TRIBUNA DE PÁSCOA

[Íntegra do texto que mandei para a coluna Tribuna Cultural, para sair no jornal Tribuna do Nordeste de hoje. Ainda não vi a edição impressa]

LEMBRANDO VIEIRA: UMA HOMENAGEM DA TRIBUNA CULTURAL

Nosso colunista presta merecida homenagem ao grande compositor brasileiro, falecido terça-feira passada, deixando a cultura popular maranhense de luto.


[O samba é bom. Capa. Reprodução]

Em seu quase meio ano de vida, a coluna Tribuna Cultural tem tentado trazer a seus leitores lançamentos da música e da literatura, principalmente. Quando livros e discos já não estão tanto no “calor” do recém-lançamento, a ideia central é trazer coisas supostamente desconhecidas do grande público.

Pela primeira vez a coluna fugirá da resenha e/ou comentário sobre esta ou aquela obra e prestará um tributo a um grande criador da música popular brasileira: mestre Antonio Vieira (1920-2009), falecido aos 88 anos, na última terça-feira, 7 de abril.

Nascido em 9 de maio de 1920, Vieira pode até ter tido reconhecimento tardio, mas, para vermos as coisas pelo lado bom, mania do colunista e (quase) regra da coluna, recebeu ainda as flores em vida, como cantaria outro grande compositor da música brasileira.

Compôs a primeira música aos 16 anos de idade: Mulata bonita. Em 1974 seria gravado por Ari Lobo (Balaio de guarimã, em parceria com Lopes Bogea). Em 1986, sob produção de Giordano Mochel, Ubiratan Sousa e Chico Saldanha, gravaria o compacto Velhos Moleques, com Agostinho Reis, Cristõvão Alô Brasil e do citado Lopes Bogea. Vieira, a propósito, foi o último velho moleque a ir fazer samba no céu, em roda que a essa altura deve estar animada. Com o último, em 1988, registraria Pregoeiros, livro e vinil que resgatava pregões cantados por ambulantes por ruas, becos, ladeiras e esquinas ludovicenses.

As gravações de Rita Ribeiro em seu disco de estreia (1997) para Cocada e Tem quem queira levaram Vieira a ser reconhecido no sul maravilha. Em 2001, em show ao vivo gravado no Teatro Arthur Azevedo, Zeca Baleiro produziria a “estreia” solo do já oitentão. O samba é bom, o disco, contou com participações especialíssimas de figurões da nossa música: Célia Maria, Rita Ribeiro, Elza Soares, Sivuca, Sinhô (João Pedro Borges), além do próprio Zeca Baleiro, com o acompanhamento luxuoso do Regional Surra Curuba, batismo tirado de música homônima de Vieira. Dividiu o palco também com Cesar Teixeira em shows históricos: Papel de seda (Circo da Cidade, São Luís, 2000, primeira produção de Ópera Night) e Brasil de todos os sambas (Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, 2004).

Mais tarde, o autor de Papagaios de papel participaria da trilha sonora da novela global Da cor do pecado, em parte gravada no Maranhão: suas músicas Tem quem queira e Banho cheiroso caíram na boca dos brasileiros. Costumeiramente o mais velho dos percussionistas do grupo de choro Urubu Malandro lembrava disso em suas canjas no Clube do Choro Recebe (o projeto acontece todos os sábados, às 19h30min, no Restaurante Chico Canhoto – Residencial São Domingos, Cohama), quando era convidado por Arlindo Carvalho (o percussionista “do meio”, pai do mais novo, Caio Carvalho) a, antes de cantar, recitar a letra de Cocada. Coisa fina! Foi no projeto, aliás, sua última aparição pública: em 14 de março, quando o Urubu Malandro recebeu a cantora Rosa Reis.

Simples e sempre solícito, o sucesso, que chegou sem pressa, não subiu à cabeça de Seu Vieira – como era simplesmente conhecido por muitos. “Não tem mosquito!”, costumava responder aos convites: “É só agendar com Maestro Arlindo que por mim ‘tá tudo bem”. A banca de revistas de Dácio, no estacionamento da Praia Grande, frequentava diária e religiosamente. Do mestre, agora saudoso, aliás, melhor guardar a lembrança do sorriso franco e fácil, a doçura de quem sempre estava disposto a perder um bocado de seu tempo conversando com quem desejasse. E ensinando: o epíteto de mestre não era à toa nem em vão.

Antonio Vieira, mais que nunca, é eterno. Eterno mestre, para todo o sempre, amém!

CHORINHOS E CHORÕES ESPECIAL – O Chorinhos e Chorões de hoje (12), a partir das 9h, na Rádio Universidade FM (106,9MHz), terá excepcionalmente duas horas de duração e prestará homenagem a mestre Vieira. Apresentado por Ricarte Almeida Santos terá como convidados os amigos Arlindo Carvalho (percussionista), Celson Mendes (violonista), Nívia Saraiva (historiadora), Rosa Santos (radialista) e este colunista. Não percam!

[O programa rolou e foi bonito. Vocês ouviram? O que acharam?]

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