por Zema Ribeiro*
NO ALTAR DO SAMBA
Em disco dividido com os violonistas Luiz Flávio Alcofra, Rogério Caetano e Zé Paulo Becker, Marcos Sacramento reafirma seu lugar na música brasileira.
Marcos Sacramento já tinha, há tempos, lugar garantido no altar da boa música brasileira, sobretudo o samba, gênero a que tem se dedicado com mais afinco, seja atualmente, no trabalho solo, seja quando integrava o grupo Lira Carioca – que em alguns volumes tributou Sinhô, um dos pais do gênero – ou quando dividiu disco com Clara Sandroni e Maurício Carrilho (de quem interpreta Morena, em parceria com Paulo César Pinheiro), em homenagem a Baden Powell, que inventou uma nova batida ao violão e um novo estilo: os afro-sambas, quiçá seus trabalhos mais famosos.
[Sacramento entre Lenine e Caetano na Fnac de Paris]
Na cabeça [Biscoito Fino, 2009] reafirma a posição de Sacramento – sagrado desde o sobrenome. Acompanhado dos violões seis cordas de Luiz Flávio Alcofra (do Água de Moringa) e Zé Paulo Becker (do Trio Madeira Brasil), e do violão sete cordas de Rogério Caetano – responsáveis pelos arranjos –, o artista reinventa o próprio samba: um disco só com violões pode assustar, num tempo em que discos do formato trazem releituras óbvias sem primar pelo estético – em nenhum aspecto. Não é o caso.
Marcos Sacramento mostra-se, além do grande intérprete que já conhecemos, também um compositor, assinando duas das doze faixas do disco: a de abertura, que batiza o trabalho, em parceria com Luiz Flávio Alcofra, e Um samba (“Um samba para a dor/ para Nelson Cavaquinho/ no tempo da beleza”), parceria com Carlos Fuchs, que assina a produção de Na cabeça. Entre as interpretações, nomes consagrados como Cartola (Sim, com Oswaldo Martins), Noel Rosa (Último desejo), Sérgio Natureza (Pavio, com Luiz Flávio Alcofra) e Chico Buarque (A Rosa). Nomes novos – ou nem tanto – também ganham interpretações Na cabeça: Zé Paulo Becker e Moyséis Marques (outro grande jovem nome do samba brasileiro) assinam Canto de quero mais (“Se deleite com a santa paz/ paz que a gente com fé plantou/ que o show já se findou/ em breve vai prosseguir/ e querendo, pode aplaudir”); de Luiz Flávio Alcofra, Sacramento canta Calúnia (“Teu erro é dar ouvidos/ a quem não te quer bem/ não desejo o mal/ nem a ruína de ninguém/ agora separados/ por línguas ferinas/ quando passas/ sigo em surdina”); de Paulo Padilha, Dia santo também (“Já estou cansado de pegar só a rebarba/ segunda e terça você sempre está a fim/ mas quando chega sexta, sábado e domingo,/ é só pra ele que você vai dizer sim/ daqui pra frente quero a semana inteira/ e feriado e dia santo também”), entre outros. A faixa-título prenuncia: “Não vou dormir/ com esse samba todo na cabeça”.
MAIS – Marcos Sacramento apresenta Na cabeça no SESC Ginástico (Av. Graça Aranha, 187, Centro, Rio de Janeiro), dias 1º. e 2 de setembro. Ainda mais em http://www.mariabragaproducoes.com.br
*Zema Ribeiro escreve no blogue http://zemaribeiro.blogspot.com
(Tribuna do Nordeste, ontem)