DOMINGANDO…

Hoje tem show de lançamento do novo disco (ao vivo) de Mestre Edvaldo Santana. O repertório de Ao vivo é de músicas de seus discos anteriores: Reserva de alegria (2006), Amor de periferia (2004), Edvaldo Santana (1999), Tá assustado? (1995) e Lobo solitário (1993). Imperdível pra quem tá em Sampa. Alô produtores ludovicenses: o cabra tá louco pra fazer na Ilha em 2010:

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Abaixo, resenhinha na Tribuna Cultural [Tribuna do NE] de hoje.

TRIBUNA CULTURAL
POR ZEMA RIBEIRO*

CRÔNICAS CONTEMPORÂNEAS

O jornalista carioca João Ximenes Braga cria interessante galeria de personagens nas ficções de A mulher que transou com o cavalo e outras histórias.


[A mulher que transou com o cavalo e outras histórias. Capa. Reprodução]

João Ximenes Braga escreve como quem coleciona instantes. Pequenas cenas do cotidiano são captadas por sua câmera-pena em A mulher que transou com o cavalo e outras histórias [Língua Geral, 2009, 174 páginas, R$ 35,00] – título que pode enganar os que buscam literatura barata – sim, o sexo está lá, explícito, mas não é o único ingrediente de sua prosa, nem soa chulo.

Digo câmera-pena por que o jornalista – aqui em exercício ficcional bastante interessante – tem experiência com roteiros televisivos, além da jornalística, em si, o que certamente o ajuda na criação de personagens e cenas tão envolventes.

Mesmo produzindo ficção, Braga acaba pintando um retrato do Rio de Janeiro contemporâneo, sem que o leitor careça ser algum iniciado em gírias da última temporada – é carioquíssimo, mas sem sotaque.

Em 12 contos, alguns dialogando entre si como se fossem um capítulo seguinte, há espaços para o pitoresco, o hilário, a violência, a música, o sexo. Quase sempre com um desfecho inesperado. Às vezes tudo isso ao mesmo tempo.

Em A mulher que transou com o cavalo e outras histórias, João Ximenes Braga mostra-se um cronista perspicaz e bastante divertido, um observador atento da vida privada, os personagens voyeurs de si mesmos – e principalmente dos outros.

*Zema Ribeiro escreve no blogue http://www.zemaribeiro.blogspot.com

TRECHO [exclusivo cá no blogue]

Diante daquele espetáculo, eu me identificava mais com a menina que com meus colegas turistas. Por mais que me sentisse obrigado a louvar a peculiaridade de tal habilidade, nada daquilo me parecia remotamente sexual. Nem mesmo curioso. Nem excitante, nem engraçado.

Até que chegou a quarta moça. Mais gordinha que as outras, ela trazia um cigarro e um isqueiro na mão. Acomodou-se no chão do palco, com uma perna levantada e a outra dando apoio. Acendeu o cigarro. Deu o primeiro trago. Colocou o cigarro em sua buceta e deu algumas baforadas.

Já se foram cinco anos desde que parei de fumar, antes mesmo de o infarto fazer do tabaco uma sentença de morte precisa, e não apenas especulativa. Mas sempre tive carinho pelo ato de fumar. Nas noites em que o ir dormir era particularmente solitário e penoso, quando eu desistia de esperar pelo sono e não aguentava mais controlar a luta de minha consciência com aquele fantasma que me levara a atravessar meio mundo para aplacar, o cigarro costumava ser a companhia redentora. Abria os olhos, levantava, fumava um cigarro na janela da sala, assistindo à vida correr em Copacabana. Sentia-me mais confiante para voltar à solidão dos olhos fechados. Nestes cinco anos de abstenção, nunca deixei de querer fumar, de sentir saudades do cigarro.

Ali, observando o show, enquanto a Singha impregnava meu organismo, não senti qualquer vontade de fumar. Nem de fazer mais nada. A displicência com que aquela moça soltava baforadas por dentre as coxas gordas subvertia toda a grandeza do ritual do fumo. Talvez se ela demonstrasse algum prazer sexual pela ingestão de nicotina vagina adentro, eu ficasse encantado. Mas uma buceta que fumava como um desses viciados que tragam maquinalmente andando às pressas pela rua… Ao inserir esse ato tão cotidiano em seu sexo, banalizava o que poderia haver de sórdido na perversão. Nem a buceta nem o cigarro eram usados em sua essência; pela primeira vez, essas duas fontes de alguns de meus maiores prazeres pareciam tão-somente patéticas.

[De Sono, páginas 152-153]

2 respostas para “DOMINGANDO…”

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