Ao invés de reproduzir uma coletânea de regravações de clássicos do Choro, como é muito comum se fazer por aí, os bambas do Instrumental Pixinguinha trilharam outro caminho.
Talvez fosse mais fácil fazer releituras de Brasileirinho, Tico-Tico no Fubá ou Carinhoso. Seria talvez até mais comercial. Mas a rapaziada do Instrumental Pixinguinha preferiu se debruçar sobre partituras que guardavam as criações dos chorões maranhenses, obras que corriam o risco de continuar desconhecidas do público.
Além de ser o primeiro disco de choro produzido no Maranhão, o que, por si só, já é algo da maior importância, este Choros Maranhenses é, fundamentalmente, o registro e a difusão de um rico material chorístico produzido em nossa terra. E isso é revelador.
Revelador de uma seleção de choros maranhenses ricamente elaborados. São peças sofisticadas, cheias de sentimento, que exigem muito dos executantes, mostrando que nossos compositores podem figurar sem dúvida nenhuma entre os grandes do país.
Revelador de mestres do Choro como Nuna Gomes, Zé Hemetério, Raimundo Padilha, Cleômenes Teixeira, Raimundo Amaral e Francisco de Assis – o Six, personagens de uma história musical ainda pouco conhecida. O Instrumental Pixinguinha apenas destampou o baú, que abriga um rico tesouro pronto para ser explorado por nossos músicos e pesquisadores.
O cd de estréia é revelador também da grande capacidade interpretativa e criativa do Instrumental Pixinguinha. Instrumentistas como Raimundo Luíz (bandolim), Juca do Cavaco, Zezé Alves (flauta), Domingos Santos (sete cordas) e Nonato (pandeiro) estabelecem perfeita sintonia em suas execuções. Maturidade só possível graças aos mais de vinte anos de uma vivência chorística intensa.
Condição que lhes confere também autoridade para compor grandes choros, como o sentimental Miritibano, do sete cordas Domingos Santos; ou o alegre Candiru, do Flautista Zezé Alves em parceria com Omar Cutrim; o belíssimo choro Elegante, do Prof. Raimundo Luíz; ou ainda o chorinho Lembro-me de você assim, composição de Juca do Cavaco em homenagem póstuma ao sogro.
Choros Maranhenses, o cd, surge como uma animadora novidade no árido cenário da música instrumental, por ser de fato o primeiro disco de Choro produzido por aqui. E por assumir, enfaticamente, o Choro, enquanto linguagem instrumental e influência sobre a música produzida no Maranhão. Algo já há muito presente nas criações dos nossos grandes compositores populares, como Chico Maranhão, Cesar Teixeira, Josias Sobrinho, Antonio Vieira, Lopes Bogéa, Cristóvão Alô Brasil, Bibi Silva, Joãozinho Ribeiro e tantos outros.
Acho que Pixinguinha está orgulhoso do nome que emprestou a esse grupo.
[Ricarte Almeida Santos – sociólogo e radialista, produtor e apresentador do programa Chorinhos e Chorões da rádio Universidade FM. Membro fundador do Clube do Choro do Maranhão]
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o texto acima tá no encarte de choros maranhenses, disco de estréia do instrumental pixinguinha, sobre o qual ainda escreverei por aqui.