
[Até os azulejos são de azul e branco portelense]
Monarco (foto) – que a imprensa local começou a chamar Monarco da Portela, e não os critico por isso, embora não hajam Monarcos da Mangueira (ele já morou lá), Salgueiro, Império, Beija-Flor ou qualquer outra escola de samba – faz show hoje em São Luís. Serviço: R$ 20,00, 22h, no Circo da Cidade – que apesar de hoje levar o nome de Circo Cultural Nelson Brito, em merecida homenagem ao ator que completa um ano de subido dia 11 (outro serviço: missa na Igreja de Santo Antonio, às 19h), como tantas outras coisas, permanecerá sendo chamado pelo nome velho.
Com todo respeito a São Francisco, é incrível a pobreza franciscana das informações sobre a apresentação de logo mais, que o autor de Vai vadiar (sim, o clássico “de” Zeca Pagodinho) faz acompanhado de Moyséis Marques, “garoto bom que está no caminho certo”, segundo o próprio Monarco declarou na matéria Monarco da Portela em roda de samba (acesso exclusivo para assinantes, mediante senha), assinada pela jornalista Bruna Castelo Branco no caderno Alternativo (O Estado do Maranhão) de hoje, de longe o texto mais informado-informativo sobre “a primeira vez que o músico se apresenta em São Luís” – até ler a matéria hoje pela manhã eu não sabia, por exemplo, o preço do ingresso (não divulgado no material da própria produção).
Essa pisada de Monarco na Ilha é acontecimento histórico. Além de ser a primeira vez que o sambista dá o ar da graça por aqui – já conta 76 anos – além de seu canto firme e composições certeiras, estaremos – os que forem ao show – diante de uma antologia viva do samba. Se liga, rapaziada mais nova que adora ouvir, por exemplo, Marisa Monte: Monarco é um de seus, digamos, “conselheiro”. É uma das figuras que abre o baú da Velha Guarda da Portela (e do samba, carioca, brasileiro…), que integra desde sempre, pescando pérolas. Sacam o Universo ao meu redor? Pois é, há muito de Monarco ali, podem apostar (embora ele não assine nenhuma das composições). Foi via Monarco, por exemplo, que Pedro Miranda chegou a Velhice – calma! É o título da música –, inédita e rara parceria do mangueirense Nelson Cavaquinho e do portelense Alcides Malandro Histórico (que foi parceiro de Monarco).
Ainda você, fã de Marisa Monte: conhece o Tudo azul, disco da Velha Guarda da Portela produzido por ela, com a participação de um monte de gente boa? – Paulinho da Viola, Zeca Pagodinho, Cristina Buarque, além da própria Marisa. Se você, fã da Marisa Monte (antes de me acusarem de ironia, afirmo: tenho todos os discos dela, incluindo o Tribalistas, com Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown) ou do Zeca Pagodinho, não conhece Hildemar Diniz (nome de pia de Monarco, apelido que ganhou na infância), não lhe culpo – nem todo mundo tem minha “mania de velho” de ler letras miúdas e coisas “menos importantes” em encartes de discos –, e aos que moram em São Luís eis aí uma ótima oportunidade.

[A capa de seu clássico disco de 1976: nele estão O quitandeiro, Lenço e Tudo, menos amor, entre outros clássicos “monárquicos”]
Amostras do raro talento “monárquico” – sim, coisas de “rei” (do samba): “Seguirei a ordem do meu coração/ não me fale de amor, nem tampouco me peça perdão/ eu não vejo honestidade em teu semblante/ falsidade, isso sim, eu vi bastante/ pega esse lenço e não chora/ enxuga o pranto, diga adeus e vá embora” (Lenço, de Chico Santana e Monarco, já gravada por Paulinho da Viola, Beth Carvalho e Zeca Pagodinho); “Você não foi meu primeiro amor/ nem tampouco o segundo/ a sentir saudade nesse mundo/ mas alguém está sentindo/ quero morrer se acaso estou mentindo” (Amor de malandro, de Alcides Malandro Histórico e Monarco, homônima a outro clássico de Francisco Alves e Ismael Silva, por Luiz Melodia); ou “Ouvi cantando assim/ ô ô, ô ô/ a majestade do samba/ chegou, chegou/ corri pra ver, pra ver quem era/ chegando lá era a Portela” (Corri pra ver, de Casquinha, Chico Santana e Monarco, pela Velha Guarda da Portela); ou “Eu quis te dar um grande amor/ mas você não se acostumou/ a vida de um lar/ o que você quer é vadiar” (Vai vadiar, de Monarco e Alcino Corrêa, por Dona Ivone Lara e Zeca Pagodinho); ou “Tudo que quiseres te darei, ó, flor/ menos amor/ darei carinho/ se tiveres a necessidade/ e peço a Deus para lhe dar muita felicidade/ (…)/ mas o meu amor, jamais (Tudo, menos amor, de Monarco e Walter Rosa, por Martinho da Vila).

[A capa do ótimo disco de estreia de Moyseis Marques, aberto com a belíssima Nomes de favela, de Paulo César Pinheiro]
Nascido em Minas Gerais, Moyseis Marques, o outro nome carioca do grande show da noite, soa novidade – ah, o detestagradável ar provinciano ilhéu – mas já tem dois discos gravados (o da capa acima, de 2007, e Fases do coração, do ano passado). Talentoso e competente compositor e intérprete, tem se acercado de gente boa – o show de hoje é prova disso – e recebido elogios de nomes como Ruy Castro, Paulo César Pinheiro (de quem gravou o clássico Nomes de Favela) e Joaquim Ferreira dos Santos, entre outros. Merecidos elogios, atestamos.
Monarco e Moyseis Marques serão acompanhados “por Guaraci (violão sete cordas), Alessandro Cardoso (cavaquinho), além de integrantes do grupo Espinha de Bacalhau” (aqui um controlcezinho da matéria de Bruna), que com Neto Peperi (atualmente em carreira solo, o ex-Espinha), fazem a abertura da noite, imagino. Imagino ou desejo, já que eu não quero perder o final da ótima Dalva e Herivelto – uma canção de amor, outro capítulo importantíssimo da música brasileira (desço pra lá assim que subirem as letrinhas: Monarco, Moyseis Marques: atrasem um tiquinho!).





