Praia suja faz turismo despencar em São Luís

DA FOLHA DE S. PAULO

Na alta temporada, ocupação de hotéis passou de 75% em 2011 para 53% neste ano, segundo associação do setor

Justiça obrigou Estado a instalar placas sobre poluição em abril; todas as praias estão impróprias para banho

REYNALDO TUROLLO JR.
DE SÃO PAULO

A ocupação dos hotéis na alta temporada em São Luís/MA – marcada pelos festejos juninos, pelo bumba meu boi e pelas férias – despencou neste ano. A culpa, diz o setor, é das praias sujas.

Por ordem da Justiça Federal, o Estado teve de divulgar um relatório sobre a situação das praias e instalar, em abril, placas alertando sobre a poluição. Todas as praias da cidade estão impróprias para banho devido ao esgoto, segundo monitoramento do governo.

Praias como a do Calhau, considerada uma das mais bonitas da cidade, e a da Ponta d’Areia, a mais movimentada, onde ficam os clubes de reggae, estão com o nível de coliformes fecais na água acima do considerado tolerável.

TRANSPARÊNCIA  Segundo a Promotoria do Meio Ambiente, a situação é conhecida pelo menos desde 1997, quando foram feitos estudos sobre a falta de tratamento de esgoto na ilha.

“A população não percebia a realidade porque não havia transparência”, explica o promotor Fernando Barreto.

A cidade sentiu os reflexos. “O turismo e a rede hoteleira estão ameaçados. Estamos tendo que fazer cálculos mirabolantes para não demitir”, diz o presidente da ABIH (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis) em São Luís, João Antônio Barros Filho.

A taxa de lotação de hotéis e pousadas na cidade em junho e julho de 2011 foi de 75%. Neste ano, caiu para 53%. “É culpa das praias.” As empresas associadas à ABIH têm 5.800 leitos, diz Barros Filho.

MÁ IMPRESSÃO – “No caminho do aeroporto para o hotel, o taxista me avisou de que nenhuma praia estava própria para banho”, disse o turista mineiro Thiago Bernardo Pinto, 32, que visitou São Luís em junho. “Foi a primeira má impressão.”

Em frente à pousada de Barros Filho, um cano despeja esgoto na praia há quatro anos. O cheiro incomoda os hóspedes, que só usam a piscina. Ele diz que alertou a Caema (companhia ambiental do Estado), sem sucesso.

A Caema, sociedade de economia mista gerida pelo Estado, explora os serviços de abastecimento e coleta e tratamento de esgoto na cidade. Segundo o site do órgão, apenas 38,6% dos moradores têm acesso à rede de coleta.

A cidade tem pouco mais de 1 milhão de habitantes.

De 1994 para cá, a Promotoria ajuizou oito ações contra o Estado e a Caema, cobrando o tratamento do esgoto.

Uma delas transitou em julgado em 2005. A Justiça ordenou que o governo parasse de lançar esgoto in natura nas bacias dos três maiores rios.

Como a ordem não foi cumprida, a Promotoria pediu à Justiça, em junho, que bloqueie as verbas de publicidade da Caema e do governo de Roseana Sarney (PMDB) para pagar R$ 22 milhões de multas.

Segundo a Promotoria, a prefeitura também é ré em parte das ações, por fazer a concessão do esgoto à Caema sem cobrar bons resultados.

O lixo é nosso!

[Vias de Fato nº. 34, julho/2012]

Cesar Teixeira e banda apresentam Shopping Brazil, show que leva nome do único disco do compositor, lançado em 2004. Espetáculo acontece 3 de agosto, no Trapiche (Ponta d’Areia)

Em abril de 2004, no dia em que o compositor presenteou-me com seu disco autografado

POR ZEMA RIBEIRO

Em 2004 Cesar Teixeira já contava mais de 30 anos de carreira, se considerarmos suas primeiras participações em festivais de música ou em salões de artes plásticas, datadas ainda do fim da década de 1960, com bons resultados em ambas as categorias. Ou mais de 25 anos, se levarmos em conta seus primeiros registros em disco, as músicas Boi da Lua, Flor do Mal e a faixa título do antológico Bandeira de Aço, lançado por Papete em 1978, pela gravadora Marcus Pereira, que trazia também composições de Josias Sobrinho, Ronaldo Mota e Sérgio Habibe – não por acaso a expressão “Compositores do Maranhão” aparecia na capa do vinil sob o nome do intérprete de Bacabal.

Naquele ano – 2004 – Cesar Teixeira lançaria Shopping Brazil, seu disco de estreia – e até aqui seu único gravado. Aos admiradores do compositor nascido no Beco das Minas, coração da Madre Deus, berço de bambas e palco de velha guarda boêmia da capital maranhense, pode ter soado estranho o título do trabalho: ele, tão brasileiro, tão maranhense, estampava a miséria com s de um Brazil com z, batizando o disco com o nome de um templo do consumo e da diversão fácil. O autor prefere as feiras e mercados.

Cesar Teixeira não é artista de obviedades. “Um artista de quitanda/ faz um samba no balcão/ Cesar é vida, César é arte/ Cesar é pura emoção!”, dizia eu na letra de um samba enredo com três títulos, tentativa de abarcar vida e obra do homenageado para o concurso da Favela do Samba que o homenagearia nalgum carnaval, de onde fomos, eu e Gildomar Marinho, autor da melodia, desclassificados na primeira eliminatória. Hino Latino (Oração Favelense) (A Cesar o que é de Cesar) tentava traçar uma espécie de “linha do tempo”, para usar o jargão do Facebook em que o autor de Oração Latina não tem perfil, de seu nascimento até a gravação de Shopping Brazil.

“A minha dor é artista” – Se o título soava estranho é por que precisaríamos desvendá-lo, conhecer melhor artista e sua obra, até ali gravada por diversos outros nomes da música brasileira, entre os quais cabe destacar Alcione, Célia Maria, Chico Maranhão, Chico Saldanha, Cláudio Lima, Cláudio Pinheiro, Cláudio Valente, Dércio Marques, Fátima Passarinho, Flávia Bittencourt, Grupo Fuzarca, Gabriel Melônio, Gerô, Lena Machado, Papete, Rita Ribeiro [hoje Rita  Beneditto] e Rosa Reis, para citar apenas alguns. Não que Cesar Teixeira seja um artista hermético, muito pelo contrário. Mas à época pegar o disco – hoje esgotado – e ler na capa o nome do artista, seu título e ver uma garotinha palafitada segurando uma boneca já nos obrigava a pensar. Na contracapa, uma foto de Márcio Vasconcelos (que assina as fotografias e o projeto gráfico do disco) captava Cesar Teixeira e Faustina, a mona lisa da Praia Grande, como ele batizou-a em samba inédito, entre botas de policiais, numa clara alusão à ditadura militar que tentou persegui-lo – o compositor chegou a ditar outra letra para Bandeira de Aço a um delegado de plantão em um departamento de censura da Polícia Federal; no outro dia, em um show no Teatro Arthur Azevedo, a letra cantada foi a mesma composta, o clássico que conhecemos hoje. A quem interessar possa, a fotografia da contracapa de Shopping Brazil foi publicada no primeiro número da revista Pitomba!, acompanhada da letra de Faustina, Mona Lisa da Praia Grande.

“Ninguém vai ser torturado com vontade de lutar” – “Eu já nasci sem gravata”, canta Cesar na faixa título, que abre seu disco. No texto-manifesto O lixo é nosso!, no encarte, ele dá uma geral no conceito do trabalho, demonstrando mais uma vez o seu compromisso com os direitos humanos, já conhecido dos que conheciam seu trabalho jornalístico e/ou músicas suas gravadas anteriormente, sobretudo Oração Latina, hino de resistência à ditadura militar, originalmente escrita para uma peça de teatro em 1982 e defendida três anos depois por Cláudio Pinheiro e Gabriel Melônio, em que levou o troféu de melhor música do Festival Viva Maranhão de Música Popular. Hoje em dia não há, no Maranhão, ato de trabalhadores e movimentos sociais em que não seja cantada.

Sua atividade jornalística merece detida atenção: formado pela UFMA em 1984, foi editor de Cultura de O Imparcial entre 1986 e 88, assessor de comunicação da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos (SMDH) entre 1989 e 2002, ano em que integrou a equipe que fundou o Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante, então encartado quinzenalmente no Jornal Pequeno, onde escrevia sobre música, cultura popular, teatro e artes plásticas. Uma série de matérias sobre Zé Igarapé, cantador do Boi da Madre Deus, rendeu-lhe prêmio da Fundação Municipal de Cultura; outra, sobre Cristóvão Alô Brasil, outro compositor madredivino, seria compilada e reproduzida anos depois por este Vias de Fato, de que figura como um dos fundadores em 2009.

“Mamãe eu tou com uma vontade louca de ver o dia sair pela boca” – Em meados do ano passado, Cesar Teixeira apresentou, sob a lona do Circo Cultural Nelson Brito, o Circo da Cidade, o show Bandeira de Aço, sucesso de público e crítica. Rara oportunidade de vê-lo em ação fora dos períodos carnavalesco e junino, em que o repertório fica restrito às festividades. Para um artista de raras aparições públicas e com apenas um disco gravado, uma chance do público ver e ouvir, mais que sambas, marchinhas e toadas, toda sua versatilidade, para além da já registrada em Shopping Brazil, que trazia a linguagem do hip-hop, choro, samba, coco, boi de zabumba, xote, baião e até mesmo ladainha cantada em latim, além das participações dos hoje saudosos Antonio Vieira e Dona Teté.

“Meto a mão no bolso e o troco não dá pra embriagar” – A dose será repetida. Cesar Teixeira apresenta Shopping Brazil, o show, 3 de agosto, às 22h, no Trapiche (Ponta d’Areia). No repertório músicas do disco que empresta o título ao show, sucessos da carreira e inéditas. Os ingressos custam R$ 20,00 (R$ 10,00 para estudantes com carteira) e o público pode doar lixo reciclável, que será vendido e a renda revertida em favor das crianças atendidas pelo Centro Beneficente da Paróquia Nossa Senhora da Glória.

“Zema, enfim o lixo vira música”, avisa o autógrafo irreverente em meu exemplar do disco. Se é do “imenso Shopping Brazil” (de novo meu samba enredo desclassificado) que parte da população brasileira tira sua diversão, moda e alimentação, o disco e o show são pirões musicais de farta sustança. Para consumir in natura e reciclar a alma. Divirta-se!

Shopping Brazil tem patrocínio do Banco da Amazônia (BASA) e apoio da Fundação Municipal de Cultura (FUNC), Serviço Social do Comércio (SESC) e Sociedade Maranhense de Direitos Humanos (SMDH).

Adler São Luís no Papoético hoje (26)

Logo mais às 19h quem participa do Papoético é o compositor Adler São Luís. Ele lança o livro Substância rara (poemas, Linear B Gráfica e Editora, São Paulo, 2012) e faz show na ocasião, com participações especiais de  Ângela Gullar, Chico Saldanha,  Daffé, Joãozinho Ribeiro, Josias Sobrinho, Smith Junior e Uimar Cavalcante.

A apresentação será uma grande jam, um reencontro de amigos, aproveitando a passagem do artista pela cidade que lhe dá nome artístico — atualmente São Luís mora em São Paulo, onde está gravando disco novo, provisoriamente intitulado Repente de repente.

Debate-papo semanal articulado pelo poeta e jornalista Paulo Melo Sousa, o Papoético tem como palco o Restaurante Cantinho da Estrela (Rua do Giz, Praia Grande, em frente à Praça Valdelino Cécio). O couvert artístico para o show de Adler São Luís custa apenas R$ 5,00. A produção não informou o valor do livro.

Concurso – O Papoético está com inscrições abertas para seu concurso de fotopoesia. Mais informações na aba homônima neste blogue.

Haroldo Sabóia, este o povo apoia*

Gravei ontem minha declaração de apoio à candidatura de Haroldo Sabóia (PSol) à prefeitura de São Luís:

Outros depoimentos (Joãozinho Ribeiro, Lena Machado, Luis Antonio Câmara Pedrosa, Ricarte Almeida Santos, Wagner Cabral etc.) podem ser assistidos na página da coligação São Luís, o caminho é pela esquerda no Youtube.

*O título do post é lembrança de um jingle do passado, que permaneceu inédito.

Réquiem para ex-amigos

uns são tadeu
outros são tavares

uns claramente encastelados
outros nebulosamente cínicos

uns entrincheirados em barricadas caseiras
                                                       com medo do mundo

outros colecionando dinheiro debaixo do travesseiro

uns recolhidos e tristes
envergonhados dos sonhos esquecidos

outros na desova do renascença
secando lagoas e bumbando tambores de plástico

uns bebendo red label 12 anos baleado
outros matando a sede com guaraná jesus enferrujado

uns com dentaduras de ouro e sorrisos de porcelana
outros com panças de nervos acumulados

uns usando cintos de couro de cobra
outros visitando zoológicos imaginários

uns escrevendo em jornais de um só leitor
outros relendo bulas de remédio da última gastrite

uns fingindo que escrevem pelo pavor da página em branco
outros vomitando diarreia de versos banalizados

uns suando diariamente em esteiras e bicicletas
que não saem do lugar
outros babando em sua camisa polo lacoste

uns puxando o saco do chefe de plantão
outros lambendo suas próprias botas e feridas

uns engomando a toga do judiciário
outros se afogando entre pagodes e abadás

uns banhando em piscinas cobertas de lama azul piscina
outros mergulhando no cinza do rio anil

uns fumando baseado e rindo sem graça
outros cheirando coca e esmurrando vidraça

uns esmagando desejos em nome da dúvida
outros alisando máscaras diante do espelho

uns se entupindo de vaidade
outros cansados de procurar a verdade

uns se atolando no beco da bosta
outros se atirando no beco do precipício

uns de costas
outros do edifício

uns assim
outros assado
frente a frente
lado a lado

uns tadeu
outros tavares

filhos
do mesmo rei
da mesma lei
da mesma laia
filhos
do mesmo palácio
do mesmo paletó
da mesma saia

uns são poucos
outros nem tanto
cada um por si
todos contra todos

pelos quatro cantos da cidade
( s a l v e – s e   q u e m   p u d e r )

até que morram uns e depois os outros

(texto escrito em algum dia do ano 2004)*

*como indicou o autor, o poeta Celso Borges, em seu belo Belle Epoque (2010) | limitações do wordpress impedem-me de ao menos imitar a disposição do poema na página impressa, mais um motivo para dizer aos poucos mas fieis leitores: comprem o livro!

Grupos políticos e estrutura oligárquica no Maranhão

“A disputa política no Maranhão veio perdendo, ainda na segunda metade do século XIX, a característica de simples lutas entre famílias. Um setor político passou a controlar as instâncias de decisões, porém cada vez mais dependente do centro político nacional e submetido a suas pressões na regulagem das disputas. Apesar de atrelado socialmente aos grandes proprietários rurais, o seu locus de atuação, as relações com o aparelho do Estado e com o governo central, favoreceu a configuração de valores de identificação de grupo, sintetizados no interesse em manter o monopólio das funções de mando. Assim, é no espaço da mediação entre instâncias do sistema de poder e entre interesses privados e o Estado, que os grupos políticos se movimentam, sedimentam interesses próprios e comandam o processo de oligarquização da política”.

Flávio Reis, professor do Departamento de Sociologia e Antropologia da UFMA, na quarta capa de seu Grupos políticos e estrutura oligárquica no Maranhão (2007), esgotado. Este blogue orgulhosamente disponibiliza a raridade, leitura obrigatória, para download.

O lugar dos livros

“Na minha biblioteca tem os livros que estão comigo desde a adolescência e os chamados livros do coração, aqueles que li e tenho a esperança de reler, e ainda aqueles que comprei a partir de desejo muito forte de ler, mas que ainda não tive oportunidade de começar. Acredito que existe um tipo de livro que você precisa em determinada época. Essa obra exige uma adequação, um momento e uma hora exata para a leitura. Às vezes, você pega um livro, abre, lê duas ou três páginas e não prossegue. Depois de cinco ou seis anos, você abre aquele mesmo livro e se apaixona, lê até o final. Isso aconteceu comigo diversas vezes. Então, hesito em me livrar dos livros.”

“Sou leitor profissional, faço crítica para jornal e, por esse motivo, entrei na lista de envios das editoras. Sem pedir, recebo até 25 livros por semana em casa. E isso acaba virando um problema porque não é a toda hora que você consegue encontrar tempo para organizar e mesmo fazer uma triagem de tantos volumes.”

“Três prateleiras da minha estante quebraram por excesso de peso, e os livros estão espalhados por diversos pontos do apartamento. Comecei a fantasiar que, uma hora ou outra, o piso também vai ceder e serei responsável pela morte da família do andar de baixo, onde, inclusive, tem uma adolescente que berra o dia inteiro. Mas, apesar disso, tenho tudo bem organizado na cabeça. Se alguém precisar de um livro da minha biblioteca, é só perguntar que eu encontro. A minha organização é totalmente afetiva, não tem lógica. Na sala, devo ter uns cinco mil livros. Meu criado-mudo está uma calamidade. Outra fantasia que tenho é de morrer soterrado pelos livros do meu criado-mudo, onde deve ter uns 200 livros.”

“Traduzi para a Cosac Naify, o livro Paris não tem fim (2007), do Enrique Vila-Matas, mas eu não conhecia o autor. Depois disso, ele veio ao Brasil para participar de um evento literário, circulou e concedeu entrevistas. É comum perguntarem a um autor estrangeiro se ele conhece a literatura brasileira e, para a revista Época, ele respondeu o seguinte: “Conheço a Clarice Lispector, o Dalton Trevisan e o grande Joca Terron”. Fui o único que mereceu um adjetivo. Peguei o exemplar da revista e procurei o expediente para ver se não tinha algum amigo meu fazendo piada. Não tinha. Meses depois, recebi uma ligação telefônica de uma repórter da revista Época, a mesma que tinha entrevistado o Vila-Matas, para falar sobre um outro assunto. Perguntei a ela se o escritor catalão tinha dito aquilo mesmo. Estava em dúvida. Afinal, ele poderia ter dito “o grande Dalton Trevisan, Joca Terron” e, na edição, por descuido, o “grande” teria se aproximado de meu nome. Mas a repórter garantiu que a frase era aquela mesma e, confesso, fiquei muito feliz porque o Vila-Matas é um autor que admiro.”

“A maior probabilidade é que um livro não seja escrito. As exigências da sobrevivência, o cotidiano, tudo, absolutamente tudo, atuam contrariamente ao seu desejo de escrever. Sobrevivo da minha imagem como escritor, atuando no jornalismo, com crítica, no mercado editorial, por meio de traduções e palestras. Há todo um sistema relacionado ao universo do livro. Mas não sobrevivo diretamente da minha ficção.”

&

Recebo em casa a 12ª. edição do Cândido, jornal da Biblioteca Pública do Paraná que, ao completar um ano, salta de 32 para 40 páginas dedicadas à literatura. O título deste post “trocadilha” O lugar da poesia, manchete de capa do mensal.

Leio as sete páginas com os melhores momentos de Joca Reiners Terron no Um escritor na biblioteca, e faço isso em voz alta nos trechos acima, para minha esposa, ao lado. Guardadas as devidas proporções, há um quê de Joca no blogueiro: minha modesta biblioteca, embora menor, faz minha esposa, exagero!, pensar no dia em que não poderemos entrar em casa de tantos livros (e discos e dvds), vivo da fama de blogueiro sem ganhar por isso, tendo que me virar entre assessorias e frilas, e minha citação, pelo admirado Jotabê Medeiros, em O Estado de São Paulo, em matéria sobre a subida de Nelson Jacobina, me fez sentir algo parecido com o que o autor de Sonho interrompido por guilhotina sentiu no episódio Vila-Matas.

Minha esposa vira e retruca, entre a ironia e a compreensão: “não vai te inspirar nesse cara!”

Enquanto isso, na Federa de Nataino Sagado…

pê-Na pê-brin-pê-ca-pê-dei-pê-ra pê-do pê-pê, você insere a sílaba pê entre as sílabas das palavras. Na da UFMA, sede da reunião anual da SBPC, que começa amanhã, a onda é cortar a etra L, inúti…

Não sei de quem é a foto, a que cheguei via Sonique Mota, leitoratenta deste blogue, via facebook. Coitado do Cebolinha!

 

10 links para Cesar Teixeira

Em contagem regressiva, 10 links para os poucos mas fieis leitores (que convidarão outros muitos para lotar o Trapiche quando do acima) irem se aquecendo.

Discurso de Cesar Teixeira por ocasião de sua premiação com a comenda José Augusto Mochel, do PCdoB, como figura de destacada atuação em prol dos direitos humanos no Maranhão, ano passado.

A foto de Murilo Santos cujo detalhe serve de cabeçalho a este blogue, em que Josias Sobrinho e Cesar Teixeira fazem um par de violeiros em MaréMemória, peça do Laborarte baseada no livro-poema de José Chagas, em maio de 1974.

Antes da MPM, texto de Flávio Reis que viria a integrar seu Guerrilhas [Pitomba!/ Vias de Fato, 2012]; o artigo, originalmente publicado no jornal Vias de Fato, de que Cesar Teixeira é fundador, dá uma panorâmica na produção musical do Maranhão da fundação do Laborarte (1972) aos dias atuais; o compositor fundou também o Laboratório de Expressões Artísticas do Maranhão.

Para entender Cesar Teixeira, comentário de Alberto Jr. sobre Bandeira de Aço, show que o compositor apresentou ano passado no Circo da Cidade, publicado no jornal O Estado do Maranhão.

Caricatura de Salomão Jr. que enfeitou o texto acima.

Bandeira de Aço e êxtase, comentário deste blogueiro sobre o mesmo show.

A entrevista que Cesar Teixeira concedeu a Ricarte Almeida Santos e este blogueiro, no Chorinhos e Chorões (Rádio Universidade FM, 106,9MHz), antes do show de ano passado. Em quatro blocos, o programa traz amostra chorística da obra do compositor, em interpretações próprias e de grandes nomes da música brasileira.

Bandeira de aço, eterna, texto deste blogueiro que saiu no Vias de Fato de julho do ano passado, divulgando o show. Um ano depois, outro texto nosso sobre o show de 3 de agosto; o jornal chega às bancas e assinantes este fim de semana.

Cinco poemas de Cesar Teixeira publicados em um livro do poeta Herberth de Jesus Santos, o Betinho.

Hino latino (Oração favelense) (A Cesar o que é de Cesar), samba-enredo com três títulos, meu (letra) e de Gildomar Marinho (música), com que participamos (e fomos desclassificados na primeira eliminatória) do concurso da Favela do Samba quando a escola de samba ludovicense homenagearia o compositor.

Este blogue tem lado e diz. Que outros o farão?

(OU: SÃO LUÍS, O CAMINHO É PELA ESQUERDA)

Desde cedo aprendi que imparcialidade jornalística é quimera.

O fato é o fato; a notícia, uma forma de contar aquele. Uma forma, viram? Um repórter escreve uma matéria de um jeito, outro, de outro. Dois repórteres cobrindo determinado fato não escreverão a notícia da mesma maneira, a mesma notícia – a não ser que, prática corriqueira no jornalismo cometido no Maranhão, estejamos falando do control c control v que empesteia as redações, a blogosfera, o escambau.

Desde sempre aprendi que o compromisso do jornalismo deve ser com a verdade, com a informação, com o interesse público.

No Maranhão, notícia virou mercadoria. Este blogue, em pouco mais de oito anos de existência, nunca colocou um centavo no bolso deste que o escreve/edita. Não é a primeira vez que toma partido, declara voto, assume suas preferências, com as dores e delícias que estas envolvem.

A campanha eleitoral está nas ruas e logo chegará ao rádio e televisão. Este blogue declara apoio à candidatura de Haroldo Sabóia (PSol) à prefeitura de São Luís do Maranhão, encabeçando a chapa “São Luís, o caminho é pela esquerda” (PSol/ PCB).

O “selo” colocado à sua esquerda na página inicial permanecerá aí até o dia do pleito. O blogue não recebeu, não recebe, nem receberá um centavo por isso. Se, por acaso, a campanha da chapa PSol/PCB me encomendar algum trabalho, declararei cá no blogue, inclusive o valor da remuneração.

O que mais há no Brasil – e particularmente no Maranhão – são veículos e profissionais de comunicação que têm partido e candidato, mas não declaram. E dizem ser imparciais e assim exercer seu ofício. Este blogue o faz, como o fez, por exemplo, a revista Trip, que há tempos, pioneiramente, recusou publicidade de tabaco em suas páginas e, à época de um referendo, declarou-se a favor do desarmamento de cidadãos. No primeiro caso a atitude da revista foi um dos primeiros elementos que dariam na proibição da publicidade de cigarro no Brasil.

No Maranhão, programas de rádio e tevê, jornais e blogues são, em grande parte, instrumentos de campanha política travestidos de noticiário. Este blogue continuará suas atividades normalmente: a única coisa que faz aqui é assumir seu candidato, de que lado está nestas eleições municipais. Resta saber quantos e que outros veículos e profissionais o farão com clareza. Fica o desafio, quem topa?

Quem não gostar procure o Procon!

Jessyca Segadilha concedeu há pouco uma entrevista ao programa Balanço Geral, da TV Cidade/ Rede Record. Falava, pelo que entendi, representando o Procon/MA e a conversa com o apresentador Sérgio Murilo tinha por mote a medida da Anatel que proíbe, a partir de segunda-feira próxima (23), a venda de chips das operadoras Claro, Oi e Tim em alguns estados brasileiros. No Maranhão a proibição afeta apenas a terceira.

Não vi a entrevista inteira: quando liguei a televisão para dar aquela descansada após o almoço, o papo entre a, suponho, servidora da Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Assistência Social e Cidadania (Sedihc) e o jornalista já estava em andamento. Para além da pauta que cobria os problemas referentes aos serviços de telefonia móvel a conversa enveredou, por exemplo, por cartões de crédito e suas abusivas taxas de juros.

“Como denunciar?” À pergunta de Sérgio Murilo, Jessyca Segadilha recomendou que os clientes, particularmente no tocante às operadoras de telefonia, reclamassem primeiro junto à empresa, garantindo assim o número de protocolo e só depois reclamassem ao Procon. Passou aos telespectadores o endereço do órgão, hoje localizado na Rua do Egito, nº. 207, no Centro de São Luís.

Indagada sobre os números de telefone do Procon ela não soube dizê-los e informou que os mesmos estavam no site do órgão; questionada sobre este endereço eletrônico, “bateu um branco”, ela novamente não soube informar e recomendou aos interessados entrar no site do Governo do Estado, depois no da Secretaria de Direitos Humanos e então acessar o link do Procon.

Um tortuoso caminho – como quando você chega numa repartição e é jogado de um funcionário a outro –, burocrático e que não atende à grande maioria da população que via o misto de noticiário e entretenimento. O Procon, que deve combater, por exemplo, abusos como as infinitas transferências de ligações entre atendentes de telemarketing, “eu vou estar te transferindo para que você possa estar resolvendo seu problema”, até que você desiste, a ligação cai ou, de um modo ou outro, seu problema continua sem solução. Pela lógica da entrevistada, repito, você acessa um site, para chegar a outro e ali encontrar o link e os telefones do Procon. Isso se a internet não cair, antes de você completar a operação – o que em São Luís é muito comum, sobretudo quando chove.

Serviço – O Procon tem quatro unidades de atendimento no Maranhão (número bastante aquém do ideal. Será que adianta reclamar… no Procon?): duas em São Luís – no endereço da Rua do Egito, acima, e no Viva Cidadão da Praia Grande –, uma em Balsas e uma em Caxias. Essa informação foi dada pela Jessyca Segadilha na citada entrevista. O blogue dá aqui o que ela não soube há pouco: http://www.procon.ma.gov.br, proconsede@procon.ma.gov.br, (98) 3261-5100. Boa sorte!

Com respeito, reconhecimento e admiração

Gosto de Gilberto Mineiro. E gosto de algumas produções de Gilberto Mineiro. O apresentador do Companhia da Música, às quintas-feiras, 20h, na Rádio Universidade FM, foi o responsável por vindas à Ilha de Ceumar, Tiê e, agora, no próximo dia 14 de agosto, de Tulipa Ruiz, que lançará no palco do Arthur Azevedo seu segundo disco, Tudo tanto.

Numa capital em que ou as coisas nunca chegam ou chegam com bastante atraso é digno de elogios o trabalho de Gilberto Mineiro, ao incluir a capital quatrocentona (há controvérsias) no roteiro de lançamentos de uma artista independente, isto é, com penetração não patrocinada no mundo jabaculezado das rádios brasileiras. O radialista certamente é um dos que não pedem mais que discos em troca de executar bons nomes, daqui e de fora, em seu programa.

“IMPERDÌVEL! Mais uma vez os produtores de música ruim, a exemplo do show da Tiê, comentam que não existe público na ilha para música inteligente. Galera, vamos lotar o T.A.A. e mostrar para esse [sic] bucéfalos que existe vida além do curral deles. IMPERDÌVEL!”

Juro que não entendi o despropositado entre aspas acima, que catei no perfil do elogiado produtor no Facebook. Algumas perguntas que me ocorrem imediatamente: Tiê faz música ruim? O show dela é/foi ruim? (não assisti: liso, na ocasião, não fui, como nunca sou, agraciado com cortesias pela Musikália. Ou é Musicália?) É o próprio Gilberto Mineiro quem comenta que “não existe público na ilha para música inteligente”?

A postagem do produtor é confusa e o deita em contradição, ele que vez ou outra tira a carapuça de “blindador de cabeças” tão alardeada em seu programa de rádio para produzir shows de qualidade duvidosa à guisa de levantar uns trocados.

“Raiva é energia”, como aprendi com o rock’n roll e com meu amigo irmão Reuben da Cunha Rocha. Mas como aprendi com o dito popular, “tudo o que é demais é sobra”. É claro que uma porrada de coisa ruim me incomoda na música produzida no Brasil hoje em dia (a trilha sonora da novela Avenida Brasil, da Rede Globo, é um exemplo; os babacas com seus porta-malas abertos em cada bar, em cada praia, em cada esquina, outros); prefiro, em vez de perder tempo falando mal de Michel Teló e quetais, elogiar (e tentar conquistar fãs e ouvintes para) Tulipa, Tiê, Ceumar, Renato Braz, Curumin, Criolo, Rômulo Fróes, Rodrigo Campos e tantos outros que merecem ser ouvidos por cada vez muito mais gente.

Espero, sinceramente, ver o teatro lotado para prestigiar a produção de Gilberto Mineiro e o talento de Tulipa, que vem provando que Efêmera era mesmo apenas o título de seu disco de estreia. Espero não ter problemas de agenda (tenho viajado um bocado a trabalho) e de grana e poder estar lá, cantando junto, reafirmando postulados poéticos, “a ordem das árvores não altera o passarinho”.

Um blogueiro na biblioteca

Há quase um ano, salvo melhor juízo, tomei conhecimento do Cândido, jornal que a Biblioteca Pública do Paraná estava lançando à época. Fã confesso de Paulo Leminski, não resisti, ao ver uma caricatura sua na capa de estreia, a ligar para a BPP e ser simpaticamente atendido por um homem cujo nome não lembro agora.

Disse-lhe que era de São Luís, Maranhão, e que gostaria de receber o jornal. Ele anotou meu endereço e disse que meu nome não era estranho, que já havia lido meu blogue. Li o primeiro número do Cândido pela internet e este cuja capa é estampada pelo Leminski é o único que não tenho em minha coleção. O 2 demoraria a chegar e cheguei mesmo a pensar que aquela simpatia toda ao telefone havia sido apenas educação. O que não seria pouco.

Enganei-me, ainda bem. Mês após mês tenho recebido em minha casa um dos 5.000 exemplares de sua tiragem. Pode parecer bobagem, mas sinto-me honrado. Um jornal bonito, de capas coloridas e miolo em p&b, com conteúdo de primeira. Dedicado quase exclusivamente à literatura, já passaram por suas páginas nomes como Marçal Aquino, João Paulo Cuenca, Cadão Volpato, Sérgio Sant’Anna, Fernando Morais, André Dahmer, Joca Reiners Terron, Luiz Vilela, Luiz Alfredo Garcia-Roza e Reinaldo Moraes, entre muitos outros, para citar apenas alguns que me vêm à cabeça imediatamente, sem eu correr ali à bagunça das estantes para relembrar.

Cândido, o nome do jornal, é homenagem a “Cândido Lopes, que hoje dá nome à rua em que está localizada a Biblioteca Pública do Paraná. Lopes fundou o jornal Dezenove de Dezembro, em 1854, o primeiro impresso paranaense”, aspas extraídas de Pelas calçadas da literatura, texto assinado por Guilherme Magalhães no nº. 10 (maio de 2012, p. 13) do citado jornal literário.

19 de dezembro é a data em que nasci, quase século e meio depois, coincidência que eu só viria a descobrir ao ter em mãos aquele número do jornal. Mas não seria a primeira: em maio passado minha esposa viajou à capital paranaense para apresentar um trabalho em um seminário de Direitos Humanos. Dois dias depois, às próprias custas s/a, juntei-me a ela para um turismo na cidade em que, para meu confesso espanto, Leminski é pouco lembrado. Antes da outra coincidência, volto a Guilherme Magalhães, no citado texto: “Por outro lado, figuras de proa da literatura paranaense dos últimos 50 anos também ainda não tiveram a honra de virar logradouro, o que pode denotar o distanciamento do tempo como um critério para as homenagens. Jamil Snege, Paulo Leminski (que virou nome de pedreira e de escola, mas não de rua) e Manoel Carlos Karam (que dá nome a uma casa de leitura) ainda não foram lembrados pelos políticos curitibanos, responsáveis por propor nomes a logradouros” (p. 13). Visitei a belíssima Pedreira Paulo Leminski e sua Ópera de Arame, além de ter comido e bebido na Manoel Carlos Karam, praça de alimentação do encantador Mercado Público Municipal, passeio que recomendo a qualquer turista, com pouca grana como eu ou não.

A outra coincidência conto agora. Chegando em Curitiba, calhou de o ônibus que me levou até o hotel parar justo em frente à BPP – hospedei-me bastante perto dela –; uma visita ao órgão público já estava planejada, ao menos em minha cabeça. Num sábado de maio pela manhã – sim, em Curitiba a Biblioteca Pública funciona aos sábados de manhã – apareci por lá e pedi para falar com alguém responsável pelo Cândido. A recepção me encaminhou a Tatijane Albach, que me dispensou enorme atenção e simpatia, levou-me para conhecer parte das dependências da BPP, que passava por reforma e tinha alguns setores fechados, e ainda me deu alguns presentinhos, além de apresentar-me alguns projetos.

O Um escritor na biblioteca, a plateia conversa com um escritor, com moderação de um jornalista, é uma reedição de projeto da década de 1980; os melhores momentos dos debate-papos têm sido reproduzidos Cândido após Cândido, devendo virar livro em breve; assim como deve ganhar reedição um livro já publicado com os participantes de há 20 e poucos, 30 anos.

Tatijane brindou-me ainda com um exemplar de Helena (ano 1, número zero, junho de 2012), revistão colorido de 114 páginas, anunciada na contracapa como “um pouco de muito da nossa cultura”, o nome, uma homenagem à poeta Helena Kolody. “A gente tem uma tradição de publicações com nome de homens, o Cândido, a Joaquim [revista editada há tempos por Dalton Trevisan]”, ela deve ter citado outros, “agora a Helena, uma mulher”, explicou anunciando a publicação trimestral da BPP.

Voltei ao hotel para guardar o pacote com Helena e alguns exemplares do Cândido antes de prosseguir o passeio com a esposa; Tatijane desceu as escadas e foi comprar pão de queijo para um café com que ajudaria a espantar o frio nem tão rigoroso assim que fazia aquela manhã em Curitiba.

Tatijane e o blogueiro, quando este visitou a BPP