[jp turismo, jornal pequeno]
As tacadas certeiras de Peréio
“O artista cagando para a obra e vice-versa”, atesta/avisa Xico Sá no prefácio do livro. Editora do Bispo bota na rua as delicadezas de um dos atores mais importantes do país.
por Zema Ribeiro *
“Por que se mete, porra? – Delicadezas de Paulo César Peréio” [Editora do Bispo, 2006, R$ 38,50] é obra inclassificável. Ora, o Peréio todos conhecem, amam ou “odéiam”. O currículo do homem é invejável: mais de cinqüenta filmes e outras curriculagens impublicáveis. Aqui, o homem fora de cena, percorrendo botecos, sinucas, amores e dores, muito além da óbvia rima. Contrariando o título, as indelicadezas aqui reunidas são, antes de qualquer coisa, obras/frutos do amor.
A obra é a vida organizada/contada em bilhetes, fotografias, ilustrações, guardanapos anotados e amassados em mesas de bar. “A vida é cada vez menos”, repete, o tempo passa, “mais uma ficha!”, pede, junto com o parceiro em mais uma rodada de sinuca, num boteco qualquer.
Luxuosa – como outras edições “do Bispo” –, “Por que se mete, porra?” traz na capa uma imagem “bukólica”: algo como um bucolismo digno de Charles Bukowski, outro fodão de outro pedaço da América. A primeira imagem, pós-capa, mostra um Peréio pensador (o de Rodin?), sentado num vaso sanitário. Daí pra frente, um lirismo incessante, sincero, de que só os bêbados e as crianças são capazes.
“Cuidado com a incapacidade da ironia, com o provincianismo mental! Há mais do que um sentido no texto, então no discurso, contido em nenhuma palavra dela ou dele. Pois é impossível o texto do discurso dizer aquilo que diz.”, avisa Peréio num dos bilhetes, post-its pregados na porta da geladeira, que a obra pode ser copiada desde que citada a fonte, à vontade, pois, meus caros, que a prosa-porra-louca-vida-louca-vida do homem vale muito a pena.
Nessas “Delicadezas de Paulo César Peréio”, até mesmo a dor tem alguma graça.
* correspondente para o Maranhão do site Overmundo, escreve no blogue http://zemaribeiro.blogspot.com


Gostei da crítica. O texto do livro é perfeitoooooo… vou procurá-lo.>A propósito, é sábado… :p
obrigado, donna. uma palavra define bem esse livro: foda! e este sábado está sendo perfeito: conversas, entrevistas, cerveja e uns garimpos em sebos. abraço!