[O Debate de ontemanteontem, sábadomingo, 16/17 de outubro de 2010. Problemas na diagramação da página “truncaram” o texto, que teve alguns trechos omitidos. Abaixo, a íntegra da entrevista]
De autoria do patrono José Louzeiro, este é o lema da IV Feira do Livro de São Luís, que acontece de 12 a 21 de novembro, nas praças Maria Aragão e Gonçalves Dias, Espaço Cultural e Semed (Rua Rio Branco). O Debate entrevistou José Maria Paixão Filho, o Professor Paixão, que coordena o maior evento literário do Maranhão.
ZEMA RIBEIRO
EDITOR DE CULTURA
José Maria Paixão Filho é formado em Ciências Contábeis pela UFMA, tem mestrado em Economia com especialização em Comércio Exterior, dentro da área de Economia – assim ele se curriculou à reportagem. Desde 2009 o professor do Uniceuma é o Coordenador da Feira do Livro de São Luís. A FELIS, sua sigla-alcunha, chega à sua quarta edição este ano, a segunda na gestão do tucano João Castelo na Prefeitura de São Luís e de Euclides Moreira Neto como presidente da Fundação Municipal de Cultura (FUNC) – o equivalente a secretário municipal de Cultura, guardadas as devidas proporções.
Apesar da pouca idade a FELIS já é considerada “o maior evento literário do Estado”. Sofreu duras críticas, inclusive por parte deste repórter, ano passado, quando foi diminuída. Professor Paixão, como é simplesmente chamado, culpa o pouco tempo que teve para realizá-la: “Sofremos um grande desafio, pois quando eu tive essa notícia era julho, e eu havia chegado em junho para fazer o PPA, e só depois fomos fazer a Feira. Foi muito complicado trabalhar a Feira do Livro ano passado”, justifica(-se).
A IV FELIS acontece dentro de menos de um mês, entre os dias 12 e 21 de novembro, nas praças Maria Aragão e Gonçalves Dias, Espaço Cultural e no prédio da Secretaria Municipal de Educação (Semed, Rua Rio Branco, Centro, próximo ao par de praças), que se transformará na Casa do Professor, com palestras voltadas a este público durante toda a Feira.
O Debate conversou com o Professor Paixão no gabinete da presidência da FUNC, cuja sede fica em frente à Fonte do Ribeirão, um dos cartões postais da capital maranhense – como vários outros, bastante maltratado pelo descaso. Era uma manhã de terça-feira ensolarada por sobre o abrigo da serpente. Euclides Moreira Neto estava no Gabinete, despachando, e vez por outra, forneceu alguma informação ao entrevistado, cuja idade não revelou, entre um sorriso e um “a minha calvície não diz tanto”. Simpático, fala como um professor, quase sempre fazendo uma pergunta para ele mesmo responder em seguida. Quase sempre fala em primeira pessoa e vez por outra emenda temas, como a adivinhar as próximas perguntas do repórter – dos espinhosos, como a relação com o Governo do Estado, escapou diplomaticamente.
O professor Paixão recebeu a reportagem de O Debate na sede da FUNC. Foto: ZR
O Debate – Como você chegou a coordenador da Feira do Livro de São Luís?
Professor Paixão – Eu vim para a FUNC agora na gestão do professor Euclides. Na verdade eu vim para fazer o PPA. Fiz o PPA da FUNC e ele gentilmente me convidou para ser coordenador da Feira do Livro. No início eu disse pra ele, pois achava que a Feira era uma coisa altamente suntuosa, artística, o gestor anterior tinha sempre essa tendência, a arte estava bem pronunciada dentro do processo, e eu de repente disse a Euclides: ‘eu não sei mexer com isso’. Ele disse que não: ‘administrar você sabe. Então você consegue fazer a Feira do Livro’. Sofremos um grande desafio, pois quando eu tive essa notícia era julho, e eu havia chegado em junho para fazer o PPA, e só depois fomos fazer a Feira. Foi muito complicado trabalhar a Feira do Livro ano passado. Tivemos que escutar muito as pessoas que já eram parceiros e já tinham comprometimento de seus orçamentos. Mas os grandes parceiros, como SESC, Semed, Vale e UFMA estiveram presentes e não nos abandonaram de uma Feira para outra, de uma gestão para outra. Por que isso tem que ser dito: a coisa muda totalmente, há uma ruptura, o que é complicado.
O Debate – Poderíamos dizer que o Professor Paixão cuida da parte administrativa, da parte mais burocrática da Feira do Livro?
Prof. Paixão – Eu trato de tudo, tudo da Feira do Livro.
O Debate – Inclusive da questão artística, programação?
Prof. Paixão – Aí é o seguinte: nós temos as equipes: equipe de programação, cenografia, montagem, trabalhamos com nossos arquitetos, assessoria técnica. Cada pessoa tem uma função. As funções são distribuídas, a área de comunicação também. Essas funções a gente vem trabalhando desde março, alimentando todo processo.
O Debate – A gente tem percebido no Brasil, em outras capitais, onde existe essa tradição de feiras literárias, que as feiras têm se tornado grandes festas, inclusive com caráter internacional, e isso ainda não é percebido aqui em São Luís, ou é feito de forma muito tímida. Há alguma perspectiva para a Feira do Livro de São Luís nesse sentido?
Prof. Paixão – É o tipo da coisa: quando você fala festa, complica um pouco, né? Eu fui agora para Belém e realmente foi uma festa. Por que nós tínhamos lá diariamente um show de Gilberto Gil com um show de Ivete Sangalo, num dia; no outro dia tinha Preta Gil com não sei quem. Então, cada dia tinha dois cantores diferentes, quer dizer, a Feira é impulsionada pelo artístico. Havia a necessidade de dez da noite parar a feira e começar o show artístico lá fora. A Feira estava sempre movimentada. Não estou falando mal da Feira, pelo contrário: é uma grande Feira, a Feira de Belém, tanto que eu convidei a coordenadora geral de lá para vir dar uma palestra sobre a Feira de Belém, ela será uma das palestrantes esse ano. E também é muito rico na Feira deles, o processo que eles trabalham lá é totalmente diferente da gente. Se você verificar Rio Grande do Sul, verificar Belém, não vamos botar São Paulo, que é bienal, mas se você verificar as feiras de livro, realmente, o quê que acontece?: os patrocínios são muitos. Nós não trabalhamos com patrocínios, trabalhamos com um correalizador chamado SESC, que é muito forte, e nós trabalhamos com a Prefeitura, e a Vale, que também dá uma ajuda pra gente todo ano. Então, quer dizer, se você olhar a nossa camisa dos patrocinadores, são muito poucos. Lá não, eles fazem questão de participar da Feira do Livro. Agora, isso vem de quanto tempo?: 56 anos no Rio Grande do Sul, Belém, não ‘tou lembrado [“15 anos”, refresca Euclides]. Nós estamos com quatro anos, temos um espaço muito pequeno em comparação com as outras Feiras: no Rio Grande do Sul é feito no meio da rua, tem uma área fechada totalmente, com hangares do antigo porto, que é uma coisa maravilhosa, eles usam um espaço imenso. Belém: tem um hangar maravilhoso, com auditórios para mil pessoas, 500 pessoas, todo modulado. O quê que nós temos aqui, em espaços? A [praça] Maria Aragão e o Espaço Cultural para realizar a Feira do Livro. Outro espaço nós não temos disponível. Pela Prefeitura, né? Ano passado, até nisso sofremos um pouco, na questão de não ter mais nomes para trazer para a Feira. Esse ano não, estamos trabalhando já com as agendas, os patrocínios. Como eu falo para você, o nosso copatrocinador é o SESC…
O Debate – [Interrompendo] Foi percebida uma diminuição na Feira ano passado em comparação com as duas anteriores.
Prof. Paixão – [Devolvendo a interrupção] Sobre…
O Debate – Por exemplo, os stands de livreiros ficaram no Espaço Cultural, a programação foi diminuída, a praça Maria Aragão ficou praticamente só com stands institucionais. Cito de memória, mas isso, de certa forma, já está explicado pela questão do pouco tempo que vocês tiveram…
Prof. Paixão – [Interrompendo novamente] Não, e esse ano o projeto é o mesmo. Se você soubesse, ano passado, a resistência de colocar aqueles livreiros dentro do Espaço Cultural. Foi 15 dias antes de acontecer a Feira. Foram resistentes. Quando voltaram de Belém, foi que disseram ‘agora a gente vai participar da Feira’. Detalhe: não cobramos nada para os livreiros [“eles não pagaram um centavo”, interrompe Euclides, de sua mesa, o entrevistado pega o gancho:], eles não pagaram um centavo pra gente. E ficaram numa disposição bem parecida com esta aqui [aponta um esboço arquitetônico com a disposição dos stands no Espaço Cultural], dentro do Espaço Cultural e aqui ficaram os institucionais [aponta no croqui a Praça Maria Aragão]. Os espaços eram pagos anteriormente. O que se tem de notícia é que custavam mil e oitocentos reais por livreiro. Ano passado não cobramos nada e amanhã terei uma conversa com eles sobre questões de espaço. Por que nós temos não só a ALEM, que é a Associação de Livreiros do Estado do Maranhão, nós temos também os independentes que vêm e querem um espaço pra eles e a gente acha interessante fazer esse compasso, de livreiros independentes com livreiros maranhenses. Por que deixar os institucionais na praça? Achei interessante até para não aglomerar, como acontecia na primeira a na segunda Feira: esses livreiros aqui [aponta novamente o croqui], junto com os institucionais, era muito apertado, não se tinha espaço. Aí veio a minha veia artística. Qual foi a ideia que eu tive? Deixar somente os institucionais e não tirar o efeito da praça ser uma praça. Eu acho que a praça Maria Aragão tem que ficar com o aspecto que é uma praça. Até para os arquitetos, eu peço espaço. Olha como tá aqui o palco do SESC, bem separado [aponta, no croqui, a distância entre o palco do SESC e o palco “natural” da praça Maria Aragão], por que se tiver um evento aqui de última hora, a gente tem como abrigar. Nós temos três pracinhas, então ‘tá bem distribuído. Esse ano ‘tá mais tranquilo, os projetos saíram cedo, desde março nós estamos trabalhando na Feira, já passamos alguns nomes [que integrarão a programação] para nossos parceiros.
O Debate – Qual o orçamento da Feira para este ano?
Prof. Paixão – Na verdade, estou fechando. Tenho uma previsão de 2 milhões e 400 mil reais. Uma previsão. Com os impostos.
O Debate – São oito dias?
Prof. Paixão – Dez dias. Dez dias de Feira.
O Debate – Já teve um momento de as pessoas fazerem suas inscrições, apresentarem seus projetos, o que já está confirmado?
Prof. Paixão – Teve as convocatórias. De palestras, ‘tá lotado. Palestras internas, ‘tá lotado. As externas faltam só confirmar com os parceiros de São Luís para poderem ajudar na questão dos honorários dos palestrantes externos. Eu tenho que fazer primeiro umas colocações para tu poderes entender essa questão de palestras. Eu fiz inserção, esse ano, socialmente falando, da questão do surdo-mudo, do cego, dos meninos de risco [sic]. A Biblioteca Municipal do Bairro de Fátima tem um trabalho junto com uma ONG de lá sobre meninos de risco, e também incluí, achei interessante, nas Feiras que visitei, a questão da literatura de cordel, que é muito pobre no Maranhão. Então eu ‘tou trazendo aqui o [poeta popular] Arievaldo Viana. Aqui temos alguns nomes que eu posso passar para você, mas não fechado, en passant [frisando]: [o repórter global] Caco Barcelos, [o educador] Celso Antunes, [o poeta e contista] Fabrício Carpinejar, Pedro Bandeira, na literatura infantil, Marcio Vassalo, na parte de educação, Sofiane Labidi, que é de São Luís, e vem falar sobre outra preocupação que eu tive. Como nosso tema esse ano é o livro, então eu tive a preocupação de pegar uma história do livro desde quando surgiu até os dias atuais. O que é de atual? E-books. A Feira será aberta com uma palestra sobre e-books e uma discussão literária no Café Literário com os literatos, Sofiane Labidi enquanto literato, sobre e-books, no sábado a palestra e domingo a discussão literária, e Antonio Albino Rubim [professor da UFBA], que é da Bahia, e os palestrantes graduados, professores, doutores, mestres de São Luís também estão aqui. Espero que a gente consiga fechar, por que os valores [dos cachês dos palestrantes] são altos. A gente tem que trabalhar bem o “quem pode fazer o quê”: a Prefeitura sozinha não pode trabalhar a Feira. Ela banca a Feira. O orçamento da Feira, pode se dizer, é Prefeitura, é a Prefeitura quem paga. Mas nós temos o copatrocinador SESC, que é um grande parceiro [volta a enfatizar], Semed, Vale, UFMA, são grandes parceiros que nós temos.
O Debate – Antigamente havia uma diferenciação entre artistas locais e artistas nacionais. Qual era a notícia que chegava pra gente? Falo da gestão anterior, as duas primeiras Feiras: o autor nacional vinha, com tudo bancado e recebia um cachê alto. Os autores locais acabavam ocupando o espaço da Feira, que é importante, para lançar seus livros, mas simplesmente para divulgar seus trabalhos, não tinha cachê. A gestão atual pensa em modificar isso?
Prof. Paixão – Nós já pagamos cachê ano passado.
O Debate – Qual a sua opinião sobre iniciativas como a Feira do Livro do Shopping, que está acontecendo no São Luís Shopping [até ontem, 17], iniciativa da ALEM?
Prof. Paixão – Maravilha! Estou sentindo muito é que não tenham me comunicado. Se tivessem me comunicado eu teria dado minhas ideias e teríamos frutificado isso daí. Eles estão sempre com a gente aqui. Desde março que a ALEM está com a gente. E é uma maravilha. Eu acho que eles estão certos. Eles têm que fazer o nome deles, e não é só esperando Feira do Livro de São Luís. Estão corretíssimos. E que eles façam isso não só uma vez: num shopping, numa praia, num local, num sítio…
O Debate – Como é a participação do Governo do Estado na Feira do Livro de São Luís?
Prof. Paixão – Nenhuma. Nenhuma. Eu procuro… [interrompe-se] Desculpa. Eu falo nenhuma, mas eu procuro e pelo menos na questão da educação a Seduc sempre vem. Eu falo nenhuma assim, de uma ajuda maior.
O Debate – Na verdade seria uma obrigação. A Feira tem só quatro edições, está indo para a quarta, aliás, mas já é o mais importante evento da área no Maranhão…
Prof. Paixão – Sabemos que há questões políticas muito envolvidas em tudo isso, mas não sou a pessoa mais indicada para responder isso. O Governo do Estado, como a Governadora Roseana fez com Imperatriz, ela bancou a Feira do Livro de Imperatriz. O Governo do Maranhão, não só a governadora Roseana, esquece a Feira do Livro de São Luís. A Seduc eu acho até que meio que se sente na obrigação de vir. Não estou falando da Secretaria de Educação: estou falando do Governo do Estado, nesse aspecto. Nós temos tanta coisa bonita feita pelo Governo do Maranhão, e no momento em que isso poderia ser exposto numa Feira do Livro, não se tem essa abertura.
O Debate – Fora palestrantes, o que já temos, de nível nacional, confirmado? Soube da confirmação do patrono José Louzeiro [jornalista, roteirista e escritor maranhense radicado há décadas no Rio de Janeiro, autor de Pixote e Lúcio Flávio, entre outros]. E outros autores?
Prof. Paixão – É isso que eu ‘tou te falando aqui. Tem essa relação que eu te disse, desses autores aqui, que vêm, José Louzeiro também. Só isso daqui enche a Feira. Se trouxer um desses por dia, entendeu? Eu tenho um nome nacional por dia, é importante. Nós tivemos três nomes nacionais, eu acho, ano passado, na Feira, e olhe lá, foi a maior dificuldade. Foi Maria do Socorro Aragão, que até está fazendo um projeto aqui em São Luís, está sendo homenageada, acho que vou convidá-la novamente para vir. Foi o [cantor, compositor e escritor] Chico César, [um representante d]a Feira do Rio Grande do Sul também esteve aqui, falando sobre a Feira do Livro do Rio Grande do Sul, de cabeça eu me lembro esses três, de nacionais, mas tivemos outros nomes, com certeza, mas não com aquele nome forte, de encher auditório. Por que a história das pessoas é encher o auditório. Mas às vezes isso é complicado. Eu tive com [o presidente da FUNC] Euclides [Moreira Neto] ano passado no Rio de Janeiro, falando com Ferreira Gullar sobre a Feira, foi quando ele aceitou ser patrono. Infelizmente ele não pode vir, por não viajar mais de avião, e tentamos falar muito com Chico Buarque de Holanda, para lançar o livro dele aqui. Não tivemos condições de falar com ele. Existem alguns imbróglios, que a gente não chega nem na assessora. Ela atendeu uma vez a gente, dizendo que a gente ligasse dia tal, fizemos todos os contatos, nada. Não respondem, nem por e-mail, nem por telefone, nem por nada. Então, tem uns complicadores. A gente vai atrás das pessoas, as pessoas não querem. Esse ano, na verdade, eu acho que é outra Feira; era incipiente para a gestão e, na verdade, esse ano, o professor Euclides pegou o rumo, eu também peguei o mesmo rumo de entendimento de Feira… vamos ter falhas? Sempre teremos, disso ninguém tem dúvidas, é normal, do processo. Não sei se você ‘tá sabendo, nosso tema é o livro e a frase, que o Zé Louzeiro, eu pedi para ele mesmo fazer a frase para mim, sobre o livro, e ele escreveu “O livro é guia e instrumento da sabedoria”, lema da Feira.
O Debate – Além de Louzeiro, quem serão os homenageados da Feira?
Prof. Paixão – Os homenageados da Feira são Maria Aragão, pelos seus 100 anos e pelo seu trabalho na área médica e política; da AML foram indicados por eles dois nomes: Carlos de Lima e José Maria Ramos Martins, que este ano completa 90 anos; na área artística será homenageado Reinaldo Farah; na área da pedagogia e pesquisa Rosa Mochel; e na área médica e religiosa João Mohana. Estas serão as nossas homenagens desse ano.