minha vida não vale um filme

menos ainda um romance de formação.

é de manhã, sol, pingos de chuva nenhuma, ontem não caíram, um motoqueiro me indaga, eu a pé: “onde fica o hospital geral?” indico uma via para que ele fuja da contramão e oriento-lhe sobre como chegar.

em busca de uma casa (para comprar), no centro, desço alecrim, pespontão, encontro um rapazinho dessas terceirizadas que prestam serviço para a cemar (ou caema, sei lá); puxo conversa: “não sabes de nenhuma casa para vender por aqui? pergunto, pois tu deves andar muito por essas bandas, talvez lembre de algo…” pensa um pouco, e “não, no momento lembro de nada não”, ele me diz. depois comenta que talvez aquela que está fechada, e ele toca novamente a campainha, vá ser vendida. mas não há placa nenhuma indicando-me disso.

resolvo finalmente chegar ao trabalho. despeço-me do rapazinho da terceirizada da caema (ou cemar, sei lá) e avisto uma velhinha na calçada. “a senhora mora por aqui?” “moro, e ele já me viu”, responde, como quem não quer conversa e/ou pensando que eu era também um terceirizado da cemar (ou caema, sei lá). podendo dormir sem essa, insisto: “a senhora não sabe de casas para vender por aqui?” a resposta é ainda mais seca: “não! quem sabe disso é imobiliária”. digo um “obrigado” com a quase certeza de que ela não ouviu e sigo meu caminho.

conto a história acima no trabalho. ouço gargalhadas e rio também. rir (ainda) é o melhor remédio.

indo almoçar, sempre a pé, vejo um motorista de van, perguntando a um flanelinha desorientado por uma rua no centro. ao ouvir o nome da rua onde moro, aponto o sentido e digo que estou indo para lá. pego a “carona” na van e indico-lhe para que lado estaria o procurado número 39 e deixo-lhes seguir viagem.

após o almoço, a pé, nem preciso repetir, estudantes do ensino fundamental me gritam: “ê, siô!, ê, siô!, ó o camaleão aí!”. a pouca distância deste que vos escreve, um camaleão em plena rua das crioulas (ou cândido ribeiro, como queiram), no esturricante sol de pouco mais de meio-dia. paro e espero, para ver qual é a do camaleão, que fica parado, tenta escalar um muro e pára novamente. sigo meu caminho.

“boa tarde! um real, sem gelo, por favor”, saúdo e peço ao rapaz do balcão, um copo de caldo de cana. relaxo e atravesso a rua, enquanto um taxista atrapalhado deixa o carro no meio da faixa, atrapalhando nossa passagem.

2 respostas para “minha vida não vale um filme”

  1. Compatriota Zema, volte a escrever estes belos textos, pois sua fama ultrapassará a de João Lisboa. Certamente o melhor texto da internet que leio este mês. Abraços!

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