Bumba meu boi: memória, ciência e tradição

A mestra de cultura popular Bel Carvalho lança “Do auto do nosso boi” sábado (3). Foto: Aline Fernandes. Divulgação

A começar pelo título, ao mesmo tempo direto e singelo, “Do auto do nosso boi” (Trança Edições, 2022, 56 p.) soma-se a farta bibliografia (afetiva) existente sobre o bumba meu boi, de longe a mais popular manifestação cultural do Maranhão, patrimônio cultural imaterial da humanidade reconhecido pela Unesco.

No pequeno livro, um mergulho no boi, a partir de sua ciência em meio a memórias afetivas muito particulares. Bel Carvalho, a autora, é a irmã mais nova de Tião e Ana Maria Carvalho. Também mestra de cultura popular, a cururupuense radicada em São Paulo parte das lembranças do boi na infância para ensinar a tradição para quem quiser aprender.

Com ilustrações de Carolina Itzá e projeto gráfico de Andrea Pedro (cujo talento acostumamo-nos a ver em discos de Zeca Baleiro), Bel traz para as páginas do livro o que ajudou a fazer com o Grupo Cupuaçu, fundado por seus citados irmãos, que chegaram antes dela ao Morro do Querosene, no Butantã, em São Paulo: colabora para manter viva a tradição e, consequentemente, levá-la adiante.

Não à toa ela dedica o livro aos pais, Florzinha e Pepê Carvalho, “os esteios da minha caminhada”, como anota na dedicatória, caminhada essa que começa numa época em que às mulheres eram reservados apenas papeis de bastidores na construção de um grupo de bumba meu boi, como cozinhar e costurar – nas origens da manifestação, a cantoria e o cordão (o palco só aparece bem depois) eram permitidos apenas para os homens.

Bel e outras mulheres têm papel fundamental na mudança de concepção que permitiu a elas a ocupação de espaços antes exclusivamente masculinos. Propositalmente, para tornar o livro possível, a autora cercou-se de um time formado apenas por mulheres: além das já citadas Andrea Pedro e Carolina Itzá, Carolina Von Zuben (coordenação editorial e edição), Nathalia Meyer (edição, pesquisa e colaboração), Aline Fernandes (produção executiva, pesquisa e colaboração) e Renata Santos Rente (revisão).

O texto é leve e entre suas classificações estão o teatro (do auto do bumba meu boi, com um texto que propõe uma encenação na última parte do livro) e a literatura infantojuvenil (“faça com um adulto” é recomendação que lemos quando, ao longo das páginas, ela ensina a confeccionar o maracá de lata e o chapéu de vaqueiro, instrumento e indumentária usados pelos brincantes nos grupos de bumba meu boi). Convém lembrar que o auto do bumba meu boi, em tempos mais recentes, tem sido sacrificado em detrimento das apresentações para turistas e a população local em arraiais oficiais e outros eventos, cujo formato e duração comportam apenas a apresentação musical, deixando de lado o teatro popular, de rua, característico da manifestação.

O livro de Bel é um registro do que em geral é transmitido pela oralidade, meio pelo qual a tradição é passada através das gerações. Muito embora grande parte dos grupos de bumba meu boi hoje atue numa lógica de mercado, sua origem é religiosa, com bois dançando geralmente como pagamentos de promessa.

Entre a própria memória e a ciência aprendida e ensinada ao longo de uma vida inteira dedicada à cultura popular, “O auto do nosso boi” coleciona ainda verbetes informando os leitores sobre personagens, instrumentos musicais e sotaques (as variações que os diversos grupos têm de uma região para outra no Maranhão), ilustrando todo o conhecimento que compartilha com toadas, entre gravadas pelo Grupo Cupuaçu e seus irmãos em suas carreiras solo, além de inéditas, incluindo mesmo uma de seu pai.

Neste último quesito, os sotaques, a autora alerta: sua classificação “foi feita com base em alguns estudos sobre o bumba meu boi e no que dizem os próprios fazedores dessa tradição cultural. É importante lembrar que essa classificação não é estática, nem uma verdade absoluta. Assim como tudo na cultura, ela varia com o tempo e de acordo com a visão de quem está pensando sobre isso”, o que é mais um atestado de sua grandeza e conhecimento do assunto.

Bel Carvalho tem consciência de que seu livro não esgota a temática e, portanto, não tem a pretensão de se colocar como dona da verdade, o que é mais um acerto, entre tantos outros, deste seu belo, didático e necessário livro de estreia.

Do auto do nosso boi. Capa. Reprodução
Do auto do nosso boi. Capa. Reprodução

Serviço: lançamento de “Do auto do nosso boi”, de Bel Carvalho. Dia 3 de dezembro (sábado), às 19h30, na Biblioteca do Centro Cultural São Paulo – CCSP, Rua Vergueiro, 1000, Paraíso (ao lado da estação Vergueiro do metrô). Entrada gratuita. Classificação livre.

Lançamento do single “Purificação” marcou Dia da Consciência Negra para as artistas Cyda Olímpio e Mariene de Castro

“Purificação”. Single. Capa. Arte: Alaído. Reprodução

Já se vão mais de 15 anos da estreia da cearense Cyda Olímpio em disco: “Nem jazz nem jeans” saiu em 2005 e é uma delicada coletânea reunindo suas facetas de compositora e intérprete.

Ontem (20), Dia Nacional da Consciência Negra, a compositora teve lançada sua “Purificação”, single de Mariene de Castro – baiana que esteve recentemente em São Luís, em memorável show nas comemorações do aniversário da cidade.

“Essa canção chegou pra mim numa noite de São João. E pra Cyda Olimpio veio através de um sonho. É uma fotografia daquele lugar. Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo da Bahia”, conta Mariene de Castro, referindo-se à cidade-musa inspiradora, terra de Caetano Veloso e Maria Bethânia.

“Ao ouvir pela primeira vez na voz de Cyda me emocionei. Revi nessa canção Dona Canô, Dona Clara, Nicinha, Sydia, Dona Edith, Portugal, Dona Nicinha, as festas de fevereiro, a novena de nossa senhora, vi Roberto, Ulisses, Nando, João do Boi, o nego fugido, o terno de reis. São tantas imagens, lembranças, tantos amigos que já se foram. Muita gente pensa que sou santoamarense. E eu gosto”, revela a soteropolitana.

Ela continua: “Lembro da primeira vez que cheguei à cidade, à noite e a igreja estava aberta, toda iluminada, uma imagem inesquecível. Foi lá que batizei João Francisco, meu filho. Sob as bênçãos de Nossa Senhora da Purificação. Um templo de Oxum. Um lugar que me acolheu como filha. Um lugar que faz parte da minha vida. Essa canção chegou lavando meu coração com as águas sagradas e purificadas de Oxum, pelas mãos de Cyda Olimpio. Serei pra sempre agradecida. Viva Oxum! Viva Nossa Senhora da Purificação. Que essa canção lave nossas dores”. Amém, Mariene de Castro!

A capa do single foi desenhada por Alaído, artista que os ludovicenses conheceram por ocasião da apresentação mais recente de Mariene de Castro em São Luís – ele e sua mãe, Alaíde Almeida, assinavam o painel-cenário do show. No single, gravado no Estúdio Casa da Árvore, a voz da cantora é emoldurada por Nino Bezerra (contrabaixo acústico), Gabriel Rosário (bandolim, violão e arranjo), Marcos Bezerra (viola caipira), Gel Barbosa (acordeom) e Fábio Cunha (percussão e arranjo).

Com 35 anos de carreira entre a noite, o disco e a composição, Cyda Olímpio não esconde a satisfação de ter Mariene de Castro em seu rol de intérpretes. ““Purificação” chegou até mim em um sonho, linda, doce, leve e como um recado de cura, tão necessária pra mim e espero que também para quem a escutar. Fui só humildemente um instrumento na jornada. Outras pessoas, generosa e afetivamente, fizeram chegar à voz nobre e sublime de Mariene de Castro, para que “Purificação” continue cumprindo seu papel de ser uma música não somente minha, mas de todos nós”, diz.

*

Ouça “Purificação”:

A voz do Brasil

A cantora Gal Costa. Foto: Fernando Frazão. Agência Brasil. Reprodução

Gal Costa (26/9/1945-9/11/2022) é um dos meus primeiros ídolos musicais – os outros são Nelson Gonçalves, Roberto Carlos e Waldick Soriano, graças à modesta coleção de discos de meus avós (com quem morei até os sete anos), que comecei a fuçar ainda na infância. Do último, por exemplo, aos seis anos de idade eu sabia de cor e salteado as 12 faixas do repertório de um elepê intitulado “O melhor de”, de capa azul, com uma foto dele sobre um fundo cor de laranja. O disco abria com “Tortura de amor”.

Como quase todo brasileiro nascido da década de 1960 para cá, tenho Gal Costa desde sempre presente na trilha sonora da própria vida. É como se ela sempre estivesse estado ali. Em meu aniversário de um ano, por exemplo, o disco “Fantasia” (1981), lançado no ano em que eu nasci, quase furou, de tanto tocar – por causa do sucesso “Festa do interior” (Abel Silva/ Moraes Moreira).

Pode soar cabotino escrever sobre o falecimento de alguém falando de si mesmo, mas se o faço é tão somente para demonstrar a importância de Gal Costa em minha formação e perceber algo cuja ficha cai somente agora: talvez a baiana tenha sido uma das responsáveis pelo menino que adorava descobrir as novidades nos museus musicais dos parentes ter decidido virar jornalista. Entre tantos outros vinis da coleção de meus avós, por exemplo, havia dois exemplares de “A arte de”: um de Caetano Veloso e um de Gal Costa. Quando se abriam os álbuns duplos podiam se ler as letras e foi neles que aprendi a cantar, por exemplo, “London, London” (Caetano Veloso) inteira, sem nunca ter tido uma aula de inglês antes.

Corta para 1995: Gal Costa lançou “Mina d’água do meu canto”, com repertório inteiramente dedicado a músicas de Chico Buarque e Caetano Veloso – deste, foi a maior intérprete, superando inclusive Maria Bethânia, irmã do também baiano. Meu avô comprou o vinil, que tinha menos músicas que o cd (que só recentemente consegui comprar, numa de minhas andanças por sebos) e eu ficava horas ouvindo “Odara” e “Língua”, ambas de Caetano, e Gal é tão marcante que às vezes me pego pensando se não foi com ela que ouvi essas músicas pela primeira vez.

Invariável e merecidamente apontada como uma das maiores cantoras brasileiras de todos os tempos, Gal Costa faleceu hoje, de causa ainda desconhecida. Ela havia se submetido a uma cirurgia para a retirada de um nódulo em uma fossa nasal, suspendendo a agenda de apresentações. Diz-se costumeiramente que o Brasil é um país de cantoras e muitas das que se dedicaram ao ofício depois dela, confessam sua influência.

“Tropicália ou panis et circensis”. Capa. Reprodução

Com os também baianos Caetano Veloso (com quem dividiu “Domingo”, seu disco de estreia, em 1967), Gilberto Gil, Maria Bethânia e Tom Zé e o piauiense Torquato Neto – que se suicidou há exatos 50 anos, na mesma data em que Gal nos deixa –, a cantora foi uma das artífices do movimento tropicalista, que revolucionou a música popular brasileira e ajudou a cunhar a própria sigla MPB para se referir ao amplo arco de interesses que movimentou suas carreiras. Ela e o piauiense aparecem lado a lado na icônica fotografia da capa do disco-manifesto “Tropicália ou panis et circensis” (1968), arranjado por Rogério Duprat.

Com Caetano, Gil e Bethânia, em 1976, Gal Costa lançou um elepê intitulado “Doces Bárbaros”, mesmo nome do quarteto. Quando Gil completou 80 anos em junho passado, durante uma coletiva de imprensa por ocasião do lançamento de um museu virtual com sua obra e memorabilia, com mais de 40 mil itens, o compositor chegou a afirmar: “Que a gente se reúna de novo, os quatro Doces Bárbaros. Tomara que aconteça”. Infelizmente não deu tempo.

O também baiano Waly Salomão produziu o antológico “Fa-tal – Gal a todo vapor” (1971), um de seus mais festejados álbuns, em que lançou nomes como Jards Macalé, parceiro de Waly em “Vapor barato”, e Luiz Melodia, com “Pérola negra”, para citar apenas dois clássicos. Sua versão voz e violão (com arranjo de Lanny Gordin) para “Sua estupidez” (Roberto Carlos/ Erasmo Carlos) é simplesmente insuperável – pouca gente sabe, mas é da dupla o sucesso composto sob medida para a musa inspiradora, “Meu nome é Gal” (1969).

A menina que, reza a lenda, exercitava o canto em casa com uma panela na cabeça, para testar timbres, texturas e conhecer e ousar ultrapassar os próprios limites, Maria da Graça Costa Pena Burgos, seu nome de batismo, sempre teve na curiosidade uma de suas marcas. Entre as 10 músicas gravadas por Gal Costa mais tocadas nos últimos 10 anos em rádios, sonorização ambiental e casas de festas e diversão, aparecem os nomes de Caetano Veloso (“Meu bem, meu mal”, “Baby” e “Dom de iludir”), Djavan (“Azul” e “Açaí”), Ronaldo Bastos (“Chuva de prata”, parceria com Ed Wilson, e “Sorte”, com Celso Fonseca), Mallu Magalhães (“Quando você olha pra ela”), Chico Buarque (“Folhetim”), Michael Sullivan, Miguel e Paulo Massadas, parceiros em “Um dia de domingo”, cujo dueto com Tim Maia é a campeã de execuções.

O ecletismo do top 10 (a nota de pesar do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad) lista as 20 mais) confirma: a baiana tinha seus compositores prediletos, mas sempre se manteve aberta ao novo, o que explica, em alguma medida, ter sido madrinha dos citados Macalé e Melodia, mas que também permitiu à artista revelar e/ou ajudar a reconhecer o talento de nomes como Mallu Magalhães, Vitor Ramil (de quem gravou “Estrela, estrela” em 1981, mesmo ano em que o autor, então com 18 anos), Marília Mendonça (com quem gravou em dueto “Cuidando de longe”, parceria dela com Juliano Tchula, Júnior Gomes e Vinícius Poeta em “A pele do futuro”, de 2018), Junio Barreto (de quem gravou em “Estratosférica”, de 2015, “Jabitacá”, parceria dele com Lirinha e Bactéria, e a faixa-título, dele, Pupillo e Céu; além de “Santana”, em “Hoje”, seu disco de 2005) e Zeca Baleiro, que merece uma história à parte.

Em 1997, ano em que o maranhense lançava seu disco de estreia, “Por onde andará Stephen Fry?”, pela MZA Music, do Midas musical Marco Mazzola, a cantora gravaria seu “Acústico MTV” para o canal de televisão MTV Brasil, com a participação de nomes como Frejat, Herbert Vianna e Luiz Melodia. Uma das músicas do disco de estreia de Baleiro era “Flor da pele”, composta em homenagem a “Vapor barato”, a citada parceria de Jards Macalé e Waly Salomão. O maranhense e a baiana cantaram juntos um medley com as duas músicas e o resto é história.

Não tive a oportunidade de ver Gal Costa ao vivo. Alguns tiveram e não souberam aproveitar: em 2012 a artista se apresentou em São Luís, em evento para convidados na inauguração das obras de ampliação de um shopping center da capital maranhense, ocasião em que ela teve que interromper seu show de cerca de uma hora por três vezes, pedindo ao público para se calar, já que o barulho das conversas estava impedindo-a de fazer seu trabalho. Ela cumpriu seu compromisso profissional, mas ao fim da apresentação, irritada, saiu do palco sem se despedir do público.

Na recém-encerrada eleição presidencial, em nome de superar o projeto neofascista no poder, a cantora declarou apoio a Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de quem era histórica opositora. Em uma rede social, ela celebrou a vitória: “Orgulho do nosso Brasil!!! Vamos reconstruir nossa democracia com Lula meu presidente!!!! A felicidade não cabe em mim!!!”, exclamou.

Se em “Brasil” (Cazuza/ George Israel/ Nilo Romero), em vez de “mostra tua cara” Gal Costa tivesse cantado “mostra tua voz”, certamente ouviria a si própria.

“Canções e paixões” joga luz sobre a trajetória de Célia Maria

[release]

Com seis faixas, a maioria inéditas, novo trabalho da intérprete valoriza o lirismo das letras e a beleza de sua voz

A cantora Célia Maria. Foto: divulgação

A longa espera tem data para acabar: na próxima segunda-feira (14 de novembro) a cantora Célia Maria disponibiliza, no Spotify (e no dia seguinte nas demais plataformas de streaming), seu novo EP, “Canções e paixões” – faça a pré-save aqui.

Em “Canções e paixões” Célia Maria passeia com os habituais talento e elegância por balada, canção e salsa, com pitadas de bolero e samba-canção, tendo sua voz, sempre apontada como uma das mais bonitas da música popular brasileira produzida no Maranhão, emoldurada por Daniel Miranda (trombone), Danilo Santos Costa (saxofone tenor), Diogo Nazareth (guitarra, piano, programações eletrônicas, synths, cavaquinho, violão e arranjos), Emílio Furtado (contrabaixo acústico), Hugo Carafunim (trompete), João Paulo (contrabaixo), Jorlielson (violoncelo), Luiz Cláudio (percussão, bateria, direção e produção musical), Ricardo Sandoval (percussão), Thales do Vale (trompete) e Victtor Sant’Anna (bandolim).

O repertório é quase inteiramente inédito. Abre o EP o “Bolero de Célia”, que Zeca Baleiro compôs especialmente para a diva. “Rua do avesso” (Joãozinho Ribeiro/ Zé Américo Bastos), “Viajante” (Theresa Tinoco) e “Sem despedida” (Adriana Bosaipo) ganham a primorosa interpretação da cantora em suas primeiras gravações. As exceções são o clássico “Manhã de carnaval” (Luiz Bonfá/ Antônio Maria) e “Apelo”, tema de domínio público (eventualmente atribuído a Nhozinho Santos), gravada por Zeca do Cavaco no disco de estreia do Regional Tira-Teima (“Gente do choro”, de 2017).

“Canções e paixões” sucede o homônimo “Célia Maria” (2001), disco de estreia da cantora, lançado pela então Fundação Cultural do Maranhão, com repertório que incluía compositores como Antonio Vieira, Bibi Silva, Cesar Teixeira, Chico Buarque, Chico Maranhão, Edu Lobo, João do Vale, Joãozinho Ribeiro e Luiz Bulcão, entre outros. À época, o disco recebeu diversos troféus no extinto Prêmio Universidade FM.

Célia Maria começou a carreira em programas de auditório na chamada era de ouro do rádio – um de seus epítetos é justamente “a voz de ouro do Maranhão”. Cecília Bruce dos Reis na certidão de nascimento, a cantora adotou o nome artístico que a acompanha até hoje para fugir da vigilância dos pais quando soltou a voz pela primeira vez diante de uma plateia. Chegou a se apresentar nas rádios Nacional e Mayrink Veiga, nos programas então comandados pelos lendários César de Alencar e Abelardo Barbosa, o Chacrinha.

Manteve trajetória discreta, de entrega e amor à música, com um repertório coerente – o novo EP é ótimo exemplo –, valorizando pérolas de compositores brasileiros que marcaram época, mas sem abrir mão de conhecer e interpretar também autores das novas gerações.

“Canções e paixões”, além de satisfazer o exigente fã-clube da cantora, deve conquistar-lhe novos admiradores. Ouçam com os ouvidos, alma e coração!