(sons e poemas) para um dia de domingo

é domingo. entre o acordar (ainda a tempo de ouvir “chorinhos e chorões” completo) e o ir à missa (às 18h, em são pantaleão), passo o dia a vasculhar uma parte de minha (desorganizada) estante, buscando uns documentos e organizando alguns textos xerocados ao longo do curso de comunicação social (jornalismo): serão encadernados para (alg)uma (possível) revisão durante a elaboração da monografia.

perdidos eu não diria, mas no meio da bagunça, encontrei uns poemas inéditos do marcelo montenegro, que ele me enviou junto do orfanato portátil (autografado), tempos atrás.

posto aqui (“agora mesmo algum maluco / deve estar postando qualquer treco / genial na internet“), um dos poemas, ao qual não acrescerei nenhum adjetivo, pois qualquer elogio (“genial”, por exemplo) torna-se redundância em se tratando da obra do homem.

@

velhas variações sobre a produção contemporânea

marcelo montenegro (, inédito)

agora mesmo algum maluco
deve estar postando qualquer treco
genial na internet,
alguém deve estar pensando
em como melhorar aquele
texto enquanto lota o especial
de vinagrete, perseguindo
obstinadamente um acorde
voltando da padaria.

agora mesmo alguém
pode estar pensando
que guardamos só pra gente
o lado ruim das coisas lindas —
assim, trancafiado a sete chaves
de carinho — alguém
pode estar sentindo tudo ao mesmo tempo
sozinho, assim brutalmente
sentimental, feito coubesse
toda a dignidade humana
num abraço tímido.

agora mesmo alguém deve estar limpando
cuidadosamente o cd com a camisa,
pulando a ponta do pão pullman,
sentindo o baque da privada gelada,
perguntando quanto está o metro
daquela corda de nylon, trepando
no carro, empurrando o filho
no balanço com uma mão
e na outra equilibrando
a lata e o cigarro, agora mesmo
alguém deve estar voltando,
alguém deve estar indo,
alguém deve estar gritando feito um louco
para um outro alguém
que não deve estar ouvindo.

agora mesmo alguém
pode estar encontrando
sem querer o que há muito
já nem era procurado, alguém que no quinto sono
deve estar virando para o outro lado,
alguém, agora mesmo, no café da manhã
deve estar pensando em outras coisas
enquanto a vista displicentemente lê
os ingredientes do toddy.

@

após o dia entre a poeira, velhos textos, avaliações, o caralho a quatro e a catorze, sons, deixo-os com este poema.

sons: trio madeira brasil, luiz tatit, yamandu costa, arnaldo antunes, rubi, elizeth cardoso, jacob do bandolim etc., etc., etc.

2 respostas para “(sons e poemas) para um dia de domingo”

diga lá! não precisa concordar com o blogue. comentários grosseiros e/ou anônimos serão apagados