o choro maranhense revelado

Ao invés de reproduzir uma coletânea de regravações de clássicos do Choro, como é muito comum se fazer por aí, os bambas do Instrumental Pixinguinha trilharam outro caminho.

Talvez fosse mais fácil fazer releituras de Brasileirinho, Tico-Tico no Fubá ou Carinhoso. Seria talvez até mais comercial. Mas a rapaziada do Instrumental Pixinguinha preferiu se debruçar sobre partituras que guardavam as criações dos chorões maranhenses, obras que corriam o risco de continuar desconhecidas do público.

Além de ser o primeiro disco de choro produzido no Maranhão, o que, por si só, já é algo da maior importância, este Choros Maranhenses é, fundamentalmente, o registro e a difusão de um rico material chorístico produzido em nossa terra. E isso é revelador.

Revelador de uma seleção de choros maranhenses ricamente elaborados. São peças sofisticadas, cheias de sentimento, que exigem muito dos executantes, mostrando que nossos compositores podem figurar sem dúvida nenhuma entre os grandes do país.

Revelador de mestres do Choro como Nuna Gomes, Zé Hemetério, Raimundo Padilha, Cleômenes Teixeira, Raimundo Amaral e Francisco de Assis – o Six, personagens de uma história musical ainda pouco conhecida. O Instrumental Pixinguinha apenas destampou o baú, que abriga um rico tesouro pronto para ser explorado por nossos músicos e pesquisadores.

O cd de estréia é revelador também da grande capacidade interpretativa e criativa do Instrumental Pixinguinha. Instrumentistas como Raimundo Luíz (bandolim), Juca do Cavaco, Zezé Alves (flauta), Domingos Santos (sete cordas) e Nonato (pandeiro) estabelecem perfeita sintonia em suas execuções. Maturidade só possível graças aos mais de vinte anos de uma vivência chorística intensa.

Condição que lhes confere também autoridade para compor grandes choros, como o sentimental Miritibano, do sete cordas Domingos Santos; ou o alegre Candiru, do Flautista Zezé Alves em parceria com Omar Cutrim; o belíssimo choro Elegante, do Prof. Raimundo Luíz; ou ainda o chorinho Lembro-me de você assim, composição de Juca do Cavaco em homenagem póstuma ao sogro.

Choros Maranhenses, o cd, surge como uma animadora novidade no árido cenário da música instrumental, por ser de fato o primeiro disco de Choro produzido por aqui. E por assumir, enfaticamente, o Choro, enquanto linguagem instrumental e influência sobre a música produzida no Maranhão. Algo já há muito presente nas criações dos nossos grandes compositores populares, como Chico Maranhão, Cesar Teixeira, Josias Sobrinho, Antonio Vieira, Lopes Bogéa, Cristóvão Alô Brasil, Bibi Silva, Joãozinho Ribeiro e tantos outros.

Acho que Pixinguinha está orgulhoso do nome que emprestou a esse grupo.

[Ricarte Almeida Santos – sociólogo e radialista, produtor e apresentador do programa Chorinhos e Chorões da rádio Universidade FM. Membro fundador do Clube do Choro do Maranhão]

*

o texto acima tá no encarte de choros maranhenses, disco de estréia do instrumental pixinguinha, sobre o qual ainda escreverei por aqui.

festival de besteiras que assola o país

[trilha sonora do post: “ou não” (1973), de walter franco, com direção de gravação do recém-subido rogério duprat, em “reedição conjunta” com “revolver” (1975), 2 lps em 1 cd, viva duprat, viva walter, viva gavin! antes, um aviso: este post, ao contrário do que possa indicar o título do mesmo, nada tem a ver com a campanha política encerrada ontem]

tenho andado feliz, apesar de alguns/umas amigos/as acharem-me rabugento. ou ranzinza, sei lá. outros/as dizem “nossa, você está mais magro!”, quando felicidade (geralmente) combina com carcaças mais rechead(inh)as e bochech(inh)as mais rosad(inh)as.

não estou morto (ainda), e a julgar por minha atual felicidade, isso ainda demora… mas, querem dar-me um presente de dia de finados? uma dica:

a batina de “padre” barnabé: amigo arrigo tributa itamar

Arrigo Barnabé grava missa em latim em homenagem ao amigo-parceiro Itamar Assumpção.

por Zema Ribeiro*

Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção surgiram artisticamente na mesma Londrina, interior do Paraná, ainda na década de setenta, século passado. Além dessa semelhança, outras lhes são guardadas: gênios da música brasileira, pouco toca(ra)m no rádio e fizeram discos tão “difíceis” (para os ouvidos acostumados com o padrão “clichê-chiclete” do que é tocado ali desde sempre) quanto fundamentais (para ouvidos que se apaixona(ra)m pela “vanguarda paulistana” após a primeira audição) da música (im)popular brasileira.

O primeiro, compôs diversas trilhas para cinema e teatro e não tem, ainda, o reconhecimento que merece; o segundo, apesar de autor de diversos sucessos de Zélia Duncan e Cássia Eller, idem. Em “Amigo Arrigo” (música de “Pretobrás”, disco de 1998), Itamar cantava “tenho um amigo chamado Arrigo / o resto, depois eu digo”. Não deu tempo: o músico faleceu em 2003, vítima de câncer no estômago.

Fugindo das obviedades – marca de sua trajetória artística ímpar – Arrigo Barnabé não fez o que poderia parecer (e seria, não?) mais fácil: regravar canções e/ou produzir um tributo ao amigo, ou coisa parecida. Foi além: compôs e gravou uma missa (em latim) tributando o “negão” – como Itamar era carinhosamente chamado pelos amigos. As cinco faixas do disco seguem o ritual católico: kyrie, gloria, credo, sanctus e agnus dei. Citando a obra de Itamar, ouve-se, logo na primeira faixa, “Be-ne-di-to João dos San-tos Sil-va Be-le-léu Ky-ri-ne-go di-to e es-tá no céu”, singelo canto/cântico (dos cânticos) das mais de trinta pessoas – regente, cantores e instrumentistas – que participaram da gravação, realizada entre os últimos 2 e 4 de abril.

Missa in memoriam Itamar Assumpção[Thanx God, 2006, R$ 15,00] não é um disco fácil: é uma bela celebração de amizade, cumplicidade, admiração. Cantado/a em língua morta, homenageia o importante Itamar, vivíssimo, ao menos para o seu fiel séqüito de fãs, quase sempre comum ao do amigo Arrigo.

* correspondente para o Maranhão do site Overmundo, escreve no blogue http://zemaribeiro.blogspot.com

[na primeira classe, jp turismo, jornal pequeno, hoje]

a batina de "padre" barnabé: amigo arrigo tributa itamar

Arrigo Barnabé grava missa em latim em homenagem ao amigo-parceiro Itamar Assumpção.

por Zema Ribeiro*

Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção surgiram artisticamente na mesma Londrina, interior do Paraná, ainda na década de setenta, século passado. Além dessa semelhança, outras lhes são guardadas: gênios da música brasileira, pouco toca(ra)m no rádio e fizeram discos tão “difíceis” (para os ouvidos acostumados com o padrão “clichê-chiclete” do que é tocado ali desde sempre) quanto fundamentais (para ouvidos que se apaixona(ra)m pela “vanguarda paulistana” após a primeira audição) da música (im)popular brasileira.

O primeiro, compôs diversas trilhas para cinema e teatro e não tem, ainda, o reconhecimento que merece; o segundo, apesar de autor de diversos sucessos de Zélia Duncan e Cássia Eller, idem. Em “Amigo Arrigo” (música de “Pretobrás”, disco de 1998), Itamar cantava “tenho um amigo chamado Arrigo / o resto, depois eu digo”. Não deu tempo: o músico faleceu em 2003, vítima de câncer no estômago.

Fugindo das obviedades – marca de sua trajetória artística ímpar – Arrigo Barnabé não fez o que poderia parecer (e seria, não?) mais fácil: regravar canções e/ou produzir um tributo ao amigo, ou coisa parecida. Foi além: compôs e gravou uma missa (em latim) tributando o “negão” – como Itamar era carinhosamente chamado pelos amigos. As cinco faixas do disco seguem o ritual católico: kyrie, gloria, credo, sanctus e agnus dei. Citando a obra de Itamar, ouve-se, logo na primeira faixa, “Be-ne-di-to João dos San-tos Sil-va Be-le-léu Ky-ri-ne-go di-to e es-tá no céu”, singelo canto/cântico (dos cânticos) das mais de trinta pessoas – regente, cantores e instrumentistas – que participaram da gravação, realizada entre os últimos 2 e 4 de abril.

Missa in memoriam Itamar Assumpção[Thanx God, 2006, R$ 15,00] não é um disco fácil: é uma bela celebração de amizade, cumplicidade, admiração. Cantado/a em língua morta, homenageia o importante Itamar, vivíssimo, ao menos para o seu fiel séqüito de fãs, quase sempre comum ao do amigo Arrigo.

* correspondente para o Maranhão do site Overmundo, escreve no blogue http://zemaribeiro.blogspot.com

[na primeira classe, jp turismo, jornal pequeno, hoje]

a práxis de ed wilson araújo no quer dizer

“O beijo é a extensão do ato da mamar no ser humano adulto. Sugar a teta tanto alimenta quanto dá prazer. É por isso que a gente beija com entusiasmo quando ama. Os prazeres que vêm da boca resultam de múltiplos estímulos que escorrem do cérebro, esvaem-se pela língua manifestando-se em fluidos e, principalmente, em palavras. A técnica de articular as palavras em discursos é, desde os gregos, uma forma primorosa de informar e persuadir. O filósofo Sócrates, filho de uma parteira, paria palavras para inquirir seus interlocutores. Na prática, Sócrates era um teórico. Muitas vezes a teoria surge da prática. Uma não pode viver sem a outra. Não há beijo de uma só boca…”

*

lindo, não? ed wilson araújo no quer dizer, novo link aí ao lado. quem tiver o interesse, a curiosidade de ler o(s) texto(s) (dele) completo(s), perceberá que o homem fala de “comunicação”, do que ele entende muito. um texto leve, agradável, que nos (me) prende, como deveriam ser (todos) os textos.

conversamos sempre, eu e ed, e ele insiste que eu sou poeta quando digo-lhe que abandonei as “rimas”. poeta é ele, que, como um manoel de barros, é criança e faz essa prosa de adulto.

uma pequena introdução ou “como assustar seus leitores” (ou: de como não ser original)

“(…)

Uma página sem assunto pré-definido, editor ou pauta. Sem intermediários entre as minhas obsessões, a ponta dos meus dedos no teclado e a tela do computador. Sem nenhuma regra que não seja definida por mim e que não possa ser mudada, pela mesma pessoa, quando quiser. Ainda assim, cheio de vontades, espero ganhar um ou outro leitor no caminho – tampouco gosto de falar com as paredes, embora muitas vezes isso seja inevitável. No mais, não me prestem muita consideração por aqui. As pessoas começaram a levar essa história de blog a sério, inventando umas ligações desconexas entre blog e literatura, ou entre a economia do planeta, o aquecimento global e os blogs, e a coisa toda desandou e perdeu a graça. Quando esse papo de weblog começou a aparecer na segunda parte da década de 90 do século passado, só quem era muito fracassado e/ou desocupado tinha e atualizava um deles.

(…)

Como acredito que escritores deveriam apenas escrever romances e, fora disso, se entregar ao silêncio e ao anonimato, inauguro este blog no Globo Online com o único propósito de destruir a minha própria e incipiente reputação.

(…)”

*

acima, joão paulo cuenca, em texto que inaugura seu novo blogue (com o link já devidamente trocado aí ao lado).

e por que diabos eu dou atenção ao cuenca, e/ou ao fato dele ter inaugurado um novo blogue? por que diabos eu o levo tão “a sério”? simples: por que eu gosto muito de tudo o que esse cabra escreve, seja o corpo presente (2003; seu romance de estréia pela planeta, do qual já distribuí diversos exemplares aproveitando os preços de vez em quando promocionais das lojas americanas), as crônicas do megazine (suplemento d’o globo) e/ou da tpm ou esta falta de pauta (mas nunca de assunto) de seu “desordenado” blogue.

cuenca, seja bem (re-)vindo ao clube! um brinde!

[o título deste post (o que está fora dos parênteses, no caso) é o mesmo do primeiro de cuenca lá no bloglobo (ou “globolog”?) dele; o que está entre, é minha culpa assumida, ao copiá-lo.]

uma pequena introdução ou "como assustar seus leitores" (ou: de como não ser original)

“(…)

Uma página sem assunto pré-definido, editor ou pauta. Sem intermediários entre as minhas obsessões, a ponta dos meus dedos no teclado e a tela do computador. Sem nenhuma regra que não seja definida por mim e que não possa ser mudada, pela mesma pessoa, quando quiser. Ainda assim, cheio de vontades, espero ganhar um ou outro leitor no caminho – tampouco gosto de falar com as paredes, embora muitas vezes isso seja inevitável. No mais, não me prestem muita consideração por aqui. As pessoas começaram a levar essa história de blog a sério, inventando umas ligações desconexas entre blog e literatura, ou entre a economia do planeta, o aquecimento global e os blogs, e a coisa toda desandou e perdeu a graça. Quando esse papo de weblog começou a aparecer na segunda parte da década de 90 do século passado, só quem era muito fracassado e/ou desocupado tinha e atualizava um deles.

(…)

Como acredito que escritores deveriam apenas escrever romances e, fora disso, se entregar ao silêncio e ao anonimato, inauguro este blog no Globo Online com o único propósito de destruir a minha própria e incipiente reputação.

(…)”

*

acima, joão paulo cuenca, em texto que inaugura seu novo blogue (com o link já devidamente trocado aí ao lado).

e por que diabos eu dou atenção ao cuenca, e/ou ao fato dele ter inaugurado um novo blogue? por que diabos eu o levo tão “a sério”? simples: por que eu gosto muito de tudo o que esse cabra escreve, seja o corpo presente (2003; seu romance de estréia pela planeta, do qual já distribuí diversos exemplares aproveitando os preços de vez em quando promocionais das lojas americanas), as crônicas do megazine (suplemento d’o globo) e/ou da tpm ou esta falta de pauta (mas nunca de assunto) de seu “desordenado” blogue.

cuenca, seja bem (re-)vindo ao clube! um brinde!

[o título deste post (o que está fora dos parênteses, no caso) é o mesmo do primeiro de cuenca lá no bloglobo (ou “globolog”?) dele; o que está entre, é minha culpa assumida, ao copiá-lo.]

vacância ferida

Abrindo uma encomenda que acabara de receber das mãos do carteiro, sentiu uma das lâminas da tesoura cortar-lhe o dedo. O dedo de dar dedo – diria, se ainda fosse criança – da mão esquerda. Só, em casa, não sabia o que fazer. Havia interrompido um trabalho para atender a porta. Ganhava a vida escrevendo. Ficção. Espécie rara hoje em dia, frisava, sempre que possível, em conversas informais pelos botequins, onde era admirado pelos que compunham sua mesa. Tinha prestígio e o dinheiro, se não era muito, dava para o essencial.

No papel ou na tela em branco do computador – já que não via problema nenhum em aderir às novas tecnologias, embora não fosse um entusiasta do corre-corre insano que viu acometer a humanidade nos últimos tempos – gostava dessa coisa de brincar de ser deus, de saber o destino dos personagens e, poder, ao menos sobre eles, sempre interferir.

Alguém havia levantado para abrir a porta, em sua ficção – que seria publicada em alguma revista – quando a campainha soou. Riu da coincidência, levantou-se para abrir, hoje não era dia de a empregada vir arrumar sua modesta residência de homem solteiro, era o carteiro. Um pacote, talvez livros, talvez discos, talvez prazer, talvez trabalho. Assinou o recibo, desejou um bom dia – sincero – ao homem de amarelo, fechou a porta, foi caçar uma tesoura para abrir a encomenda, cheia de fitas adesivas, lacres e selos.

Se de sua cabeça brotavam histórias aguardadas por seus leitores – muitos – com uma ansiedade, angústia talvez ininteligível, ao contrário das histórias que contava, de seu dedo brotou um líquido viscoso, de cor forte, “a própria menstruação”, pensou. Sua primeira reação foi levar o dedo à boca, numa tentativa de estancar o sangramento.

Chupando o dedo feito criança a ponto de dormir, ainda teve a paciência de procurar, entre as várias pilhas de discos que ocupavam parte considerável da casa – assim como livros – um Pablo Milanés: os versos de Yo pisaré las calles nuevamente encheram a sala, enquanto ele arrumava um curativo. Com uma só mão, no entanto, era difícil curar a outra. O telefone começou a tocar, insistentemente. Deixou os vários trins misturarem-se à música na sala vazia, dedo na boca, deitou-se em sua cama, masturbou-se, dormiu e não concluiu o texto.

[acima, meu “quintal poético” na edição de outubro do almanaque jp turismo, já nas bancas]

um baladeiro do asfalto

Quase dez anos após sua estréia em disco, o maranhense Zeca Baleiro lança seu primeiro registro ao vivo: mais que um mero greatest hits, revisão de carreira com pitadas de alheio. Com propriedade.

por Zema Ribeiro*

A crítica torceu o nariz quando Zeca Baleiro deu uma guinada em sua bem sucedida trajetória acústica – com pitadas eletrônicas aqui e ali – e partiu para o disco mais rock’n’roll de sua carreira, o obscurecido pela própria crítica “Baladas do asfalto e outros blues” (2005). Ainda bem que o artista – que sabe ter que ir onde o povo está, como canta outro – nunca precisou da senhora dona crítica para dizer-lhe o que fazer.

Quase dez anos após seu disco de estréia – “Por onde andará Stephen Fry?” (1997) – Zeca, cuja videografia já é vasta, chega ao primeiro disco ao vivo. “Baladas do asfalto e outros blues ao vivo[MZA Music/Universal, 2006, R$ 35,00] não funciona somente como uma “revisão de carreira” ou coisa que o valha. Quase a metade das músicas é do disco do ano passado: “Versos perdidos”, “Meu amor minha flor minha menina”, “Cachorro doido”, “Flores no asfalto”, “Balada do céu negro” e “Alma nova”. De outros discos estão lá “Heavy metal do Senhor” (da estréia), aqui um acelerado country, “Telegrama”, “Fiz esta canção” (de “PetShopMundoCão”, 2002) “Babylon” e “Quase nada” (de “Líricas”, 2000), emendada com “Amor” do grupo Secos & Molhados, clara influência de Zeca, que já os havia homenageado em “Vô Imbolá” (1999), único disco que não trouxe músicas a este “ao vivo”.

O disco se completa com releituras: as (cool-)bregas “Retalhos de cetim”, de Benito de Paula, e “Palavras”, de Roberto Carlos e Erasmo também, e a “maldita” setentista composta em homenagem a Raul Seixas, “Não adianta”, do conterrâneo do rei, também já reverenciado por Zeca em outras ocasiões, Sérgio Sampaio, de quem o maranhense produziu o póstumo e belo “Cruel” (2005).

Do pequeno, esquecido e “obscuro” Maranhão para o mundo, Zeca Baleiro, um homem das multidões, um artista pop, sem a diminuição que este rótulo por vezes implica. Na verdade, Baleiro nem cabe em rótulos. E a multidão, no caso, é bem maior que o público presente ao Teatro do SESC Pinheiros (São Paulo), na última noite de São João, data da gravação destas belas baladas e destes outros blues.

* correspondente para o Maranhão do site Overmundo

[o texto acima foi publicado no jp turismo, jornal pequeno, dia 20/10, sexta-feira passada]

mais de 5 no 3º tempo

um debate-papo literário agita hoje o chico discos (fonte do ribeirão). como o espaço do/a sebo/locadora de dvds é pequeno, provavelmente a turma invadirá a fonte para uma conversa sem moderação, como sem moderação deverá ser a quantidade de cerveja ingerida pelos presentes.

apareçam!

diversos autores farão o (re-)lançamento (ao ar, inclusive, literalmente) de suas obras. estão confirmadas as presenças (por enquanto, mas vai pintar mais gente) dos seguintes autores [e obras]:

hamilton faria [haikuazes]
celso borges [música]
joãozinho ribeiro [paisagem feita de tempo]
eduardo júlio [alguma trilha além]
itevaldo jr. [quase retratos]

este blogueiro também pinta por lá, acompanhado de reuben, paulo melo souza, dyl pires, zé maria medeiros, ricarte almeida santos, riba do poeme-se (cujo espaço na rua do sol foi oficialmente inaugurado ontem, com o segundo tempo do lançamento de música) e outros.

haverá exposição de telas de nadilton bezerra e lena santos.

a conversa-lançamento-exposição-farra começa às 17h e termina sabe-se lá que horas.

repito: apareçam!

segunda chamada


[foto: zema ribeiro]

celso borges declamando, ontem. foto mei’ escura, a (quase) inutilidade de minha máquina fotográfica. preciso trocá-la, urgentemente.

pra quem perdeu ou quer ver de novo, segunda chamada.

celso borges autografa música hoje, às 20h, no novo espaço poeme-se (rua do sol, próximo ao sindicato dos bancários). o esquema é quase o mesmo: recital poético informal + pocket show do violonista joão pedro borges.

haverá terceiro tempo: sábado, um bate papo informal com os poetas hamilton faria e joãozinho ribeiro, os três autografando suas obras. no chico discos (fonte do ribeirão). sobre este encontro, voltamos aqui, em breve, com maiores informações. aguardem!

serviço

o quê: inauguração do novo espaço poeme-se + (re-)lançamento de música
quem: celso borges e convidados (em recital) + apresentação do violonista joão pedro borges
quando: hoje, às 20h
onde: novo espaço poeme-se (rua do sol, centro)
quanto: entrada franca. na ocasião, música será vendido e autografado pelo autor

celso borges e a poesia do atrito

Serviço

O quê: lançamento do livro-cd Música, recital informal com poetas e músicos + pocket show da banda T A Calibre 1
Quem: o poeta e jornalista maranhense (radicado em São Paulo) Celso Borges
Quando: hoje, 19/10, quinta-feira, às 19h
Onde: Escola de Música Lilah Lisboa (Rua da Estrela, Praia Grande)
Quanto: grátis. Na ocasião o livro-cd estará sendo vendido e autografado pelo autor.

*

Não tenho estatísticas, mas creio que “Música” já seja a obra mais falada neste blogue. Não à toa, e não mera influência de minha amizade com Celso Borges. O livro-disco (e o poeta) merece(m): obra-prima, como também já disse por aqui, e qualquer coisa mais que eu disser, será mera repetição.

O jornalismo (mais particularmente o cultural) praticado no Maranhão é, como sabemos, de uma pobreza franciscana. E não vai aqui nenhum trocadilho pela localização geográfica do jornal do outro lado da ponte que, a despeito de sua posição “ideológica”, é o que tem mais “cara de jornal”.

Aí aparece gente boa escrevendo de graça, e os jornais tem a manha de relaxar um bom (pra não dizer ótimo) texto. Para publicar textos “menos bons” (pra não dizer outra coisa).

Flávio Reis, Cientista Político, Professor do Departamento de Sociologia e Antropologia da Universidade Federal do Maranhão, autor de “Cenas marginais: fragmentos de Glauber, Sganzerla e Bressane” (2005) e Reuben (que dispensa apresentações para os leitores deste blogue) escreveram um texto sobre a obra mais que citada. Tentamos, os dois e este blogueiro, publicá-la, hoje, nalgum jornal. Entre recusas e e-mails que não chegam, o texto não saiu. O Imparcial e O Estado do Maranhão publicaram textos informativos sobre o lançamento. Este blogue publica o texto “recusado”, abaixo. Apareçam!

*

Celso Borges e a poesia do atrito

por Flávio Reis e Reuben da Cunha

A agulha não risca mais o disco, a página não prende mais a palavra. O poeta Celso Borges escreveu Música. Babel de linguagens: há muito mais em Música do que música. Também não é apenas um livro, é um livro-limite, uma obra de risco. Poesia é risco. Seria fácil se fosse um livro com um disco encartado. Não é fácil.

Música é uma fina malha de linguagens, um intrincado jogo intersemiótico cuja via fundamental de construção é o som. Ouvinte compulsivo, Celso Borges coloca o headphone para revolver o texto. A poesia (certa poesia) desde o século XIX percorre um perigoso caminho até a implosão. Até o silêncio. Aqui é outra coisa, o avesso do silêncio, a perseguição de uma linha de atrito entre canto e fala. Como anuncia o poeta: dar uma estrutura sonora ao poema, além de sua sonoridade natural.

No lugar do silêncio, então, atrito. Através das apropriações de clichês da poesia, da música e do cinema, sentidos são reinventados, pulsam nos momentos de encontro entre palavra, som e projeto gráfico. Drummond, João Cabral, Oswald, Vinícius, Bressane, Bob Dylan, Nauro Machado, Euclides da Cunha, Dona Teté e Verlaine, Augusto de Campos e o boizinho de Dona Camélia. Tudo misturado, muitas vezes triturado e cuspido, satirizado.

As letras se misturam, as palavras se interpenetram, os ditos se confundem. Um tom de colagem atravessa Música, não apenas nos detalhes da programação visual ou nas superposições de sons, aparece principalmente como texto. Americana: bela balada costurada com versos de Celso e traduções de Bob Dylan. O silêncio dos poetas: poema escrito para acabar nas palavras de Alberto Pimenta. Mural: texto-montagem composto a partir de matérias de jornal, versos de Celso e de outros poetas.

A profusão de referências, que ao longo das últimas décadas tem se refletido no acúmulo crescente de autômatos desatentos na fileira dos humanos, aparece na poesia de Celso com alto grau de concentração, expondo impasses da cultura contemporânea, dando porrada na palavra anódina da “prosa com prazo de vencimento” e dos “verbos de plástico” de rimas gastas e radicalismos de proveta. A palavra banal e fragmentada que se tornou nossa regra de comunicação vira galáxia de significados na poesia de Celso Borges. Do caos de citações Celso fabrica sentido. Volta à lição de velhos iconoclastas da cultura: contra a especialização dos fazeres e a mumificação das formas, o antídoto da experimentação.

As manifestações da memória afetiva que liga o poeta a São Luís, cidade amada e odiada com esquizofrênica intensidade, também são peça fundamental neste trabalho. Pedaços da cidade espalham-se pelos textos e sons. São paisagens, melodias, endereços que se friccionam violentamente com os signos da experiência paulistana do autor, seu presente ausente. Quanto mais pensa ainda ser um retirante com o eterno sentimento da volta, mais Celso se vê “emaranhado em Sampa”. Uma poesia dependente deste afeto e desta dor por uma cidade perdida no passado e ao mesmo tempo uma poesia de procedimentos absolutamente contemporâneos. A rua da infância e o futuro. Olhos sem idade, despidos de saudosismo. S.Luís: segundo movimento: a “ilha cercada de inveja por todos os lados” ridicularizada em seu altivo provincianismo, metralhada pela ira dos versos colados aos de Nauro Machado e pela pancada crua da banda T.A Calibre 1. Compondo o quadro, closes terríveis das carrancas da fonte do Ribeirão.

O projeto conta com a participação de alguns nomes conhecidos da música popular, como Chico César, Zeca Baleiro e Cordel do Fogo Encantado. Outros, como o do ótimo Otávio Rodrigues, DJ e compositor, e Vitor Ramil, compositor precioso que quase apenas o sul do país conhece. Sem falar na pequena multidão que participa do livro/disco em diferentes dosagens, uma rede de poetas, músicos, sonhadores e doidos de vários matizes belamente apresentada na faixa Celebração. Os encontros produzem resultados variados, da palavra cantada à palavra sonorizada. Samplers, fragmentos chapados de significado, ritmos, melodias, cantos e falas. Trabalho de muitas mãos. Verso de muitas vozes.

outro amanhã

o dia se renova todo dia
eu envelheço cada dia e cada mês
o mundo passa por mim todos os dias
enquanto eu passo pelo mundo uma vez

a natureza é perfeita
não há quem possa duvidar
a noite é o dia que dorme
o dia é a noite ao despertar

aí, a belíssima “o mundo é assim”, de alvaiade, da velha guarda da portela, registrada pela produção de marisa monte em “tudo azul” para a phonomotor (selo dela) em 2000. o samba data de 1968.

então, tá: quando amanhece, o amanhã vira hoje. óbvio, não? pois é. óbvio e lindo. o post de ontem, já é hoje. e o de hoje, convida para o amanhã, abaixo. [para ler o convite maior, clique nele]