Saraus online de RicoChoro ComVida já têm data

[release]

Ano passado o público não pode fazer o que estava acostumado ao longo do segundo semestre: ir para as praças de São Luís prestigiar o projeto RicoChoro ComVida na Praça, já consolidado no calendário cultural ludovicense, que há quatro temporadas estimula o diálogo entre o Choro e a riqueza da música popular brasileira, passando, obviamente, pela diversidade da cultura popular do Maranhão.

A RicoChoro Produções Culturais, no entanto, gravou três saraus em formato online. As gravações aconteceram nos estúdios da TV Guará, em formato talk show, com edições apresentadas por Ricarte Almeida Santos.

Passaram pelo palco os grupos Quarteto Crivador, Regional Caçoeira e Choro da Tralha, e os cantores Anastácia Lia, Dicy, Elizeu Cardoso, Josias Sobrinho, Neto Peperi e Regiane Araújo.

Serviço – A transmissão dos saraus pela TV Guará (canal 23.1 na tevê aberta; 21 na TVN; 323 na Sky HD; e 23 na Net) acontecerá dias 5 (às 22h30), 6 (às 18h) e 7 de fevereiro (também às 18h).

Veja a seguir uma pequena amostra do que vem por aí: Regiane Araújo, acompanhada do Regional Caçoeira, interpreta o clássico “Naquela mesa”, que Sérgio Bittencourt compôs em homenagem a seu pai, o revolucionário Jacob do Bandolim (aproveite e se inscreva no canal RicoChoro Produções Culturais no youtube para não perder as novidades):

TV Guará veiculará Tributo a Raul Seixas nesta sexta-feira (22)

[release]

Live de Wilson Zara e banda teve transmissão em dezembro pelo youtube e redes sociais

Tributo a Raul Seixas. Frames. Reprodução

Para deleite do fã clube raulseixista, em 2020 o Maluco Beleza não deixou de receber sua homenagem, com o tributo anual que Wilson Zara tradicionalmente lhe presta. Apesar de 2020 entrar pra história como o ano em que a Terra parou, aumentando a profecia do roqueiro baiano, um show em formato live, realizado e transmitido ao vivo a partir dos estúdios da TV Guará saciou a sede daqueles que sempre ousam gritar “toca Raul!”.

Em quase três horas de live, veiculada pelo canal da TV Guará no youtube e pelas redes sociais do cantor, Wilson Zara passeou pelas diversas fases da curta mas profícua carreira de Raulzito, que nasceu em 28 de junho de 1945 e faleceu, em decorrência de pancreatite, em 21 de agosto de 1989 – dois dias antes, lançara “A panela do diabo”, seu último disco, dividido com Marcelo Nova (vocalista, guitarrista e compositor da banda Camisa de Vênus), com quem fez também sua última turnê pelo Brasil.

Na ocasião, Wilson Zara (voz e violão), se fez acompanhar de Moisés Profeta (guitarra e efeitos), Mauro Izzy (contrabaixo), Marjone (bateria), Dicy e Heline (vocais). No repertório, clássicos de Raul Seixas, a exemplo de “Cowboy fora da lei”, “Medo da chuva”, “Sapato 36”, “Tu és o MDC da minha vida”, “Sessão das 10” e “O dia em que a Terra parou”, entre muitos outros.

Patrocinada com recursos da Lei Aldir Blanc de Emergência Cultural, administrados pela Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão (Secma), a live teve apresentação de Danilo Quixaba, que, em meio ao repertório, bateu um papo descontraído com Wilson Zara, destacando aspectos da vida e obra de Raul Seixas.

O público, acostumado, nos últimos anos, a lotar praças públicas por onde Zara apresentou o tributo, este ano teve que se contentar com a apresentação em formato online. “Fiquei muito satisfeito com o engajamento do público. O vídeo foi muito visualizado, curtido, compartilhado, comentado, o que fez a gente se sentir diante de uma praça cheia, mesmo sem poder ouvir os aplausos”, comentou Wilson Zara.

Serviço – O Tributo a Raul Seixas será veiculado nesta sexta-feira (22), às 22h30, pela TV Guará (canal 23.1 na tevê aberta; 21 na TVN; 323 na Sky HD; e 23 na Net).

Assista à íntegra do Tributo a Raul Seixas no youtube:

Uma vida em quadrinhos

A solidão de um quadrinho sem fim. Capa. Reprodução

Como olhar para o próprio umbigo sem soar pedante ou vaidoso? Em “A solidão de um quadrinho sem fim” [Nemo, 2020, 162 p.; R$ 69,80] Adrian Tomine responde com elegância a esta questão. O quadrinhista americano realiza uma graphic novel autobiográfica valendo-se do lado nada glamoroso de sua profissão. Graphic novel é um jeito chique de dizer quadrinhos para adultos, ele mesmo tira onda a certa altura

Tomine reconta o bullying sofrido na escola, sua dificuldade para relações sociais e o sonho desde menino em se tornar um quadrinhista famoso – não como Walt Disney, mas como John Romita. A partir daí narra, com doses generosas de sarcasmo e autoironia, as diversas gafes, humilhações, episódios de desprezo, constrangimento e as críticas que enfrentou, até realizar seu sonho: tornar o hobby de infância sua profissão.

Sua HQ é ao mesmo tempo um tributo a grandes nomes da nona arte e um mergulho nos bastidores da indústria dos quadrinhos, com suas feiras, sessões de autógrafos, aeroportos, quartos de hotel, vaidades e artificialidades. Tomine equilibra-se habilmente entre as dores e as delícias do ofício e tudo o que o envolve.

Em paralelo ao desenrolar dos acontecimentos da carreira artística, revela o homem por trás do quadrinhista, com o casamento e a paternidade. Quando alguns sintomas obrigam-no a visitar um pronto socorro, Tomine se pega fazendo um balanço de sua própria vida. Pensa em tudo o que conquistou, o valor das coisas, o que poderia ter sido feito de modo diferente. Aquele filme que passa pela cabeça de todo moribundo – ou pelos menos dos hipocondríacos que se consideram como tal.

Seria o autor um felizardo? Afinal de contas não é todo mundo que consegue, além de pagar as contas, obter fama e prestígio fazendo o que gosta. É justamente quando se pega pensando no iminente fim que ele decide contar sua própria história fazendo aquilo que sabe: desenhando.

Com seu traço aparentemente simples, embalado em caprichado projeto gráfico, que simula os cobiçados sketchbooks – talvez um jeito chique de dizer caderno de rascunhos –, o resultado é uma obra bem humorada, honesta, indispensável para apreciadores de quadrinhos e para aqueles que sonham um dia se tornar um desenhista famoso. Talvez como Adrian Tomine.

*

Leia um trecho de “A solidão de um quadrinho sem fim”:

“Meu caso de biógrafo da família”

O último pau de arara. Capa. Reprodução

“O último pau de arara” [Grafatório, 2020, 172 p.; R$ 79,90], novo livro de Jotabê Medeiros, bem poderia ser um roteiro dos irmãos Coen e, se digo isto, não é pela inevitabilidade do clichê, mas pela habilidade do próprio autor em jogar com seu ofício – o universo da cultura pop sempre foi seu ganha-pão – ao contar a história de alguém que, embora o respeitasse, nunca ligou muito para isso, tratava quadrinhos com desprezo e nunca foi ao cinema.

O livro é um misto de biografia de João Francisco de Medeiros, seu pai, autobiografia, autoficção e ensaio sociológico sobre migrações internas, muito mais comuns no Brasil de outrora, mas ainda presentes, sobretudo no recrutamento de trabalhadores em situações análogas à escravidão. Há alguma doçura na forma como são narrados certos episódios de violência, e não são poucas as cenas de fúria incontida de seu pai, jamais soando condescendente. “Essa é uma obra de fricção. Espremida entre a memória e a vontade de contar”, diz em boutade, em que anuncia também um escancarar de intimidades, também nunca soando vulgar.

Aos três anos de idade, em 1965, o 11º filho do “Paraíba”, o primeiro homem entre 15 filhos, viajou de Sumé até a nascente Cianorte, no Paraná, em um caminhão de sal. Dessa viagem clandestina vem o título do livro, emulando o sucesso de Fagner, de autoria de José Cândido, Venâncio e Corumba.

A partir de remontar fragmentos da trajetória de seu próprio pai, Jotabê Medeiros remonta a trajetória de sua enorme família – e a sua: o paraibano do interior que se muda muito cedo para o Paraná, em busca de melhores condições de vida, forma-se em jornalismo pela Universidade Estadual de Londrina e depois se muda para São Paulo, onde viria a se tornar um dos maiores jornalistas culturais do país – isto não é ele quem diz no livro, sou eu quem digo novamente, aqui e agora –, autor das festejadas e honestas biografias de Belchior (2017) e Raul Seixas (2019).

O jornalista é hábil em contar uma história que nos prende a atenção, mesmo em não se tratando de um protagonista de vida pública – o autor não nos poupa mesmo de suas dúvidas durante o processo de feitura do livro: seria seu próprio pai um personagem biografável? Embora aqui e acolá falemos dele no passado, como o faz também o autor, João Francisco de Medeiros está vivo – sofreu um AVC e teve uma perna amputada nos últimos anos – e completará 103 no próximo abril.

Baseado na própria memória, em conversas com familiares, viagens e rara documentação, Jotabê Medeiros não se deixa vencer pelas lacunas, urdindo texto delicioso, como é de seu feitio, histórias que se entrecruzam, como os constantes escambos que seu pai acabou tornando meio de vida. Em meio a tudo isso há um belo tributo ao irmão apelidado Jack, batizado em homenagem a Jackson do Pandeiro, ídolo de sua mãe – a ele o autor dedicou “Belchior: Apenas um rapaz latino-americano”: o irmão faleceu justo na semana em que o biógrafo viajaria a Santa Cruz do Sul, nos rastros do biografado então desaparecido. Com a mudança de planos e a ida ao velório do irmão, Belchior faleceu em sequência e aquela biografia foi finalizada com o relato de seu velório, entre a Sobral natal e Fortaleza.

A realçar a delicadeza e elegância do texto de Jotabê Medeiros, o estonteante projeto gráfico da Grafatório – marca da pequena casa editorial de Londrina/PR –, com xilogravuras de Luiz Matuto. A tiragem limitadíssima de 750 exemplares foi possível graças a um financiamento coletivo. Os que contribuíram já recebemos um pdf por e-mail, no que adiantei a leitura, na certeza de que relerei tão logo me chegue às mãos o exemplar impresso – a pindaíba, a pandemia e o capricho editorial acabaram atrasando um pouco as coisas, mas de mais longe já viemos, como quem desce de Sumé à Cianorte num caminhão de sal.

Leia um trecho de “O último pau de arara”.

Dançando “Eva”

Nina Santes é a estrela do próximo vídeo da série “Dançando as canções do álbum Eva”, de Ligiana Costa. Foto: divulgação

Certa vez galhofei numa rede social: “no jornalismo, só não confie em uma coisa: prazo”. Obviamente era uma piada, sem graça, até, reconheço. De lá para cá, muita coisa mudou, e há muito mais do que desconfiar, não no Jornalismo, aquele que ainda merece esse nome, ainda mais com letra maiúscula, mas no entorno, no submundo do que se disfarça de e colabora para levar fascistas ao poder.

Não sou exemplo, absolutamente, no cumprimento de prazos. Um amigo me pergunta, por exemplo, se já escrevi a resenha dum disco que me entregou. Às vezes leva meses maturando, fico ouvindo o disco repetidamente no som do carro, enquanto me estresso com motoristas mal educados no trânsito de São Luís, mas não só. Costumo sentar para escrever com o texto quase pronto na cabeça, sai de uma sentada – às vezes interrompida por um ou outro afazer doméstico, método que só fui aprender depois que nasceu José Antonio.

Às vezes sequer consigo escrever e não tem nada a ver com o disco, livro, filme ou o que seja ser ruim ou não merecer atenção de minha parte. Tem mais a ver com não querer dizer qualquer coisa de qualquer jeito. Não parece, mas resta em mim certo capricho, a despeito de não passar roupas há quase dois anos.

Ano passado, a cantora Ligiana Costa lançou o ótimo “Eva – Errante voz ativa”, um disco só de vozes, um dos grandes álbuns do pandêmico 2020, sobre o que demorei a escrever. Outro dia ela me botou em contato com um assessor, que tem me enviado sistematicamente releases sobre a nova ideia maravilhosa da cantora: oito bailarinas gravaram, em suas casas, durante o isolamento social, performances para as faixas do disco.

O resultado é muito interessante, reapresentando-nos “Eva” sob nova perspectiva. Um disco feito majoritariamente por mulheres, sobre mulheres – agora também dançado por mulheres –, mas não apenas para mulheres.

Tenho acompanhado os vídeos quando publicados e no mais recente, Rosa Antuña dança “Ná”, com que Ligiana homenageia Ná Ozzetti – já é o quarto vídeo e só agora consegui escrever, para tornarmos ao nariz de cera com que abro o texto. Na próxima segunda-feira (11), estreia a performance de Nina Santes para “Lilith e Eva” (Ligiana Costa/ São Yantó).

Também me chamou bastante a atenção o videoclipe solar em que Grécia Catarina performa “Nice”, declaração de amor de Ligiana à sua companheira, música que abre o disco – minha faixa predileta de “Eva”, confesso – e inaugurou a série.

Todos os vídeos podem ser assistidos nos perfis da cantora no youtube e instagram.

A política do luto e da merda

TEXTO E ILUSTRAÇÃO: CESAR TEIXEIRA*

Agora que o Menino Jesus de barro foi despejado dos presépios natalinos pelo Ano Novo, o Brasil se benze para continuar aguentando um inquilino indesejável, modelado em bosta, que já pensa em se recandidatar em 2022 sem ter realizado qualquer gesto democrático como “presidente”. Ao contrário, abusou dos seus dotes de malfeitor para cometer inúmeros crimes que continuam impunes e vão ficando por isso mesmo.

Bolsonaro elogiou um torturador em pleno Congresso Nacional e persiste debochando de pessoas torturadas durante a ditadura civil-militar deflagrada em 1964, enquanto chora a derrota do seu “amigo” Donald Trump (ex-presidente do país que apoiou o golpe) e lança farpas contra a China, maior parceiro comercial do Brasil.

O falso Messias, vale repetir, elegeu-se à custa de milícias digitais, de acordos partidários espúrios e de uma facada de mentira, fora a contribuição dos patos e bonecos infláveis da Fiesp, com digitais do Tio Sam – mesmas armas que patrocinaram o impeachment de Dilma Rousseff e a prisão de Lula. Não era à toa que se esmerava em aparecer na imprensa mundial ao lado de Trump em jantares e reuniões politicamente inúteis para o Brasil

Todavia, Bolsonaro não almejava ser apenas Presidente da República. Esse cargo ele abandonou antes mesmo de assumi-lo. Seu sonho de infância é tornar-se um Duce ou Führer latino-americano, ou pelo menos um caudilho meia-sola, mantendo como bunker o Gabinete do Ódio, que pode mudar de endereço e possui franquias em todo o País. Na pressa de alcançar a glória, feriu pelas costas a Constituição Federal, participando de atos que fazem apologia à ditadura e interferindo politicamente na Polícia Federal para proteger a família.

No início da pandemia pelo Covid-19 buscou privilegiar a elite empresarial e expor trabalhadores ao risco de contágio. Depois teve a cara de pau de “receitar” cloroquina (não recomendada pela Anvisa) no tratamento dos infectados. Regozija-se em transformar o luto em política de Estado, indiferente à saúde pública e ao “direito à vida”, expressão maior inscrita na Carta Magna, no Código Civil Brasileiro e na Declaração Universal dos Direitos Humanos, da qual o Brasil é signatário.

O “presidente” chegou a indispor empresários e escalafobéticos fogueteiros contra o STF, visando aumentar a pressão sobre governadores e prefeitos para afrouxarem o isolamento e o lockdown. Cometeu crime de responsabilidade previsto na Lei nº 1.079/50 (Lei do Impeachment), de acordo com o Art. 4º, ao atentar contra a Constituição Federal e especialmente contra o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais, bem como a segurança interna do país (incisos III e IV).

É crime a “propaganda pública de processos violentos ou ilegais para alteração da ordem política ou social”, conforme o Art. 22 da Lei de Segurança Nacional, ironicamente criada para enquadrar opositores do governo.

Bolsonaro estimulou a invasão da Amazônia por garimpeiros e madeireiros, minimizando o desmatamento e os grandes incêndios; desmontou os mecanismos institucionais de defesa da floresta, além de desprezar o apoio internacional. Uma verdadeira tabelinha com seu infralegal ministro Ricardo Salles, que propõe “deixar passar a boiada”, sem qualquer respeito por seus habitantes indígenas e ribeirinhos, muito menos pela fauna e pela flora. Trata-se de crimes previstos na Lei 9.605 (artigos de 29 a 53), da legislação ambiental.

Aqueles que o elegeram, tal como os ratos do Congresso empenhados no “toma lá, da cá” antes repudiado pelo “presidente”, também são cúmplices das suas caneladas, sem falar na caterva de magistrados coniventes. Por último, no calor da guerra ideológica dos imunizantes, o Messias tem influenciado negativamente a população, espalhando a lorota de que a vacina chinesa contém microchips que podem controlar a mente e transformar a pessoa num jacaré.

Declara repetidamente que não vai se vacinar. Nem precisaria. Bolsonaro já é um camaleão, sobretudo das palavras e dos atos – com todo respeito aos animais da família chamaeleonidae da ordem squamata. O sujeito é capaz de instantaneamente mudar o tom de suas bravatas toda vez que está chegando ao fundo da latrina política em que se meteu.

Enfim, Bolsonaro se assemelha a um produto falsificado por contrabandistas e estelionatários. Não serve como presidente, como capitão e muito menos como jogador de futebol, já que ele só faz gol contra o povo brasileiro, apontando arminha, na ânsia de proteger a prole criminosa com suas asas de galinha pelada. Pelo seu incompatível “histórico de atleta”, certamente não pulou as sete ondinhas de merda do Ano Novo.

*Cesar Teixeira é jornalista e compositor maranhense