A Vida é uma Festa!

E ontem passando pela Praia Grande para ir até a Casa do Maranhão assistir ao Pastor de D. Lili Marques (belíssimo espetáculo!), topei com algumas figuras que fazem da vida, uma festa.

[parei com meu irmão no Bar do Adalberto para tomar uma talagada de aroeira].

Não desejei feliz ano novo pra ninguém por que quero topar hoje com todo mundo lá!

Pra Vanessa Serra, um abraço ao vivo pelo aniversário que passou (lembramos, com um telefonema), dia 28 último.

A Vida é uma Festa!: última edição do ano da festa comandada por Zé Maria Medeiros. A partir de 20h30min, no Bar do Adalberto (Praia Grande)

UM TIME DE OPÇÕES

Alguns diriam que, hoje em dia, qualquer zé-mané pode ter um blog (isso é verdade: até eu tenho um blog!). Outros discutem se blog é ou não literatura (que que ‘cês acham?).

Como o “analfabetismo informático” do presente blogueiro não o permite (“apenas” por não saber como fazer isso) colocar links permanentes aqui no Shopping, mando uma lista de leituras obrigatórias (passo lá diariamente). Alguns não são blogs, mas pela liberdade que os editores tem (e isso os faz ótimos!), bem poderiam ser.

FakerFakir: Ficção e jornalismo sem rede de proteção, por Ronaldo Bressane e cia.

A máquina claustrofóbica: Reuben da Cunha, entre notícias e poemas.

O Carapuceiro: o amigo genial Xico Sá, dispensa comentários.

EntreTanto: Carol Libério, uma poetisa contemporânea para contemplação.

Fadado: a poesia (nada enfadonha) de Jane Maciel.

Espelunca: a casa de Ademir Assunção.

Cortina Tecnicolor: outro espaço da Fada Jane.

Seminovos e Usados: tentativas (e alcances) da literatura de Diego Pedra.

Liberal Libertário Libertino: como a gente lê na página inicial do blog do Alexandre Cruz Almeida: “Um blog sobre rebeldia, contemplação e sacanagem, regado a muita literatura e humor”.

Revista Bala: Kamille Viola e cia. em dicas sobre cinema, música, literatura, comportamento e variedades.

Dissonância: Ricardo e Nina e o melhor zine eletrônico dos pampas. (E o cabra é nordestino!)

Feliz Dois Mil e Blog!!!

POETAS ELÉTRICOS

Recebi de um sítio-irmão no Rio Grande do Sul, um estranho (leia-se ótimo!) disco de uma dupla do Rio Grande do Norte: Os Poetas Elétricos. Sob o título “Poemas eletri-ficados & outros que foram embora”, a bolachinha traz pérolas poéticas como a transcrita abaixo (faixa 6):

PRELÚDIO ERÓTICO DO POETA MACHÃO

Nunca vi musa com blusa

E agora que você é minha

Favor ir arriando a calcinha

Tenho na mão um imenso lápis que já está torto

De tão a fim de escrever pelo seu corpo.



Na próxima edição do zine eletrônico Dissonância, o amigo Ricardo pendurará um texto deste blogueiro irresponsável sobre o trabalho de Carito e Edu Gomez, eles, Os Poetas Eróticos, ops, Elétricos.

Quem se interessar pelo disco, pode ligar para (84) 219.3575 (ligações para lá, bota o três na frente?) ou clicar aqui e pedir.

RETROSPECTIVA 2004



Sem ordem cronológica (ou qualquer outro tipo de ordem) buscando na cabeça

(quem lembrar de algo, ajude-me, enviando um e-mail).



V Fórum Municipal de Cultura



meses de reuniões preparatórias, discussões etc. e quatro dias, em setembro, com a fina flor da cultura local, regional e nacional. O maior acontecimento cultural do ano no Estado.

Projeto Serenata dos Amores



através do Fórum de Desenvolvimento Territorial Sustentável, o resgate de valores culturais das comunidades que fazem o Centro Histórico: Desterro, Portinho e Praia Grande. Cortejo pelas ruas e apresentações musicais, poéticas e teatrais no Largo da Igreja do Desterro. Entreguei e recebi (em ocasiões diferentes) o Troféu Zé Pequeno. Obrigado!

Anuário Suplemento Cultural e Literário J P Guesa Errante



um super lançamento, com show de Cesar Teixeira; zeloso trabalho da equipe capitaneada por Alberico Carneiro e Josilda Bogéa Anchieta. O blogueiro aqui tem dois textos lá!

Shopping Brazil: o disco e o blog



é claro que o primeiro foi/é/será (merecidamente) mais festejado que o segundo; 2004 foi o ano de lançamento do primeiro disco de Cesar Teixeira (na minha opinião, o maior compositor vivo do Maranhão) e deste modesto blog.

Cesar Teixeira no Prêmio Universidade



conforme os amigos percebem (até pelo nome deste blog), sou um entusiasta da obra e da pessoa de Cesar Teixeira. Shopping Brazil (o disco) arrebatou cinco prêmios na edição 2004 do Prêmio Universidade, o mais importante da música no Estado: melhor disco, melhor cantor, melhor compositor, melhor samba (Vestindo a Zebra) e melhor letra (a faixa-título).

Zeca Baleiro na Maria Aragão



ótimo! Inauguração da nova praça e memorial em grande estilo. E em janeiro ele estará aqui para um show ao lado dos monstros sagrados (ele também, um) Chico Maranhão e Cesar Teixeira. Produção de Ópera Night. (Isso nem deveria lá embaixo, no “o que vem por aí”. Mais detalhes aqui no blog, no começo do ano que vem!)

O falecimento de Lopes Bogéa



nem só de boas lembranças vive o homem: perdemos Lopes Bogéa; sua obra estava sendo registrada num projeto de Zeca Baleiro, que chegou a gravar algumas faixas do vasto cancioneiro do memorialista. Grande perda para a cultura maranhense!

Bruno Batista



com seu ótimo disco de estréia, homônimo, Bruno Batista arrebatou o prêmio Universidade na categoria Revelação. Merecido!

Carolina



bom demais ter viajado com a equipe do Almanaque J P Turismo (onde assino a coluna Quintal Poético) para aquela maravilhosa cidade de belíssimas paisagens. Em 2005 irei até a próxima letra do ABC do Turismo com a Imprensa Turística Itinerante, invenção do amigo Gutemberg Bogéa.

Liga Tripa



este ano conheci o melhor grupo já surgido em Brasília. O amigo Glauco Barreto apresentou-me o grupo mambembe que este ano completou 25 anos de uma carreira pouco conhecida fora dos muros da UnB e Escola de Música de Brasília.

O Natimorto



a melhor ficção lida por mim em 2004.

2005: o que vem por aí



Obras Completas de J M Cunha Santos



já estamos trabalhando para editar as “Obras Completas de J M Cunha Santos”, que trará seus livros já publicados (“Meu Calendário em Pedaços”, “O Esparadrapo de Março”, “A Madrugada dos Alcoólatras”, “Paquito, o Anjo Doido”, “Pesadelo” e “Odisséia dos Pivetes”), além dos inéditos “O Corrupto” e “Vozes do Hospício”, além da reunião de suas “Crônicas do Quinto Dia” por eles publicadas por bastante tempo no Jornal Pequeno.

50 e Tantas



comemoração dos cinqüenta anos de vida e arte do poeta e compositor Joãozinho Ribeiro. Gravação de disco e lançamento do livro inédito “Paisagem Feita de Tempo” (poema, escrito em 1985). Participações confirmadas de Zeca Baleiro, Zé da Velha, Silvério Pontes, Rita Ribeiro, Antonio Vieira e Cesar Teixeira, entre outros.

Companheira de Solidão



Lançamento do primeiro livro (poemas) do blogueiro aqui. Sem previsão e (por enquanto) sem patrocínio.

Fiz o texto abaixo para publicação na imprensa local. Cansei de esperar e solto-o, com atraso, aqui no blog.

O natimorto. Capa. Reprodução

O RISCO: RUÍDO NADA NATIMORTO DA DBA EDITORA

O natimorto. Capa. Reprodução

por Zema Ribeiro

Conhecida pela produção de livros institucionais, a DBA Editora entra certeira no mercado da (ótima) literatura de ficção. Lançou em São Paulo, no último dia 10 de novembro, sua coleção Risco: Ruído, cujos dois primeiros volumes são as luxuosíssimas edições de “O Natimorto”, de Lourenço Mutarelli e “Gozo Fabuloso”, de Paulo Leminski, último volume da obra leminskiniana deixado organizado pelo autor para publicação. Alice Ruiz, sua ex-companheira, revisou-o e assinou o prefácio.

A coleção Risco: Ruído tem curadoria de quatro grandes nomes da ótima – a redundância é intencional – literatura produzida atualmente no Brasil: Joca Reiners Terron, Marcelino Freire, Nelson de Oliveira e Ronaldo Bressane.

O NATIMORTO

Fumante inveterado e viciado em cafeína, O Agente, protagonista de “O Natimorto” – mais recente título de Lourenço Mutarelli [SP, 1964] a chegar ao mercado – tenta adivinhar a própria sorte através das imagens contidas nos maços de cigarro, fazendo destas figuras, cartas de um estranho tarô de nossos tempos.

O Agente (que não age) apaixona-se por uma cantora – A Voz – que não canta. História de amor e ódio, ele confina-se num quarto de hotel, após abandonar a esposa, que não aceitando a sua tentativa de tornar-se um ser assexuado, o trai constantemente.

Um musical silencioso escrito por um desenhista. Poderia ser apenas mais um “livro na minha estante, que nada diz de importante”, mas não é. Cinema? HQ? Poesia? Música? Teatro? Literatura? Absurdo? Trágico? Engraçado? Intrigante? Tudo isso e mais um pouco, num caldeirão fervente, temperado com a experiência mutarellica de “O cheiro do ralo” [Devir, 2003], romance de estréia do autor, que já venceu seis edições do Prêmio HQ Mix, o mais importante do gênero no país.

Se você fuma ou é viciado em café, compre este livro! Se fizer os dois, melhor ainda. Se não é nem uma coisa, nem outra, compre assim mesmo e vicie-se em ótima literatura contemporânea.Você compra os livros da DBA Editora no site da mesma: www.dbaeditora.com.br ou pelo telefone (11) 3062 1643.

PRÉ-NATAL: PÍLULAS

E no domingo passado dezenove, este blogueiro ficou mais velho (e com isso, provavelmente mais chato, eu sei!). Eu nunca sei se isso é bom ou ruim, se devo ter medo ou festejar.

E de sábado para domingo, cantaram-me, na Serenata dos Amores, os parabéns! Eu e Joilene – guerreira do Fórum de Desenvolvimento Territorial Sustentável (Desterro, Portinho e Praia Grande) – que havia soprado velinhas no dia 17. Fiquei contente com a surpresa: eu entreguei, noutra ocasião, o troféu Zé Pequeno para Cunha Santos, poeta e jornalista que muito (demais até, diriam alguns) admiro; e agora era eu quem o recebia. Eu precisava compartilhar essa felicidade com alguém. Meus leitores (“meus” leitores é pedante? Não creio…), esse troféu é de vocês!

(Esse post deveria se chamar parêntesis)

Por que será que eu não gosto do Natal? “Esqueceram o verdadeiro sentido, hoje é só comercial”. Digo isso, mas, pô, eu não sou um católico praticante para ficar cobrando de todos a lembrança do nascimento do menino-Deus (trilha sonora: A Cor do Som cantando música de Caetano). Luzinhas coloridas piscando, piscando, uma música irritante (não a da trilha sonora acima) me invade ininterruptamente os ouvidos… por que será que eu não gosto do Natal? 2003 e 2002 passei o Natal na casa de Gildomar (homem que batizou-me Zema, exímio violonista, autor de Olho de Boi, música que outrora batizou uma lista eletrônica que moderei) e foi legal. Será que eu gosto de Natal?

O poema de Gildomar, batizando-me (é do ano de 2001), que usarei como prefácio em “Companheira de Solidão”, que deve deixar de ser inédito ano que vem:

Prefácio



Manhã que a luz conduz o guia

do amor que o amor a dois acena

Abelha afeita a açucena

transborda em mel à luz do dia

Quis o acaso, a alegria

que a mais perfeita flor pequena

conduzisse-lhe à bela cena

de amor que um beijo acenderia

Melaço doce: poesia

que zemaria a prosa plena

e teceria a contracena

paixão, saudade, dor e lia

Pensada a dor, a dor doía

e por doer, virou poema.

Morrendo a dor, surgia o Zema

Já que um poeta nasceria

Ê Ma(r)lementa!

Hoje, a partir de 20h30min, estaremos reunidos no Bar do Adalberto (Praia Grande). Marla, colega de trabalho na Faculdade São Luís fará seu “bota-fora”, pois inicia 2005 como Diretora da Biblioteca da Unisulma, em Imperatriz-MA; entre os presentes: eu, Marla, Ribeiro Jr. (o poeta/professor, não o fotógrafo!), Erivaldo Gomes, Valéria Santos, João Madson, Eduardo Júlio e outros “habitantes” do cenário d’A Vida é uma Festa!

Ainda não sei onde vou passar o Natal. O reveillon é quase certo que eu passe na Rua de Santiago – onde moro – numa tradicional festa que os moradores organizam. A propósito, na próxima quarta-feira acontece o último bingo que “cava fundos” (sacanagem! risos) para a festa. O prêmio será uma grade de cerveja (nem preciso dizer que já estou com minhas cartelas em mãos, preciso?).

(acho que ainda escrevo aqui antes de 2005!)

SERENATA DOS AMORES

confira a programação logo após o belo texto abaixo

Por Norton F. Corrêa*

Por obra e graça deste menestrel de idéias, cantos, músicas, poesias (e magias?) que se chama Joãozinho Ribeiro, mais uma vez seremos brindados como uma serenata à moda antiga, no Desterro. Na primeira etapa a gente se reúne em algum local e de lá o grupo sai pelas ruas do bairro, cantando, tocando, parando em locais significativos, trilhando um roteiro sentimental e histórico que deságua no Terraço dos Amores, na frente da igreja. Lá nos espera um sofisticado cardápio artístico, com alimentos de alta sustância para o espírito. Mas quem, com justeza, não se descuida do corpo, pode contar com uma grande e sortida barraca de comidas típicas, não esquecendo o estoque de geladíssimas, que afinal ninguém é de ferro.

Indiscutível, não pode haver lugar mais adequado para serenatas, na cidade, do que o Desterro. São as suas construções seculares, a beleza nostálgica que emana de ruínas, modestas portas-e-janelas se acotovelando com sobradões vetustos, a mornidão lânguida da noite maranhense, o vento trazendo, sabe-se de onde, cheiros indistinguíveis que nos chegam entremeados com longínquos cantos de galo – além da gente humilde com cadeiras na calçada, como um dia viu o poeta. Cada vez que passo por ali, não tem jeito: embora nunca tenha recebido qualquer resposta, insisto em pedir silenciosamente àquelas construções centenárias que me contem pelo menos alguma coisa sobre seus antigos habitantes. Imagino dores e prazeres, alegrias e tristezas, pequenas e grandes coisas que compõem a tessitura do cotidiano. Há quem diga que de alguma maneira a presença das pessoas fica como que indelevelmente impressa nas coisas que usaram, nos lugares onde viveram.

Em noites de luar o bairro vira um campo de batalha – quem brilha mais? – entre os lampiões e a Lua. Os elegantes faróis metálicos, por serem muitos, sem dúvida são hegemônicos quanto a impor sua luz dourada ao ambiente. Mas a Lua se vinga, jogando na cara da concorrência o condão de ordenar que seus raios azul-prata, móveis e inconstantes, como ela, inventem sucessivamente novos esboços cambiantes de claro-escuro nos desvãos dos prédios. Daí, feixes miscigenados de luz espraiam-se pelos telhados, mexem nas cores dos azulejos, esgueiram-se por fachadas, aplicam novos matizes às pinturas de paredes e aberturas, chocam-se contra as pedras do calçamento, jogando cacos luminosos para todos os lados. Aqui e ali botam sombras fantasmagóricas nos beirais, criam ilusões de ótica ao complicar ainda mais a geometria caprichosa dos gradis e parapeitos de ferro. Na verdade, a dupla faz é brincar de artista, até que a desmancha-prazeres da aurora acabe com a diversão (mas de noite tem mais!, debocham).

No início estava a rua da Estrela. Quem puxa o canto é o vozeirão do Léo Capiba, logo escoltado por cascatas sonoras que fogem da flauta endiabrada do Zezé, do cavaquinho do Trabulsi, do sete cordas do Domingos, do pulsar macio do pandeiro do Lazico – todos estrelas de primeira grandeza da constelação musical da cidade. Velhas canções de outrora se alternam com modernas, do Vicente Celestino ao Chico Buarque. Surpresos pelo inusitado do acontecimento, moradores abrem janelas, saem à calçada, aplaudem e são aplaudidos pelos seresteiros.

Eu já participara de outras destas serenatas, mas naquela noite, sentia, havia algo a mais, estranho, que não consigo descrever. Era como se pairasse no ar uma espécie de aura, misteriosa, etérea, surreal, como um envoltório invisível flutuando à nossa volta. Quem sabe, o efeito conjunto dos sons dos instrumentos, vozes, ecos e revérberos nas velhas paredes, corpos, mentes, os sentimentos que fluíam de cada um de nós, tudo, tenha de alguma maneira entrado em consonância harmônica, digamos, com o ambiente que nos rodeava, sei lá. Mas havia algo, sim.

Adiante está um sobradão enorme, recém restaurado, belo e majestoso em sua grandeza e requintes arquitetônicos. Com a aproximação do cortejo, uma luz interna se acende e logo se apaga, janelas do pavimento superior se abrem desconfiadas, moradores debruçando-se nos parapeitos das janelas, ouvindo. Na porta de uma das sacadas surge uma moça, o comprido roupão branco drapejado por reflexos fugazes do ouro-prateado que banha a rua, o vento colando o tecido em suas curvas bem talhadas, fazendo-lhe esvoaçar os longos cabelos soltos. Imóvel, sorriso com um quê de enigmático, observa o cortejo, que pára e aplaude, seresteiros curvando-se e tirando galantemente os chapéus. Quando vê que seguiremos caminho, agradece com um leve aceno de cabeça e volta para dentro, seguida pelos demais.

Continuamos. Mais abaixo, à esquerda, surge a boca de uma ruelinha enladeirada, mal e mal passa um carro. Subimos. Alguns poucos metros mais, um mini largo, um beco estreitíssimo que leva não sei pra onde, uma esquina, uma quadra curta, outra esquina, outra ladeira. Subimos de novo. Andando, dobrando esquinas à direita e à esquerda, subindo, descendo, finalmente chegamos ao Terraço dos Amores.

Mais uns dias, lá passo eu de novo pela rua da Estrela – lógico, também um fiozinho de esperança de rever a bela do casarão. Vou devagar com o carro, procurando, mais à frente está a porta-e-janela azulejada vizinha ao prédio, lembro, a outra casinha, no lado aposto, mas onde o tal de casarão? De repente, percebo que ele está ali, exatamente onde sempre estivera. Mas o que o sol da manhã iluminava era uma semi-ruína, o portão de madeira pregado com tábuas, restos de janelas carcomidas nas aberturas em arco, a pintura esmaecida pelo tempo, a sacada da moça sem o balaústre. Completando o clima de abandono, franjas de trepadeiras verdes pendiam do telhado, deixando-se balançar preguiçosamente aos sopros vento.

Só então me dei conta de que minhas insistentes perguntas, porque, claro, pronunciadas numa noite mágica, tinham recebido enfim uma resposta.

*antropólogo, professor da UFMA



Confira a programação completa da última edição, em 2004, do Projeto Serenata dos Amores

DATA E HORA

18/12, sábado, às 20h30min (horário da concentração)

PONTO DE ENCONTRO

Em frente à Pousada Colonial (Rua Formosa)

ITINERÁRIO

Rua Formosa – Travessa da Lapa – Rua da Palma – Terraço dos Amores

PARADAS

Mirante da Lapa (ex-residência do poeta Joãozinho Ribeiro) –

Casa de Dona Diomar – Terraço dos Amores

ARTISTAS CONVIDADOS

Ângela Sollares e Augusto Pellegrini

PERFORMANCES

Sociedade Artística Beto Bittencourt

PARTICIPAÇÕES ESPECIAIS

Costa Neto, Murilo Oliveira e Escola de Música Lilah Lisboa

HOMENAGEADOS

Dedé da Flor(*), Roberto Ricci, Mestre Antonio Vieira, D. Toinha e Zeca Curau

SHOPPING BRAZIL NA KIZOMBA

Ontem fomos ao Espaço Renascença assistir a entrega do Prêmio Universidade FM 2004. Intitulada Kizomba, a Festa da Música Negra, a direção musical ficou por conta do percussionista e compositor Erivaldo Gomes (que hoje agita, mais uma vez, A Vida é uma Festa!).

O grande vencedor foi o compositor Cesar Teixeira, que arrebatou prêmios em cinco categorias: Destaque Cantor, Destaque Compositor, Melhor Letra, Melhor Samba e Melhor Disco.

Confira abaixo a lista completa dos vencedores:

Talento da Noite

Instrumental Pixinguinha

Revelação

Bruno Batista

Melhor Projeto Gráfico de CD

Márcio Vasconcelos e José Antônio Serra (Shopping Brazil)



Destaque Técnico/Gravação e Mixagem

Agenir, Pitomba e Tarciso

Melhor Música Carnavalesca

“Quinto é Minha Lei, pro Meu Enredo: José Sarney” – Turma do Quinto

vaiada pelos presentes durante a entrega do prêmio



Melhor Música Folclórica

Serra do Mar/Massarariquinho/Garrafa de Vinho – Cacuriá de Dona Teté

Melhor CD de Música Folclórica

“20 Vivas Juninos” – Boizinho Barrica

Melhor Samba

“Vestindo a Zebra” – Cesar Teixeira



Melhor CD de Samba

“Por Amor Ao Samba” – Arlindo Piupiu

Melhor Música Instrumental

“Minha Cidade” – Chiquinho França

Melhor CD Instrumental

“Solos” – Chiquinho França

Destaque/Músico Instrumental

Chiquinho França

Destaque/Músico Guitarrista

Arlindo Piupiu

Destaque/Músico Baixista

Henrique Duailibe

Destaque/Músico Violonista

Luís Júnior (Shopping Brazil)



Destaque/Cantador de Bumba-meu-Boi

Humberto do Maracanã

Personalidade Musical do Ano

Leonardo Martins

Melhor Toada de Bumba-meu-Boi

“Um Mundo Novo” – Boi da Maioba

Melhor CD de Bumba-meu-Boi

“Isso é Maioba” – Boi da Maioba

Destaque/Músico Baterista

Carlão

Destaque/Músico Percussionista

Carlos Piau

Melhor Show

Faz Uma Loucura Por Mim

Destaque Produtor de Show Musical

Fernando de Carvalho e Herberth Nogueira – Show “Simplesmente Natal”

Melhor Reggae

“Mana” – Legenda

Melhor Arranjo

“Flor do Mal” – João Pedro Borges (Shopping Brazil)

Melhor Letra

“Shopping Brazil” – Cesar Teixeira



Melhor Interpretação

“Alegria de Natal” – Fernando de Carvalho

Destaque/Diretor Musical de CD

Murilo Rego (Shopping Brazil)

Melhor Pop/Rock

Menino Marrom – Mandorová

Melhor Hip Hop

“Som Na Lata” – Som na Lata

Destaque/Compositor

Cesar Teixeira – Música: Shopping Brazil



Destaque Cantor

Cesar Teixeira



Destaque Cantora

Cecília Leite

Melhor CD

“Shopping Brazil” – Cesar Teixeira

Por essas e outras é que este blog se chama Shopping Brazil

AS PALAVRAS NADA CLANDESTINAS DE REUBEN DA CUNHA

por Zema Ribeiro

“A poesia brasileira se arma contra a banalização da sociedade do espetáculo. Com as armas do inimigo”. Este é o subtítulo de “A Palavra Clandestina”, matéria de Reuben da Cunha selecionada pelo programa Rumos Itaú Cultural 2004/2005, na categoria Jornalismo Cultural. O estudante e poeta maranhense é um soldado armado. De flores e palavras.



O PROGRAMA



Implantado em 1997, o programa Rumos Itaú Cultural – um dos mais abrangentes de estímulo à criação e produção artística e cultural do país – já apoiou o desenvolvimento de mais de trezentos projetos em Artes Visuais, Cinema e Vídeo, Música, Dança e Literatura; são mais de setecentos artistas contemplados. Este ano percorreu cerca de trinta mil quilômetros, com encontros em todos os Estados brasileiros, entre os meses de maio e setembro.

A edição 2004/2005 do programa teve 1656 inscritos em três categorias: 1410 (música), 138 (literatura – audioficções) e 108 (jornalismo cultural). Na primeira categoria, foram selecionados três compositores maranhenses: Tião Carvalho, Ubiratan Sousa e Antonio Vieira – este último, o único residente em nossas plagas.

JORNALISMO CULTURAL


Voltada para estudantes universitários – a partir do quarto período, de acordo com o edital do programa – o processo seletivo desta categoria analisou reportagens sobre a diversidade cultural brasileira a partir de pauta elaborada pelo Instituto Itaú Cultural.
Formada pelos jornalistas Israel do Vale (SP), Kiko Ferreira (MG), Gabriel Priolli (diretor da TV PUC, SP), Gilmar de Carvalho (professor do curso de Comunicação Social e de Mestrado em História Social da UFC, CE) e Claudiney Ferreira (SP), a comissão de seleção analisou 108 inscrições de 19 Estados.
Os selecionados participarão do Laboratório Multimídia de Jornalismo Cultural, cujo editor é Israel do Vale (membro da comissão de seleção, jornalista e ex-editor-adjunto do Caderno Folha Ilustrada, do jornal Folha de São Paulo). Durante o laboratório – um estágio remunerado – os estudantes selecionados produzirão e debaterão matérias sobre produção cultural.
Ainda em dezembro deste ano, os selecionados nesta categoria participam de um seminário internacional com jornalistas especializados na área e ganham – junto com as bibliotecas das instituições onde estudam – diversos livros sobre jornalismo e cultura.

A PALAVRA NADA CLANDESTINA DE REUBEN DA CUNHA


Reuben da Cunha tem 20 anos e cursa o quarto período de Jornalismo na Universidade Federal do Maranhão, após ter abandonado, no terceiro período, o curso de Direito. Ele é o único maranhense selecionado – entre os três nordestinos – na categoria Jornalismo Cultural do projeto Rumos Itaú Cultural, edição 2004/2005.
“A Palavra Clandestina” é o título da matéria que o leva ao Laboratório Multimídia de Jornalismo Cultural. O texto trata da poesia contemporânea brasileira – da qual o próprio Reuben é um importantíssimo representante – e de suas diversas formas de resistência à Indústria Cultural.
Fã de Itamar Assumpção, Reuben é editor do zine de poesia GRIPE – que já foi alvo de textos do professor Alberico Carneiro no Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante – e mantém no ar, o sítio A MÁQUINA CLAUSTROFÓBICA, onde desf(t)ila poemas, pensamentos, recortes interessantes da obra de ídolos e amigos etc.
“O estágio é uma oportunidade de aprofundar não só a prática jornalística, mas o próprio contato com a cultura, além de – espero – ser também uma ponte para um futuro profissional fora da Ilha”, diz Reuben, atualmente dedicado trabalhando em um poema de maior fôlego, provisoriamente intitulado “O trompetista gago”.
Para Cláudio Daniel, poeta e intelectual entrevistado por Reuben na composição de seu trabalho, “Reuben da Cunha é um jovem poeta que está receptivo à informação nova, buscando compreender a realidade que nos circunda e os desafios do fazer poético, vendo com olhos livres, sem perder o senso crítico. Isto é o mínimo que podemos esperar de um poeta que se preza”.
Celso Borges, poeta e jornalista maranhense radicado em São Paulo, misto de ídolo, fã e amigo, afirma que Reuben “é um jovem de grande talento, interessado em literatura e arte como poucos, o que faz uma diferença enorme. Inquieto, ele está sempre questionando, querendo saber mais e mais, ‘cavando’ a beleza das palavras”. Sobre sua seleção para o programa Rumos, completa: “Ainda ouviremos falar muito dele; essa vitória é só a primeira”. Temos certeza disso!

GUESA

Como diz o Marcelino Freire: “Êta, danado!”. Ontem foi o lançamento da segunda edição do Anuário Suplemento Cultural e Literário J P Guesa Errante. Sensacional! A equipe capitaneada por Josilda Bogéa Anchieta e Alberico Carneiro mandou bem. Coquetel com as presenças ilustríssimas dos poetas José Chagas, Nauro Machado, Cunha Santos e José Maria Nascimento, entre outros.

Cesar Teixeira, articulista do Suplemento, fez um belo show com “a banda da banda” (a banda estava pela metade, alguns músicos viajando), como ele avisou ao subir ao palco.

Longa vida ao Guesa! Parabéns!

Alguém já disse sobre Xico Sá: “homem de diversas conclusões numa só frase” ou algo parecido. Versátil, eu acrescentaria, e digo mais: escreve sobre o amor como ninguém. Do escriba de mancheia meio cearense, meio pernambucano, meio paulista – é tão fantástico que tem três metades – transcrevemos o abaixo, extraído d’O Carapuceiro.



No varal do sol da nega



Eu me abaixei e bebi aqueles pingos. Caiam lentamente com gosto de confusão e precipício



por Xico Sá



Foi lindo o dia em que a Cachorra pendurou a primeira calcinha na torneira do chuveiro lá do meu mocó-saló, pé-direito-baixo, quase ninho de cobra, réptil-fulô. Toda grande merda linda começa nesse ato. Pelo jeito que a calcinha fica pendurada a gente sabe se o amor vai ser fodido ou se apenas mais um que passa. A calcinha pingando lentos gerúndios sem “d”, como na minha terra, ino, fazeno, sentino, fodeno, morreno…

Eu me abaixei e bebi aqueles pingos. Caiam lentamente com gosto de confusão e precipício.

Sempre acho que a imagem da primeira calcinha pendurada equivale a bandeira que o primeiro homem a pisar a lua enfiou por lá. A terra amorosa por si mueve. É momento muito importante no Gênesis do amor. Ela também cantava, Fêmea-passarinho. Feliz sim. Nossos corpos não se entendiam, nossas almas nem sei. Ela pôs uma música daquele filme que faríamos depois…

Amores perros guardado nas gavetas, amores perros no varal do sol da nega, a desalmada quarando na espera, a desalmada e o marzão das nossas mágoas, a desalmada roendo as feridas, roupa velha no sabão de nossas pedras.

Envolvidos em delicada ruína cinzenta, como nos versos do alma sebosa, sebosa soul, Gregory Corso, começamos a nossa vida de cada um.

“Chinelos ossos-de-cisne conservam seus passos intactos; ela desliza suave por uma sala externa… despeja leite dormido para o gato dormido”. Ela dizia na janela, como se nunca fosse comigo.

Seus pés cada dia ficavam mais lindos.

O buraco lá embaixo.

O Japão dos encontros & desencontros do amor.

Ela sentou a bundinha morena na bacia de leite, do gato, como naquele Bataille. Subiu ao meu pau pingando.

Ela passeava na bicicleta dos meus óculos, lá em cima, na testa, sobre os aros.

O cachecol dela, colorido, voava por trás do pescoço ao vento.

Passeava nas rodas dos meus óculos e me deixava a esperar, cego.