NO BIGODE DA NAÇÃO

NO BIGODE DA NAÇÃO
Miguezim de Princesa

Presidente Zé Sarney,
Queira ao menos me explicar
Se tudo o que o senhor faz
Há como fundamentar:
Se é coisa consciente
Ou, se o assunto é parente,
Costuma se abilolar?

Pois um homem experiente,
Que nunca perdeu uma meta,
Que apoiou a ditadura
E a renegou na indireta
Ao se eleger com Tancredo,
Vai se lascar no segredo
Do namorado da neta!

Vai se perder na hospedagem
Do cabra lá de Codó
(Vereador muambeiro,
Babão de uma conversa só,
Exímio catimbozeiro,
Pomba-gira de terreiro,
Amarrador de cipó)?

Como dizia Platão,
Tu és do primeiro time,
Rei, príncipe, seja o que for,
Comandante do regime,
Pra cujas falhas a pena
Não passa de cantilena,
Não existe nem redime.

Quem sabe, não foi por isso,
Engolfado nos milhões,
Que pra ti virou besteira
O destino dos tostões
Desviados de Brasília,
Que são troco da família
De assinalados barões.

E aí o presidente,
A nossa máxima excelência,
Hierarquizou o crime,
Nos pedindo paciência:
Simples mortais, a prisão;
Quem representa cifrão
Tem inteira complacência!

O Brasil do Bolsa-Fome,
Que vive na precisão,
De milhões que nunca viram
A luz da educação,
Suporta agora quieto
Seiscentos atos secretos
No bigode da Nação.

Atire a primeira pedra,
Senador ou deputado,
E eu de cá escutando
A coruja no telhado
Ou algum bicho agoureiro
Campanado no poleiro
Esperando o resultado.

A campanha dos jornais
Escolheu José Sarney:
Ele é a bola da vez
(Da minha lista eu rifei),
Mas eu conheço mais gente,
Supostamente decente,
Em quem não apostarei.

E para finalizar,
Peço a Sarney atenção:
Beiço não é arroz doce,
Polenta não é pirão;
Jumenta nunca foi égua;
Compasso nunca foi régua;
Brasil não é sua mansão!

*

Poema que recebi por e-mail, de Ricarte. O paraibano Miguezim de Princesa sabe das coisas. A charge, peguei do Jornal da Besta Fubana.

O SWING DE SUELY MESQUITA

Segundo disco solo da cantora liquidifica sua multiplicidade.


[“microswing”. Capa. Reprodução]

Você já ouviu (falar em) Suely Mesquita? Se não, é(stá mais que na) hora! Carioca, professora de canto/preparadora vocal (saiba mais em seu site) e, talvez por isso, cantora competente e emocionante, compositora idem. Já gravada por nomes como Ney Matogrosso, Fernanda Abreu, Leoni, Moska, Ceumar, Natália Mallo, Marcela Biasi, além dos parceiros Pedro Luís (e a Parede) e Mathilda Kóvak, embora, possivelmente, você também não tenha ouvido (falar em) alguns desses nomes.

Bem acompanhada, seja por parceiros, músicos e/ou participações especiais, Suely Mesquita nos apresenta “microswing” [2009, independente], seu segundo disco solo, onde regrava amizades/parcerias e lança inéditas. Entre as primeiras, Zona e progresso (Arícia Mess/ Pedro Luís/ Suely Mesquita), que batizou o terceiro disco de PLAP (2001), Catástrofe (Suely Mesquita/ Mathilda Kóvak), gravada pela parceira, Qualquer lugar (Suely Mesquita), que deu título ao disco de Natália Mallo (2007), Mertiolate (Kali C./ Suely Mesquita), gravada por Marcela Biasi e Vira Lixo (Chico César/ Suely Mesquita), gravada por Ceumar.

Participam do disco Zélia Duncan em Imenso e Zeca Baleiro em Longe, ambos nas faixas em que são parceiros de Suely Mesquita, que transita com desenvoltura entre funk, samba, tango, choro, blues, balada, brega… É enxuto: João Gaspar assina a produção musical e se desdobra entre violões de nylon e aço, guitarras, dobro, bandolim, charango e mini moog; Edu Szajnbrum em bateria e percussão. O exército de dois soldados de Suely dá conta do recado.

Dedicado à memória da cantora Ryta de Cássia, para quem Suely compôs Blues pra Ryta, que fecha o disco, tudo isso embrulhado em belo projeto gráfico, assinado por Alê Porto, esposo da cantora.

Se “Dionísio é o deus da zona”, como ela canta na faixa de abertura, Suely Mesquita é a rainha da música pop – apesar de ela não carecer de rótulos –, a rainha do (micro)swing. Se você ainda não ouviu (falar em) Suely Mesquita, já está passando da hora.

[Tribuna Cultural, Tribuna do Nordeste, ontem]

TULÍPIO NO ALTERNATIVO

O bebum mais querido do Brasil estreou hoje nO Estado do Maranhão: Tulípio estará todos os domingos no caderno Alternativo. Na estreia, o blogueiro joga conversa fora com o figura, em texto escrito ainda em 2008 para o Boteco do Tulípio e até então inédito. Edu Rodrigues e Paulo Stocker, os pais da criança, são sérios candidatos ao HQ Mix 2009.

UMA RECEITA SURPREENDENTE

POR ZEMA RIBEIRO*
ESPECIAL PARA O ALTERNATIVO

Em viagem que fiz à Teresina, Piauí, terminada a reunião de trabalho, ficaria vagando por coisa de quatro horas até que saísse o ônibus que me traria de volta à São Luís. Anfitrião de primeira, socorreu-me Chagas Vale, artista plural que me conduziu pela beleza do Encontro das Águas e mostrou-me uma capital piauiense já perdida na memória – há tempos não visitava o estado vizinho.

Acabamos fazendo juntos o que eu faria sozinho, na rodoviária, esperando o ônibus: bebemos. E foi Chagas Vale quem me contou a história que lhes re-conto, certamente com menos graça.

Ele era proprietário de um bar em Teresina, há tempos. O local tinha algumas características interessantes: alta madrugada, garçom nenhum era autorizado a arrastar uma mesa, sequer tirar uma toalha, para não dar a impressão aos fregueses – ou em geral, ao último chato resistente – de que estavam sendo expulsos. Outra: tudo o que havia no cardápio deveria ser servido. É chato ou não é, chegar num lugar qualquer e pedir macaxeira e ouvir um “só tem batata frita”?

Para além dessas qualidades, havia um garçom, “passado na casca do alho” – para citar um amigo de Chagas Vale, o Assis Bezerra, outro piauiense de quem me tornaria amigo, mas em outra viagem, a Salvador –, bom malandro. Seu apelido era Carioca e era o tipo de figura que, se sabia que você fumava, descobria a marca predileta e já punha o cigarro em sua boca e acendia. Cortesia. Se um dia você não tinha dinheiro, não ficava devendo ao bar: o garçom pagava sua conta e você ficava devendo a ele, por quem todos os habitués queriam ser atendidos.

Um dia – uma noite, melhor dizendo – um casal chamou um garçom de outra naturalidade e pediu, apontando no cardápio: “uma carne de sol, por favor!”. “Seu Chagas, não temos carne de sol na casa”, o proprietário ouviu, já dando a solução: “Diga que estará pronta em quarenta minutos”. E Chagas Vale destabacou-se para um Pão de Açúcar 24h, à época em funcionamento em Teresina. Voltou e, providenciado o preparo do prato, o casal foi servido.

“Garçom!”, chamaram. Reclamaram: “Essa carne ‘tá com gosto de pasta de dente”. “Impossível!”, o bom funcionário tentou argumentar. “Prove!”, foi provocado. Enfiou um palito de dentes num dos pedaços trinchados, experimentou e comprovou o que o casal dizia: “Chamem o proprietário!”.

Chagas Vale se aproximou e, como o garçom, não sabia o que dizer. O bar estava mais ou menos lotado e um escândalo se anunciava. Ao que surgiu, inesperadamente a figura de Carioca, que acompanhava tudo a meia distância: “Permitam-me, senhores. Houve um engano. Essa carne de sol refogada na folha de hortelã deveria ter sido servida em uma mesa que estou atendendo”. “Carne de sol na folha de hortelã?”, espantou-se o casal. Carioca continuou: “Sim. É um prato em fase de experimento, por isso ainda nem consta do cardápio”. A moça espetou um pedaço, mastigou com atenção, mandou um gole de cerveja, imitada nos gestos pelo rapaz que lhe acompanhava. “É, até que ‘tá gostoso”, “Tem diferença no preço?”. “Não!”, disse o Carioca-salvador. “Então deixe aqui”, uníssono o casal, satisfeito com a nova receita.

*Zema Ribeiro escreve no blogue http://zemaribeiro.blogspot.com e é freqüentador assíduo do Boteco do Tulípio.

SERVIÇO

Pagando contas e fazendo outras, ontem, no São Luís Shopping: na Nobéia tem Pornopopel.