FELIZ 2010, CAMBADA!

Deixo vocês com a letra da faixa-título do mais novo disco do Criolina (cliquem pra ouvir, mas comprem o disco, tá? Em São Luís à venda na Playsom, Tropical Shopping; Livraria Poeme-se, Praia Grande; Banca da Praia Grande; Banca do Renascença II, em frente ao Tropical; Banca ao lado do Bobs, Renascença; Back Beat; e Pousada Portas da Amazônia). Recomendo que ouçam o disco todo (quem ainda não o fez em 2009; quem já o fez, continue, em 2010): vale muito a pena. Por que ano novo ouvindo a música que a minha vizinhança ouve: ninguém merece! Vão de Criolina que o bagulho é bom!

CINE TROPICAL
(Alê Muniz e Luciana Simões)

Quem dera
Se fosse sempre primavera amor
Quem dera
Se fosse sempre reveillon
De branco o ano inteiro
Chapéu panamá
Champagne do bom
E sete ondas pular
E pedir pra iemanjá
Por nós dois
Nós dois
Românticos à beira mar
Hold me tight, hold me tight, coracion

*

Tudibom procês! Hasta!

LENA É SHOW E FAZ SHOW!


[Foto: Rivânio Almeida Santos]

Tomo emprestado o entusiástico título do e-mail que recebi da amiga Joisiane Gamba convocando uma turma de amigos para se reunir hoje no Cantinho da Estrela, segundo ela escreve “para se abraçar e energizar para a passagem de ano”. O e-mail, as boas energias, a reunião de amigos, o restaurante, já configurado como um importante espaço para a boa música produzida em São Luís do Maranhão, tudo faz jus a Lena Machado (foto), essa grande amiga, esse grande talento, e o bonito show que ela preparou e que todo mundo que me lê por aqui já sabe os motivos de seu adiamento: é hoje, turma, se liguem! (enquanto isso a televisão não para de mostrar os prêmios ganhos pela Cemar, a empresa que mais cresceu em não sei o quê e não sei o quê mais em 2009).

Muitos suspeitam o porquê de eu falar tanto de Lena Machado. Seria por amizade? Garanto-lhes que não. Ainda lembro (e essa é mais uma história certamente já conhecida dos que aqui me leem), se não exatamente o dia, como nos conhecemos: eu trabalhava na Sociedade Maranhense de Direitos Humanos e ela na Cáritas Brasileira Regional Maranhão (onde hoje trabalhamos juntos e não é raro ser presenteado no meio do expediente com seu belo canto) e então produzíamos o aniversário de 26 anos da SMDH. Em 12 de fevereiro de 2005 um show comemorativo reuniria no mesmo palco o Bloco Afro Akomabu, Gildomar Marinho, Joãozinho Ribeiro, Cesar Teixeira e ela, de quem até então eu nunca tinha ouvido falar. Indicaram seu nome para compor a programação e eu, sem nunca tê-la ouvido, confiando na indicação (não lembro de quem) e na causa (era ligada a uma organização de direitos humanos também), soltei a moça entre as feras.

Ninguém se arrependeu: Lena Machado mostrou que entendia do riscado e fez bonito, interpretando João do Vale, Antonio Vieira e Humberto de Maracanã. Já demonstrava ali, sabedoria, no melhor sentido da palavra, inclusive ao valorizar compositores maranhenses. O resto é história (mais uma já conhecida dos leitores): no ano seguinte a Cáritas completava 50 anos de atuação no Brasil. O Regional Maranhão do organismo da Igreja Católica, de atuação internacional, bancou Canção de Vida, disco promocional “institutional” que seria a estreia de Lena Machado, onde ela interpretava diversas músicas que marcaram a atuação da Cáritas no Maranhão e de outras organizações ligadas à defesa, promoção e proteção dos direitos humanos: Milhões de uns (Joãozinho Ribeiro), Oração latina (Cesar Teixeira), de onde foi tirado o verso-título do disco, O que é o que é? (Gonzaguinha), Sem resposta (Chico Canhoto), Sobradinho (Sá e Guarabira), Minha história (João do Vale), entre outras.

O ano que se encerra deveria ter marcado o lançamento de seu Samba de minha aldeia, já completamente finalizado. Motivos de força maior não permitiram, mas este seu segundo disco chega logo no acender das luzes de 2010 e é possível que uma noite de autógrafos aconteça ainda em janeiro (show de lançamento mais pra frente). Quem quiser ver, ao vivo, parte deste belo trabalho, apareça hoje, às 20h, no Restaurante Cantinho da Estrela (Rua do Giz, 175, Praia Grande, em frente à Praça Valdelino Cécio). O ingresso custa apenas R$ 10,00. Lena Machado estará acompanhada pelOs Pregoeiros: João Eudes (violão sete cordas), Rafael Guterres (cavaquinho), Osmarzinho (saxofone), Wanderson (percussão) e Lazico (percussão). E quando eu falo em “ver parte deste belo trabalho” não é por ela simplesmente guardar surpresas: é que ela também vai cantar Suely Mesquita, João Nogueira, Chico Buarque, Paulo César Pinheiro, Caetano Veloso, Nelson Cavaquinho, Paulinho da Viola e Sivuca, entre outros.

A noite promete: primeiro arrastam-se as cadeiras para esvaziar o salão. Depois enche-se o salão, todo mundo arrastando o pé no samba e no choro. De alegria: a ótima noite anunciando um ótimo ano.

LOKI, O DOC

Todo mundo já disse tudo sobre Loki. Vai aí meu comentariozinho inútil. Não estranhem os grandes espaços sem posts: tenho tido problemas para postar aqui. Espero não mais demorar tanto.


[Loki. Capa. Reprodução]

Primeiro longa-metragem produzido pelo Canal Brasil, o documentário Loki [2009] é a cinebiografia de Arnaldo Baptista, um dos mais inventivos nomes já surgidos na cena da música popular brasileira. Gênio é epíteto mais que cabível, ele que, ao lado do irmão Sérgio Dias e de Rita Lee Jones, formou Os Mutantes e reinventou o rock, dando a um ritmo estrangeiro características brasileiras, tornando-o brasileiro, digamos sem meias palavras, praticamente antecipando tudo o que aconteceria depois.

Por si só, o filme, que leva o mesmo nome do mais conhecido álbum-solo de Arnaldo Baptista [Loki], lançado imediatamente após sua saída dOs Mutantes [1974] já teria, tão somente no fato de existir, alguma importância para o público brasileiro interessado em música. Sem rótulos. E vai além. Apoiado em diversos depoimentos de personagens assumidamente fãs do artista, Loki vai fundo ao mostrar um Arnaldo Baptista como jamais se viu. “Ele é arte”, diz um deles, a certa altura. O filme de Paulo Henrique Fontenelle quer recolocar o mutante (uma vez mutante, para sempre mutante) no seu devido e merecido lugar.

Passeiam pelas duas horas de material nomes como Tom Zé, Gilberto Gil, Liminha, Sérgio Dias, Zélia Duncan, Lobão, John Ulhoa, Sean Lennon, Kurt Cobain, Devendra Banhart, Nelson Motta, Rogério Duprat e Lucinha Barbosa, entre outros. Em determinada passagem, o filho do Beatle diz que o mutante tem “alma de criança”. É o que vemos no doc, embora o depoimento não seja óbvio. Alma de criança artista, eu acrescentaria.

Entre imagens feitas especialmente para o documentário (Arnaldo em seu ateliê em Juiz de Fora/MG, entre tintas e pincéis, por exemplo) e várias imagens de diversos acervos, grande parte rara (como quando Os Mutantes se juntaram a Gilberto Gil para defender o Domingo no parque do baiano em festival e quebrar de vez as barreiras que até então separavam o rock da música brasileira), a lacuna sentida, essa sim óbvia, é Rita Lee: não há depoimento dela e todos que vimos o filme já sabíamos que não haveria. E a meu ver, o maior erro de Loki é o grande espaço dado a ela, apesar de sua importância para o cinebiografado, para Os Mutantes e para a música brasileira.

Loki (já disponível em dvd), vencedor de diversos festivais no Brasil e no exterior, exibido e re-exibido pelo Canal Brasil, integrou a programação da 3ª. Mostra Maranhão na Tela, realizada em São Luís no início do mês.

BRASILEIROS

De gaiato apareço (literalmente: ‘fotinha’ minha ilustra o pequeníssimo texto) na seção Brasileiros recomendam, da revista Brasileiros (nº. 29, dezembro/2009):

BAR DO LÉO
Zema Ribeiro, jornalista, São Luís (MA)

Encravado no Mercado do Vinhais, em São Luís do Maranhão, o Bar do Léo pode ser considerado um museu da música brasileira. Aficionado por música, Leonildo Martins reuniu um acervo que soma mais de 15 mil títulos, dentre fitas k7, vinis e CDs. A decoração é outro atrativo, objetos antigos, instrumentos musicais, além de capas de discos. No cardápio, cerveja gelada e uma famosa tripinha de porco.

*

Entre os destaques da edição, Como entrevistar um vampiro, por Luiz Rebinski Junior, sobre o novo livro de Dalton Trevisan (Violetas e Pavões, Record, 2009) e sobre uma das únicas entrevistas do contista, ‘concedida’ a Mussa de Assis para o Suplemento Literário do jornal O Estado de São Paulo em 1972, e as entrevistas com Boris Schnaiderman (Moscou em chamas), tradutor de Maiakóvski (é ele a pauta da conversa com Alex Solnik) e mais uma pá de russos para o Brasil, e o Tim Maia inédito, entrevista do síndico a Marcio Gaspar em 1995.

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Ninguém esperava. Nos últimos tempos de vida, de fato, ele não estava bem, ele se sentia acuado, o partido fazendo críticas à obra dele. “Operários e camponeses não compreendem o que você diz”. Que ele escrevia difícil demais. Ele respondia: “Mas a culpa não é minha, vocês é que não instruíram o povo suficientemente”.

Boris Schnaiderman, sobre o suicídio de Maiakóvski

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Mas aí, estoura a música, né? Porque ele executa dez vezes por dia, aquela porra “nhem, nhem, nhem” no ouvido do cara… Nas televisões, a mesma coisa. É jabá pra todo mundo… O Silvio Santos tem menos. Acho que os programas dele são muito ruins, então não dá pra ele, entendeu (gargalhadas)? O Silvio Santos é ruim demais. O Show do Silvio Santos, meu amigo… Outra coisa que eu gostaria de falar, quero mandar um recado pro Caçulinha. O Caçulinha tinha um conjunto maravilhoso no Canal 7; porra, acompanhava aqueles artistas todinhos: Elis Regina, Jair Rodrigues, esse pessoal todinho. Pô, um cara muito simpático… o Caçulinha é super benquisto no meio artístico. Não sei por que ele atura aquilo, cara! Agora, colocaram ele com um negócio de chifre, já viu? Tem um chifre na cabeça dele, cara! Você não viu não? Uma vez, botaram ele na geladeira, não sei se você viu, botaram na geladeira! É, um pinguim na geladeira, com aquele pianinho. E fica o Faustão, o programa inteirinho sacaneando o “coiso”… E ele mesmo não toca nada naquele programa! Tem uma hora que ele faz: “Toca, Caçulinha”! (imitando o Fausto Silva): “Ó o nariz do Caçulinha! O Caçulinha é um babaca!”. O Caçulinha é o saco de esporro, o saco de pancada… Pô, por quê? Gostaria até de convidar o Caçulinha pra tocar com a gente na banda Vitória Régia; a gente arruma uma sanfoninha pra ele, pode até vir com o pianinho dele, coitado… Ele não precisa daquilo, é um cara de renome! Antes do Fausto Silva chegar, o Caçulinha já estava aí há anos… Acho aquilo tão ridículo… Deviam botar o Bonifácio Sobrinho lá de chifre e o Roberto Marinho dentro da geladeira. Isso eles não fazem. Fica lá o Faustinho puxando o saco do Roberto Marinho. “Oi, seu Robertinho. Como vai, tudo bem? Tudo bem, seu Roberto?” Isso é uma coisa que denigre a imagem de um músico, saca? O músico fica esculachado, o músico é um saco de piadas. Músico é pra tocar música! Não pra ficar ali, sendo motivo de chacota.

Tim Maia, fazendo o que entendia

DUAS GRANDES MULHERES DA MÚSICA BRASILEIRA

Ignez Perdigão é daquelas artistas que, como muitos no Brasil, não têm o reconhecimento que merecem.

Mas como “ser famosa” é o de menos, ela vai, como podemos dizer, “correndo beirada”. Atualmente integra o Choro na Feira, importantíssimo grupo da cena choro brasileira, formado no Rio de Janeiro, mais precisamente na Feira de Laranjeiras.

Ignez Perdigão, depois de tanto tempo, está em São Luís — a última vez em que apareceu por aqui, acompanhava Mário Lago, em show que o compositor-escritor-ator apresentou por aqui.

Multi-instrumentista (toca cavaquinho, flauta e violão), ela se apresenta sábado no Clube do Choro Recebe, último sarau do ano.

Abaixo, Ignez Perdigão (cavaquinho), aparece ao lado de grandes figuras da música brasileira, como ela própria: Arthur Moreira Lima (piano e apresentação), Paulo Moura (clarinete), Zé da Velha (trombone), Joel Nascimento (bandolim), Luciana Rabello (cavaquinho), o também maranhense João Pedro Borges (violão), Heraldo do Monte (violão), Jorginho do Pandeiro, Zé Menezes (violão tenor) e Raphael Rabello (violão sete cordas), executando o clássico Vibrações, de Jacob do Bandolim, choro que batiza seu mais conhecido disco (a qualidade do áudio não é das melhores, mas trata-se de registro histórico: este vídeo — falo dele, não do disco de Jacob — tem, certamente, mais de 30 anos).

*

E em primeiríssima mão: Lena Machado (a outra grande mulher da música brasileira a que se refere o título deste post) apresenta seu Canto de Feira (sim, o show da Feira de Economia Solidária, cancelado por falta de luz) dia 30 (quarta-feira que vem), às 20h, no Restaurante Cantinho da Estrela (Rua do Giz, 175, Praia Grande, em frente à Praça Valdelino Cécio), espaço que vem se consolidando como importante palco da boa música, em São Luís. A cantora, cujo segundo disco, Samba de Minha Aldeia, ficou mesmo para o começo de 2010 (tal qual o novo livro de Celso Borges), será acompanhada pelOs Pregoeiros: João Eudes (violão sete cordas), Rafael Guterres (cavaquinho), Osmarzinho (saxofone), Wanderson (percussão) e Lazico (percussão). Os ingressos custam apenas R$ 10,00.

Então é isso: sábado, 26, e quarta-feira, 30, não me venha dizer que não tem aonde ir.

SÃO LUÍS: ILHA DOS APAGÕES

Comemorando meus 28 anos de idade, completados sábado passado (19), acabei não indo ao show de minha amiga Lena Machado, que integrava a programação da 3ª. Feira Estadual de Economia Solidária e Agricultura Familiar, na Praça da Casa do Maranhão.

Qual não foi minha surpresa, ao encontrá-la ontem (21), fico sabendo que o show simplesmente não aconteceu.

Um apagão, dia desses, deixou o Sudeste inteiro no escuro, suficiente para que a imprensa da região falasse (e tivesse eco em blogues, twitters etc.) durante um bom tempo – aliás, até hoje ainda se fala nisso, não é?

Calma! Não estou dizendo que a Praia Grande é o Sudeste. Mas, guardadas as devidas proporções, soa estranho o silêncio de nossos meios de comunicação – embora confesse que minha leitura deles está defasada – sobre estes pequenos apagões que têm incomodado aqueles que buscam bons espetáculos, gratuitos, na Ilha.

Se não, uma pequena retrospectiva da feira que cito acima:

a) quinta-feira, dia 17: blecaute geral. Passei dirigindo pela Avenida Beira Mar e o cenário completamente escuro dava até medo. Resultado: não aconteceu o show de Célia Sampaio e Bloco Afro Akomabu, programado para o primeiro dia da Feira. Pensando que a Cemar seria capaz de sanar os problemas, adiou-se a apresentação para o dia seguinte;

b) sexta-feira, dia 18: qual não foi a surpresa, novo apagão. Quem ainda conseguiu se apresentar foi o Tambor de Crioula de Mestre Apolônio, dada a característica acústica dessa manifestação cultural. Célia e o Akomabu, dependendo de som, palco e luz, novamente não puderam fazer seu show;

c) sábado, dia 19: nem preciso dizer que Lena Machado e Os Pregoeiros também não conseguiram fazer seu show pelos mesmos motivos dos dois dias anteriores.

Seria cômico se não fosse trágico, para soar clichêzão mesmo, como têm se tornado clichês os apagões em eventos em São Luís: três dias de Feira de Economia Solidária e a organização não consegue resolver o problema dos apagões? Parece brincadeira! – para se ter uma ideia, o Governo do Maranhão tinha, no material publicitário do evento, três bandeiras “viva” de suas secretarias de estado (Agricultura, pecuária e pesca; Desenvolvimento agrário; e Trabalho – a Economia Solidária “caiu” desta última). O mesmo governo que gasta dinheiro com propaganda festejando o crescimento da Alumar, empresa privada – o que deixa claro (ao contrário da Praia Grande nos três dias de Feira) que modelo lhe interessa.

Não esqueçamos também dos constantes apagões ocorridos durante a 3ª. Feira do Livro de São Luís, realizada mês passado.

Enquanto a Feira (e a Praia Grande) ficava(m) no escuro, os holofotes do acontecimento iluminavam o governo: a participação do secretário de Estado do Trabalho José Antonio Heluy nas feiras regionais (que antecederam a estadual) e da governadora na feira estadual foram frisadas nas poucas matérias publicadas sobre o evento, tanto em jornais sarneystas (acesso mediante senha para assinantes) quanto nos ditos oposicionistas.

Na Feira de Economia Solidária, os resultados foram desastrosos: os grupos produtivos solidários tiveram comercialização pífia. As atividades de formação aconteciam pela manhã e em parte da tarde; a comercialização dos produtos tinha início por volta de 16h e era interrompida por volta das 18h, quando se iniciavam os apagões.

Solidariedade e seriedade têm alguma semelhança: uma tem que ser tratada com a outra. Ainda não é o que acontece, infelizmente.

FELIZ 2010!

Mas aviso os poucos-mas-fieis leitores: ainda devo aparecer por aqui em 2009.

Abaixo dá para ter uma ideia do projeto gráfico do novo livro de Celso Borges e ler um dos poemas inéditos da obra (clique para ampliar e ler):

O livro será lançado em janeiro, mais detalhes dou por aqui quando os tiver. Assim 2010 vai entrar bonito…

ERRATA (IN)VOLUNTÁRIA

Vacilou feio o enviado especial Márcio Henrique Sales, que foi à São Paulo conferir a entrega do prêmio Talentos da Maturidade, concedido anualmente pelo Banco Santander Brasil a pessoas com mais de 60 anos, de reconhecido talento nas categorias Artes Plásticas, Literatura e Música Vocal, além de projetos de auxílio ao idoso empreendedor e vulnerável e programas exemplares.

Na matéria Maranhense ganha prêmio em São Paulo [acesso mediante senha para assinantes. O Estado do Maranhão, 20/12/2009, Geral, página 10; saber o porquê do texto não ter sido publicado no caderno de cultura do jornal é, aqui, questão menor], o jornalista simplesmente troca o nome da cantora Célia Maria (foto), a premiada em questão: Zélia Maria é como a diva é chamada – além de Maria Zélia, mais à frente, no mesmo texto.

Também erra o jornalista ao dizer que Milhões de Uns (um choro, e não um samba, como (des)informa o jornalista), de Joãozinho Ribeiro, foi composta em homenagem a Mestre Antonio Vieira – falecido não há cinco (como diz a matéria), mas há oito meses: o autor de Ingredientes do samba, gravado por Célia Maria em seu único disco, de 2002, faleceu em 7 de abril passado.

Milhões de Uns é do mesmo disco – até hoje nunca houve um show que marcasse seu lançamento “oficial” – e venceu, naquele ano, duas categorias do Prêmio Universidade FM.

Célia Maria, como tantos outros artistas maranhenses, ainda não tem o reconhecimento que merece, nem dentro nem fora de sua terra natal. Quem já a ouviu cantar – seja seu disco, hoje raro, no rádio, em raras execuções, ou ao vivo, nas bissextas apresentações que ela faz –, sabe do que falo. Com ou sem erros na matéria de cobertura, a cantora certamente fez jus ao prêmio e merece os parabéns esta joia rara da música brasileira.

MOLHO DE SAMBAS PARA APRECIAR SEM MODERAÇÃO

Segundo disco de Pedro Miranda nasce clássico, destacando seu importante papel de “garimpeiro de pérolas” – no caso, pimentas. Ou sambas em conserva.


[Pimenteira. Capa. Reprodução]

Para além da beleza das pimentas, aparentes no vidro, regadas a molho para aumentar o ardor, é necessário que elas sejam saborosas. Daí a necessidade de uma seleção criteriosa. Leitores de Tribuna Cultural não se assustem: a coluna não virou uma “tribuna gastronômica”, embora o segundo disco de Pedro Miranda seja um prato cheio para apreciadores de samba – enquanto importante gênero da música popular brasileira, já que tem gente que adora torcer-lhe o nariz.

Como boas, bonitas e gostosas pimentas para um molho, é de primeira a seleção que compõe o repertório de Pimenteira [independente, 2009], o título tirado da chula do baiano Roque Ferreira. Neste aspecto o cantor – mais conhecido como pandeirista do grupo Semente, que até hoje acompanha a cantora carioca Teresa Cristina – também se mostra um craque, “assessorado” por Cristina Buarque e Paulão 7 Cordas, antologias vivas do samba brasileiro.

Via Monarco, outra enciclopédia viva, Pedro Miranda chegou, por exemplo, a Velhice, faixa duplamente histórica: além de inédita, marca raríssima parceria de Nelson Cavaquinho (autor de diversos clássicos que exaltam sua Estação Primeira de Mangueira) com Alcides Dias Lopes, mais conhecido como Malandro Histórico da Portela.

Assim, o repertório do disco foge do comum, colocando no mesmo balaio – ou pandeiro – pimentas sonoras cultivadas por figuras já clássicas – Maurício Carrilho, Paulo César Pinheiro (parceiros em Baticum, com a magistral participação especial do Trio Madeira Brasil), Wilson das Neves (Imagem, com Trambique), Elton Medeiros (Na cara do gol, com Afonso Machado), Nei Lopes (Compadre Bento) e o citado Nelson Cavaquinho – e novos nomes – Rubinho Jacobina (Meio-Tom), Moyseis Marques (Cartas de metrô) e Edu Krieger (Coluna social).

Luís Filipe de Lima (violão, violão sete cordas) assina a produção do álbum, merecedor de elogios de um Caetano Veloso – mais acertado ao falar de música que de política. Se Pedro Miranda é um craque na seleção do repertório, todo composto por craques também, não poderia ser diferente o time a acompanhá-lo: Marcello Gonçalves (violão sete cordas), Zé Paulo Becker (violão), Ronaldo (bandolim) – o Trio Madeira Brasil –, Jorge Helder (contrabaixo), Beto Cazes (percussão), Pedro Amorim (cavaquinho), Eduardo Neves (sax, flauta), Rui Alvim (sax, clarone), Mariana Bernardes (cavaquinho), Zé da Velha (trombone), Silvério Pontes (trompete), João Callado (cavaquinho), Esguleba (percussão) e Nicolas Krassik (violinos), entre outros.

São vários os motivos para o de já antológico Pimenteira figurar não só numa lista de melhores discos de 2009, mas entre os melhores já produzidos no Brasil a qualquer tempo.

[Tribuna Cultural, Tribuna do Nordeste, ontem]

LENA NA FEIRA

Não sou lá essas coca-colas, essas brastemps em fazer e-flyers (como o Ricardo Sanchez, por exemplo, sem querer me comparar, é lógico), mas a gente se vira para ajudar os amigos.

E que amiga!

Uma das grandes vozes brasileiras, Lena Machado (prestes a lançar seu aguardadíssimo segundo disco, Samba de Minha Aldeia) se apresenta no último dia da 3ª. Feira Estadual de Economia Solidária, que acontece de hoje até sábado na Praia Grande (Praça da Casa do Maranhão e arredores). Em Canto de Feira, ela será acompanhada pelOs Pregoeiros: João Eudes (violão sete cordas), Wanderson (percussão), Osmarzinho (saxofone) e Rafael Guterres (cavaquinho).

Sobre o show, veja a imagem abaixo, fui eu mesmo que fiz, modéstia à parte (a foto é do Rivânio Almeida Santos; clica que amplia)

Hoje, às 19h, tem show de Célia Sampaio com o Bloco Afro Akomabu; amanhã, no mesmo horário, a atração é o Tambor de Crioula de Mestre Apolônio.

Não percam!

ÁLBUM DE VIAGEM

No fim de semana que passou não vi um dvd da pilha “inédita” que tenho em casa, não li uma linha de um livro da pilha idem, não cochilei depois do almoço, o que faço costumeiramente. Nada.

Mas tive um weekend bastante gratificante: viajei acompanhando minha esposa, que está realizando pesquisa para sua dissertação no Mestrado em Políticas Públicas da UFMA, que versará entre as relações do agronegócio com o empobrecimento de trabalhadores rurais com a política assistencialista do governo Lula etc.: é mais ou menos isso.

Sábado e domingo rodamos algumas comunidades na região do Baixo Parnaíba maranhense e enquanto ela conversava/entrevistava algumas lideranças comunitárias, ou passávamos por determinados locais, eu ia clicando, além das imagens “sérias”, que servirão ao trabalho dela, algumas imagens “pitorescas”, digamos assim (nesses “desvios” foi que cheguei, por exemplo, ao Cabação).

Aos cliques, pois (com algumas legendas por vezes desnecessárias):

Galinhas entronadas

Cartaz anuncia primeira festa do ano que vem.

Achei engraçado essa pintura no muro do cemitério São Judas Tadeu, em Chapadinha/MA.

Bem como esses pedidos no muro próximo ao portão de entrada do mesmo cemitério.

“Ser moça é fácil, difícil é ser virgem”, no paralama da bicicleta.

Sentido obrigatório, sentido único, sentido!

Já no retorno à ilha: muro do Nhozinho Santos, o estádio municipal.

BENITÃO 2009

Essa saiu na Tribuna Cultural (Tribuna do Nordeste), ontem.

BENITO DI PAULA REPAGINA CLÁSSICOS EM DISCO AO VIVO

Disco traz o fino da produção do compositor.


[Benito di Paula Ao Vivo. Capa. Reprodução]

Mesmo os que não têm ainda 30 anos de idade – caso deste modesto colunista – é impossível não cantarolar aqui ou ali, seja levado por uma execução no rádio, num boteco, o assobio ou o cantar de alguém entre seus afazeres cotidianos ou qualquer outro motivo que seja, versos como “ninguém sabe a mágoa que trago no peito/ quem me vê sorrir desse jeito/ nem sequer sabe a minha solidão” ou “seria muito bom/ seria muito legal/ se cantor ou compositor/ pudesse ser ator ou jogador de futebol”. Ou ainda “Aquela sanfona branca/ aquele chapéu de couro/ é quem meu povo proclama/ Luiz Gonzaga é de ouro” e “agora chegou a vez, vou cantar/ mulher brasileira em primeiro lugar”, entre inúmeras outras.

São versos que fazem parte da memória coletiva brasileira, cantados em uníssono pelo povo – que às vezes sequer sabe da autoria destas e de outras pérolas, mais ou menos famosas – nas décadas de 1960 e 70 e repetidos infinitamente pelas décadas seguintes, até hoje. Se por um lado uns lhes torcem o nariz (e ouvidos), como se se tratasse de um artista menor, outros conferem a Benito di Paula epítetos como os de gênio, mestre, antológico e outros.

Em Benito di Paula ao vivo [EMI, 2009, R$ 24,90 em média, disponível também em DVD], o gênio mestre antológico – sim, o artista é tudo isso ao mesmo tempo e mais um pouco – ressurge em clássicos como Do jeito que a vida quer, Assobiar e chupar cana, Sanfona branca e Mulher brasileira, os dos versos citados acima, todos de sua autoria. Além de Charlie Brown, Ah! Como eu amei (Jota Velloso/ Ney Velloso), Tudo está no seu lugar e Retalhos de cetim, esta recentemente regravada com o acento pop de Zeca Baleiro, cujos títulos já remetem a versos: imediatamente estamos cantarolando.

Para alguns, pode soar mais do mesmo. Para os com menos de 30 anos, às vezes sem acesso às gravações e álbuns originais daquele que introduziu o piano no samba, deve servir principalmente para (re)colocá-lo no merecido lugar entre os grandes da música popular brasileira.