Você ainda vai ter um(a) Parada Cardíaca

Assim como a gravidez, a menstruação é uma perfeita representação do (a alma) feminino(a). Talvez por isso, Kali C apareça banhada em sangue – mesmo que seja só catchup – na capa de seu disco de estréia (Independente, 2002). Exagero não, impacto sim. Ecos de Roberto Carlos e Erasmo também, de Adoniran Barbosa, de Jorge Ben e de uma doce e saudável – e às vezes saudosa – malandragem carioca, ao menos no campo musical. De Suely Mesquita não há ecos: há sexo puro, a presença da parceira e conterrânea.

Mas não pensem os desavisados, que Kali C não é original. Compositora competente, cantora firme, sabe escolher os parceiros – sem nenhum feminismo barato, sabe que precisa de homens e faz um disco feminino. Como lhe basta. Como nos basta. O guitarrista Rodrigo Campelo é seu exército de um homem só. Ele assina a produção musical da fina bolacha de uma mulher que sabe bem o que quer.

“Unhas” bem poderia ser um auto-retrato: “o que você tem é mais do que se pode ver”. Quem olha Kali C no encarte do disco, bem poderia pensar que a moça é só (mais) um rostinho bonito. É bem mais que isso. É pop, é rock, é música eletrônica, é tudo isso ao mesmo tempo, e ainda sobra espaço para a qualidade.

Em “Um deus” ela acredita “com todo cuidado / bem devagarinho / que é pra não machucar”. Acreditar em Deus é fácil. Mas será tão fácil assim enxergar beleza na vida? Em “Carla”, ela (se) pergunta: “cadê a pelúcia da vida?”. Não sei ao certo, tá por aí, penso/respondo. Mas ao menos nos pouco mais de quarenta minutos de “Parada Cardíaca” – você ainda vai ter um(a)! – ela está bem aqui, em nossos olhos e ouvidos, Kali C e seu canto.

7 respostas para “Você ainda vai ter um(a) Parada Cardíaca”

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