certeiro

“Voltei para a minha arrumação de malas, enchi uma valise e a carreguei para o carro, onde o resto das minhas coisas — máquina de escrever, livros, roupas — estavam empilhadas no banco traseiro. Agora que eu estava pronto para ir embora pela última vez, havia uma questão não concluída. Parei ao lado do carro e resolvi. Eu provavelmente nunca mais encontraria Edgington. Como poderia gravar nele a recordação desta partida neste dia chuvoso? Por fim resolvi a questão e voltei para dentro da casa. Ele estava no sofá.

— Estou indo embora agora — anunciei.

Ele levantou e estendeu a mão.

— Boa sorte, gringo.

Acertei-o no rosto e derrubei-o no sofá. Ficou lá sentado, cuidando da hemorragia nasal. Voltei para o carro e fui embora. Eu não devia ter batido em Edgington. Ele tinha sido hospitaleiro, amigável, generoso e gentil. Mas eu não podia agüentar a arrogância dele. Era bem-sucedido demais para mim. Tudo estava acontecendo para ele. Eu não tinha arrependimentos. A vida era assim. Eu lamentava pela hemorragia nasal, mas ele bem que a merecia. Quanto a Velda van der Zee, que se fodesse. O que era mais um diretor? A cidade estava fervilhando deles.”

John Fante, Sonhos de Bunker Hill. L&PM, 2003. Tradução de Lúcia Brito.

4 respostas para “certeiro”

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