Saudades…

Saudades de Gisele Brasil. Acho que a gente devia se encontrar mais e bater mais papo. Minha confidente e conselheira, mesmo antes de nos conhecermos, carne e osso. E alma. Ela e Jana. A Jana Lobo. Por quem estou esperando, ainda, com uma garrafa de vinho para abrir o Água e Vinho, do Gismonti. Saudades de Carolina Libério e de sua poesia, curta e certeira. Matadora, no bom sentido. (Ei, tô com um presente pra ti, recebeste a mensagem no celular?). Saudades de Reuben, apesar de ter passado a tarde com ele numa livraria. Saudades de Zé Patrício Neto, que nunca mais blogou. Agora tá fazendo uns vídeo-poemas que, tenho certeza, são bons, mas ainda não pude/consegui ver. Saudades de Celso Borges, CB, que se revelou muito mais do que tudo o que eu esperava. Saudades de Bruno Barata e Pataugaza e daquela cerveja em início de tarde, com Mestre Patinho, na esquina de São Pantaleão com Misericórdia (precisamos repetir isso, turma!). Saudades de Eduardo Júlio (essa saudade eu mato daqui a pouco n’A Vida é uma Festa!). Saudades de mim mesmo. Saudades de Ellen Carol, embora nos vejamos quase todos os dias. Saudades de sexo com amor. Saudades da infância, quiçá lá eu fui feliz…

Por que você deve optar pelo desarmamento

 

É este o título da matéria de capa da revista Trip nº 137 (setembro, nas bancas). Sou a favor do desarmamento. Voto 2, dia 23. A matéria, em 16 páginas, traz opiniões favoráveis e contrárias (bem ao estilo único da Trip, revista da qual sou leitor há tempos e que agora voltei a assinar), estatísticas, depoimentos, fotos e texto, muito texto.

Transcrevo abaixo duas opiniões, tiradas de lá:

“Sou a favor do controle de armas não porque tenha a ilusão de que isso vá pôr fim imediato à criminalidade – as coisas não acontecem assim. Mas porque a proibição pode ajudar a construir uma cultura de paz em substituição à cultura de violência vigente. Uma cultura de paz se faz de atos, gestos, linguagem, mas também de símbolos. E as armas, além de símbolo, são o próprio instrumento da violência.”

Zuenir Ventura, jornalista e escritor

“As pessoas têm expectativas ilusórias em relação às armas. Não só por acreditarem que um ‘berro’ confere masculinidade, charme, magnetismo, mas principalmente por lhes atribuírem um outro poder que elas não têm. Arma não é escudo. Ter uma arma não o torna vulnerável; não impede que você seja um alvo.”

Soninha Francine, vereadora [PT/SP]

Agora imagens…

 

É, criei um fotoblogue. No UOL também. Link ao lado. E aproveitei pra linkar também a Carolina Libério, que faz um dos poucos flogues que me entusiasma. Ela sabe o que faz. Então, meu fotoblogue será um espaço para a prática de exercícios (de minha parte) e compartilhar coisas que, puro infoanalfabetismo meu, não consigo aqui no blogue (em tempo: este continuará sendo o meu “prato” principal).

Agradecimentos (sempre sinceros): Mariana, estudante do 3º período de Comunicação Social/Jornalismo da São Luís, influência definitiva para a inauguração deste novo espaço, a ela dedico o fotoblogue; e Francisco Colombo, agora meu professor de fotojornalismo na mesma Faculdade.

Estou caçando temas para a minha próxima crônica no Almanaque JP Turismo. Idéias?

Homens de bem (?) *

 

por Paulo César Carbonari **

Facilmente ouve-se: “é um absurdo desarmar ‘homens de bem’ e deixar bandidos e marginais armados até os dentes”. O (pseudo)argumento mobiliza. Pensemos: existem “homens de bem”?

“Homens de bem” não existem, simplesmente porque não existem “homens de mal” (ou do mal). Ora, pensar assim é fazê-lo de forma maniqueísta e resulta na simplificação dos dilemas ético-morais. É por demais redutivo compreender a violência e seu enfrentamento com uma saída tão funcional, advogando o não-desarmamento (ou, o armamento) como forma de proteger “homens de bem”.

Ítalo Calvino, em “O Visconde Partido ao Meio” (Cia. das Letras), com a figura do visconde dimezzato, indica quão insuportável é conviver com o absoluta e completamente bom e quão divertido é conviver com o absoluta e completamente mau e que, qualquer das alternativas, não faz mais do que atazanar a vida de todos.

É estranha a defesa da permissão para que “homens de bem” possam se armar como recurso de proteção.

Armas são instrumentos cuja finalidade é a produção de ferimento ou morte. Armas são feitas para isso. Sua perfeição está em cumprir bem sua finalidade. Um fabricante de armas precisa agir como Pedroprego, personagem de Calvino, e fabricar armas perfeitas em sua finalidade.

Armas não tornam humanos mais humanos. Como objetos da técnica, não têm finalidade prática. Confundir a finalidade dos objetos (poética) com a finalidade dos humanos (prática) é confundir regiões da racionalidade humana. Seria como esperar que um objeto que cumpre bem sua finalidade pudesse, pelo seu simples uso, tornar mais perfeito o agente de seu uso.

Como esperar que objetos feitos para produzir o mal possam tornar “homem de bem” quem os utiliza? Ora, dirão, mas a finalidade do uso da arma é para produzir o bem, ou seja, proteger o agente que a utiliza, seus entes queridos, seu patrimônio. Isso leva a um imbróglio ético ainda maior.

Esperar que o bem buscado pelo agente que usa a arma pode ser alcançado mesmo quando os meios empregados para sua consecução são maus é confundir fins e meios, justificar meios, qualquer meio, inclusive meios maus, em vista de fins. A tortura perfeita, buscada por Pedroprego, ilustra bem em que isso se traduz.

Votar no Referendo sobre Desarmamento é fazer escolhas éticas. Afinal, enfrentar a violência exige recompor as bases de sociablidade e de interação. Uma sociedade que quer ver controlada a violência precisa se repensar por dentro, refazer-se por inteiro, preferencialmente evitando maniqueísmos e instrumentalismos.

* Publicado no Jornal Zero Hora (Porto Alegre/RS) em 23 de setembro de 2005, p. 17.

** Paulo César Carbonari é professor de filosofia no IFIBE, Passo Fundo, e Coordenador Nacional de Formação do Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH).

três coisas que aconteceram esta semana…

 

Correndo. Às vezes nem dá tempo de dizer o que tá rolando. Mas vale o registro.

Quarta-feira passada, o Fórum Cultura Cidadã encerrou o ciclo de debates “Diálogos Interculturais”, que estava acontecendo todas as quartas-feiras dos últimos dois meses. Os debates são atividades preparatórias à I Conferência Municipal de Cultura, já convocada pelo prefeito Tadeu Palácio, após insistentes manifestações de artistas, produtores e militantes culturais. Mais detalhes por aqui em breve. (Agora teremos as pré-conferências, que seguirão os moldes das atividades prévias ao V Fórum Municipal de Cultura, ocorrido em setembro do ano passado).

E hoje foi lançado o Comitê “Sim à Vida Sem Armas”, em solenidade realizada no Palácio Episcopal (ao lado da Igreja da Sé). Articulação de diversas entidades da sociedade civil e poder público, além de lideranças, o comitê irá trabalhar a campanha pelo desarmamento, pelo voto “sim” no referendo do dia 23/10. Eu voto 2.

E por falar em votar 2: a chapa “Qual é?”, oposição à continuidade do desmando do atual Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Faculdade São Luís, perdeu as eleições realizadas naquela instituição de ensino superior no último dia 21/9. Cento e cinqüenta votos de diferença. O grupo não se desfez e irá cobrar as “promessas de campanha” da chapa (?) eleita. Em tempo: o blogueiro integra o grupo “Qual é?” (batismo inspirado na música de D2) e concorreu às eleições como Secretário de Cultura.

Um Calvino enviado por e-mail pelo amigo Gildomar

 

A Ovelha Negra

Ítalo Calvino, escritor e ensaísta italiano

Havia um país onde todos eram ladrões.

À noite, cada habitante saía, com a gazua e a lanterna, e ia arrombar a casa de um vizinho. Voltava de madrugada, carregado, e encontrava a sua casa roubada.

E assim todos viviam em paz e sem prejuízo, pois um roubava o outro, e este, um terceiro, e assim por diante, até que se chegava ao último, que roubava o primeiro. O comércio naquele país só era praticado como trapaça, tanto por quem vendia como por quem comprava. O governo era uma associação de delinqüentes vivendo à custa dos súditos, e os súditos por sua vez só se preocupavam em fraudar o governo. Assim a vida prosseguia sem tropeços, e não havia ricos nem pobres.

Ora, não se sabe como, ocorre que no país apareceu um homem honesto. À noite, em vez de sair com o saco e a lanterna, ficava em casa fumando e lendo romances.

Vinham os ladrões, viam a luz acesa e não subiam.

Essa situação durou algum tempo: depois foi preciso fazê-lo compreender que, se quisesse viver sem fazer nada, não era essa uma boa razão para não deixar os outros fazerem. Cada noite que ele passava em casa era uma família que não comia no dia seguinte.

Diante desses argumentos, o homem honesto não tinha o que objetar. Também começou a sair de noite para voltar de madrugada, mas não ia roubar. Era honesto, não havia nada a fazer. Andava até a ponte e ficava vendo passar a água embaixo. Voltava para casa, e a encontrava roubada.

Em menos de uma semana o homem honesto ficou sem um tostão, sem o que comer, com a casa vazia. Mas até aí tudo bem, porque era culpa sua; o problema era que seu comportamento criava uma grande confusão. Ele deixava que lhe roubassem tudo e, ao mesmo tempo, não roubava ninguém; assim, sempre havia alguém que, voltando para casa de madrugada, achava a casa intacta: a casa que o homem honesto deveria ter roubado. O fato é que, pouco depois, os que não eram roubados acabaram ficando mais ricos que os outros e passaram a não querer mais roubar. E, além disso, os que vinham para roubar a casa do homem honesto sempre a encontravam vazia; assim, iam ficando pobres.

Enquanto isso, os que tinham se tornado ricos pegaram o costume, eles também, de ir de noite até a ponte, para ver a água que passava embaixo. Isso aumentou a confusão, pois muitos outros ficaram ricos e muitos outros ficaram pobres.

Ora, os ricos perceberam que, indo de noite até a ponte, mais tarde ficariam pobres. E pensaram: “paguemos aos pobres para irem roubar para nós”. Fizeram-se os contratos, estabeleceram-se os salários, as percentagens: naturalmente, continuavam a ser ladrões e procuravam enganar-se uns aos outros. Mas, como acontece, os ricos tornavam-se cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres.

Havia ricos tão ricos que não precisavam mais roubar e que mandavam roubar para continuarem a ser ricos. Mas, se paravam de roubar, ficavam pobres porque os pobres os roubavam. Então pagaram aos mais pobres dos pobres para defenderem as suas coisas contra os outros pobres, e assim instituíram a polícia e construíram as prisões.

Dessa forma, já poucos anos depois do episódio do homem honesto, não se falava mais de roubar ou de ser roubado, mas só de ricos ou de pobres; e no entanto todos continuavam a ser pobres.

Honesto só tinha havido aquele sujeito, e morrera logo, de fome.

estado de putrefação

 

meu espírito de rato
putrefato
roendo os restos da feira
sexta-feira
andando pelos porões
e paralelepípedos
tropeçando em bêbados,
prostitutas
e tropeçando em mim mesmo

meu espírito de homem
um tanto já gasto
pela fé que eu perdi
de tanto remar contra a maré
(maré de merda, pus, sangue e lama)
que me guiou até a cama
de um bordel qualquer
em uma ladeira qualquer
para uma noite de pegue (peque!) e pague

que meu espírito se apague
que a minha voz se cale
que o amor que eu acreditava devotar
se acabe
já que eu mesmo estou acabado
que eu cruze as mãos sobre o peito
desista de buscar esse tal de amor perfeito
vendo que não há mais jeito
que venha a dar jeito em mim

[poema cometido em algum momento de 2003]

Última edição de “Diálogos Interculturais” acontece nesta quarta-feira

 

Acontece nesta quarta-feira, 21/9, às 19h, no Teatro Alcione Nazaré (Centro de Criatividade Odylo Costa, filho, Praia Grande) a última edição da série de debates intitulada “Diálogos Interculturais”, atividade preparatória à I Conferência Municipal de Cultura, que acontecerá entre os dias 19 e 22 de outubro de 2005.

Tema: “DIRETRIZES PARA UMA POLÍTICA MUNICPAL DE CULTURA”
Palestrante: Joãozinho Ribeiro, poeta, compositor, coordenador do Fórum Cultura Cidadã.
Mediador: Jeovah França, assessor da Secretaria Estadual de Cultura.
Debatedores: Edirson Veloso, Presidente da Fundação Municipal de Cultura; Josias Sobrinho, cantor e compositor; Batista Botelho, vereador de São Luís.
Dia: 21 de setembro
Local: Teatro Alcione Nazaré (Centro de Criatividade Odylo Costa, filho, Praia Grande)
Horário: 19h
Entrada franca.

Conversa

 

Segunda-feira, 19, às 19h, estarei conversando informalmente sobre blogues com as turmas do 3º e 5º período de Jornalismo da Faculdade São Luís (estou cursando o 4º, lá). Eu e Marcos Fábio Belo Matos (link ao lado). Na aula de Teorias do Jornalismo, ministrada brilhantemente pelo jornalista e professor Ed Wilson Araújo.

Lista de Preferências

 

Bertold Brecht

Alegrias, as desmedidas.
Dores, as não curtidas.

Casos, os inconcebíveis.
Conselhos, os inexeqüíveis.

Meninas, as veras.
Mulheres, insinceras.

Orgasmos, os múltiplos.
Ódios, os mútuos.

Domicílios, os passageiros.
Adeuses, os bem ligeiros.

Artes, as não rentáveis.
Professores, os enterráveis.

Prazeres, os transparentes.
Projetos, os contingentes.

Inimigos, os delicados.
Amigos, os estouvados.

Cores, o rublo.
Meses, outubro.

Elementos, o fogo.
Divindades, o logos.

Vidas, as espontâneas.
Mortes, as instantâneas.

[Esse poema tá no banheiro de um misto de bar e livraria, em Brasília/DF, o Rayuela; tive a honra de visitar (o bar e o banheiro), quando estive por lá, em junho passado. Depois o amigo Rogério Tomaz Jr. (link ao lado) enviou-me por e-mail.]

Sabor de burrice

 

[texto copiado do blogue de Ademir Assunção (link ao lado). Link novo: Sebo do Bactéria. Acessem para mais detalhes sobre a confusão. É a minha forma de ajudar, daqui do Maranhão. O título do post? Música de Tom Zé. É o sabor da atitude dos policiais. Semelhanças entre as políticas culturais de São Paulo e São Luís? Algumas, pra falar pouco]

FORÇA AO BACTÉRIA E AOS LIVREIROS DA AUGUSTA

Meu amigo Bactéria e os livreiros da Augusta vão fazer um protesto, sábado, das 17 às 19 horas, um pouco abaixo do Espaço Unibanco. Como quase todos sabem, eles foram enquadrados pelos fiscais e pela polícia de Mister Burns (José Serra), levaram bordoadas e chegaram a ser presos. O crime? Vender livros. Então eles resolveram protestar e resolveram se organizar. Estão pensando até em criar uma ONG, uma associação ou qualquer coisa do gênero para poderem vender LIVROS, repito, em paz, sem que nenhum policial os incomode. Então, cambada, vamos dar força ao Bactéria, ao Adriano e a esses batalhadores, que ganham o leitinho das crianças vendendo LIVROS, repito, de novo. Quem puder, apareça. E quem puder também dar uma força a mais e quiser doar livros, eles estão agradecendo (pois tiveram sua “mercadoria” apreendida pelos policiais). Mas só um aviso: eles não aceitam Paulo Coelho, Jô Soares, Zíbia Gasparetto. Tô falando sério.

Quem quiser mais detalhes, acesse o site do Bactéria: http://becosemsaida.zip.net

E o cinema debandou da Atenas…

 

[texto produzido para o jornal da disciplina Laboratório de Mídia Impressa III, do 4º período noturno de Comunicação Social / Jornalismo, da Faculdade São Luís, onde este blogueiro (tenta) aprende(r) alguma coisa. Marcos Fábio Belo Matos é o professor (linkao lado). Tio Susalvino gostou tanto do texto, que resolvi republicá-lo aqui]

O título do presente texto é uma negação do de um estudo do professor Marcos Fábio Belo Matos sobre cinema na capital maranhense. Antes me explico: nenhuma intenção de ir contra o que lá escreveu o jornalista/poeta/contista/blogueiro. Aqui só uma provocação/apelo ao pod(r)er público: recentemente, tivemos fechado o Cine Praia Grande, até então dirigido pelo cineasta/empresário Frederico Machado. Uma pena para os apreciadores da sétima arte.

Mas nem só de notícias ruins vivemos: “João do Vale – Muita Gente Desconhece”, documentário dirigido por Werinton Kermes, de Sorocaba/SP, arrebatou o título de melhor documentário no 13º Gramado Cine Vídeo, importante e concorrido prêmio da categoria. Uma justa homenagem ao “maranhense do século”. No mesmo dia em que isso chegou a nosso conhecimento, outro cinema realizava sua última sessão: o Cine Passeio.

Frederico Machado está em São Paulo concluindo um documentário sobre seu pai, o poeta Nauro Machado, lenda viva da poesia maranhense. Pergunto-me, a contra gosto: onde veremos, nas telas locais, as feições de Nauro e João? Não creio que boxes colossais (e por que não dizer boçais) terão interesse nisso.

Tenho uma filhinha Down que é uma princesinha

 

por Heridan Guterres *

Falar sobre princesas é antes de tudo dizer de feitiços, encantos, poderes e príncipes…Nos contos de fadas, normalmente as princesinhas cheias de qualidades e belezas físicas e psicológicas são salvas pelos príncipes fortes, valentes e altruístas..que se apaixonam à primeira vista, por suas princesinhas lindas e perfeitas.

Quem já leu… melhor seria perguntar quem nunca leu ou ouviu um conto de fadas e também se enamorou de uma princesinha e, por extensão, do próprio príncipe, simplesmente porque foi ele quem quebrou o feitiço e deu vida àquela que estava condenada à morte eterna, caso não existisse um ser destemido e corajoso a lhe despertar?

O que ninguém parou para pensar ou mesmo perguntar quando ainda criança inocente, teve a oportunidade de entrar no conto e falar com o príncipe, foi como este se sentiu por ter salvado aquela princesinha…que forças o fizeram caminhar por estradas longínquas ou entrar em castelos com aparência assombradora para acordar, para a vida, sua amada…

Não sei dizer se foi de fato uma pena se ter passado o tempo em que éramos capazes de entrar nos contos ou um alívio pelo fato de não ter que descobrir que nos enganamos por tanto tempo, ao constatar que a estória não tem um herói, mas uma heroína: a princesinha!

Antes que rasgue este texto, deixe-me explicar minha linha de raciocínio, pois, se pudesse ser ouvido por você, o príncipe certamente lhe diria que devia muito àquela princesinha porque fora ela quem quebrara o feitiço a que ele estava condenado a viver eternamente: o de ser um príncipe esquecido..alguém que ninguém (nem mesmo você) se interessaria em conhecer a história porque ela simplesmente não existiria.

É o príncipe então, que tem o feitiço da ostracidade quebrado ao despertar a princesinha..sem ela não existiria príncipe, nem palácios, feitiços, bruxos…

Voltando à frase-título de nosso texto, apresentada exatamente quando o príncipe, ops…! o jogador Romário fazia seu último gol vestindo a camisa da seleção brasileira de futebol. Até o momento em que fez aquele gol, exatamente aos 17 minutos do primeiro tempo, num jogo contra a equipe da Guatemala, Romário era conhecido por seu inquestionável talento com uma bola, quase incontáveis mulheres e uma língua terrível que falava antes de pensar (como se tivesse vida própria), causando-lhe muitos dissabores ao longo da vida.

No entanto, após fazer o gol e suspender a camisa da seleção para mostrar a frase “Tenho uma filhinha Down que é uma princesinha”, o encanto se quebra e o jogador talentoso e polêmico se transforma em príncipe, diante de milhares de expectadores.

Encerra-se ali, a trajetória do jogador na Seleção, para iniciar a trajetória do príncipe Romário, que por causa de sua princesinha será capaz de trilhar por caminhos jamais imaginados… Não fosse por sua filhinha, ele seria apenas um excelente jogador se despedindo.

A partir de agora, ele é, e sempre será, um príncipe que corajosamente diz ao mundo que aquela menininha, nascida sob o signo de Down e por isso mesmo, diferente de todas as outras princesinhas, lhe dará forças e fará com que ele não seja mais um que se despede…

Mas esta é uma outra história que se inicia e o príncipe Romário não estará só..ele terá a ajuda e o exemplo de muitos outros homens e mulheres que tiveram seus feitiços quebrados pelos principezinhos e princesinhas nascidos sob o signo de Down, com o propósito de fazer com que as estórias de seus pais valessem, realmente à pena serem lidas.

* Educacora e amiga dos ex-reles mortais Nilce e Genilson Protásio, que tiveram seus feitiços quebrados pelo principezinho Genilson Filho, hoje com nove anos, e que militam na causa da inclusão das pessoas com necessidades especiais. Contatos: h.guterres@terra.com.br || http://www.flogao.com.br/genilsonrenata