matéria não assinada na capa do alternativo (o estado do maranhão) de hoje (13), sob o título “noite de jazz e blues”, anuncia um “novo” projeto do músico luso-maranhense sávio araújo.
teço alguns comentários e sei que alguns me acusarão de “dor de cotovelo”. antecipo-me: não creio que um projeto semanal realizado às quartas-feiras na praia grande atrapalhe outro realizado aos sábados no residencial são domingos (cohama). ao contrário: penso que mais palcos deve(ria)m ser criados – e aplaudo iniciativas –, em bares, praças e logradouros outros. quem sabe assim “livrássemos”/”salvássemos” a juventude de quaisquer-coisas com ou sem asas do forró e similares. dor de cotovelo? não se trata disso, portanto.
“os apreciadores da música instrumental agora terão uma opção semanal para contemplar o estilo” é a frase que abre a matéria. dois problemas: “agora” e “uma”. não sei de quem é a intenção – se do músico ou do/a missivista, ou se há – de passar a borracha na história: “noites de jazz e blues” (como informa o “serviço”) apresentará “outra” (ou “mais uma”) opção semanal aos apreciadores de música instrumental, como já vem fazendo desde 1º. de setembro do ano passado a dobradinha clube do choro/bar e restaurante chico canhoto (com a interrupção entre o ano novo e carnaval).
“é um projeto meu, a partir da observação da reação da platéia. nós temos um público que aprecia esse estilo musical, mas faltava um espaço para as apresentações”. aqui, trecho de fala de sávio araújo dentro do texto. a sede de personalização/personificação é evidente: “é um projeto meu”; ao contrário, por exemplo, do clube do choro recebe, essencialmente coletivo, que acredita que talentos individuais devem estar a serviço da coletividade e, neste caso particular, fortalecendo identidades e o movimento musical instrumental da cidade. ainda sobre este trecho selecionado: se o estilo musical a que ele se refere é a soma de jazz e blues que batiza o “seu” projeto, tudo bem; se é a “música instrumental” como um todo, repete-se erro já comentado.
outra fala do saxofonista: “na verdade, queremos quebrar esse gelo entre os músicos. criar essa cultura de interação e troca de experiências”. o uso do verbo “criar”, aí, traduz uma prepotência que não lhe fica bem: o projeto clube do choro recebe, que também não “cria” essa cultura e já vem acontecendo, traz isso entre seus objetivos. por diversas ocasiões, seja como convidado da noite, seja em canjas, sávio araújo já “interagiu” e já “trocou experiências” com outros músicos nos saraus semanais do bar e restaurante chico canhoto – particularmente lembro de inspirado “duelo” de saxofone e violão (luiz jr.) em “brejeiro”, clássico de ernesto nazareth, num desses sábados.
outra desnecessária prepotência é traduzida noutra fala de sávio, ao afirmar que “nós só estamos dando um pontapé inicial para a música instrumental. a partir daí, esperamos que novos locais dêem espaço para a música instrumental”, com repetição e tudo. ao falar em “pontapé inicial”, o músico nega sua própria participação em edições anteriores do projeto clube do choro recebe, cuja produção já recebeu convites de outros bares para sediá-lo.
cabe dizer que nada tenho de pessoal contra sávio araújo e/ou “seus” projetos. mas é preciso clarear algumas coisas, “colocar os pingos nos is”, como no dito popular. resumindo: o que músico internacional não percebe é que “seu” projeto não passa de um arremedo do que já existe – “na natureza nada se cria” –, certamente não iniciado com o projeto clube do choro recebe ou com o clube do choro do maranhão, mas já traduzido em acontecimentos do naipe de festival internacional de música de são luís, samba da minha terra, serenata dos amores, chorando na praça e tantos outros.
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enviei o texto acima a’o estado do maranhão. antecipo-me e penduro-o aqui, prevendo a não-publicação dele por lá. caso ocorra (“a esperança é a última que morre”), aviso os poucos-mas-fiéis leitores deste blogue.