Vida, amor e morte. Não necessariamente nessa ordem

Breve etílica memória ressacada do lançamento de “Paisagem Feita de Tempo”. A subida de Guilherme de Brito. “Navegar é preciso!”, aí, no texto.

[sábado fui beber com Joãozinho Ribeiro, que nem estava bebendo. Um grupo de amigos reuniu-se em seu apartamento para celebrar seus cinqüenta e um anos. Ele, o amigo Reinaldo (técnico da Receita Federal) e Cesar Teixeira revezaram-se ao violão, lembrando sambas seus e dos bambas citados no Diário Cultural de domingo, abaixo. Ah!, o livro ficou lindo. Quem quiser comprar pode deixar recado aí na caixa de comentários ou mandar um e-mail. Neste e noutros endereços, completei, dia 28 de abril, dois anos de blogue]

“Já sei a notícia que vens me trazer”. Os versos que abrem “Notícia”, de Nelson Cavaquinho, Norival Bahia e Alcides Caminha – ele, o Zéfiro, dos Catecismos, assunto para outra coluna – parecem anunciar a coluna de hoje: leitores adivinharão que escreverei uma lembrança ressacada do lançamento do livro de Joãozinho Ribeiro, sexta-feira última. “Também”, caros leitores, mas não “somente”.

Há vinte anos – em 1986 – o Brasil perdia Nelson Cavaquinho, autor de clássicos como “A flor e o espinho”, “Quando eu me chamar saudade”, “Folhas secas”, “Mulher sem alma”, e “Pranto de poeta” – esta última gravada por Cartola –, entre outras. Um importante compositor (de samba) popular.

Em 2006, quarta-feira passada – uma espécie de quarta-feira de cinzas fora de época –, o Brasil perdia Guilherme de Brito, parceiro mais constante de Nelson Cavaquinho. Parceiro dele em todas as músicas citadas acima. Não li nada no noticiário. Confesso que às vezes até fujo de ler jornais. O motivo? Também é assunto pra outra coluna.

Análise acertada fez Pedro Alexandre Sanches, em seu blogue: o jornalismo cultural é fácil na morte. “Poeta bom, meu bem, poeta morto”, diria Zeca Baleiro.

Com a palavra os parceiros, eles, finados Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito, mais vivos que nunca, na letra de “Quando eu me chamar saudade”: “Sei que amanhã quando eu morrer / os meus amigos vão dizer / que eu tinha bom coração / alguns até hão de chorar / e querer me homenagear / fazendo de ouro, um violão / mas depois que o tempo passar / sei que ninguém vai se lembrar / que eu fui embora / por isso é que eu penso assim / se alguém quiser fazer por mim / que faça agora”.

A morte, tema recorrente em suas parcerias. Ainda que (talvez) Nelson fosse mais dolorido. A filosofia – “barata”, podem dizer uns; “de botequim”, outros –, certeira.

Nelson Cavaquinho é um dos compositores prediletos do também compositor Joãozinho Ribeiro – eu disse que iria abordar o assunto. Joãozinho que tem um pé no samba, outro no choro. Joãozinho que lançou anteontem o livro “Paisagem feita de tempo”. Livro que fala (muito) na morte. Mas que celebra (muito) a vida. Joãozinho que já andou perto dela – da morte –, mas que resiste. A mais recente: na semana anterior ao lançamento, o poeta submeteu-se a um cateterismo. Ainda não foi dessa vez. Ele a quem os médicos deram sobrevida de cinco anos quando, aos cinco anos, descobriram-lhe um câncer, completou 51, ontem. ‘Güenta, João! Parabéns!

A Casa do Maranhão estava cheia na sexta-feira. Enorme sensação de prazer tomou conta de mim na ocasião: além de ver parido um filho que ajudei a fazer – o livro, que se não ajudei a escrever, pronto desde 1985, com uma mexida aqui outra ali dum nunca satisfeito Joãozinho, tem por lá minha modestíssima parcela de culpa –, foi bom – é bom – reunir parte (pequena) da família, reencontrar amigos que há muito não via e/ou outros que vejo (quase) diariamente. Uma pena a namorada ter viajado a trabalho.

A cabeça dói enquanto escrevo. Dois comprimidos analgésicos não resolveram – ainda – o problema. Enquanto escrevo ouço – alto – discos de Nelson Cavaquinho, os “Quatro Grandes do Samba” – eles, Nelson e Guilherme, mais Elton Medeiros e Candeia –, Jair do Cavaquinho e Argemiro Patrocínio, também já falecidos; também assuntos para outra(s) coluna(s).

2 respostas para “Vida, amor e morte. Não necessariamente nessa ordem”

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