SAMBA, PARANGOLÉ, DJ E RO RO

Causou certo estardalhaço o anúncio da realização de um “Festival” “Nacional” de Samba em São Luís. Não competitivo, frise-se. Atrações do quilate de Monarco, Martinália, do violinista Nicolas Krassik (que recentemente lançou Odilê Odilá, lindíssimo disco dedicado à obra de João Bosco, com a participação do violonista, sobre o qual escrevo aqui, em breve), de Diogo Nogueira, Leci Brandão etc. (cito de memória e certamente esqueço uma ou outra atração).

Uma pergunta que começo a me fazer é: terá o “Festival” “Nacional” de Samba a concorrência do Parangolé e seu famigerado rebolation? Digo isso por que, embora as atrações da produção de Mário Moraes tenham o seu inegável valor para a cultura (sambista, musical) brasileira, a Ilha ainda não está preparada, infelizmente, para duas “festas” no mesmo dia – ou na mesma noite, melhor dizendo.

Já nem me espanta o grau de imbecilidade contida na “poesia” do rebolation nem o número de “foliões” por ela atraídos – a música do Parangolé (que os poucos-mas-fieis leitores deste blogue não hão de confundir com a pérola-coco de Cesar Teixeira, pelamordedeus!) foi, infeliz e lastimavelmente, o hit deste carnaval, vale lembrar.

Não sei quanto os fãs pagarão para ver/ouvir o Parangolé na Batuque Brasil no próximo dia 6 (sábado). Mas achei salgado o valor dos ingressos para o “Festival” “Nacional” do Samba: R$ 35 por noite – acontece dias 5 (sexta) e 6, na Lagoa da Jansen (suponho que na mesma área do Arraial da Lagoa – e agora da Festa-da-Juçara-fora-de-época do governo micareta).

Ademais, acho um pecado que um evento dessa magnitude tenha, entre as atrações maranhenses, apenas os grupos Argumento e Espinha de Bacalhau (nada contra ambos): apenas penso que a programação poderia ter também, entre inúmeros outros, Zeca do Cavaco, Léo Capiba (que, eu sei, nasceu no Ceará), Lena Machado (que acaba de lançar um disco quase completamente dedicado ao gênero), o próprio Cesar Teixeira, sem dúvidas alguns dos mais inspirados nomes de nosso Samba, com s maiúsculo.

De qualquer forma (e mesmo eu não indo nem a um nem a outro), espero que o “Festival” “Nacional” do Samba tenha muito mais público que o show do Parangolé.

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DJ FRANKLIN EM TURNÊ PELO RIO

Hoje (26), amanhã e depois, o DJ Franklin Santos (foto), um dos mais inspirados disc-jóqueis do Maranhão, se apresenta no Rio de Janeiro, uma pequena turnê. Ontem ele já tocou na Febre, em Botafogo (às vezes o blogue dá atrasado também). Além das festas anunciadas nos cartazes abaixo, domingo (28) ele ainda toca na Tertúlia de Verão (Espírito Santa, em Santa Tereza).

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RO RO NA ILHA

Viajando a trabalho, vou perder (de novo). Mas recomendo:

DOMINGANDO…

Hoje tem show de lançamento do novo disco (ao vivo) de Mestre Edvaldo Santana. O repertório de Ao vivo é de músicas de seus discos anteriores: Reserva de alegria (2006), Amor de periferia (2004), Edvaldo Santana (1999), Tá assustado? (1995) e Lobo solitário (1993). Imperdível pra quem tá em Sampa. Alô produtores ludovicenses: o cabra tá louco pra fazer na Ilha em 2010:

Clique aqui para maiores informações. E aqui para comprar (e ouvir trechos d)o Ao vivo.

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Abaixo, resenhinha na Tribuna Cultural [Tribuna do NE] de hoje.

TRIBUNA CULTURAL
POR ZEMA RIBEIRO*

CRÔNICAS CONTEMPORÂNEAS

O jornalista carioca João Ximenes Braga cria interessante galeria de personagens nas ficções de A mulher que transou com o cavalo e outras histórias.


[A mulher que transou com o cavalo e outras histórias. Capa. Reprodução]

João Ximenes Braga escreve como quem coleciona instantes. Pequenas cenas do cotidiano são captadas por sua câmera-pena em A mulher que transou com o cavalo e outras histórias [Língua Geral, 2009, 174 páginas, R$ 35,00] – título que pode enganar os que buscam literatura barata – sim, o sexo está lá, explícito, mas não é o único ingrediente de sua prosa, nem soa chulo.

Digo câmera-pena por que o jornalista – aqui em exercício ficcional bastante interessante – tem experiência com roteiros televisivos, além da jornalística, em si, o que certamente o ajuda na criação de personagens e cenas tão envolventes.

Mesmo produzindo ficção, Braga acaba pintando um retrato do Rio de Janeiro contemporâneo, sem que o leitor careça ser algum iniciado em gírias da última temporada – é carioquíssimo, mas sem sotaque.

Em 12 contos, alguns dialogando entre si como se fossem um capítulo seguinte, há espaços para o pitoresco, o hilário, a violência, a música, o sexo. Quase sempre com um desfecho inesperado. Às vezes tudo isso ao mesmo tempo.

Em A mulher que transou com o cavalo e outras histórias, João Ximenes Braga mostra-se um cronista perspicaz e bastante divertido, um observador atento da vida privada, os personagens voyeurs de si mesmos – e principalmente dos outros.

*Zema Ribeiro escreve no blogue http://www.zemaribeiro.blogspot.com

TRECHO [exclusivo cá no blogue]

Diante daquele espetáculo, eu me identificava mais com a menina que com meus colegas turistas. Por mais que me sentisse obrigado a louvar a peculiaridade de tal habilidade, nada daquilo me parecia remotamente sexual. Nem mesmo curioso. Nem excitante, nem engraçado.

Até que chegou a quarta moça. Mais gordinha que as outras, ela trazia um cigarro e um isqueiro na mão. Acomodou-se no chão do palco, com uma perna levantada e a outra dando apoio. Acendeu o cigarro. Deu o primeiro trago. Colocou o cigarro em sua buceta e deu algumas baforadas.

Já se foram cinco anos desde que parei de fumar, antes mesmo de o infarto fazer do tabaco uma sentença de morte precisa, e não apenas especulativa. Mas sempre tive carinho pelo ato de fumar. Nas noites em que o ir dormir era particularmente solitário e penoso, quando eu desistia de esperar pelo sono e não aguentava mais controlar a luta de minha consciência com aquele fantasma que me levara a atravessar meio mundo para aplacar, o cigarro costumava ser a companhia redentora. Abria os olhos, levantava, fumava um cigarro na janela da sala, assistindo à vida correr em Copacabana. Sentia-me mais confiante para voltar à solidão dos olhos fechados. Nestes cinco anos de abstenção, nunca deixei de querer fumar, de sentir saudades do cigarro.

Ali, observando o show, enquanto a Singha impregnava meu organismo, não senti qualquer vontade de fumar. Nem de fazer mais nada. A displicência com que aquela moça soltava baforadas por dentre as coxas gordas subvertia toda a grandeza do ritual do fumo. Talvez se ela demonstrasse algum prazer sexual pela ingestão de nicotina vagina adentro, eu ficasse encantado. Mas uma buceta que fumava como um desses viciados que tragam maquinalmente andando às pressas pela rua… Ao inserir esse ato tão cotidiano em seu sexo, banalizava o que poderia haver de sórdido na perversão. Nem a buceta nem o cigarro eram usados em sua essência; pela primeira vez, essas duas fontes de alguns de meus maiores prazeres pareciam tão-somente patéticas.

[De Sono, páginas 152-153]

BANQUETEIEM-SE, ALDEÕES!

Textinho que saiu no número 5 (fevereiro/2010) do Vias de Fato. Como a edição de Cesar Teixeira deu uma melhorada no material, segue o que saiu no papel.

LENA MACHADO
UMA CANTORA GENUÍNA EM SUA ALDEIA

Em seu segundo disco, Samba de Minha Aldeia, Lena Machado passeia pelo melhor da produção musical contemporânea do Maranhão.

POR ZEMA RIBEIRO


[Foto: Rivânio Almeida Santos]

Uma chuva fina cobria trechos da Ilha de São Luís na noite da quinta-feira, 14 de janeiro de 2010, quando alguns sequer haviam curado a ressaca do recesso – ou férias, aqueles que fazem jus e emendam com a folga no calendário escolar dos filhos. Alguns trechos no caminho do Bar do Léo estavam congestionados.

20h era o horário marcado para a audição pública e noite de autógrafos de Samba de Minha Aldeia, segundo disco da cantora Lena Machado, recém-saído do forno, já tocado em alguns programas de rádio e comentado aqui e ali na imprensa ludovicense. A curiosidade era, na verdade, pela Ousadia (título de uma de suas faixas, de autoria de Chico Canhoto) da cantora de lançar o disco sem realizar um show.

Um bom indicador, aliás, era o alto número de execuções no próprio Bar do Léo: Leonildo Peixoto não cansava de ouvir e elogiar o trabalho: “Tá bonito! Bem gravado, com qualidade…”, derramava(-se), interrompido por um ou outro cliente. Ao que o repórter indaga: “E o encarte então, hein?”. Léo arremata: “Sou suspeito! Sou suspeito…”

Ora, o Bar do Léo é o cenário do encarte do trabalho, captado pelas lentes de Rivânio Almeida Santos – irmão do radialista Ricarte (agora também compositor de choro, gênero que ajuda a difundir no rádio há cerca de 20 anos) –, com projeto gráfico de Waldeilson Paixão, recém-saído do curso de Design da Universidade Federal do Maranhão. O atraso na conclusão dos trabalhos de prensagem adiou o lançamento do Samba, previsto ainda para 2009. Reunir os amigos era uma forma de dizer que o disco chegou.

Entre os presentes à festa, os compositores Josias Sobrinho (autor de De Cajari pra capital), Ricarte Almeida Santos (Chorinho de Herança, em parceria com Chico Nô), Bruno Batista (Acontecesse) e a (madre)divina dama Patativa (Colher de chá); entre os músicos, Luiz Cláudio (percussão), João Neto (flauta) e o DJ Franklin Santos (efeitos eletrônicos). Nunca se tinha visto o misto de bar e museu encravado no Hortomercado do Vinhais tão cheio: compositores, músicos, jornalistas, radialistas, fotógrafos, amigos e apreciadores de boa música em geral lotavam o Bar do Léo, o proprietário também personagem do encarte de Samba de Minha Aldeia.

Samba maranhense? – Provocativo, o título do CD tem rendido boas discussões, seja nos meios de comunicação tradicionais e convencionais, nos novos canais – principalmente as redes sociais, onde a cada dia emissores e receptores se confundem mais e mais –, ou na velha e boa mesa de bar.

Existe, de fato, uma música genuinamente maranhense? Ou, mais além, um samba maranhense? Existe essa aldeia sambista que Lena Machado canta em seu disco? “Se cada região construiu um sotaque, eles apresentam nuances diferentes, mas o samba que nasce de minha aldeia tem, nas suas origens, águas das mesmas nascentes: a fusão de cores, povos, culturas, linguagens… todos os afluentes que alimentam os rios de sambas que enchem de vida e alma a cultura brasileira”, filosofa a cantora.

O samba e o choro produzidos no Maranhão são predominantes no disco. Mas nem de longe isso significa que a cantora quer se fechar em seu próprio umbigo. Ao contrário: a ideia é ganhar asas e mostrar o que de melhor se produz no Maranhão, tanto cá quanto lá, tão logo surjam as oportunidades – e nisso a artista tem trabalhado um bocado.

“A iniciativa de realizar uma sessão pública de audição e noite de autógrafos no Bar do Léo foi uma forma de chamar a atenção da mídia, mostrar que o disco chegou, despertar a curiosidade das pessoas por seu conteúdo. Mas é claro que isso não anula a realização de um show, que já estamos programando para maio [notinha exclusiva, cá no blogue: o show de lançamento de Samba de Minha Aldeia acontecerá em julho]”, anuncia Lena Machado.

Selecionado na categoria Gravação pelo Plano Fonográfico da Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão ainda em 2008, e finalizado com o apoio cultural da Pousada Portas da Amazônia e TVN São Luís, Samba de Minha Aldeia é um passeio pela produção musical contemporânea do Maranhão. Entre inéditas e regravações, Lena Machado envereda pelo samba do título, chorinho, blues, baião, pitadas eletrônicas, citações de salsa e dos ritmos da cultura popular de seu estado natal, em composições de Josias Sobrinho, Ricarte Almeida Santos, Chico Nô, Chico Canhoto, Bruno Batista, Gildomar Marinho, Aquiles Andrade, Cesar Teixeira, Joãozinho Ribeiro e Patativa.

Entre os músicos arregimentados para o registro, Luiz Jr. (violão sete cordas, viola, direção musical), Luiz Cláudio (percussão), João Neto (flauta), Robertinho Chinês (bandolim e cavaco), Rui Mário (sanfona), Oliveira Neto (bateria), João Paulo (contrabaixo), Thales do Vale (flugel, trompete), Analício Silva (clarinete), George Presunto (trombone), DJ Franklin Santos e Guilherme Raposo (efeitos eletrônicos).

O CD conta também com as participações especiais de Netinho Albuquerque (pandeiro) e Henrique Martins (violão sete cordas) em Chorinho de Herança (Ricarte Almeida Santos/Chico Nô), e Zé da Velha (trombone) e Silvério Pontes (trompete) em Colher de chá (Patativa). Lena Machado assina as direções executiva e artística do disco.


[Foto: Rivânio Almeida Santos]

Raízes musicais – Nascida em Zé Doca/MA, em 1974, são da cidade natal suas primeiras incursões pela música, seja cantando nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) ou em raríssimas aparições em bares, na noite zedoquense – ela conta três: “na primeira, um sucesso, o bar lotado; na segunda, o público diminuiu; na terceira, uma mesa de amigos cantando com a gente”.

Sua trajetória enquanto artista nunca esteve dissociada de sua ação enquanto cidadã: em São Luís, a primeira aparição pública, cantando, foi num show que comemorava os 26 anos de fundação da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos (SMDH), em fevereiro de 2005, quando dividiu o palco com nomes como Gildomar Marinho (de quem grava Gracejo), Joãozinho Ribeiro (Tempo mau) e Cesar Teixeira (Botequim).

No ano seguinte Lena Machado gravaria Canção de Vida, disco de estreia, uma celebração institucional dos 50 anos de atuação da Cáritas no Brasil. Nele a cantora emprestava sua voz a canções que marcaram a trajetória da Cáritas-MA, onde trabalha, e outras organizações do movimento social maranhense em suas lutas por uma sociedade mais justa e igualitária. Casos de Oração Latina (Cesar Teixeira), Milhões de Uns (Joãozinho Ribeiro), Sem Resposta (Chico Canhoto) e Minha História (João do Vale), entre outras.

Público e crítica notam uma evolução artística de Lena Machado entre os dois trabalhos. O primeiro disco tinha um propósito, cumprido; o segundo possibilitou, por um lado, a liberdade para escolher repertório, músicos e pensar o projeto como um todo (o que lhe tomou quase dois anos) e um maior convívio com músicos, sobretudo no projeto Clube do Choro Recebe. Nesse local, não raro o público pode se deleitar com sua interpretação para clássicos da MPB, como Barracão (Luiz Antonio/Oldemar Magalhães), Doce de Coco (Jacob do Bandolim/Hermínio Bello de Carvalho) e Araçagy (Cristóvão Alô Brasil).

Naquele projeto, em agosto de 2008, Lena prestou concorridíssimo tributo a Clara Nunes, uma das cantoras de sua admiração. O Restaurante Chico Canhoto, então palco do Clube do Choro Recebe, lotado, gerando expectativa de uma nova homenagem à intérprete de clássicos como Canto das Três Raças (Paulo César Pinheiro/Mauro Duarte) e Juízo Final (Élcio Soares/Nelson Cavaquinho), entre outras. Lena Machado nunca intentou repeti-lo, quiçá receio de ser rotulada de mera cantora cover, tendo muito mais a mostrar.

Samba de Minha Aldeia, de Lena Machado, não é bairrista ou xenófobo, mas genuinamente maranhense. O cardápio musical está posto, leitores-ouvintes escolham o acompanhamento: tiquira, juçara (açaí, não!), arroz de cuxá, peixe pedra frito. Um brinde ao banquete da boa música!


[Samba de Minha Aldeia. Capa. Reprodução]

Ouça: http://www.myspace.com/lenamachado.

Samba de Minha Aldeia está à venda na Livraria Poeme-se (Praia Grande), TVN (São Francisco) e Bar do Léo (Vinhais).

Preço: R$ 20,00.

PARANGOLÉ, PARANGOLÉ, PARANGOLÉ!

Cesar Teixeira (ao centro, na foto) recebe homenagem hoje no Baile do Parangolé. A festa, que celebrará os 31 anos da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos (SMDH), acontece hoje (12), 21h, no Sindicato dos Arrumadores (Rua da Estrela, Praia Grande, em frente à CDL). O jornalista e compositor é sócio militante e contribuinte da SMDH e seu ex-assessor de imprensa (1989-2002). É também autor do coco Parangolé, que batiza o Baile.

Outro que faz participação especial é Joãozinho Ribeiro, coordenador executivo da II Conferência Nacional de Cultura, ex-secretário de estado da cultura do Maranhão, poeta, compositor e professor universitário, também sócio da SMDH.

Outros artistas devem pintar e comparecer em carnavalescanjas. O Baile do Parangolé terá animação do Tambor de Crioula Catarina Mina (abertura) e da Banda do Maestro Antonio Paiva. As camisas para o Baile podem ser adquiridas por R$ 30,00 na sede da SMDH (Rua Sete de Setembro, 156, Centro. Maiores informações: (98) 3231-1601, 3231-1897, smdh@terra.com.br, http://www.smdh.org.br).

Cesar Teixeira, que será homenageado também pela Favela do Samba neste carnaval de 2010, gravou o coco Parangolé em seu disco de estreia, Shopping Brazil, em 2004, com participações especiais de Dona Teté (do Cacuriá) e do saudoso Mestre Antonio Vieira. Dois ou três anos antes, a música também foi registrada na coleção Rumos Música, do Itaú Cultural. O engraçado é que agora tem um monte de gente pensando que o Baile do Parangolé tem algo a ver com a mais nova onda-boba que invade rádios e tevês (e nossos olhos e ouvidos, por mais que não queiramos): o famigerado, argh!, rebolation.

A blogueira Sara Marinho, que já comprou sua camisa, deixou claro: “já ‘tou cheia de axé! Quero um carnaval tradicional, de marchinhas”. Para quem quer algo como ela, o Baile do Parangolé é a pedida desta sexta-feira gorda.

Todo mundo lá! Até daqui a pouco!

MARIA: UMA VIDA PELA VIDA

Estive ontem (10) à noite na Praça Maria Aragão, prestigiando a homenagem à médica comunista que batiza a praça. Maria José Camargo Aragão (foto) teria completado cem anos ontem, não tivesse subido a 23 de julho de 1991.

Não pude participar dos outros momentos da celebração, que teve vasta programação no Memorial homônimo; ao chegar à praça, Josias Sobrinho já cantava. Fiquei até Cesar Teixeira cantar um samba – que eu não conhecia – em homenagem à Maria, sua amiga pessoal: “Maria sonhou/ que cada estrela no céu/ era um pedaço de pão/ nunca mais faltou constelação/ a quem estendesse o chapéu” – reproduzo de memória, a eterna e irresponsável falta de caneta & bloquinho ou gravador & máquina fotográfica.

“Não vou falar de Maria, mulher firme, de postura, que nunca se curvou aos poderosos. Só lembrar que ela topava qualquer parada, inclusive tomar uma pinga em qualquer feira da cidade”, disse, antes, o homenageado pela Favela do Samba este ano – em 1989, Maria Aragão foi o tema do enredo da escola, que ficou com o vice-campeonato.

Vi e ouvi coisas boas e ruins e não entrarei no mérito da questão. Destaco as apresentações que já citei – ouvi Josias cantar Engenho de Flores e Três Potes, ambas dele, e Cesar desfilar sambas seus, inéditos, em sua apresentação notadamente apropriada ao período carnavalesco –, além da do grupo Divina Batucada, que me impressionou pelo repertório: uma música de Patativa, outra de Cristóvão Alô Brasil, outra ainda, provavelmente autoral, em cuja letra o grupo saudava outro, madredivino também, Os Fuzileiros da Fuzarca.

Além da ameaça de chuva – um chuvisco fino ainda teimou em cair rapidamente, mas nem de longe ameaçou a festa – a pouca divulgação pode ter contribuído para certo esvaziamento da Praça Maria Aragão. Ao menos o público presente estava atento, sabia o porquê de estar ali.

Quem parecia não saber o porquê de estar ali era o locutor, que eu não conhecia – e se conhecia, não consegui identificar ou lembrar. Além de “narrar” a noite como se fosse um locutor de rodeio ou futebol, esticando as sílabas dos nomes das atrações como se fosse um “segura peão!” ou um prolongado grito de gol da seleção brasileira em final de copa do mundo. Além de identificar – ou tentar – profissionais de mídia que cobriam o evento (o que, creio, fica bastante chato para quem está assistindo – “o bom julgador por si julga os outros”).

Entre mais acertos e pequenos erros, comuns até, a parceria entre o Instituto Maria Aragão e a Prefeitura de São Luís/Fundação Municipal de Cultura prestou uma bonita e mais que merecida homenagem a esta ilustre maranhense, mulher-exemplo que muito merece nossa admiração. Da constelação que habita, deve ter gostado do que viu e ouviu. Para o que não, deve ter mandado uma bela “porra!”.

HISTORIADOR DESMONTA MENTIRA

Circulou hoje (10) por e-mail, artigo que reproduzo abaixo, na íntegra (grifos do autor) assinado por Wagner Cabral, em que ele desmonta a farsa de institutos de pesquisa e blogueiros alinhados ao governo micareta de Roseana Sarney.

Wagner Cabral, um dos mais competentes e coerentes intelectuais maranhenses, está longe de ser mero acadêmico ou academicista contemplativo: ao longo do tempo em que acompanho seu trabalho, sempre “deu a cara a tapa” (modo de dizer, o que ele faz mesmo é “meter tapa na cara”, também modo de dizer), doa a quem doer. E essa, parece, doeu.

Não faço aqui a reprodução acrítica do conteúdo do e-mail que recebi, mas é melhor os (e)leitores ficarem com a análise e comentários atentos do professor.

ERRARAM A VERDADE!
A estória de uma pequena FARSA

Wagner Cabral da Costa*

A oligarquia Sarney promoveu, mais uma vez, uma FARSA, com a divulgação de uma FALSA pesquisa para governador, com o objetivo manifesto de iludir e confundir a opinião pública, bem como de prejudicar as candidaturas de seus adversários. Esta é a síntese do que será explicado no decorrer deste artigo, caro leitor.

1. Da FARSA

Tudo começou na primeira semana de fevereiro de 2010, quando os blogs de Walter Rodrigues (04/02) e Marco d´Eça (05/02), e talvez outros mais, divulgaram uma FALSA pesquisa eleitoral acerca das eleições para o governo do Maranhão, cuja autoria foi atribuída ao Instituto Sensus.

O momento era muito propício, pois o Instituto havia acabado de divulgar a pesquisa CNT/Sensus sobre a avaliação do governo federal e a sucessão presidencial (01/02), uma pesquisa já consolidada (está na 100a edição) e de ampla cobertura na mídia nacional. Assim, contando com a boa fé dos (e)leitores, a ARMAÇÃO noticiou que, juntamente com a pesquisa nacional, o citado Instituto também havia feito uma pesquisa sobre a sucessão no Maranhão. O objetivo era claro: anunciar o “favoritismo” de Roseana Sarney, bem como fragilizar as candidaturas adversárias.

Dos blogs, convenientemente patrocinados pelo governo do Estado, a FALSA pesquisa se espalhou pela internet, sendo ainda reproduzida pela mídia impressa, nos jornais O Estado do Maranhão (da família Sarney) e O Imparcial (edições de domingo, 07/02).

2. Da SUSPEITA da FARSA

Na condição de quem pesquisa e acompanha o processo político-eleitoral do Maranhão há mais de quinze anos, tão logo vi a pesquisa, procurei mais informações sobre a mesma nos sites do Instituto Sensus, da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), e, principalmente, do Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão e do TSE.

Pois, conforme determina a legislação eleitoral, “a partir de 1º. de janeiro de 2010, as entidades e empresas que realizarem pesquisas de opinião pública relativas às eleições ou aos candidatos, para conhecimento público, são obrigadas, para cada pesquisa” a fazer o registro no tribunal eleitoral competente, contendo informações sobre: contratante, valor da pesquisa, metodologia, período de realização e questionário aplicado, dentre outros dados; cabendo às secretarias judiciárias, “no prazo de 24 horas” contadas do registro, divulgar no sítio do tribunal eleitoral na internet (Resolução TSE no 23.190, de 16/12/2009, artigos 1o e 9o, grifos nossos).

A mesma resolução preceitua que “na divulgação dos resultados de pesquisas, atuais ou não, serão obrigatoriamente informados: o período de realização da coleta de dados; a margem de erro; o número de entrevistas; o nome da entidade ou empresa que a realizou, e, se for o caso, de quem a contratou; o número do processo de registro da pesquisa” (Art. 10, grifo nosso). Ora, a intenção de dar publicidade às pesquisas é garantir a LISURA e a TRANSPARÊNCIA das mesmas, que poderão ser conferidas e questionadas por qualquer cidadão, bem como por candidatos e partidos.

O resultado da busca foi o seguinte:

1) O site do Instituto Sensus não mencionava qualquer pesquisa sobre sucessão no Maranhão, registrando apenas a pesquisa CNT/Sensus, o mesmo ocorrendo no site da CNT.

2) A pesquisa nacional CNT/Sensus foi registrada no TSE com o protocolo no 1570/2010, citado impropriamente no blog de Marco d´Eça como sendo a pesquisa do Maranhão.

3) No site do TSE, seção de Pesquisas Eleitorais (que inclui o TRE-MA), só encontrava-se registrada a pesquisa nacional CNT/Sensus, para o cargo de Presidente, disponibilizando o questionário aplicado (sem qualquer pergunta sobre as sucessões estaduais).

Do fracasso em encontrar informações sobre a pesquisa, nasceu a SUSPEITA de que a mesma ou não teria sido registrada ou seria falsa. Em ambos os casos, ocorrem INFRAÇÃO ou CRIME ELEITORAL, ainda segundo a Resolução no 23.190 do Tribunal Superior Eleitoral (TSE):

• Art. 17. A divulgação de pesquisa sem o prévio registro das informações constantes do art. 10 desta resolução sujeita os responsáveis à multa no valor de R$ 53.205,00 (cinqüenta e três mil duzentos e cinco reais) a R$ 106.410,00 (cento e seis mil quatrocentos e dez reais) (Lei nº. 9.504/97, art. 33, § 3°).

• Art. 18. A divulgação de pesquisa fraudulenta constitui crime, punível com detenção de 6 meses a 1 ano e multa no valor de R$ 53.205,00 (cinquenta e três mil duzentos e cinco reais) a R$ 106.410,00 (cento e seis mil quatrocentos e dez reais) (Lei nº. 9.504/97, art. 33, § 4°).

Estabelecida a SUSPEITA, encaminhei por e-mail uma NOTA DE PREOCUPAÇÃO (na sexta-feira, 05/02), expondo as razões pelas quais julgava que a pesquisa encontrava-se, no mínimo, SOB SUSPEIÇÃO. Solicitava ainda, à luz da ÉTICA POLÍTICA e da legislação, e na condição de pesquisador e CIDADÃO, que os responsáveis esclarecessem QUAIS AS FONTES que consultaram ou ouviram. Afinal, eu poderia estar enganado. Esta nota de preocupação foi publicada na edição de domingo do Jornal Pequeno (07/02), bem como em alguns blogs. Possivelmente, outras pessoas tiveram dúvidas semelhantes, manifestando-as, entretanto, de maneira reservada.

3. Da DENÚNCIA da FARSA

A transformação da SUSPEITA em CERTEZA veio quando os citados blogueiros retiraram a pesquisa de suas páginas da internet, sem esclarecer, contudo, QUAIS AS SUAS FONTES, ou seja, sem indicar qual o registro da pesquisa na Justiça Eleitoral e onde os dados da mesma estavam disponíveis para consulta pública, visando assegurar a TRANSPARÊNCIA do processo eleitoral.

Num, a matéria foi retirada por “provavelmente” conter “erros” (em 05/02), mas o blogueiro Walter Rodrigues registrou “que os percentuais ali divulgados foram realmente apurados pelo instituto Sensus”, prometendo esclarecimentos posteriores que não foram dados. No outro blog, houve a admissão do problema, com a informação adicional de que apenas repetira informações de Walter Rodrigues. Após dar esclarecimentos no campo legal, inclusive sobre as multas (mas não sobre o crime), o blogueiro Marco d´Eça informou que teve orientação jurídica do Sistema Mirante no sentido da retirada da pesquisa, por conta do “rigor da justiça eleitoral” (08/02).

Para consolidar a CERTEZA, passei a ser alvo de ataques injustificados do blogueiro Walter Rodrigues, em sua prática usual de tentar desmerecer o interlocutor, no caso, desqualificando minha produção intelectual. Ora, pra quê os ataques se eu estava apenas, na condição de cidadão, questionando a ORIGEM e a VERACIDADE da pesquisa? Bastava responder aos questionamentos, comprovar a legalidade da pesquisa e indicar que eu estava equivocado. Mas não é possível confessar o inconfessável! Ou, no popular, a MENTIRA tem pernas curtas!

Este episódio, esta FARSA, não pode ser entendido de maneira isolada, mas sim num contexto mais amplo. Pois, segundo indiquei no artigo “A bomba suja: crise, corrupção e violência no Maranhão contemporâneo”, a VIOLÊNCIA FÍSICA E SIMBÓLICA constitui um elemento estrutural de manutenção do poder oligárquico. Ao analisar a crise política dos últimos anos, indaguei o seguinte sobre os meios de comunicação:

E a mídia? O que se publicou nos jornais e na internet durante a “guerra de blogs e e-mails” travada entre o Condomínio [de Jackson Lago] e o grupo Mirante? Cyberguerra, aliás, que lembrou bastante a “guerra de telegramas” da Greve de 1951, cujo ápice foi inventar um (inexistente) “Exército de Libertação” com 12 mil homens armados! Qual o “jornalismo” praticado por aqueles cuja única função foi fabricar e espalhar factóides a serviço de um grupo ou de outro, tentando pautar o debate sem nenhum lastro ético-político?
[do livro A terceira margem do rio, p. 122].

Assim, de um lado a violência física (por exemplo, no tumulto provocado pelos “cães de guerra” no lançamento do livro Honoráveis Bandidos) e, de outro, a violência simbólica (em mais um factóide, a FARSA da pesquisa eleitoral) constituem faces da mesma moeda oligárquica, postas em ação por seus agentes espalhados nos mais diversos setores. Que o episódio sirva de ALERTA À CIDADANIA, muito mais virá…

Por isso, venho a público, perante a sociedade brasileira, DENUNCIAR mais esta FARSA da oligarquia, ao divulgar uma FALSA pesquisa (ou não registrada), violando a legislação e cometendo INFRAÇÃO ou CRIME ELEITORAL, com o objetivo de promoção indevida de sua candidata e desqualificação dos adversários.

Espero, confiante, que o Ministério Público Eleitoral possa apurar devidamente as denúncias aqui formuladas por este cidadão comum!

E, por fim, relembro o escritor argentino Jorge Luis Borges na História Universal da Infâmia, em que traçou a biografia de estelionatários, fraudadores, pistoleiros, piratas, falsificadores, impostores, traidores – destes personagens infames, o poeta e contista Borges costumava dizer que sempre ERRAVAM A VERDADE!

* Historiador, professor do Departamento de História/ UFMA. Possui artigos, entrevistas e livros publicados sobre a história política do Maranhão. Seu último lançamento foi A terceira margem do rio: ensaios sobre a realidade do Maranhão no novo milênio (Editora da UFMA/ Instituto Ekos), livro organizado em parceria com o prof. Dr. Marcelo Carneiro, resultante da colaboração nos Boletins de Conjuntura da CNBB – regional Maranhão em 2008 e 2009. E-mail: wagner-cabral@uol.com.br

V VIAS DE FATO

Já está nas melhores bancas a quinta edição do jornal mensal Vias de Fato. Já nem digo melhores bancas da Ilha, pois o editorial me informa que o Vias já chega a 92 municípios maranhenses. Em São Luís continuo recomendando a banca de meu amigo Dacio, logo ali no estacionamento da Praia Grande.

A manchete de capa destaca o centenário da médica e militante comunista Maria Aragão (Pindaré-Mirim, 10.fev.1910 – São Luís, 23.jul.1991). Duas páginas (matéria de Cesar Teixeira e textos do inédito Maria Aragão no fio da história, de Emílio Azevedo) esmiuçam sua trajetória ímpar.

Merece destaque também a entrevista com Joãozinho Ribeiro, coordenador executivo da II Conferência Nacional de Cultura, ex-secretario de estado da Cultura do Maranhão, compositor, poeta, professor universitário, entre outros epítetos. Ele que além da agenda de gestor cultural, em 2010 dará especial atenção também ao artista que o habita. A agenda é intensa (e aqui fujo um pouco dos destaques do Vias), começando com o Baile do Parangolé (comemoração dos 31 anos da SMDH) e o desfile da Favela do Samba, ambos homenageando Cesar Teixeira (editor do VF), além de uma série de shows (divididos com o próprio Cesar e Josias Sobrinho) em homenagem a Noel Rosa (como Maria Aragão, também centenário em 2010) e o relançamento de Paisagem Feita de Tempo (adianto, na condição de editor do homem: surpresas para esta segunda edição) e a comemoração atrasada de seus 30 anos de carreira musical (completados ainda em 2009).

No VF há ainda um texto de Emílio Azevedo sobre O comício de Bacabeira (é este o título), um deste blogueiro sobre o novótimo disco de Lena Machado, além de homenagens às estrelas subidas Dona Lili (Guimarães, 29.jun.1929 – São Luís, 31.jan.2010) e Escrete (São Luís, 15.mar.1952 – 25.jan.2007).

Mais não digo, por enquanto, por não ter terminado a leitura (ainda. Volto a ela, pois!). Assinem!: (98) 8145-5052, 8123-5184, jornalviasdefato@gmail.com

CARNAVAL DE 2ª (SEGUNDA QUE VEM)

E O TEXTO PERDIDO SÁBADO PASSADO

E por e-mail, do meu amigo Jarrão, acabo de receber a divulgação do Carnaval de 2ª., tradicional festa do período momesco realizada sempre às segundas-feiras-gordas de carnaval, ano após ano, pelo Laborarte.

Então, segunda-feira, dia 15, a partir das 16h, acontece o Baile da Chupeta, festa voltada ao público infantil. 18h aparecem outras atrações que o e-mail não diz quais e Rosa Reis faz um show animado (a julgar por suas edições anteriores) a partir das 23h.

Tudo grátis, no Laborarte (Rua Jansen Müller, 42, Centro), vocês sabem onde fica.

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E sábado de manhã eu fui para o terceiro dia de uma atividade de planejamento anual da Cáritas Brasileira Regional Maranhão, onde trabalho. Na cabeça martelava-me a auto-cobrança: “não mandei coluna para o Tribuna“. De fato: uma pilha de discos e livros, ouvidos e não ouvidos, lidos e não lidos, e alguns no meio do processo (sendo ouvidos e sendo lidos) lá em casa e eu não pari um textinho sequer para mandar para o jornal.

Ainda me impressionava (e ainda me impressiona) o show que Celso Borges fez com a Restos Inúteis no lançamento de seu Belle Epoque (sobre o que você já leu aqui, posts abaixo).

Num dos intervalos da atividade, hora do lanche, não fui merendar e fiquei escrevendo umas coisas num laptop que me sobrou às mãos. Duas laudas depois, bastava abrir meu e-mail, catar uma foto de CB, a reprodução da capa do livro e o texto em que eu havia acabado de trampar e mandar ao grande Gojoba, o cara lá que me deu o dominical espaço da Tribuna Cultural.

Onde estávamos, a internet não funcionou e eu tentei por quase uma hora enviar o texto. Não consegui. A coluna não saiu. E de volta à Cáritas, procurei aqui o texto em todos os computadores possíveis, sem sucesso.

Lembro de ter salvo o arquivo do word com o nome de Tribuna Cultural. Caso alguém que participou da atividade ache em algum micro por acaso, é favor enviar.

Agradeço.

É HOJE!

Todo mundo lá, hein? Abaixo, o que saiu no JP de hoje.

POESIA (ATÉ) PARA QUEM (NÃO) GOSTA DE POESIA

Celso Borges lança hoje Belle Epoque, seu terceiro trabalho no formato livro-disco. Poeta será acompanhado em show pela banda Restos Inúteis.

POR ZEMA RIBEIRO
ESPECIAL PARA O JORNAL PEQUENO


[Belle Epoque. Capa. Reprodução]

Belle Epoque [2010, Pitomba/ Guarnicê] é o livro-disco mais amargo de Celso Borges, mas “sem perder a ternura”, como pregava o revolucionário.

Não por acaso está ali, em epígrafe, um trecho da Aproximação do terror, de Murilo Mendes: “A grande Babilônia ergue o corpo de dólares. Ruído surdo, o tempo oco a tombar… a espiral das gerações cresce”, doce amargura.

Não é de hoje que o maranhense ousa e transgride, sua poesia não podendo simplesmente ser escrita ou digitada numa folha em branco e ponto.

A obra, urbana, composta ainda em São Paulo, ele há seis meses de volta à São Luís natal, já não mais se impregnará do provincianismo daqueles de quem tira sarro.

Como em Discurso de posse (e vocês já sabem do que Celso Borges está falando): “Enquanto um deles lê o discurso no papelpapiro/ e os demais ouvem de orelha em pé/ uma traça rosnarói a medalha pendurada/ no lado esquerdo do fardão (…)”. Ou em Missa de sétimo dia: “rimas ralas, paralelas e entortadas, decassílabos, redondilhas ilhadas, alexandrinos déja vu, chaves de prata, de ouro, sextetos, sonetos caducos e sonolentos, versos de pé quebrado (…)”


[O poeta em uma das edições do Londrix. Foto: Carllos Boselli]

O poeta brada contra a sociedade consumista e apressada, sedenta de beleza fabricada a qualquer custo e de acumular mais dinheiro idem. Por vezes sem tempo para a poesia, mais preocupados com o BBB e outros modismos, cíclicos ou não – “antigamente não tinha big brother brasil”, diz em A saudade tem seus dias contados.

Os poemas de Belle Epoque, fortes, diretos, certeiros, terão roupagem rock no lançamento do livro-disco: a banda Restos Inúteis (nome tirado de um poema do livro, dedicado ao poeta Marcelo Montenegro) acompanhará Celso Borges em cerca de 15 textos que ele irá dizer-ler-gritar-cantar após a sessão de autógrafos, hoje (4), às 19h, no Cine Praia Grande (Centro de Criatividade Odylo Costa, filho, Praia Grande).

O grupo é formado por André Grolli (bateria), André Lucap (violão e programação visual), Bruno Azevedo (contrabaixo) e Reuben da Cunha Rocha (guitarra) – este assina o prefácioNÃO de Belle Epoque.

O disco Quase, encartado no livro, é outro sarro do autor de XXI (2000) e Música (2006). Enquanto a sociedade dessa “epoque nada belle” deseja, produz e consome (não necessariamente nessa ordem) o barulho vazio, o poeta precede de silêncios o Finalmente que declama.

Poesia é algo misto de sério, inútil e divertido. Aos quase 51, Celso Borges, “dores de cabeça de estimação desde os 20/ gastrite aos 22/ hepatite b aos 24/ (…)/ artrose no dedo mindinho direito aos 47/ plástica de válvula mitral aos 48/ poesia desde os 17” (Belle Epoque 2 – Auto-retrato) está em forma.

SERVIÇO

O quê: noite de autógrafos e show de lançamento do livro-disco de poemas Belle Epoque, do poeta Celso Borges.
Quem: Celso Borges e a banda Restos Inúteis.
Onde: Cine Praia Grande (Centro de Criatividade Odylo Costa, filho, Praia Grande).
Quando: hoje (4), às 19h.
Quanto: show grátis. O livro-disco custa R$ 30,00.
Realização: Pegada Produções.
Maiores informações: (98) 3227-0079, 8179-1113, cbpoema@uol.com.br

SOM DO BOM PRA ARRASTAR AS SANDÁLIAS

O Samba Pesado do Sandália de Prata: na medida certa.


[Samba pesado. Capa. Reprodução]

“Ei! Sapato de ouro/ eu sou Sandália de Prata/ e te digo meu “cumpadi” nesse chão/ eu sei pisar/ vou seguindo minha vida/ levando o meu samba/ onde o samba me levar/ nos botequins ou grandes palcos,/ morros ou asfaltos/ minha música é minha verdade”. A letra de Sapato de Ouro (Marquinho Dikuã), que encerra Samba Pesado [2009, independente], anuncia o grupo Sandália de Prata, uma verdadeira orquestra: Ully Costa (voz), Dado Tristão (teclado), Carlinhos Creck (baixo), Sandro Lima (guitarra), Paulinho Sorriso (bateria), Tito Amorim (percussão), Marcelo Valezi (saxofone), João Lenhari (trompete) e Jorginho Neto (trombone).

Sandália de Prata é título de dois clássicos da música brasileira: um de Alcyr Pires Vermelho e Pedro Caetano, de 1941; outro, de Ary Barroso, do mesmo ano, também com o título de Isto aqui, o que é?. E agora batiza também este interessantíssimo grupo musical paulista.

Samba Pesado é para arrastar as sandálias – de prata ou não. Além do gênero que dá título ao disco, profundos ecos das variantes samba-rock e gafieira, além de soul e funk – mas este, de verdade. Aqui e ali, pitadas de Jorge Ben, Dorival Caymmi e Criolina (os maranhenses Alê Muniz e Luciana Simões são parceiros da turma em diversas faixas do disco), na levada e/ou nos temas.

“Gildete. Gildete, tô ligado no suingue, no balanço/ Gildete, Gildete parou no ponto, acenou, piloto quase que infartou/ (…)/ até debaixo d’água eu sou, Gildete Futebol Clube” em Gildete (Ully Costa/ Alê Muniz/ Luciana Simões); “Vou ficar perto do terreno baldio esperando a pelada começar/ quero ver você no gol, crioulo/ e Ogum seu protetor/ Na batucada quero Ijexá”, em Dida (Ully Costa/ Luciana Simões); “Você vai dizer que não sabe sambar/ você vai pedir, quem sabe vou te ensinar/ (…)/ Zumbi mandou falar:/ quando ouvir a marcação em forma de oração/ quando ouvir a marcação é hora de oração” em Zumbi (Ully Costa/ Alê Muniz/ Luciana Simões); “Seu beijo é uma delícia, magia de alquimista/ teu olhar, tua malícia/ teu afago, tua carícia/ ô, Letícia, ô, Letícia” em Letícia (Marquinho Dikuã) ou “O tempo fechou, a maré levantou, escureceu/ o pescador não voltou, Maria três velas acendeu” em O pescador (Anderson Vaz/ Robson Capela).

Mas não se trata simplesmente de reverenciar ou apenas imitar o que veio antes – longe disso. As influências são reprocessadas e o som do Sandália de Prata é algo que merece destaque em tempos de velhas bossas, apenas requentadas e apresentadas como novas, ou sambinhas bem comportados e sem sal – e que a crítica conivente não para de apresentar como a nova promessa, a nova revelação, a nova sensação ou a nova não sei o quê do samba ou da emepebê.

[Tribuna Cultural, Tribuna do Nordeste, ontem]