Fransoufer inaugura exposição “Maranhão Meu Maranhão” em duas etapas

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60 telas inéditas poderão ser visitadas pelo público, na Procuradoria-Geral de Justiça, em São Luís, e no Centro Cultural Casa Gamela, em São José de Ribamar

O artista Fransoufer em ação. Divulgação
O artista Fransoufer em ação. Divulgação

Em 8 de junho de 1958, na Suécia, o Brasil estreou na Copa do Mundo de futebol com um sonoro 3×0 sobre a seleção austríaca, começando a pavimentar o caminho até o primeiro título mundial. No dia seguinte, no povoado Mojó, em Bequimão/MA, nascia o menino Francisco de Souza Ferreira, em meio aos batuques de um grupo de bumba meu boi de zabumba que brincava em um terreiro da vizinhança – seu pai integrava o cordão.

Como se vê, o menino parecia predestinado. Ainda criança, perambulando por olarias de sua cidade natal, começou a brincar de esculpir usando o barro. Levava jeito para a coisa e isso não passou desapercebido por uma tia, que o levou para estudar na capital; com o tempo o Brasil e o mundo ouviriam falar e reconheceriam o talento de Fransoufer, o nome artístico de sotaque francês que adotou, inventado por amigos, que uniram as sílabas iniciais de seu nome de pia.

Fransoufer foi discípulo do húngaro radicado em São Luís Nagy Lajos (1925-1989), influência definitiva em sua carreira, que não tardaria a ganhar reconhecimento: em 48 anos de trajetória, entre coletivas e individuais, o artista já expôs em vários estados brasileiros e participou do V Salão Internacional de Artes Plásticas, na Bélgica, com a obra “Bumba Meu Boi”, exposta permanentemente no Museu de Arte Moderna de Bruxelas. A sede do Instituto Fransoufer, instalada na Fazenda Canaã, em seu município natal, é um verdadeiro museu a céu aberto e abriga uma série composta por mais de 200 esculturas em tamanho natural.

O ambiente da infância e as origens ajudam a entender os rumos tomados por Fransoufer em seu fazer artístico. O menino que inventava os próprios brinquedos acabou transformando isso em profissão. Devoto de São Francisco de Assis, sua obra é marcada por traços geométricos bastante característicos e pelo uso de cores vibrantes para retratar temas da religiosidade e da cultura popular, além do povo simples do Maranhão, equilibrando-se entre o sagrado e o profano, inspirações e temáticas que predominam em suas telas. Os maranhenses têm nova oportunidade de apreciar a beleza de sua arte.

No próximo dia 13 de setembro, às 10h, Fransoufer inaugura a exposição “Maranhão Meu Maranhão”, com 30 telas inéditas, pintadas especialmente para a ocasião. O vernissage acontece no Espaço de Artes Márcia Sandes, na sede da Procuradoria Geral de Justiça do Estado do Maranhão (Av. Carlos Cunha, 3261). Dia 16, às 16h, a exposição vai até o Centro Cultural Casa Gamela (Rua Maj. Pirola, Praça da Matriz, 131, Centro, São José de Ribamar) – cada endereço abrigará 30 telas diferentes.

“Maranhão Meu Maranhão”, a exposição, tem curadoria de Silvânia Tamer, produção e coordenação geral de Lena Santos, assessoria de comunicação de Paula Brito e Zema Ribeiro, projeto gráfico e identidade visual de Carlos Costa, monitoria de Gina Tavares, fotografias de Carlos Foicinha, e tradução e revisão textual de Rodrigo Oliveira. O patrocínio é do Governo do Estado do Maranhão, Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão e Grupo Mateus, através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Maranhão, com apoio cultural do Ministério Público do Estado do Maranhão, Centro Cultural Casa Gamela e AD Fontes Advocacia. A realização é do Instituto Fransoufer.

Uma das telas da exposição "Maranhão Meu Maranhão", de Fransoufer. Reprodução
Uma das telas da exposição “Maranhão Meu Maranhão”, de Fransoufer. Reprodução

Serviço

O quê: exposição “Maranhão Meu Maranhão”
Quem: o artista plástico Fransoufer
Onde/quando: Procuradoria Geral de Justiça do Estado do Maranhão (Av. Carlos Cunha, 3261), dia 13 (quarta-feira), às 10h; e Centro Cultural Casa Gamela (Rua Maj. Pirola, Praça da Matriz, 131, Centro, São José de Ribamar), dia 16 (sábado), às 16h
Quanto: a visitação é gratuita
Patrocínio: Governo do Estado do Maranhão, Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão e Grupo Mateus, através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Maranhão
Apoio cultural: Ministério Público do Estado do Maranhão, do Centro Cultural Casa Gamela e da AD Fontes Advocacia
Realização: Instituto Fransoufer

Betto Pereira inaugura exposição amanhã (10) em São Luís

Betto Pereira conversou com exclusividade com Homem de vícios antigos. Foto: divulgação

 

Acontece amanhã (10), às 15h, no Espaço de Artes Márcia Sandes, na sede da Procuradoria Geral de Justiça (Av. Prof. Carlos Cunha, nº. 3261, Calhau), a vernissage da exposição Telas e Tons, do artista Betto Pereira, que contará com pocket show dele com participações especiais de Josias Sobrinho, Adão Camilo, Pepê Jr. e Mano Borges.

Consagrado como cantor e compositor, Betto Pereira, atualmente residindo em Petrópolis/RJ, relembra que ambos os ofícios artísticos sempre caminharam em paralelo. “Tem muita gente que acha que eu comecei agora, nesses cinco anos. Eu apenas retomei, mas eu cansei de fazer, mesmo na época do [grupo] Rabo de Vaca, eu já fazia os cartazes, capas de livros, fazia algumas artes quando eu morava em São Paulo, para pagar umas continhas, pro rango, enfim, sempre caminharam junto as minhas artes plásticas com a música. Não é de hoje, eu reassumi, mas a música está sempre presente. Telas e Tons é isso, uma mistura. Eu não sei se eu sou um cantor que pinta ou um pintor que canta. É uma brincadeira mas é por aí”, diz, com exclusividade, a Homem de vícios antigos.

A igreja do Desterro no traço de Betto Pereira, uma das telas da exposição. Reprodução

Betto Pereira recentemente assinou as artes do disco Sambas, recém-lançado por Nosly. Telas e Tons, a exposição, reúne 10 telas, que passeiam por várias fases de sua carreira. “A gente está levando o que a gente pinta desde o começo da minha história. Passa pelas bicicletas, a bicicleta tem uma história com a minha vida, desde quando eu tinha cinco anos, isso me marcou muito, por isso as bicicletas, onde eu passei pelo Museu Nacional de Belas Artes, com a exposição Pedalando cores, então tem um pouquinho de cada coisa, tem os casarios, tem a festa do divino, tem a música, então é um pouquinho de tudo, pode se falar assim”, adianta.

Sobre voltar a São Luís, ele comenta: “A sensação de voltar a expor em São Luís é muito bacana, muito prazerosa, até por que minha arte vem de São Luís, ela passa pela minha música, pela minha história de vida, com as ruas, a música, tudo o que rolou durante esse tempo na minha história com arte, chegar e rever os amigos, e mostrar essa arte que está sendo produzida aqui no país, pelo mundo afora, mas sempre com o pé no Maranhão, claro. Papete me disse uma vez: “Betto, assuma o seu gueto, a sua história, que aí vira universal”. Isso é muito bacana, sempre levei isso pra minha história”.

Além da música, com vários discos gravados, e das artes plásticas, Betto Pereira também teve passagens pela tevê, tendo apresentado durante cerca de 10 anos o programa Armazém Cultural, voltado à cultura do Maranhão, e uma passagem de um ano e meio pela Rádio Jovem Pan. Ainda em São Luís chegou a ser proprietário de uma galeria de arte instalada no Jaracati Shopping; atualmente tem uma no Shopping Estação Itaipava, em Petrópolis, em que expõe permanentemente seu trabalho.

Telas e Tons tem curadoria de Carlos Dimuro e o marchand é Adão Camilo. A exposição fica em cartaz até o próximo dia 14 (sexta-feira).

As lâminas despidas de Nuno Ramos

Uma das peças de Só lâmina, com os versos "igual ao de um relógio/ submerso em algum corpo,/ ao de um relógio vivo/ e também revoltoso"
Uma das peças de Só lâmina, com os versos “igual ao de um relógio/ submerso em algum corpo,/ ao de um relógio vivo/ e também revoltoso”

 

Nuno Ramos é um dos mais importantes artistas brasileiros da atualidade. E além de artista, um pensador das artes. Artista plástico, compositor (assina 11 das 12 faixas de Pedaço duma asa, de Mariana Aydar) e ensaísta, para citarmos apenas algumas de suas multiplicidades – em nenhuma delas ele se contenta em ser “meia boca”.

Ele não vem à São Luís, mas o Sesc/MA inaugurou hoje (18), em sua Galeria de Artes na Praça Deodoro (Centro), a exposição Só lâmina, baseada no poema Uma faca só lâmina, do poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto, de 1955, e dedicado ao também diplomata Vinicius de Morais.

As 10 telas de Só lâmina são de 2007. Oito medem 1,55×0,75 e duas medem 1x1m. Nuno Ramos usa espelho/vidro, metal, pelúcia e tinta a óleo para compor os desenhos em relevo, que simulam a violência do movimento da lâmina, como a rasgar a delicadeza humana – como no poema que evoca.

Nas placas de metal, trechos dos versos cabralinos. “Das mais surpreendentes/ é a vida de tal faca:/ faca ou qualquer metáfora,/ pode ser cultivada./ E mais surpreendente/ ainda é sua cultura:/ medra não do que come/ porém do que jejua.”, diz um trecho do poema.

Nuno Ramos não se contenta com o bidimensional das telas. Só lâmina se completa com a escultura sonora Carolina, colagem sonora de palavras do cotidiano, trechos de músicas e poemas ditos pelos atores Gero Camilo e Marat Descartes por mais de duas horas, além do vídeo Luz negra, de pouco mais de 10 minutos, realizado em parceria com o artista Eduardo Climachauska, o Clima, cujo experimento é tocar sob a terra Juízo final, de Élcio Soares e Nelson Cavaquinho, compositor cuja vida e obra já foi tema de ensaio de Nuno Ramos (publicado na edição inaugural da revista serrote [IMS, março/2009], teve trechos aproveitados no encarte de Rei vadio, disco de Rômulo Fróes dedicado ao repertório do sambista). A morte que permeia toda a obra do homenageado é vista (e ouvida) por outra perspectiva.

Em cartaz até 14 de julho, Só lâmina pode ser visitada gratuitamente das 9 às 11h e das 14 às 17h, em dias úteis. O poema de João Cabral começa: “Assim como uma bala/ enterrada no corpo,/ fazendo mais espesso/ um dos lados do morto;/ assim como uma bala/ do chumbo mais pesado,/ no músculo de um homem/ pesando-o mais de um lado;”; e termina: “por fim à realidade,/ prima, e tão violenta/ que ao tentar apreendê-la/ toda imagem rebenta”.

Clique sobre os verbos para VER Luz negra, LER e/ou OUVIR Carolina.

Imagem é tudo. Tudo é imagem

Uma das "imagens descartáveis" que compõem a exposição
Uma das “imagens descartáveis” que compõem a exposição. Foto: Layo Bulhão

 

Já há algum tempo este blogue usa a categoria “fotosca” para se referir a retratos que faço – jamais usaria um trocadilho desses para me referir a imagens alheias –, em geral com o celular.

Às vezes as “fotoscas” são o único recurso de que posso me valer para ilustrar um texto meu sobre um show, por exemplo. Do ponto de vista estético, a grande maioria delas deveria ter sido apagada. Algumas nem deveriam ter sido clicadas.

É mais ou menos esta discussão, sobre o que merece a publicação ou o lixo como destino, o que provoca a exposição Imagens descartáveis (ou: Um diálogo com o erro), da fotógrafa, pesquisadora, videoasta e professora Carolina Libério e do artista e estudante de artes Layo Bulhão, em cartaz na Galeria de Artes do Sesc Deodoro (Praça Deodoro), das 9h às 17h, até 30 de outubro, com entrada franca.

A exposição conta com cerca de 800 imagens, a metade de cada autor. É um mergulho em “um universo de imagens que permanece sempre não-visto: aquele das imagens descartadas. Imagens imprestáveis, que sobram e inundam pastas, cartões de memória, cds, pen-drives e hds”, conforme o texto distribuído pela Assessoria de Comunicação do Sesc/MA.

O debate proposto é bastante pertinente, num mundo em que a imagem ganha cada vez mais força, contrariando a propaganda do refrigerante, dominado por selfies – o autorretrato que conta até com um “pau” próprio para isso – e plateias em que parte do público já não assiste a espetáculos com os próprios olhos, mas pelas lentes por onde registram a experiência.

Telhas na cabeça! Elmo Renato expõe na Galeria Trapiche

Artesão expõe 96 peças realizadas em telhas de construção. Na conversa com o blogue revelou origens e apontou influências.

O artesão Elmo Renato Serra Cordeiro nasceu em 20 de outubro de 1970, em São Luís/MA. É bastante conhecido da maioria dos leitores do Vias de Fato: pelos corredores da Universidade Federal do Maranhão era figurinha fácil, envergando mochila, bengala, um chapéu a la Lampião e alguns exemplares do jornal debaixo do braço.

Ele ingressou na UFMA em 2009 para cursar História, que trancou no quinto período. O uso da bengala decorre de uma patologia que teve quando criança, o que o deixou sem andar até os cinco anos de idade. “Fiz muita fisioterapia para poder me locomover sozinho. Mesmo com algumas limitações físicas, tive uma infância muito feliz e bastante proveitosa, graças ao apoio sempre constante dos meus pais”, revela.

Elmo dedica-se ao ofício do artesanato e atualmente está em cartaz com a exposição Deu na telha, que pode ser conferida em horário comercial, até o próximo dia 12 de junho, na Galeria Trapiche Santo Ângelo (av. Vitorino Freire, em frente ao Terminal de Integração da Praia Grande). São 96 peças, utilizando telhas de construção como principal matéria prima.

Os temas, os mais diversos possíveis, vão do abstrato à cultura popular do Maranhão, da lenda da serpente ao imaginário de pescadores, passando por homenagens a familiares do artesão e uma galeria da esquerda sul-americana, a que comparecem o jornal Vias de Fato, o Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST), o Mercosul e Ernesto Che Guevara, entre outros.

O blogue visitou a exposição e conversou com o artesão.

Foto: Divulgação (fan page do artesão)
Foto: Divulgação (fan page do artesão)

 

Quando você teve o estalo de produzir usando telhas de construção? Foi há mais ou menos 18 anos, quando vi numa loja de artesanato uma máscara em estilo tribal africana esculpida em madeira, mas que lembrava muito o formato de uma telha. A partir daí comecei a produzir máscaras usando a princípio a massa epox ou resina sintética para sua confecção e depois pintava com tinta acrílica.

Qual o material utilizado na confecção das telhas em exposição? Uso a argamassa para sentar piso como massa para esculpir sobre a telha e as pinto depois de secas com tinta plástica a base d’água.

Você produz artesanato em outros suportes? Quais? Sim, em pisos e revestimentos cerâmicos, com os quais pretendo fazer outra exposição só com esse tipo de base.

Com quem você aprendeu a fazer artesanato? Aulas, alguma influência na família, autodidatismo? Desejo de criar, curiosidade e prazer, não necessariamente nessa ordem. A influência veio do meu irmão, que desenhava muito melhor do que eu.

A quem interessar possa, fora da exposição, onde as pessoas podem ver teu trabalho? No momento estou criando peças na minha casa, onde tenho um espaço reservado para meu trabalho e exposição delas.

Percebe-se na exposição uma gama bastante variada de temas. Quais os teus prediletos? O que te inspira a produzir? Eu desde muito cedo sempre gostei de desenhar, principalmente nas aulas de educação artística, disciplina que tinha quando estudava no Franco Maranhense, onde iniciei no jardim e conclui o primeiro grau, na década de 1980. Foi nesse período que, por gostar muito de quadrinhos, procurava desenhar imitando o estilo dos desenhistas, principalmente os brazucas: Watson Portela, Mozart Couto, Flávio Colin e outros que produziram o melhor do quadrinho de gênero terror da antiga editora Vecchi, com títulos como Spectro Sobrenatural e Pesadelo, dos quais era um fã e colecionador. Depois vêm os quadrinhos de heróis da Marvel e outros. Vendo meu gosto e dedicação pelo desenho, minha mãe me matriculou no curso de desenho e pintura com o grande mestre Ambrósio Amorim, no antigo [Centro de Artes] Japiaçu, onde fui apresentado à tela, paleta, óleo de linhaça, terebintina e tintas a óleo (gato preto). Foi minha fase dos casarios e marinhas, fiquei nesse estilo muito tempo. Foi pela curiosidade que comecei a buscar outras formas de artes plásticas, como a escultura em argila, com o professor ceramista Luis Carlos. Depois passei para a xilogravura com o Airton Marinho, outro espetacular artista popular na arte de esculpir em baixo relevo na madeira para depois passar para o papel suas formas em cores vibrantes e sempre valorizando nossa cultura popular. Enfim, foram muitos os caminhos e estilos até chegar na forma que hoje em dia eu produzo minhas peças, onde o abstrato é muito frequente, mas também o figurativo, mesmo que de forma estilizada, e a arquitetura colonial da cidade de São Luís, onde nasci e que ainda me inspira, apesar do descaso do poder público.

Quando não está fazendo artesanato, o que você mais gosta de fazer? Gosto de ler, assistir documentários e filmes, navegar na rede [é usuário frequente do facebook, onde expõe suas obras virtualmente na fan page Elmo Artesanato], ir à praia com a família ou visitar meus pais.

Após percorrer seis capitais brasileiras, exposição de Dinho Araújo será aberta hoje (11) em São Luís

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Muita coisa me impressionou na gigantesca programação da 9ª. Aldeia Sesc Guajajara de Artes, em que tive a honra de trampar ano passado. Foram dias intensos, doidos e doídos, que valeram muito a pena. O epíteto de “maior evento de arte e cultura do Maranhão” não é mero slogan.

Na Casa de Nhozinho, um dos muitos espaços da cidade com que a Aldeia – literalmente uma aldeia – dialogou, tomei conhecimento das obras de João Cosme e Dinho Araújo, que respectivamente apresentavam as exposições fotográficas Abstraturbano e Liturgias do Corpo.

O segundo está com nova exposição a partir de hoje (11) na Galeria de Arte do Sesc Deodoro – a vernissage acontece às 18h30 e a exposição fica em cartaz até o próximo dia 20 de março, com visitação gratuita e aberta ao público.

Dos dias em que a ausência é marca, a exposição, chega à São Luís depois de ter percorrido outras seis capitais brasileiras, ano passado, pelo projeto Sesc Amazônia das Artes.

Composta por fotos, objetos e um vídeo, a exposição apresenta “um olhar crítico e poético sobre identidade, patrimônio e memória, contrapondo visões antagônicas sobre São Luís. No trabalho, memórias pessoais se entrelaçam à experiência coletiva, ambas servindo de inspiração a um registro sutil que sublinha como somos marcados pela ausência”, de acordo com o texto de divulgação distribuído aos meios de comunicação.

“Como analogia ao nosso vazio existencial, a leitura da cidade requer um olhar atento às lacunas e fissuras. Um caso exemplar é a paisagem do Centro Histórico, marcada tanto pela força expressiva do seu conjunto arquitetônico quanto pela sua descaracterização (consequência da demolição de imóveis e da remoção dos azulejos das fachadas). Beleza e depredação, memória e esquecimento: pares antagônicos que costuram as representações locais e as projeções externas que fazem de nós. Como uma composição sem letra, essa reflexão transcende à experiência local, conectando de modo singular os polos da identidade, do patrimônio e da história”, continua o release.

O artista – Dinho Araújo é arte-educador, designer e artista plástico, mestre em Antropologia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Entre 2012 e 2013 foi professor do Departamento de Artes da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Além da Aldeia Sesc Guajajara de Artes já expôs em eventos como a Feira do Livro de São Luís (2013) e Salão de Artes Visuais da Prefeitura de São Luís (2010), entre outros.

Tecendo redes: artistas comentam suas presenças na 9ª. Aldeia Sesc Guajajara de Artes

A 9ª. Aldeia Sesc Guajajara de Artes começa amanhã (23), com um cortejo artístico que seguirá da Biblioteca Pública Benedito Leite, na Praça Deodoro, até a Praça Nauro Machado, na Praia Grande. A concentração tem início às 15h30.

O encontro de diversas linguagens artísticas marca a abertura do maior evento de arte e cultura do Maranhão, cuja programação, completamente gratuita, segue até o dia 30 de outubro, em São Luís e Raposa.

Ao longo do trajeto, as ruas do centro da capital maranhense serão enfeitadas pelas artes do Maracatuque Upaon Açu, Núcleo de Formação Artística O Circo tá na Rua, Trupe de Habilidades Circenses, Grupo Officina Affro, Grupo de Artes Maria Aragão (Gamar), Banda do Bom Menino, Xangô Caô (TSI/Sesc), contando ainda com o intervencionismo arte educativo “Piracema Criativa” da Imaginautas_Rede Social.

A trupe será recepcionada às 18h na Praça Nauro Machado, onde acontecerá o Brechó no Olho da Rua, cujo nome surgiu por conta de um despejo, passando o mesmo a funcionar em diveros espaços públicos, de forma itinerante. Dialogar com ações culturais que já acontecem na cidade, caso do brechó, é o mote da 9ª. Aldeia Sesc Guajajara de Artes, cujo tema é “Tecendo Redes”.

Um dos mais refinados e requisitados DJs de São Luís, Franklin Santos, ou simplesmente DJ Franklin, sobe ao palco da Nauro Machado às 19h. Ele comenta a alegria em participar novamente da Aldeia: “é uma grande alegria, ainda mais dividindo a noite com uma das bandas que mais escutei, ao lado de Chico Science e Nação Zumbi, é realmente um sonho”, afirmou, referindo-se aos pernambucanos da mundo livre s/a. “Estou programando uma mistura de reggae, samba e manguebeat para rolar naquele lugar fantástico que é a praça Nauro Machado, outra magia à parte, ambientando tudo isso”, adiantou.

A banda Madian e O Escarcéu, com o premiado Sinfonia de Baticum, também está na programação de abertura da 9ª. Aldeia Sesc Guajajara de Artes, a partir das 20h. O repertório não se limitará ao disco: “Serão executadas em “primeira mão” na ilha canções como Sal de cigana e Terremoteou, que em breve estarão num lançamento do grupo, o álbum Nonada”, adianta o baixista Miguel Ahid.

Para Madian, estar junto de todos os artistas, tornando a noite uma festa, dá “uma sensação de bem estar. Afinal, lugar de índio urbano, lugar de metal do mato, é na aldeia mesmo. E – sendo maranhense – um legítimo tupinambá, é guajajara na veia”, afirma.

“Temos um respeito enorme por todo o trabalho, história e carreira dos expoentes da música pernambucana, de Luiz Gonzaga a Alceu Valença, passando por Chico Science, Nação Zumbi, mundo livre s/a e tantos outros. Todos eles, juntos com outros grandes nordestinos como João do Vale, Ednardo, Jackson do Pandeiro, são exemplos da grandiosidade da força e influência abissal do folclore nordestino na cultura do país”, afirma Erico Monk, que completa a formação do trio.

A banda pernambucana mundo livre s/a, um dos nomes mais importantes do movimento Manguebeat, que eclodiu no início da década de 1990, em Recife, sobe ao palco da 9ª. Aldeia Sesc Guajajara de Artes às 21h30. O repertório passeará por todos os seus discos, com especial destaque para o de estreia, Samba esquema noise, que em 2014 completa 20 anos de lançado.

Para ZéMaria Medeiros, poeta e músico que comanda A Vida é uma Festa, evento semanal que acontece ininterruptamente desde 2002, na Praia Grande, integrar-se à programação da 9ª. Aldeia Sesc Guajajara de Artes é uma forma de reconhecimento. “O Sesc, ao nos incluir em sua programação, coloca-nos em sua rede de diálogo com as diversas manifestações artísticas, o que nos fortalece. É o reconhecimento por um trabalho continuado de afirmação do nosso fazer artístico, do valor que a cultura tem para integrar as pessoas e sinergizar rumo a um mundo harmônico, plural, de paz”, enfatiza.

Este clima de confluência pauta toda a programação da 9ª. Aldeia Sesc Guajajara de Artes. A programação completa, totalmente gratuita, está disponível no site do Sesc/MA.

Curso de museologia e curadoria lança Projeto Goeldi em São Luís

Com 40 horas, incluindo atividades práticas, curso começa hoje (22) e acontece até sexta-feira (26), no Centro de Cultura Popular Domingos Vieira Filho

Lani Goeldi ministrará curso em São Luís. Foto: divulgação
Lani Goeldi ministrará curso em São Luís. Foto: divulgação

 

Tem início hoje (22) – e segue até sexta-feira (26), no Centro de Cultura Popular Domingos Vieira Filho (Rua do Giz, Praia Grande) – um Curso de Museologia e Curadoria da Arte, ministrado por Paulo Vergolino, museólogo, curador de arte e produtor cultural independente, e Lani Goeldi, curadora de arte e gestora cultural.

O curso lança, em São Luís, o Projeto Goeldi, uma série de atividades em comemoração pelos 120 anos do artista, que os completaria em 2015. Na Ilha o curso tem produção da Bureau Cultural e percorrerá outras cidades do país.

O curso “tem carga horária de 40 horas e é voltado para profissionais que já atuam ou desejam atuar em instituições culturais públicas e privadas, de patrimônio material, preservação da memória, montagem e supervisão de exposições de arte, execução e revisão de catálogo de exposição, crítica, arquitetura e colecionismo, entre outras atividades”, informa o material de divulgação. São 50 vagas, com investimento de R$ 300,00.

Sobre a atividade, por e-mail, Lani Goeldi, sobrinha-neta do artista plástico, gravurista e professor Oswaldo Goeldi, conversou com este blogue com exclusividade.

Você tem um currículo invejável e traz um sobrenome importante para as artes no Brasil. Qual o peso de ser uma Goeldi? Bem, a principio não acredito que haja um “peso”, no real sentido da palavra, há sim uma enorme responsabilidade em fazer jus aos que meus antepassados fizeram, tanto meu bisavô Emilio Goeldi, como Oswaldo Goeldi, seu filho. Porém, existem outros que também tiveram feitos e ações incríveis e não foram tão glorificados assim, como Adelina Goeldi, esposa de Emilio, que muito embora sua família tenha sido uma das mais ricas do país, se preocupava demais com os menos favorecidos. Outro membro importante foi Walther Eugenio Goeldi, irmão mais velho de Oswaldo que foi um brilhante arquiteto. Enfim, tantos feitos que seria impossível detalhar. Mas, o mais importante eu acredito, é enfatizar não os feitos e aptidões de cada um, mas sim, as ações, o caráter, suas verdades e seus conflitos. Foi assim que me apaixonei por este trabalho, buscar e pesquisar infinitamente o que todo mundo gostaria de saber: o lado humano de cada um.

Há algum tempo um movimento vem transformando os museus em organismos vivos em vez de meros “depósitos de coisas velhas”. Qual a importância desta mudança na postura destas casas em tempos hipertecnologizados, em que qualquer acervo pode estar disponível em alguns toques na tela de um celular, por exemplo? Os museus foram fundados baseados em coleções particulares e que não eram abertas para o público. Isso se deu por volta do século XVIII, com a revolução Francesa. No século XIX estas casas começam a pipocar pelo mundo inteiro com a pretensão de reterem o conhecimento do mundo. Muito poucos conseguiram – as lacunas são graves e às vezes bem visíveis. Como é o caso do MASP – que não tem até hoje uma Tarsila do Amaral digna daquele Museu. Em relação às mudanças, acredito que sempre serão bem vindas. Acredito que um Museu que apenas se preocupa com o passado – FECHA!  [grifo da entrevistada] Ou tende a ficar ultrapassado. Museus que não se preocupam em se modernizar estão fadados ao esquecimento e serão comidos pela poeira do tempo. Porém, é importante dizer que não há recurso algum que substitua a visita a uma instituição. Ver o objeto não tem preço e tecnologia tem que ser usada como material de apoio e não como forma de substituição do acervo museológico em si.

O curso de museologia e curadoria de arte, que será ministrado por você e por Paulo Vergolino integra uma gama mais ampla de ações que celebram os 120 anos de Oswaldo Goeldi, seu tio-avô. É aberto não somente a quem já é do ramo, mas também a quem pretende nele ingressar. Como você resumiria a importância deste momento formativo? Vejo como forma de inclusão. Possuímos uma defasagem imensa no que diz respeito à Educação nesse país. Todo tipo de forma de educar a população, é sempre bem-vinda, válida e justa – Educação não tem preço e é a única coisa que ninguém pode lhe tirar. Portanto, nosso Curso está voltado a todos os públicos, formatado por profissionais que de longa data se dedicaram num trabalho de imersão dentro da arte. Além de enfocar um assunto que poucos dominam, talvez pela falta de conhecimento. Nosso intuito é levar conhecimento para o bem dos profissionais de todas as regiões do país, principalmente para fora do eixo Rio-São Paulo, um pouco de nossa experiência e compartilhar nossos conhecimentos, para que esta fonte seja utilizada e canalizada de uma forma correta honesta e assim que possam seguir em frente. Se isso vier a acontecer já estaremos felizes.

O curso prevê uma atividade prática em grupo. Em que consiste? Sim – esta é uma atividade prevista pelo professor Paulo Vergolino, museólogo de formação,  uma visita a um Museu da cidade onde o curso será sediado. No caso de museologia, veremos da prática como ocorre a museologia em um museu vivo. Como se dá a importância em se ter um museólogo cuidando do acervo. E se este museu não tiver um profissional em seu quadro de funcionários, o que pode ser feito para que este quadro mude no futuro.

O mercado de arte tem para onde crescer no Brasil? Quais as perspectivas para os próximos 10 anos? Isso é uma pergunta difícil – saibamos que arte sempre foi artigo de luxo. E esteve sempre vinculado a quem tem muito dinheiro. O que posso dizer é que Arte ainda vai continuar existindo.  Porém, prever como o mercado de arte vai reagir e tendenciar as vendas, isso é bem complicado. As casas de leilões ainda estão aí e os galeristas continuam com suas galerias em atividade. O que quer dizer que a demanda existe. Segundo o último Congresso de Art Market, promovido pela Universidade de Zurich, as perspectivas continuam em ascendência principalmente em relação aos artistas brasileiros. Devemos lembrar que Arte também é moda, artistas sobem as suas cotações e descem conforme o mercado dita. Mas a Arte aqui no Brasil ainda é só para brasileiros. Os mercados internacionais ainda estão descobrindo e engatinhando sobre o Brasil. Vale lembrar que o Brasil é um país muito novo e, portanto, tem muito que caminhar para se fazer conhecer e ser respeitado lá fora. Afinal, acredito que somos mais que futebol e carnaval.

A usurpação e o banditismo sempre estão presentes em retratos de mercados de arte em obras de ficção. O que há nisso de próximo com a realidade? Bem, em se tratando das obras, vivemos assolados de obras falsas – principalmente de artistas consagrados. Entre os mais famosos estão Volpi, Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Tarsila, incluindo Goeldi, entre outros. A única saída para esse problema é a descoberta e prisão dos falsários. E consequentemente a destruição em massa do que é falso. A formação de uma polícia e de profissionais que possam atuar nessa área é fundamental para coibir essa prática. No que tange a exploração da temática exploratória da escória humana, sabemos que tudo que sempre transgrediu a sociedade é o que realmente chama atenção, inclusive daqueles que muitas vezes não tem coragem de transgredir, e aí veem na obra de arte um meio de abraçar determinada causa ou ideia. Creio que isso sempre existiu, em toda história da arte, haja visto que muitos artistas foram guerreiros, homossexuais, bêbados, adúlteros, loucos, etc. Pessoas muitas vezes viveram à  margem da sociedade e que mais tarde vieram a ser reconhecidos por seus pelos trabalhos.

Qual a sua opinião sobre o Museu da Memória Republicada, instalado no Convento das Mercês? É um típico exemplo do patrimonialismo e culto à personalidade, um prédio enorme, cheio de objetos pessoais do senador José Sarney, ex-presidente da república. Bem, é uma situação complicada – até porque museus produzidos para abrigar acervos particulares ou para homenagear alguém são práticas até comuns no mundo, lembremos, por exemplo, o que se formou a volta do Túmulo de Napoleão em Paris. Muito já ouvi falar deste museu, será agora que terei a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente, bem como seu acervo. Mas como museu baseado neste contexto, só o tempo poderá nos dizer como ele caminhará, afinal ele foi constituído há bem pouco tempo.

No Maranhão diversas obras de arte outrora públicas enfeitam residências de particulares. Qual a importância destas obras serem devolvidas à visitação pública? O professor Paulo Vergolino, uma vez ouviu dizer que “esse país não tem jeito” – está assolado e atolado por um desgoverno que só pensa em si e em encher o seu bolso e de seus descendentes. Minha avó, Josepha Goeldi, cunhada de Oswaldo Goeldi, era de São Luís/MA, filha de um seringueiro e uma índia, porém conseguiu ser professora. Acreditava que a conscientização dos atos de um ser humano era tudo para a formação de seu caráter. E baseado nestes valores é que iniciamos, a partir do acervo documental que ela guardou, a Instituição que somos hoje, criada há mais de 10 anos. Porém, com o acervo de Goeldi não foi diferente, com a instituição do Projeto Goeldi, moralizamos o mercado e inclusive a conscientização dos colecionadores. Acreditamos que não adianta nada possuir uma obra de arte tão valiosa e tão difícil de adquirir, guardar por anos a fio, sendo que não se tem certeza se nossos filhos ou netos terão a mesma consideração ou mesmo gosto para preservá-la da mesma forma. A saída para essa situação em minha opinião é apenas uma – EDUCAÇÃO DE QUALIDADE [grifo da entrevistada]. Um povo educado e bem instruído nestas proporções não deixa que isso aconteça. Os museus têm que ser palco da educação e estar a serviço do povo e suas coleções são parte desse legado. Para nós, profissionais da área, resta fazer acontecer. Não será fácil, mas temos que nos unir e pressionar quem ocupa o poder para que essas práticas mudem. Se houver vontade haverá já um começo.

Prazeres e Parangolé

Uma das primeiras aquisições que fiz em sebos este ano foi o pequeno volume de contos Zicartola e que tudo mais vá pro inferno!, do mestre João Antonio. Na Sociedade Maranhense de Direitos Humanos (SMDH) estávamos às voltas com as discussões sobre o Baile do Parangolé, evento que este ano chega à sua quinta edição, celebrando os 35 anos de atuação da entidade.

Tudo era urgente, para ontem, quando finalmente decidimos botar o bloco na rua, isto é, realizar mais uma edição do evento. O que o livro tem a ver com isso? Bom, não havia tempo nem dinheiro para contratarmos um artista ou agência de publicidade para a campanha de divulgação do Parangolé. Assim, ao ver a capa e as primeiras páginas de Zicartola, tive o estalo: é isso!

Salvei algumas reproduções de pinturas do sambista (tudo a ver com carnaval) Heitor dos Prazeres e revelei fotos delas e de casarões e janelas do centro histórico da capital maranhense. Com tudo em mãos, tesoura, durex, um scanner e meus conhecimentos quase nulos de corel draw me permitiram chegar ao que chamei de “arte” para a divulgação do Parangolé, partilhando-a com a coordenação da SMDH e aguardando comentários, sugestões e críticas.

A arte foi aprovada, recebi alguns elogios, que são de todos nós, e o 5º. Baile do Parangolé acontece daqui a pouco, às 19h, no Bar do Porto, na Praia Grande. Honra enorme em fazer parte dessa família e dessa história, só posso celebrar com os amigos e as amigas que se fizerem presentes, desejando vida longa à SMDH, que sua atuação por aqui, sobretudo no presente contexto, parece que ainda se fará necessária por bastante tempo.

A violência artística de Carlos Latuff

“A função do artista é violentar”. A frase do cineasta Glauber Rocha que serve de epígrafe ao blogue de Carlos Latuff traduz seu exercício de ler o mundo através dos traços e cores de suas charges, publicadas por aí, o artista ainda mais conhecido fora que em seu pobre Brasil – triste do país que não sabe reconhecer e valorizar seus artistas.

Carioca nascido em 30 de novembro de 1968, o chargista é um cronista do cotidiano, com a pena mais afiada e o olhar mais aguçado que o de muita gente por aí, sobretudo os que ocupam cargos e funções nos podres poderes – o poder, propriamente dito, e a mídia.

Latuff come pelas beiradas. É na imprensa alternativa e sindical, entre jornais nanicos e panfletos dos movimentos sociais que ele crava suas denúncias, não sem um quê de ternura e beleza, orientando-se pela máxima do revolucionário. Tem ilustrado e participado de momentos cruciais da história recente – primavera árabe, derrubada da ditadura egípcia, Pinheirinho, Copa do Mundo no Brasil etc. Já perdeu a conta de em quantas publicações infiltrou suas obras de arte e uma delas protagonizou talvez o primeiro caso de asilo artístico no Brasil: Por uma cultura de paz, charge de sua autoria que retrata um homem negro crucificado executado pela polícia, teve sua retirada solicitada por um político filho de militar e ganhou abrigo no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.

Sem formação acadêmica, apenas com o “segundo grau completo”, como ele mesmo diz, o desenhista formou-se observando as ruas, sua cidade maravilhosa natal, o Brasil e o mundo que roda a trabalho, terrenos mais que férteis em se tratando de matéria prima para o seu fazer artístico e político.

“Artivista”, cravei uma vez referindo-me a ele. Já admirava e acompanhava seu trabalho e acompanhava quando pintou a oportunidade: a Sociedade Maranhense de Direitos Humanos (SMDH) realizou, em 2012, com algumas entidades parceiras, uma Campanha de Combate à Tortura e tivemos a honra de convidá-lo a desenhar o cartaz (a imagem ilustra a capa desta agenda).

Por que Latuff não é apenas talentoso. É também um artista comprometido com a luta dos menos favorecidos, despejados, indígenas, quilombolas, sem-terra, vítimas dos megaprojetos e megaeventos, vítimas da polícia, crianças e adolescentes, idosos, mulheres, LGBTs. Em suma, um artista comprometido com a luta por e a efetivação dos direitos humanos na vida das pessoas.

Cada um luta com as armas que tem. Canetas na mão e ideias na cabeça, eis as de Latuff. No ano em que a SMDH completa 35 anos de luta em defesa da vida, é motivo de orgulho para nós, presentear sócios/as, parceiros/as e amigos/as com esta antologia latuffiana, imagens pinçadas de um ano especialmente trágico para os direitos humanos no Brasil.

Homenagem – Especialmente para esta Agenda 2014, Latuff desenhou o saudoso Celso Sampaio, assessor jurídico da SMDH, falecido ano passado, também admirador de seu trabalho.

[textinho que escrevi pra Agenda 2014 da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos]

A obra de arte no asilo e a direita reaça nas ruas e gabinetes

A gente morre e não vê tudo. Roubei o texto abaixo do facebook de Jotabê Medeiros, um dos melhores jornalistas deste país.

É sobre a censura perpetrada ao judiciário carioca por Bolsonarinho, filho vocês sabem de quem, por conta de uma obra de arte (sim: obra de arte!) de Carlos Latuff, um dos melhores desenhistas deste país.

Trouxe o texto para cá por achar que o assunto merece debate e que podemos contribuir com a difusão desta informação. Hoje é uma obra de arte, amanhã o que será? Hoje censura. E amanhã? Tortura? Tempos sombrios vive o Brasil…

A obra de arte de Carlos Latuff censurada no judiciário carioca

O desembargador Siro Darlan, do Rio de Janeiro, concedeu hoje o que talvez se configure como o primeiro caso de asilo a uma obra de arte.

Darlan foi proucrado pelo juiz João Batista Damasceno, da 1ª. Vara de Órfãos e Sucessões, com um caso desesperador: decisão do TJ do Rio de Janeiro determinava um prazo até o meio-dia de hoje, quarta, para a retirada de seu gabinete da charge Por uma cultura de paz, de Carlos Latuff. A censura foi motivada por um pedido do deputado estadual Flávio Bolsonaro (PP), filho do deputado federal Jair Bolsonaro – ambos conhecidos não exatamente por seu espírito democrático.

A charge de Latuff está enquadrada no gabinete e mostra um PM atirando com um fuzil em um homem negro crucificado.

O magistrado decidiu transferir a obra para a sala do desembargador Siro Darlan, pois lá a censura não tem efeito. O desembargador diz que promoveu “asilo a uma obra de arte” e que “quem alguém estiver insatisfeito que vá ao presidente do Superior Tribunal de Justiça reclamar”.

O deputado estadual Flávio Bolsonaro (PP), que pediu a censura ao TJ, vai encaminhar denúncia à corregedoria do tribunal. O deputado Bolsonaro chegou a divulgar em seu site oficial um modelo de ação indenizatória para os policiais militares do Rio que se sentissem ofendidos com a obra de Latuff, estimulando retaliação.

No Facebook Latuff comemorou o “asilo artístico” e relatou ameaças sofridas de policiais militares ao juiz Damasceno, que se disse favorável à desmilitarização da PM, pois “a política de segurança pública militarizada tem como alvo os pobres e excluídos, ‘inimigos eternos’ sujeitos ao extermínio”.

Da preguiça como método de trabalho

Roubo este título do Mário Quintana para mostrar-lhes, encontrei recentemente arrumando o quarto a que pretensiosamente chamo biblioteca, estes três desenhos que fiz durante uma reunião, há alguns anos. Sobraram-me nas mãos as tarjetas de cartolina e os pincéis atômicos azul, preto e vermelho. O lixo talvez fosse melhor destino, mas como diz Manoel de Barros, tudo que é bom para o lixo é bom para a poesia.

 

 

Cesar Teixeira, 60 anos

Um de nossos maiores compositores completa hoje 60 anos. Em 2003, por conta de seu meio século, fui (também) o único a dizer algo: o texto saiu no Jornal Pequeno.

A Sociedade Maranhense de Direitos Humanos (SMDH), de que Cesar Teixeira é sócio e ex-assessor de comunicação, homenageou-o (no fundo foi por ele homenageada) em sua Agenda 2013, em que o artista comparece com sete ilustrações (incluindo a da capa), seis poemas e em uma foto (de Aniceto Neto, a mesma que ilustra este post).

Abaixo, o texto que escrevi para a terceira capa da agenda. A Cesar uma saraivada de vivas, votos de vida longa e muita arte!

Carlos Cesar Teixeira Sousa completa 60 anos em 2013: nasceu em 15 de abril de 1953. Esta agenda é uma homenagem da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos (SMDH) a um de seus mais ilustres sócios. Nascido no Beco das Minas, na Madre Deus, bairro boêmio encravado no coração de São Luís, o artista plural é filho do compositor Bibi Silva e desde criança habituou-se a ouvir o som dos tambores do mais antigo terreiro afro da Ilha e das rodas de samba que ocupavam a área. Dedicou-se, ainda na adolescência, às artes plásticas, tendo vencido alguns salões em fins da década de 1960.

Na mesma época iniciou sua trajetória musical, participando de festivais de música no Liceu Maranhense, onde estudou. Datam deste período músicas como Salmo 70, em parceria com o poeta Viriato Gaspar, e Sentinela, com Zé Pereira Godão.

Em 1972 integrou a trupe que fundaria o Laboratório de Expressões Artísticas do Maranhão (Laborarte). Em 1978, Papete, no antológico Bandeira de Aço, pelas mãos do produtor Marcus Pereira, registraria três músicas suas: Boi da Lua, Flor do Mal e a faixa-título.

Cesar Teixeira viria a ser um dos mais gravados compositores maranhenses, tendo sua obra registrada nas vozes de nomes como Alcione, Célia Maria, Chico Maranhão, Chico Saldanha, Cláudio Lima, Cláudio Pinheiro, Cláudio Valente, Dércio Marques, Fátima Passarinho, Flávia Bittencourt, Gabriel Melônio, Lena Machado, Papete e Rita Ribeiro, entre outros, além da Escola de Samba Turma do Quinto, cuja ala de compositores integrou durante algum tempo.

Sua Oração Latina, originalmente composta para a trilha sonora de uma peça teatral, em 1982, venceu o Festival Viva de Música Popular Maranhense, em 1985. A música é até hoje cantada em atos, greves, manifestos e mobilizações populares, não só no Maranhão. Seu único disco até aqui, Shopping Brazil foi lançado em 2004, e apresenta pequena parte de sua significativa obra musical. No carnaval de 2010, o artista foi homenageado pela Favela do Samba.

Sua atuação jornalística também merece destaque: formou-se pela UFMA em 1984, foi editor de cultura do jornal O Imparcial (1986-88), assessor de comunicação da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos (SMDH) (1989-2002), entidade da qual é sócio até os dias atuais, fundador do Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante (2002), onde escrevia sobre música, cultura popular, teatro e artes plásticas, e fundador do jornal Vias de Fato (2009).

Homenageado com a medalha Simão Estácio da Silveira, da Câmara Municipal de São Luís, Cesar Teixeira não chegou a receber a comenda. Em 2011 foi agraciado com o troféu José Augusto Mochel, do PCdoB, por sua destacada atuação na luta em prol dos Direitos Humanos no Maranhão.