A “Tribo futurista” em que Beto Ehong e Rita Benneditto se encontram é, na verdade, uma tribo do presente, ou, antes disso, uma tribo da urgência. Mais que a soma de dois enormes talentos, o encontro de dois artistas compromissados com a arte para além de mero entretenimento. Que não se eximem de suas responsabilidades de artistas enquanto formadores de opinião e tocam os dedos nas feridas. A sonoridade de mina eletrônica dando voz a minorias e rebelando-se contra discursos de ódio que se tornaram corriqueiros em nossos tristes tempos precisa reverberar entre as paredes das cidades atravessando as cabeças ocas de quem insiste em negar o óbvio. Som para dançar com a cabeça e pensar com o corpo inteiro. Tambores que batem dentro do peito e eriçam cada pelo: arrepio de quem não perdeu a capacidade de se emocionar diante do belo – apesar de toda tragédia que nos cerca. Coisas de que somente são capazes aqueles que realmente manjam dos paranauês.
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Escrevi o textinho acima a pedido do cantor, compositor e produtor Beto Ehong. O single “Tribo futurista” pode ser ouvido nas plataformas de streaming.
O videoclipe será lançado no próximo dia 22 de abril e você poderá assistir abaixo, na data:
Outra vez sou enforcado num tribunal ignaro, mas meu crime prescreveu, diz um pergaminho raro. Quem exterminou Jesus e botou culpa no SUS foi Messias Bolsonaro.
Quando chegar no Inferno ele não terá guarida, pois o Diabo não aceita gente de língua comprida com barriga de jumenta, cabelo de cu na venta e fama de genocida.
Deixo ao Profeta do Caos bula do Billy the Kid, pois, quando bota ministro na Saúde, há quem duvide: – Será Marcelo Queiroga um novo tipo de droga que vem no Kit-Covid?
O tratamento precoce é fim que não principia, mais parece uma garrafa de aguardente vazia. Só traz insuficiência renal e resiliência da alma em hemorragia.
Deixo pro Ricardo Salles, que a natureza atazana, os restos mortais do gado que acreditou no sacana. Jogou no abismo a boiada, que passa, desgovernada, achando que a Terra é plana.
Para a ministra Damares, que só trepa em goiabais, vou deixar o Kama-Sutra dos traumas celestiais. Pra massagear o ego de um pobre Judas cego, deixo os órgãos genitais.
Deixo na Universidade o cordel do ABC. Hoje em dia estudante só consegue o que dizer na voz dos mestres Foucault, Walter Benjamin, Nivô, Apolônio e Bordieu.
Antes que o Testamento se torne monografia, uma camisa-de-força deixarei para o Messias, pois agora o rei está nu entubado pelo cu, de onde caga ideologia.
Vou deixar uma vacina de cereais e verduras pro nosso Mao-Tsé-Tung não desabar das alturas ao subir no Sputnik, depois de um piquenique com muito doce e gordura.
Para não cair partido em Rocha capitalista deixo a foice e o martelo de cravar nazifascista e, sem disparar um tiro, enterrar mais um Vampiro da corte terraplanista.
Pro ex-ministro Sérgio Moro da Lawfare se salvar eu vou deixar o triplex com sua “conge” em Guarujá. Pato já virou boneco, agora é a vez do marreco cantando Edith Piá.
Deixo para o Presidente, doutor em Necrofilia, o cadáver da Amazônia cujos pulmões esvazia. E o verde, se despindo, de luto vai se vestindo, numa triste asfixia.
Pagar na mesma moeda em Aurizona eu pretendo, pois lá a Equinox Gold o terror vem promovendo. Leva o ouro pra Gaudéria, deixa a lama da miséria em cada cova escorrendo.
É preciso demarcar nossa herança por inteiro, interditar o garimpo e algemar fazendeiro. A Funai não auxilia, é pior que epidemia para o índio brasileiro.
Deixo a Flávio Bolsonaro a mala de um mascate para esconder a grana, sem que Queiroz o delate por crime de peculato, lavando dinheiro a jato em pia de chocolate.
Na Assembleia deixarei emenda legislativa que impede o deputado, em corrupção ativa, pular cerca da vizinha pra comer a rachadinha da amiga Patativa.
Pois cabaço, meus amigos, hoje é sigilo fiscal que no Brasil ninguém quebra se for presidencial, por isso a mulher do Arruda vai proteger a Papuda do governo federal.
Deixo pras Forças Armadas a batina dos vigários. Não há generais rebeldes, pois, muito pelo contrário, a velada demissão é a farsa do escorpião no cangote de otário.
Assumiram Três Patetas, no cinema um sucesso. Para o filme “Bolsotralha e os Três Porquinhos Perversos” deixo esquadras de papel, caminhões de carretel e uma FAB de processos.
Para Kátia Abreu entrego um cabresto em Testamento pra botar o ex-chanceler Ernesto pastando ao vento. Nos restaurantes da China carne que tem vitamina é a carne de jumento.
Bolsonaro é repetente desde seu Grupo Escolar, e foi gazeando aula que se tornou militar. No quartel só lhe convinha brincar de explodir bombinha, e acabou por se queimar.
Na defesa, Braga Netto, Paulo Guedes, o zagueiro; no ataque, Bolsonaro, Augusto Heleno, goleiro. Com esse time oficial, que só tem perna-de-pau, o Brasil tá no atoleiro.
Ele não toma vacina nem bota anel de tucum. Na mão de Chico Gonçalves não terá Direito algum. Bozo tem medo é de agulha, da seringa que borbulha apontando o seu bumbum.
Deixo pro Fernando Cury um sutiã de mamão para ficar apalpando seis meses de suspensão. Essa pena é pequena, em respeito a Isa Penna caberia a cassação.
Para a amiga Rosa Reis entrego meu borderô, mantendo o Cacuriá na UTI do Labô. Messias pode surtar, mas temos que vacinar nosso Jacaré Poiô.
Vou deixar no Laborarte minha máscara de linho. No Inferno não tem vírus, mas o Cão não tá sozinho. Lá já se espalhou o mito da língua do Nélson Brito, herdada pelo Nelsinho.
Deixo para Joãozinho enfrentar o lockdown um litro de catuaba pra de mim não falar mal. Também deixo um ingresso pra ele fazer sucesso dançando no Xirizal.
No Planalto já deixei a ceia do Capitão: patê de ivermectina, azitromicina, pão, cloroquina e Leite Moça. Já lavaram até a louça, que não tem licitação.
Deixo orelhas de burro nessa ave de rapina, que negou o Butantan por causa de uma vacina. Fez do Brasil um velório pra vender supositório de hidroxicloroquina.
Insumos quero deixar pra ajudar a Fiocruz, oxigênio em Manaus, farinha d’água e cuscuz. Mas, para o mito bandido deixo um pequi roído no cocho dos urubus.
O curral não quer tomar a vacina comunista. Vitor Hugo e Zambelli fazem parte dessa lista. Por isso, deixo a mimosa vacina de aftosa pro gado bolsonarista.
A imprensa, que viveu no AI-5 amordaçada, por um louco outra vez está sendo censurada. Vou botar uma chupeta com remédio tarja preta nesse Boca de Privada.
Vou deixar na CCJ da Câmara Federal um despacho pra afastar o atraso, a dor e o mal. Incentivando motim, Bia Kicis é pra mim um verme no lamaçal.
Se há um ministro escroto é o da Tecnologia, viu que a Terra é redonda sem informar a Chefia. Deixo um foguete da Nasa pra bem longe desta casa despachar Jair Messias.
Nas paredes de Alcântara já colei o personagem, com o chapéu do Tio Sam Bolsonaro fez chantagem. A distribuição de título foi mais um falso capítulo, a mais pura maquiagem.
Deixarei a própria corda que hoje me decide a sorte de herança aos editores que publicam minha morte. Ganhando dinheiro fácil, me esculhambam no prefácio sem me dar vale-transporte.
Auxílio Emergencial deixo até o fim do ano para os artistas da Feira que estão se esforçando, fazendo até hora extra entre a segunda e a sexta no bar do Corinthiano.
Em ano de lockdown e quarentena de Judas todos querem fazer live, virou um “deus nos acuda”. Mire o seu QR Code, ou então me compre um bode, no final tudo é ajuda.
Pra acabar com a pandemia temos que participar das batalhas contra o golpe que espalha cepas no ar. Contra a fome e a impunidade, o manjar da liberdade é o Impeachment, Já!