eu e cb, cb e eu

na torre do desterro
no beco da bosta
na boca do boqueirão
na forca de bequimão: inveja
no sino da sé às seis
no hino de bandeira tribuzi
na classe média de merda: inveja
nos fulanos de tal, donos de danos
nos poetastros, beletristas de chás e ceias
nas praças de alimentação dos shoppings
nos desfiles de moda do sofitel
nos cartões postais do aeroporto do tirirical
nas duzentas colunas sociais de cada jornal: inveja
nos trinta dinheiros dos iscariotes ilhéus

*

não sei quando celso borges escreveu o acima. li este trecho quando, arremedo de mestre de cerimônia(s) (sem cerimônia nenhuma), chamei o poeta para compor a mesa do lançamento do plano editorial secma 2007, terça passada. eu estava vestido numa camisa branca com a inscrição (em vermelho) “a posição da poesia é oposição” (a última palavra, de cabeça pra baixo), poema seu (pintado na camisa por este blogueiro). peguei cb de surpresa e ele me disse que gostou. no música, quem interpreta o poemúsica acima é o t. a. calibre 1, entre a pegada forte de seu som, o poema furioso de cb e (tr)ec(h)os de nauro machado.

bebemos (pouco) juntos na quarta, na feira, e ainda nos encontra(re)mos antes dele voltar a “emaranhar em sampa”.

se o itaú prorrogar as inscrições (prazo final: hoje, ao menos até agora), é sobre cb que eu vou escrever.

e-mail

o abaixo não é um release. mas é o texto integral de um e-mail que recebi do flávio reis.

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31 de agosto, 16h, Praça Deodoro

Ato público contra a violência policial e a impunidade

Prof. Flávio, Gerô.
Sabe-se lá quantas Maria e quantos José.
A violência atinge a todos nós.
A violência policial é a mais grave de todas, orque autoriza a truculência nas ruas, estabelecendo a insegurança pública.
Quando o policial tortura, mata injustamente, é o Estado, encarnado nele, que pratica um ato ilícito.
A impunidade legitima essa desordem.

Violência e Impunidade. Esses males têm que ser combatidos.
Não podemos encarar essas mortes como normais.
Precisamos nos indignar e tomar atitudes diante dessas práticas corrompidas.

Faça a sua parte.
Reenvie essa mensagem aos amigos e venha manifestar a sua indignação.

clube do choro recebe

releases e algos parecidos, nestes últimos dias. foi legal o lançamento do plano editorial, ontem. talvez eu escreva sobre, depois. release? abaixo, mais um. e devo dizer: este blogue é licenciado em creative commons. isto é: você pode pegar a informação daqui, colar no seu e-mail e distribuir ao mundo ou imprimir e sair pregando por aí, enfim. você não paga nada. então? e apareça(m) sábado, lá, ó!

já tá no overmundo, viu?

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À boca da noite, o Clube do Choro recebe Léo Espirro

Com o propósito de integrar chorões de novas e antigas gerações, tem início neste sábado, às 18h30min, no terraço do Chico Canhoto Bar e Restaurante (por trás do Hiper Mateus da Cohama), os saraus do Clube do Choro do Maranhão.

A idéia é possibilitar um espaço para o encontro e troca de experiências dos mais tradicionais chorões com os chorões mais jovens. Em São Luís, depois da fundação do Clube do Choro, têm surgido vários grupamentos de choro, na sua maioria, integrados por jovens. Os grupos Um a Zero, Toque Brasileiro e Chorando Calado são exemplos dessa jovialidade que o choro experimenta, que vai além da idade dos seus integrantes, mas se expressa na forma de tocar da garotada, no estilo que incorpora novas informações e novas influências.

No interior do estado já se tem notícias do interesse da juventude pelo gênero. Bequimão, cidade da baixada maranhense, já se orgulha da existência do mais jovem grupo de choro do Maranhão, o Naquele Tempo, integrado por meninos e meninas entre 14 e 18 anos.

Tudo isso, somado aos já tradicionais Regional Tira Teima e Instrumental Pixinguinha, que há muito vêm desenvolvendo e fortalecendo a movimentação da cena choro no estado, revelam a força e a capacidade de resistência e renovação do gênero em terras maranhenses. Isso sem falar nos diversos instrumentistas espalhados pela capital e interior do Maranhão que cultivam o gosto e a prática dessa linguagem instrumental tão brasileira. Hoje, por exemplo, já é possível encontrar rodas de choro na Ilha quase todos os dias da semana. Mas não é só isso. A força do gênero vai além.

O Choro, enquanto gênero e influência musical, está presente nas criações dos nossos grandes compositores. Figuras como Chico Maranhão, Josias Sobrinho, Cesar Teixeira, Joãozinho Ribeiro, Chico Saldanha, Chico Canhoto, Antônio Vieira, Lopes Bogéa, Cristóvão Alô Brasil, Bibi Silva, e muitos outros, têm em suas obras, influências chorísticas muito claras. Seja criando choros assumidamente ou incorporando elementos do gênero em suas composições e sobretudo, adotando a base instrumental típica do gênero.

Daí a necessidade de fortalecer também a relação do gênero Choro com a produção da música popular no Maranhão. Os saraus de sábado à boca da noite trazem essa estratégia. Todos os sábados, além dos diversos grupos e chorões outros, haverá sempre a presença de um convidado especial da nossa música popular cantada. Léo Espirro, uma das maiores vozes da nossa música, será o primeiro grande homenageado das rodas de choro de sábado.

Espirro é nome consagrado no meio musical e boêmio da Ilha, já tendo participado da gravação de vários discos, como o de Músicas de Escolas de Samba e o Memória – Música no Maranhão. Foi ainda premiado como melhor intérprete em diversos festivais comunitários de música. Dentre os gêneros que Léo Espirro gosta de cantar estão o Samba-canção, a Bossa Nova e o Choro.

Serviço

O quê: Clube do Choro recebe Léo Espirro em grande roda de choro com representantes de vários grupos e chorões;
Onde: Chico Canhoto Bar e Restaurante (Residencial São Domingos, por trás do Hiper Mateus da Cohama);
Quando: Sábado, 1º. de setembro, às 18h30min;
Quanto: Couvert artístico de R$ 3,00 por pessoa;
Informações: pelo e-mail ricochoro@hotmail.com ou celular (98) 9128-6278 (com Ricarte).

literatura e até a noite!

Serviço

O quê: Lançamento do Plano Editorial Secma 2007 – Prêmio Gonçalves Dias de Literatura.
Quando: hoje (28), às 19h.
Onde: Auditório da Biblioteca Pública Benedito Leite (Praça do Pantheon, s/nº., Centro).
Quem: os escritores Adalberto Franklin (Ética Editora, Imperatriz/MA), Alberico Carneiro (Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante, Membro do Núcleo de Literatura da Secma), Celso Borges (poeta e jornalista maranhense radicado em São Paulo), Joãozinho Ribeiro (Secretário de Estado da Cultura) e Grupo Poiesis (recital poético).
Quanto: entrada franca. Aberto ao público. Será servido coquetel aos presentes.

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[abaixo, o texto de joãozinho ribeiro publicado na edição de hoje do jornal pequeno]

Maranhensidade e literatura

Joãozinho Ribeiro*

São Luís já carregou o epíteto de Atenas Brasileira. O Maranhão já se orgulhou de falar o português mais correto do Brasil. Uma das mesas-questões do V Fórum Municipal de Cultura de São Luís, realizado em 2004, indagava, sobre a capital: Jamaica, Atenas ou Apenas Brasileira?

Que o Maranhão sempre foi berço de grandes nomes da Literatura Brasileira – e por que não dizer mundial –, todos sabemos. Só não conseguimos entender os descaminhos por onde a literatura maranhense enveredou, um problema infelizmente não exclusivo daqui. Nunca foi tão fácil publicar um livro (embora entendamos que a literatura e seus processos não se resumam ao ato de publicar) e nunca se publicou tanto no país. Na contramão, nunca houve tão poucos leitores.

Dando continuidade ao processo de democratização do acesso à cultura – sob todos os aspectos – e a implementação de uma gestão democrática, repito, plural, transparente e inclusiva, a Secretaria de Estado da Cultura tem a honra de lançar hoje (28), às 19h, no Auditório da Biblioteca Pública Benedito Leite (Praça do Pantheon, s/nº., Centro), o Plano Editorial Secma 2007 – Prêmio Gonçalves Dias de Literatura.

O edital que será apresentado é fruto do trabalho do Núcleo de Literatura da Secma, composto por Alberico Carneiro, Antonio Ailton, José Maria Nascimento, Nauro Machado, Wilson Martins e Zema Ribeiro, que desde abril vêm discutindo a adequação do Plano Editorial aos princípios que têm norteado as ações da Secma, garantindo a possibilidade de participação de qualquer maranhense que deseje fazê-lo. São nove categorias: romance, novela, conto, crônica, poesia, literatura infantil e juvenil, teatro, ensaio e engenho e arte, esta última, voltada para processos criativos não contemplados nas oito primeiras categorias, de forma que não contradigamos o documento “Maranhão Cultural: a imaginação a serviço da cidadania e do desenvolvimento”.

As inscrições para o Prêmio Gonçalves Dias de Literatura iniciam-se já na quarta-feira que se segue ao lançamento e seguem até o dia 11 de outubro. As comissões de leitura, em fase de definição, terão nomes de todo o Maranhão e divulgarão os resultados em 19 de novembro. O regulamento pode ser consultado no site da Secma.

Outra novidade do Prêmio é o seu nome: a cada ano será homenageado um escritor maranhense de reconhecida importância para a literatura do estado. Nesta primeira edição da retomada deste importante processo, a obra “Brasil e Oceania”, de autoria de Gonçalves Dias, será republicada. Trata-se de um estudo antropológico pouco conhecido, que só por fugir da vertente mais divulgada da obra do autor da “Canção do Exílio”, já merece atenção.

Merece também destaque a iniciativa da deputada Graciete Lisboa, que pretende transformar o Plano Editorial da Secma em Lei, garantindo assim sua realização anual, independentemente das gestões que se sigam. Ainda há muito por ser feito, e disso temos plena consciência, mas, sem dúvidas, um importante primeiro passo está sendo dado.

Diante do exposto, temos a grata satisfação de convidar cada um dos leitores desta coluna e do Jornal Pequeno para participar do Lançamento do Plano Editorial Secma 2007 – Prêmio Gonçalves Dias de Literatura. A festa terá recital com o Grupo Poiesis, que vem agitando a cena poético-literária na capital maranhense. Este Secretário dividirá uma mesa com os escribas Adalberto Franklin (Ética Editora, Imperatriz/MA), Alberico Carneiro (Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante, encartado quinzenalmente neste jornal, e membro do Núcleo de Literatura da Secma) e Celso Borges (poeta e jornalista maranhense radicado em São Paulo, que na ocasião autografa “Música”, seu mais recente livro-disco). Cada um falará brevemente de suas experiências literárias. Um delicioso coquetel será servido aos presentes.

Esta festa da literatura acontecerá, torno a dizer, no Auditório da Biblioteca Pública Benedito Leite, localizada na Praça do Pantheon, s/nº., Centro, a partir das 19h de hoje (terça-feira, dia 28 de agosto). É aberta ao público, espero encontrá-los neste debate-papo literário.

*Joãozinho Ribeiro é Secretário de Estado da Cultura e escreve às segundas-feiras no Jornal Pequeno.

(mais) literatura

Literatura em pauta

Plano Editorial da Secretaria de Cultura será lançado terça-feira e contará com a participação de importantes nomes no cenário da literatura maranhense.

Será lançado nesta terça-feira (28) o Plano Editorial Secma 2007 – Prêmio Gonçalves Dias de Literatura. A idéia do concurso, promovido pela Secretaria de Estado da Cultura, é descobrir novos talentos das letras maranhenses. A solenidade de lançamento acontece às 19h, no Auditório da Biblioteca Pública Benedito Leite (Praça do Pantheon, s/nº., Centro).

“O Prêmio Gonçalves Dias de Literatura é o resultado de um trabalho de meses, desenvolvido pelo Núcleo de Literatura da Secma e busca ser abrangente, tanto com relação às categorias pensadas quanto ao atingir o Maranhão como um todo”, afirma Zema Ribeiro, membro do Núcleo.

São nove categorias: romance, novela, crônica, conto, poema, ensaio, literatura infantil e juvenil, teatro e engenho e arte. “Esta última categoria foi pensada para contemplar processos criativos que não se enquadrem nas demais. É uma forma de não limitarmos a criatividade de nossos autores, fazendo valer o documento que norteia as ações dessa gestão: a imaginação a serviço da cidadania e do desenvolvimento”, afirmou o Secretário de Estado da Cultura Joãozinho Ribeiro.

Duas grandes novidades envolvem o Plano Editorial Secma 2007: ele leva o nome de Gonçalves Dias, conhecidíssimo escritor maranhense – que terá uma obra pouco conhecida reeditada no plano: “Brasil e Oceania”, um dos primeiros estudos antropológicos feitos no país – e a cada ano homenageará um escritor maranhense; a outra é que o Plano Editorial será transformado em Lei Estadual, tendo sua realização garantida anualmente. “Nunca se pensou, aqui, em uma política pública voltada para a literatura. A transformação do plano em lei não é tudo, mas é, sem dúvidas, um bom começo. Isso garantirá a realização do concurso, independentemente das trocas de gestores”, afirmou Zema Ribeiro.

O lançamento do Plano Editorial Secma 2007 terá recital de poemas com o Grupo Poiesis, que vem agitando a cena na capital maranhense, e reunirá importantes nomes da literatura maranhense: o Secretário de Estado da Cultura, Joãozinho Ribeiro, que também é poeta e publicou ano passado o livro “Paisagem Feita de Tempo”; o poeta e jornalista maranhense radicado em São Paulo, Celso Borges que, na noite, autografa seu “Música”, livro-disco bem aceito pela crítica; Alberico Carneiro, membro do Núcleo de Literatura da Secma e editor do Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante, atualmente o único do gênero no Maranhão; e o editor Adalberto Franklin, que por sua Ética Editora, de Imperatriz, já publicou mais de duzentos títulos, de 1991, para cá, um marco para a produção de livros no Estado. Todos farão breves falas sobre suas experiências literárias.

O Núcleo de Literatura da Secretaria de Estado da Cultura procurou seguir os princípios que têm norteado as ações da Secma em todos os campos de atuação da mesma: inclusão, pluralidade, interiorização e criatividade. O Núcleo é composto por Alberico Carneiro, Antonio Ailton, José Maria Nascimento, Nauro Machado, Wilson Martins e Zema Ribeiro. As comissões de leitura, que irão analisar as obras – que podem ser inscritas na Secma (Rua Portugal, 303, Praia Grande) a partir de quarta-feira (29) – irão também contemplar estes critérios e estão sendo definidas.

O regulamento do Prêmio Gonçalves Dias pode ser consultado no site da Secma. As incrições vão até o dia 11 de outubro e os resultados serão publicados no site e na imprensa a partir do dia 19 de novembro. A premiação para cada categoria é de dez salários mínimos, mais a publicação da obra.

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[os trechos em itálico fazem parte do release encaminhado à imprensa. os três primeiros parágrafos foram publicados na edição de hoje do jornal pequeno, com o título plano editorial da secma será lançado na terça-feira]

literatura

há uns sábados, bebi com marcelino freire e cesar teixeira, na feira da praia grande. conversa vai, conversa vem, minha monografia será sobre o segundo. e falávamos disso. e cesar achou uma coisa importante de ser colocada no trabalho. e começou a contar (o blogueiro recordando de memória, que anotou nada, fez foto nenhuma, no dia):

“quando eu terminei o curso [de jornalismo], na ufma, para o bem ou para o mal, peguei uma tuberculose. fiquei meses em casa, só lendo”.

eu apontei para marcelino:

“esse aqui queria ser tuberculoso. tem até um texto muito bonito sobre isso”.

gargalhadas na mesa, mais uma cerveja.

“é, o menino que queria ser tuberculoso, sobre quando eu tomei contato com a obra de manuel bandeira. e eu queria ser tuberculoso para ser igual a ele e ficar em casa, lendo”, marcelino contou.

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isso é literatura, na prática.

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terça-feira (28), às 19h, no auditório da biblioteca pública benedito leite (praça do pantheon, s/nº., centro): lançamento do plano editorial secma 2007 – prêmio gonçalves dias de literatura. haverá recital com o grupo poiesis, falas de joãozinho ribeiro (secretário de estado da cultura, autor de paisagem feita de tempo), adalberto franklin (ética editora, imperatriz/ma), alberico carneiro (editor do suplemento cultural e literário jp guesa errante e membro do núcleo de literatura da secma) e celso borges (poeta e jornalista maranhense radicado em são paulo, que autografa seu “música“, na ocasião), sobre suas experiências literárias. será servido um coquetel aos presentes. maiores detalhes no site da secma.

o piauí não é só uma revista

foi no mínimo curioso (para não dizer engraçado), comprar, hoje, os dois volumes de torquatália, que reúnem as obras completas de torquato neto (foto).
como é que o piauí não faria falta se não existisse?
ó, paulo zottolo (as quatro ou cinco últimas letras do sobrenome dizem tudo), diretor da philips, autor da frase infame sobre o estado vizinho, lá nasceram o carinha aí da foto (ídolo) e a gisele brasil (grandessíssima amiga).
e há muito mais, pode acreditar! zottolo, você já foi ao piauí?

filme delicado (e bonito)

Se há uma frase que pode traduzir Crime Delicado, o filme (é válido frisar, já que se trata de adaptação do livro homônimo de Sérgio Sant’anna), é “o amor sempre vence”.

Um dos personagens, por detrás do balcão de algum comércio (para não dizer boteco), diz, tentando definir sua vida em uma frase, uma só palavra: “eu não preciso de uma frase. Preciso de uma palavra. Errei”.

É impagável ver Xico Sá sentado entre dois travecos (sem preconceitos, prezados politicamente corretos), trocando juras de amor com um deles, enquanto toma mais um copo (mais Xico fora do jornalismo, aqui e aqui).

O filme fica em cartaz no Cine Praia Grande (Centro de Criatividade Odylo Costa, filho) até o dia 2 de setembro. Sessões: 16h30min, 18h30min e 21h. Ingressos: R$ 4,00 (R$ 2,00 para estudantes com carteira); R$ 1,00 para todos, aos domingos.

o maranhão cultural

É indiscutível que o Maranhão é um dos estados culturalmente mais diversos do país. Isso, sob todos os aspectos, e no campo da música não poderia ser diferente. A diversidade rítmica aqui encontrada é algo raro. “Pura” ou híbrida, a música está presente no cotidiano dos maranhenses — é uma de nossas belas maranhensidades.

O Maranhão foi incluído na rota de “Os Caminhos de JK”, onde o genial Arthur Moreira Lima, em seu caminhão-palco-casa-camarim, re-percorre os caminhos trilhados pelo presidente construtor de Brasília. Na terra de João do Vale — outro gênio, nosso — o pianista encontrará o público de 21 cidades, em duas etapas (uma já realizada; a outra, iniciando dia 17, conforme calendário deste folder).

Se no pirão musical maranhense — de farta sustança — cabem bumba-meu-boi, tambor de crioula, lelê, cacuriá, coco, samba, choro, riso e muito mais, o de Arthur Moreira Lima mostra, também, versatilidade. Erudito e popular num só balaio, pois nos ensina [Gilberto Gil,] o ministro-artista: “o povo sabe o que quer, mas o povo também quer o que não sabe”.

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texto nosso, ghost writer, que circula no folder [lá, sem os colchetes,] do projeto “um piano pela estrada”, de arthur moreira lima. ó o calendário de apresentações: bom jesus das selvas (23/8, quinta), buriticupu (24/8, sexta), santa luzia (25/8, sábado), santa inês (26/8, domingo), bacabal (28/8, terça), timon (30/8, quinta), caxias (2/9, domingo), pedreiras (3/9, segunda), coroatá (4/9, terça), codó (5/9, quarta), são luís (8/9, sábado), são josé de ribamar (9/9, domingo), chapadinha (11/9, terça), itapecuru-mirim (12/9, quarta), alcântara (14/9, sexta) e pinheiro (15/9, sábado).

eu acho é graça!

entre os diversos “bicos” que faço, está a revisão do stefem notícias, informativo mensal do sindicato dos ferroviários. abaixo, uma notícia no mínimo curiosa e, em minha modesta opinião, hilária. o cabra nem merece cana, acho. saiu na edição de agosto, que começou a ser distribuída ontem.

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Funcionário fantasma muda rotina da Vale

É recente o acontecimento em que a segunda maior mineradora do mundo passou por uma situação preocupante e que mostrou a fragilidade do sistema organizacional e de segurança da Vale. Entre os dias 10 e 18 de julho deste ano, o cidadão Diógenes Pereira da Silva, 19 anos, maranhense, solteiro, técnico de segurança, se infiltrou nas dependências da empresa na cidade de Açailândia (MA), intitulando-se engenheiro de segurança do trabalho, usando crachá falso e uma farda da empresa que pertencia ao seu pai, ex-funcionário da Vale.

O jovem Diógenes passou oito dias dando ordens e realizando diversos procedimentos na área da empresa, como viagens de deslocamento, com hospedagem, alimentação e carro por conta da Vale. Ele também teve acesso aos computadores da CVRD e usou a senha de um funcionário que estava viajando e a deixou escrita num pedaço de papel esquecido num dos escritórios.

Este fato inusitado poderia ter tomado dimensões mais sérias, pois o funcionário fantasma assumiu de forma fraudulenta a função de gerenciador de segurança, com amplos poderes, acesso irrestrito às dependências da empresa, inclusive ao almoxarifado e ao CCO (Centro de Controle Operacional), que é o coração da ferrovia. A farsa só foi descoberta no dia 19 de julho, depois que uma funcionária do setor de recursos humanos, em contato com o farsante, desconfiou e solicitou as suas credenciais e verificou que a matrícula dele não existia. Na mesma hora, Diógenes evadiu-se da área da Vale por dentro de um matagal.

O caso foi parar na delegacia de Açailândia, que através de uma guarnição da polícia militar conseguiu prender Diógenes na madrugada do mesmo dia 19, num bairro da periferia da cidade. O farsante, que conseguiu enrolar a todos, foi interrogado e confessou durante o seu depoimento as suas pretensões: “Eu só queria realizar meu sonho de trabalhar na Vale“.

O sonho frustrado do jovem Diógenes também serviu para mostrar o quanto os trabalhadores da Vale estão expostos a insegurança, e que a visão da empresa de exigir sempre produção em primeiro lugar, como se todos fossem máquinas de fabricar lucros a qualquer custo, pode gerar prejuízos incalculáveis e tragédias com vítimas fatais, como já vem acontecendo através dos acidentes de trabalho.

quem matou flávio pereira?

a assembléia legislativa do estado do maranhão aprovou, na sessão da última quarta-feira (15), requerimento da deputada helena heluy (pt) pedindo o envio de condolências à família do ex-professor da ufma, flávio pereira da silva, que faleceu por complicações decorrentes de um tiro que levou após uma briga de trânsito. antes de torcer o bico e dizer “condolências?, só isso?” ou coisas que o valham, leia aqui o texto completo.

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em sua coluna quinzenal no jornal pequeno, a professora arleth borges (do departamento de sociologia e antropologia da ufma) republica, na íntegra, a carta-denúncia que leva o título “vidas interrompidas. até quando fecharemos os olhos?”, que este blogue já publicou e que foi entregue à secretaria de segurança cidadã dia 15/8.

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o mesmo jornal pequeno, no espaço do leitor do suplemento jp turismo, publicou o texto que batiza este post, que republicamos integralmente, abaixo.

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Quem matou Flávio Pereira?

Hermes da Fonseca*

Inevitavelmente, toda vez que, na cultura brasileira contemporânea, se questiona “quem matou…”, é revirado o húmus de uma memória forjada/formatada pela cultura de massas e surge límpida uma questão que há quase 20 anos (em 1989) pôs o país, em uma noite de sexta-feira, diante das telas da Globo (86% dos televisores ligados estavam sintonizados na emissora, reza a lenda), intrigado pela “relevantíssima” questão – “Quem matou Odete Roitman?” Aliás, interessa lembrar que Odete Roitman era uma empresária rica e manipuladora (portanto, “legítima” representante da maioria da população brasileira!), que a telenovela se chamava “Vale Tudo”, que a música de abertura era “Brasil” de Cazuza e que a última cena da novela mostrou um corrupto gerente de empresa fugindo do Brasil e dando uma “banana” para o país. A locução “quem matou…” é chave imediata para essa simbologia que ficou atravessada no imaginário dos brasileiros.

A pergunta proposta como título deste texto não pode, óbvio, passar ao largo desse graveto midiático no imaginário dos brasileiros; ao contrário, mexe em seu saudosismo vazio para mostrar uma diferença radical nesse “quem matou…”: Flávio Pereira, ao contrário de Odete Roitman, era brasileiro de carne e osso, simples trabalhador (arquiteto do saber), existente em São Luís do Maranhão, que numa manhã qualquer, transitando com seu carro, foi parado por um tiro de revólver (após um desentendimento no trânsito), ficando prostrado no asfalto, enquanto fugia o homem que lhe atirou. Flávio então passou uma semana num hospital de parcos recursos e morreu na madrugada de 7 de agosto.

Embora fosse mestre em sociologia pela Universidade Federal do Maranhão, até poucos anos atrás Flávio Pereira sobrevivia do trabalho braçal, como a maioria esmagadora dos brasileiros e maranhenses. O ensino constituiu seu passaporte para o trabalho intelectual e o ingresso em uma “elite”, ainda que sem luxos. Numa realidade de absoluta concentração de renda como a do Maranhão, qualquer pessoa que tenha concluído um curso superior e tenha um salário maior que cinco salários mínimos, inevitavelmente, pertence uma reduzida “elite”. Embora Flávio tivesse um carro (São Luís do Maranhão tem uma das maiores frotas automobilísticas do país) – como tantos maranhenses atormentados por parcelas têm –, embora pertencesse a uma “elite”, continuava a ser um trabalhador que passava o dia todo em salas de aula, haurindo trinta e poucos reais por hora efetivamente trabalhada, sujeito a uma carga de trabalho além da recomendada, exposto a alto nível de perturbação psíquica, etc. Ainda que pertencente a uma “elite”, permanecera trabalhador sub-valorizado, embora fosse outro o seu trabalho e suas ferramentas.

A morte de Flávio Pereira não é, para os que o conheceram, que o admiravam e amavam, um acontecimento corriqueiro e banal; mas, para a população em geral é apenas mais um dos casos de “violência urbana” que se estampam no jornal ou se exibem na televisão, mais um dos casos de “autor desconhecido” que fomentam o discurso da impunidade, do aumento e endurecimento das penas, da criminalização de condutas… do “cansei” atualmente alardeado. Mas, por mais que apontemos a falência do sistema penal, seu caráter seletivo (restrito a determinados grupos sociais) e sua (i)lógica de reprodução da violência, é inevitável cobrar a responsabilização do autor do disparo que matou Flávio Pereira. Cobrar essa responsabilização, contudo, não deixa de ser a reafirmação desse modelo social fundado no indivíduo (a responsabilidade penal é individual) e no individualismo (cuja expressão mais evidente, no caso exposto, é o automóvel, que passa a ser concebido por seu possuidor como uma extensão do seu próprio corpo e da sua “honra”); não deixa de ser uma reafirmação do sistema penal e da crença da sua legitimidade. Mas, em contrapartida, não cobrar responsabilização alguma é o mesmo que admitir que fatos como este não fazem diferença alguma, que podem passar incólumes, que “vale tudo” e qualquer pessoa pode estabelecer sua própria lei; daí uma faceta coletiva da cobrança da responsabilização, quando sua reivindicação passa a representar solidariedade.

Cobrar responsabilização exige que se identifique alguém; daí a pertinência de se mexer no lodo midiático do “quem matou…” para criar um lugar comum que permita sensibilizar as pessoas para a reflexão sobre a responsabilização do atirador. A morte desse trabalhador não é apenas uma morte isolada, na terra-de-ninguém de uma avenida qualquer, num amanhã qualquer: é sintoma do autoritarismo que atravessa nossa formação social de margem a margem. A morte de Flávio Pereira é a morte de um entre tantos brasileiros jovens, trabalhadores, cheios de sonhos (e da malfadada esperança latino-americana), e expressa a crua banalização da vida, quando o desfecho para uma discussão de trânsito passa a ser um tiro de revólver que atravessa o peito, rompe a coluna vertebral, e é seguido por uma fuga que atesta o ápice do individualismo, o colocar-se acima de toda a experiência social.

Agora, quando morre mais uma pessoa, simbolicamente um professor, é, como afirma o antigo provérbio africano, como se uma biblioteca inteira se incendiasse; todo um mundo de experiências, libretos abertos e inconclusos, que apenas permanece como estilhaços nas várias lembranças descontínuas dos que com Flávio Pereira conviveram como alunos, como amigos, como parentes ou mesmo como simples conhecidos. Pedir a responsabilização do autor do disparo e clamar por “justiça” deve ser muito mais uma atitude pedagógica, um chamamento à reflexão sobre nossas práticas cotidianas, do que uma ânsia repressiva, sedenta de vingança. Mas, antes e durante o grito por responsabilização (e, quiçá, assim seja todas as vezes que se anunciar uma morte provocada, brutal), uma questão, com carne e osso, revolverá o cadáver simbólico de Odete Roitman e virá à tona: Quem matou Flávio Pereira?

*Mestre em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina. Membro do Núcleo de Estudos de Direito Alternativo da UNESP (Campus de Franca/SP).