, na ameaça da implantação de um pólo siderúrgico na capital patrimônio cultural da humanidade.

Direitos Humanos: em revista e na rede

Aproveitando o clima de festa, será lançado também o primeiro número da revista Direitos Humanos, periódico da SMDH. “O primeiro tema (da revista) é a vida, analisada por sua negação mais violenta: o crime de homicídio”, como nos bem avisa Márcio Thadeu, no texto de apresentação da obra. Textos refletem o tema e é feito um apanhado de crimes dessa ordem, através de notícias publicadas na imprensa maranhense entre agosto de 2004 e junho de 2005, e com base no banco de dados do Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH), que conta com mais de quatrocentas entidades filiadas no Brasil, a SMDH uma delas.

E já está no ar a página da SMDH na internet: http://www.smdh.org.br. Acessando-a é possível obter informações da entidade, sua atuação e a louvável e difícil luta diária por fazer valer o seu lema maior: “em defesa da vida”.

Serviço

O quê: espetáculo musical “O Carnaval do Povo no Reino da Serpente”, em comemoração aos 27 anos da SMDH.
Quem: 23 jovens do projeto Ritmando a Cidadania, do Consórcio Social da Juventude da Ilha de São Luís. Roteiro, direção e concepção cenográfica: Cesar Teixeira.
Onde: Teatro Alcione Nazareth, Centro de Criatividade Odylo Costa, filho, Praia Grande.
Quando: hoje, às 19h.
Quanto: entrada franca.
Na ocasião será lançado também o primeiro número da revista Direitos Humanos, periódico da SMDH.

As belas infâncias de Marcos Fábio

O professor e jornalista Marcos Fábio Belo Matos lança hoje seu oitavo título: “Crônicas de Menino”. A noite de autógrafos do livro, que contou com o patrocínio do Programa BNB de Cultura, edição 2005, acontece às 19h, na Biblioteca do Centro de Negócios da Faculdade São Luís. Na obra, breves relatos, de memória, da infância do autor na Bacabal dos anos setenta e oitenta do século vinte.

[Diário Cultural de hoje]

A lição ecoa em minha cabeça. Eu ainda nem pensava em escrever. Gostava de ler, disso eu lembro que gosto desde sempre, desde que aprendi a fazê-lo. “Entre duas palavras, escolha sempre a mais simples; entre duas palavras simples, escolha a menor”. Não, não lembro quem disse isso, ou onde li. Mas guardei como um ensinamento de algum mestre maior, algo a que se deve seguir sempre.

Ah!, a infância. A infância deveria ser o lugar da simplicidade, não é? Era assim, foi assim uma época, era uma vez. E as histórias já nem começam mais assim. Simplicidade. E podemos falar de “Crônicas de Menino”. Simplicidade e beleza, traduzidas pelo jornalista e professor Marcos Fábio Belo Matos em seu novo livro, selecionado na edição 2005 do Programa BNB de Cultura. Ele, que segue à risca, a lição com que começo este texto.

“Crônicas de Menino” é saudade, embora não seja dor. Relato de lugares que não existem mais, muito embora vivíssimos na memória do cronista. Traquinagens, estripolias, travessuras. Um livro para encantar adultos e jovens e crianças e todos que o tomarem às mãos. Algodão-doce, papagaio, bicicleta, banho de rio, chuva, circo, terra molhada, carnaval, paixonites infantis, escola, igreja, parque, cinema… uma Bacabal que já não existe mais: Marcos Fábio nos traz nítida, em sua escrita fina.

Dezessete histórias compõem a paisagem do autor, que entre poesias, crônicas, contos, pesquisa histórica e coletâneas de artigos, chega a seu oitavo título. Dono de um senso de humor aguçado – por vezes irônico, sei, fui seu aluno – ele sabe dar o tempero, no ponto certo, sempre, às histórias – verídicas – ali contadas.

Uma Bacabal do passado numa São Luís do presente

“Conteúdos graciosos, leves e bem humorados”, como adverte o prefácio, uma (espécie de) carta assinada pela professora Janete Chaves, Coordenadora do Curso de Turismo da Faculdade São Luís. Aliás, “Crônicas de Menino” é uma Bacabal do passado que se encontra em/na São Luís do presente – a cidade e a faculdade: seu autor dá aulas lá (nos cursos de Turismo e Comunicação Social), Patrícia Azambuja, responsável pelo projeto gráfico, é também professora da casa. Aline Piauilino, que com suas ilustrações, torna ainda mais bonitas as crônicas do volume, é artista plástica bacabalense.

Com patrocínio do Banco do Nordeste, através do Programa BNB de Cultura, Edição 2005, “Crônicas de Menino” será lançado hoje, às 19h, na Biblioteca da Faculdade São Luís, Unidade Centro de Negócios (Rua Osvaldo Cruz, 1455, Centro). (O preço da obra não foi divulgado).

Serviço

O quê: “Crônicas de Menino”, lançamento do livro, selecionado pelo Programa BNB de Cultura, edição 2005
Quem: Marcos Fábio Belo Matos
Onde: Biblioteca da Faculdade São Luís (Centro de Negócios, Rua Osvaldo Cruz, 1455, Centro)
Quando: hoje, às 19h
Quanto: a produção/assessoria não informou o valor do livro.

Foliões da Vila Embratel estréiam na Praia Grande (+ 2)

[release recebido pelo blogueiro; sexta-feira, no Diário da Manhã, com reprodução aqui, texto dele sobre o espetáculo]

Estréia nesta sexta-feira (17), às 18 horas, no Teatro Alcione Nazareth, o espetáculo musical O Carnaval do Povo no Reino da Serpente, encenado por 23 jovens do projeto Ritmando a Cidadania, desenvolvido pela Sociedade Maranhense de Direitos Humanos (SMDH) em parceria com o Consórcio Social da Juventude da Ilha de São Luís. O musical revisita vários ritmos maranhenses, sobretudo associados ao período carnavalesco, como o bloco tradicional, o tambor de crioula e o baralho.

A montagem do espetáculo é fruto de um trabalho coletivo que contou com a participação de Cesar Teixeira (roteiro, direção e concepção cenográfica) e dos instrutores Kleber Lopes (coreografia), Negreiros Xavier (percussão) e Diego Viegas (produção de instrumentos), além de Zelinda Lima (fantasia do bloco tradicional), Édson Mondego (painéis de fundo), Paulo César (confecção da serpente), Dida Magalhães e Analice (dança do tambor de crioula).

Segundo Joisiane Gamba, advogada da SMDH e coordenadora do Ritmando a Cidadania,“o objetivo principal do projeto foi proporcionar a jovens da Vila Embratel a oportunidade de conquistar sua cidadania através do aprendizado de ritmos maranhenses e da confecção de instrumentos regionais, buscando sua inserção em um mercado alternativo de trabalho e a melhoria da renda familiar”.

Desde agosto do ano passado, 65 projetos selecionados foram desenvolvidos em São Luís pelo Consórcio Social da Juventude da Ilha de São Luís, resultado de uma parceria entre Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Delegacia Regional do Trabalho-MA, Centro de Cultura Negra do Maranhão (entidade âncora) e um Conselho Gestor formado por entidades da sociedade civil. Até o mês de dezembro os jovens integrantes de cada projeto receberam uma bolsa de 150 reais, além de lanche e vale transporte, para as atividades fora do seu bairro.

Para a coordenação do projeto Ritmando a Cidadania, o espetáculo é o coroamento de todo o trabalho realizado pelos rapazes e moças da Vila Embratel, que, após a estréia, deverão também fazer apresentações nos palcos do circuito carnavalesco. O Teatro Alcione Nazareth fica localizado no Centro de Criatividade Odylo Costa, filho, à Rampa do Comércio, nº 200 – Praia Grande.

2.
Amanhã, conforme já noticiado, lançamento de Crônicas de Menino, de Marcos Fábio Belo Matos.

3.
Domingo, no Diário da Manhã, Diário Cultural especial: A Vida de Seu Francisco, resultado de trabalho nosso (para a Faculdade) com Chico Maranhão.

Duas. Ligeiro!

1. Marcos Fábio Belo Matos em noite de autógrafos na próxima quinta-feira. Às 19h, na Biblioteca da Faculdade São Luís (Centro de Negócios, Rua Osvaldo Cruz, 1455, Centro), o jornalista e professor lança seu Crônicas de Menino, selecionado na edição 2005 do Programa BNB de Cultura. Sobre o livro e o lançamento, o Diário Cultural do dia da festa tratará mais detalhadamente.

2. A nota Navegar é preciso! 2, publicada no Diário Cultural de hoje e reproduzida abaixo, foi “pescada” do blogue do Marcelino Freire (link ao lado).

Toques

SMDH comemora seus vinte e sete anos sexta-feira que vem; mais dois capítulos da série “Navegar é Preciso!”; e o colunista se desloca até o Cohatrac para ver/ouvir, apesar dos pesares, carnaval de verdade.

[Diário Cultural de hoje]

Mais SMDH

No último domingo, dia 12 de fevereiro, a Sociedade Maranhense de Direitos Humanos (SMDH) completou 27 anos, conforme noticiado por esta coluna. A comemoração acontece nesta sexta-feira, dia 17, às 19h, no Teatro Alcione Nazareth (Centro de Criatividade Odylo Costa, filho, Praia Grande). Com entrada franca, será apresentado o espetáculo “O Carnaval do Povo no Reino da Serpente”, do projeto Ritmando a Cidadania, desenvolvido pela SMDH através do Consórcio Social da Juventude da Ilha de São Luís. Com roteiro e direção de Cesar Teixeira, o espetáculo mostrará diversos ritmos maranhenses, que serão tocados em instrumentos confeccionados pelos jovens atendidos pelo projeto. Mais detalhes, Diário Cultural dará em breve.

Navegar é preciso!

Contando com um time de peso de colunistas, colaboradores e correspondentes (inclusive internacionais), a revista eletrônica Cronópios é hoje, em se tratando de literatura, um dos mais interessantes veículos da internet brasileira. Nomes como Bráulio Tavares, Marcelino Freire, Xico Sá, Nelson de Oliveira, Edson Cruz, Crib Tanaka e Glauco Mattoso, entre outros, escrevem, fixamente ou de vez em quando, por lá. Vale a pena visitar! Para o Maranhão, este colunista é o correspondente.

Navegar é preciso! 2

Os livros da editora argentina Eloisa Cartonera estão à venda na Mercearia São Pedro, uma espécie de Bar do Léo da Vila Madalena (São Paulo, SP). A diferença entre o boteco preferido por onze entre dez escritores paulistas e o bar da feira do Vinhais, é que lá, há livros e discos para vender: aqui só para se deliciar. Ah!, os livros custam apenas R$ 5,00. Sobre a editora: trata-se de projeto artístico, social e comunitário, onde catadores de papelão transformam lixo em obras de arte (as capas, por exemplo). Para maiores informações, acessem http://www.eloisacartonera.com.ar

Los Periquitos

O colunista esteve, domingo passado, na sede da Associação de Moradores do Conjunto Cohatrac I, prestigiando a festa do bloco Los Periquitos. Com participação da Máquina de Descascar Alho e Ki Zoeira, carnaval de verdade. Tá: rolaram axés, em som mecânico, mas só nos intervalos entre um grupo e outro. Tá: na rua haviam os chatos de galocha (é, estava chovendo) com seus porta-malas abertos, tocando as mesmas músicas ruins de sempre. Mas, dentro, na festa, predominou o carnaval de verdade. Domingo que vem, Los Periquitos, Máquina e Bicho Terra.