O lançamento de um livro de Bruna Beber é algo que me deixa… ansioso pelo próximo livro de Bruna Beber. É tão bom, e a menina cresce junto com sua poesia, “como cresce no fruto a árvore nova”, Ferreira Gullar, que fico curioso por saber onde ela vai chegar.
Balés, o segundo, o novo, como A fila sem fim dos demônios descontentes, a estreia, é o tipo de livro que leio dum tapa. Mas em se tratando de Beber, de um tapa em slow-motion, degustando cada verso, cada poema, relendo cada um como se acionasse o modo repeat deixando o livro (me) tocar.
A imagem é bem essa: desde o título, Balés é um livro musical. Sem mais blá blá blá, enquanto espero o terceiro livro de Beber, abaixo a reseninha que escrevi sobre o segundo, hoje, no Tribuna do Nordeste.
Ah, antes, só mais uma coisinha: taí uma poetaça que bem podia integrar a programação da Feira do Livro de São Luís, né? Torço para. Quem sabe em 2010…
TRIBUNA CULTURAL
por Zema Ribeiro*
OS VÁRIOS TONS DA VOZ DE BRUNA BEBER
Segundo livro da poeta confirma seu lugar de destaque no cenário da poesia contemporânea brasileira.
Publicitária de formação, a poeta Bruna Beber nasceu no Rio de Janeiro em 1984 e, com sua estreia, A fila sem fim dos demônios descontentes [7Letras], em 2006, foi aclamada por crítica e público: passava a integrar, de já, o panteão da poesia contemporânea brasileira, merecidamente reconhecida como um de seus grandes nomes, chegando a ter poemas publicados em diversas antologias estrangeiras.
Assim, era absolutamente normal a expectativa gerada em torno de seu segundo título: Balés [Língua Geral, 2009, Coleção Língua Real] faz jus à espera. Se no primeiro, Beber já escrevia como quem faz música, versos como refrões grudando na cabeça feito chiclete, o exercício continua neste recém-lançado: sua leitura evoca canções e a vontade é, livro aberto, fazer dele o par e sair dançando pelo meio da casa. Muda o poema, a canção, e Balés é par constante, até o fim do baile.
“Do clarinete sopra/ o som que leva para longe/ os espantos// e grito alto/ para puir as cordas/ das torrentes// onde se aventura a fonte/ dolorosa e frágil/ do silêncio”, em Catavento, não o único em que a música aparece explicitamente. Também merece destaque na poesia de Beber sua feitura de coisas simples do dia a dia – “aposto que ainda gosta de azul e se arrepia/ com gosto de limão, lágrimas, lágrimas,/ muitas lágrimas de cebola”, em Dorsal – e um jeito nada óbvio de escrever poemas de amor – “e por esse segundo esquecer tudo/ que realmente importou até agora/ e o que importará/ depois disso// mas atravessar a rua olhos vidrados/ de expectativas, resumindo o mundo/ e a vida a uma arquitetura demolida/ por uma paixão à primeira vista”, em Janeiro – quando não as duas no mesmo poema.
Mas nem só de música (sem preconceitos), poesia (literatura em geral), publicidade (por dever de ofício) e cotidiano (o título do primeiro livro saiu de uma pichação num muro) vive Bruna Beber e sua poesia. Seus poemas – os de Balés foram reescritos várias vezes até o livro ganhar sua forma final – também são recheados de bom humor, alguns mostrados antes ao público, saudável work in progress, no blogue que a poeta mantém: Mídias Virgens & Condessa Buffet.
*Zema Ribeiro escreve no blogue http://www.zemaribeiro.blogspot.com