Quando não é um, é outro

Bom, alguns de vocês devem estar acompanhando as Jeronimadas da Veja – e do próprio Jerônimo Teixeira – blogues afora (vide, aí ao lado, os espaços do Ademir, doMarcelino, do Bressane etc.). Quando não é a criança mimada, é o chefe. Pois bem, a Veja desta semana destaca o ex-presidente FHC em matéria de capa e dezesseis páginas no miolo da porc… digo, revista. Sob o título “A arte de ser FHC”, o “especial”, assinado por Mario Sabino, redator-chefe da revista, dá conta do lançamento de “A arte da política: a história que vivi”. Segundo o veículo semanal, “o livro mais esperado do ano”. Peraí: esperado por quem? Eu não vou dizer nada.

É claro – e não poderia ser diferente – que a matéria (dá pra chamar assim?) é tendenciosa. Não poderia ser diferente, repito. Vamos lá, um trecho, com a palavra, FHC, no “esperadíssimo” livro:

“Por ‘indigesto’ que fosse o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), por exemplo, procurei tratá-los como um dos novos movimentos da sociedade. Tentei dialogar com seus dirigentes, nos limites da lei, mesmo quando, por exemplo, militantes invadiram a fazenda que pertencia à minha família em Buritis, no noroeste de Minas Gerais. Confesso, entretanto, que por mais que os recebesse e me esforçasse para apoiar o programa de reforma agrária, o diálogo revelou-se impossível. Lembro-me de que, na primeira reunião que tive com dirigentes do MST no Planalto, eles deixavam logo claro que pretendiam antes provocar um fato na mídia do que dialogar. Era um pequeno grupo, e logo no início do encontro um deles, que portava a bandeira verde, branca e vermelha do movimento, perguntou: “Podemos abrir a bandeira?” Respondi: “Não! Bandeira, aqui, só a do Brasil. Não pode, não.” De outra feita, o grupo, em atitude típica, entrou em minha sala sem tirar os bonés com o logotipo do movimento, atitude distante da que se espera de quem tem uma audiência no gabinete presidencial, seja quem for o Presidente. Estavam os principais dirigentes, entre os quais João Pedro Stédile e José Rainha Júnior. Logo no começo, um integrante do grupo dirigiu-se a mim de maneira desrespeitosa, chamando-me de ‘Fernando’. Olhei para ele e disse, cortando o tom inadequado: “O senhor está falando com quem?””.

Deu pra sentir o clima? Na capa da revista um FHC risonho, bonachão, ao lado dos dizeres: “Exclusivo – FHC explica FHC e o Brasil – Trechos inéditos do livro em que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso revela os bastidores de seus dois mandatos”. Millôr já disse, sobre a literatura de Sarney: “é tão ruim, que quando você larga não quer mais pegar”, cito de memória, sem consulta. A de FHC deve ser a mesma coisa. É como “Os 2 Filhos de Francisco”: não vi, não gosto e pronto.

Não vou me alongar muito no assunto. Não merece. Mas transcrevo ainda, algumas perguntas da segunda parte da matéria, uma entrevista com o tucano, sob o título “Me considero de esquerda”. É pra rir ou pra chorar? Às perguntas, pois (algumas apenas, e sem comentários): 1. “Qual é o futuro do PT, se é que o partido tem futuro?”, 2. “Constata-se no seu livro que o senhor, como presidente, se empenhou profundamente nas discussões sobre os rumos a seguir na economia. Num mundo complexo como o de hoje, é possível um país como o Brasil ser liderado por alguém sem formação intelectual compatível?”, 3. “Na conclusão de A Arte da Política, o senhor diz que Lula se perdeu nos escaninhos do poder e suas facilidades. A falta de preparo intelectual não teria tido um papel nessa perdição?”, e 4. “O Brasil, então, ainda paga o custo PT?”.

Tirem suas próprias conclusões.

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