SOBRE O QUE TÁ SALVANDO A FEIRA DO LIVRO

Muita gente me critica por eu ser um escritor de elogios. Bem, procuro ver sempre o lado bom das coisas. Como não há lado bom em música ruim, literatura ruim, cinema ruim, nem na família Sarney, prefiro escrever sobre o que ouço, leio, vejo e gosto. É opção. Embora vez em quando pintem coisas que merecem que desçamos a ripa nas costas e verás que um filho teu não foge à luta: fazemos sem dó nem piedade.

Por exemplo, a III Feira do Livro de São Luís. Não quero imitar seu patrono que, a torto e a direito, solta resmungos aos domingos em um jornalão. Muitas vezes sem razão. Por isso não posso simplesmente dizer que se trata da pior Feira do Livro que São Luís já teve, embora haja problemas. Só dei uma rápida passada lá no domingo (22), e fosse resmungar aqui, certamente seria injusto, embora creia, solução mesmo para São Luís seria ter um prefeito chamado Palafita ou Barracão, já que nem Palácio nem Castelo se mostra(ra)m hábeis.

Domingo a energia oscilou – para ser educado ao dizer que a energia ficou faltando e chegando, faltando e chegando, faltando e chegando –, causando certo pânico – nome de programa televisivo que passa justo no horário em que eu tentava passear na Feira – no público presente. A Praça Maria Aragão abriga stands institucionais e livreiros e livrarias – não há editoras, esse ano – estão confinados ao espaço (quente) do antigo Espaço Cultural. Eles não pagam pelos stands, mas isso infelizmente não está refletido nos preços do que se comercializa: os livros continuam tão caros quanto em qualquer livraria a qualquer época do ano – sei que feira é moda, é point, é chique, e até analfabetos frequentam.

Colabora para os problemas a ausência do Governo do Estado do Maranhão, que pela primeira vez (esta já é a terceira edição da feira!) não injeta recursos neste importante evento para o calendário cultural da ilha: a governadora Roseana Sarney e os secretários de turismo Tadeu Palácio e cultura Luiz Bulcão preferem enfiar tubos de dinheiro em eventos (é vento!, passa…) como o Bumba Ilha, com grupos de bumba-meu-boi apaniguados e descaracterizados sobre trios elétricos, com distribuição gratuita de abadás aos foliões (trocaram o Marafolia, que não houve em 2009, por isso?) e o Praia Grande das Artes, que torrou em torno de 400 mil reais em quatro dias de festividades no central bairro homônimo, além de convênios inconvenientes. Não vi sequer serem distribuídos livretos com a programação da feira. Há?

Respeito a obra poética de Chico César, embora já saiba que o sarau-sururu de encerramento da feira será concorrido e caótico: o público irá em busca de ver o cantor e compositor, jamais o poeta. Leona Cavalli já é demais: me recuso a comentar. O Brasil não tem escritores? Alô, dona Func, tem um monte de gente boa produzindo, que provavelmente toparia visitar a Ilha por cachês menores, garantindo a realização de uma verdadeira Feira do Livro, com a tal diversidade literária na capital brasileira da cultura, slogan-balela.

Mas não sou Ferreira Gullar, não resmungo gratuitamente e reconheço o que é bom: aumentou significativamente a participação de autores maranhenses, inclusive recebendo cachês, os “da terra”, coitados, outrora relegados a “divulgar seu nome e sua arte” eternamente, de graça. É, em resumo, o que está salvando a Feira.

Já passaram por lá Beto Nicácio e suA lenda da carruagem encantada de Ana Jansen e Micaela Vermelho e Gabriel Jauregui e seu Tambor de Crioula, belíssimo livro-espetáculo sobre o que escrevo com mais detalhes por aqui em breve. Tudo bem, Mica e Gabriel não são maranhenses, mas são meus amigos e eis outro defeito que trago em mim: falo bem dos amigos, mas não só por serem meus amigos (bom, quando vocês pegarem o Tambor de Crioula em mãos, vão entender do que tou falando). E daqui por diante é só o que vou recomendar, meus amigos na Feira, aproveitem:

Quinta-feira, 26, 19h (Casa do Escritor, Praça Maria Aragão), o escritor Bruno Azevêdo finalmente lança em São Luís seu Breganejo Blues – Novela Trezoitão, que já percorreu BH, São Paulo, Rio e Brasília.

Sexta-feira, 27, 9h (Casa do Escritor, Praça Maria Aragão), o poeta Joãozinho Ribeiro, coordenador executivo da II Conferência Nacional de Cultura, concede entrevista coletiva sobre o assunto.

Sexta-feira, 27, 18h30min, o poeta Celso Borges (poesia, voz) apresenta seu espetáculo de poemúsica A posição da poesia é oposição, com Christian Portela (guitarra), Luiz Cláudio (percussão) e Lúcia Santos (participação especial).

Sábado, 28, 16h (Casa do Escritor, Praça Maria Aragão), Iramir Araújo relança suA balaiada.

Clique nas imagens para ampliá-las e obter mais detalhes sobre os programas.

4 respostas para “SOBRE O QUE TÁ SALVANDO A FEIRA DO LIVRO”

  1. Olá, Zema. Concordo plenamente com vc ao dizer que prefere ver o lado bom dos eventos. Precisamos disso. mas metendo o malho na Feira, me preocupa muito, marenhense que sou, expatriado, esse provincianismo de São Luís, dos poderes públicos. A história da Literatura brasileira deve muito ao Maranhào, mas o maranhão de hoje nao valoriza isso e prefere viver de picuinhas politiqueiras. Isso é frustrante para nós, jovens escritores, que precisamos de apoio. Em tempo, acabei de publicar o livro infanto-juvenil “O rei que virou lenda” por uma editora paulista, e a coordenação da feira CAGOU pro meu interesse em publicar na minha terra. CAGOU MESMO!!! Enquanto isso, o livro está saindo em jornais aqui do sudeste, revistas, uma divulgação muito boa que nem esperava que acontecesse. Fui descartado na minha propria terra, como tantos bons escritores que ainda estão nela e precisam desse espaço. A FEIRA PERDE MUITO, VAI PERDER MUITO, O MARANHÃO PERDE MAIS.O MARANHÃO NAO É SARNEY, NEM ROSEANA, NEM JACKSON, NEM NEM. O MARANHÃO QUE FICARÁ É O QUE SE ESCREVEU ONTEM E O QUE SE ESCREVE HOJE. Desculpe, mas eu precisava desabafar!!!Obrigado.

  2. uma pena, cláudio, o desinteresse: só quem perde é o maranhão e seu povo, que fica sem conhecer sua obra e a de tanta gente boa que está produzindo. aqui o espaço é realmente livre, obrigado pela visita, leitura e comentário. abraço!

  3. Caro Zema,

    Muito oportuno o seu pequeno e contundente artigo. A Feira do Livro presta homenagens a Ferreira Gullar, mas a orgaização não convidou poetas locais nem poetas consagrados ou contemporâneos brasileiros para o evento, a exemplo de Manoel de Barros, Frabrício Carpinejar, Alice Ruiz, Ademir Assunção, Felipe Nepomuceno, Chacal, etc.

    Foram programados dois recitais elaborados por alguns amigos: Geraldo Iensen, Lúcia Santos, Cristian Portela, Luiz Cláudio e Celso Borges. Mas acho que esta iniciativa não é suficiente. Portanto, não há harmonia nem coerência entre a programação e a homenagem.

    No mais, todos sabemos que Chico César é muito mais importante como cantor e compositor, embora exista poesia em algumas de suas canções. Leona Cavalli é atriz e, provavelmente, o livro que ela vem lançar aqui não possui nenhum compromisso estético. Aliás, ela vem todos os anos para o Guarnicê. Isso já não basta?

    Um grande abraço,

  4. meu caro eduardo, obrigado pela visita, leitura e comentário.

    só para citar dois exemplos: cadê você e fabreu na programação da(s) feira(s) do livro de são luís?

    esta terceira edição da feira do livro, se não repete alguns problemas das anteriores, traz novos. o que quero dizer é: ou a organização traz medalhões a peso de ouro, com os consagrados nacionais recebendo grandes cachês, e os locais recebendo nada a troco de que alguém lhes ouça a poesia que recitam ou lhes leia os livros que vendem; ou então, e é o caso da presente edição, trazem gente que atraia público, não necessariamente observando critérios como a qualidade e/ou mesmo o volume de sua produção.

    chico césar é um grande poeta e o seu “cantáteis” é lindíssimo. mas vai acontecer com ele o que aconteceu com arnaldo antunes ano passado (e ninguém melhor para dar um exemplo sobre o assunto que vocês mesmo, se não o único um dos poucos que foi prestigiar o “ex-titã” na sua qualidade de poeta multimídia): quem levar o “cantáteis” (eu tenho, escrevi sobre, mas não vou, não curto multidões) para pegar um autógrafo do músico paraibano será barrado em prol de quem levar seus discos.

    bom, espero que essas pequenas reflexões (incluindo as da caixa de comentários) sejam levadas em conta para a organização da quarta edição da feira do livro de são luís.

    abração!

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