Uma pá de acontecimentos e compromissos outros têm me impedido de realizar a Tribuna Cultural regularmente. Conforme prometi a Gojoba no e-mail em que encaminhava o texto abaixo ao Tribuna do Noreste, a gente volta, dessa vez para ficar, como já cantava o “rei”.
É trabalhar por menos interrupções e por apoio cultural.
TRIBUNA CULTURAL
POR ZEMA RIBEIRO
TODA UMA HISTÓRIA PARA CONTAR E CANTAR*
No semi-acústico Ao vivo, cantor e compositor paulista reconstitui sua trajetória ímpar.
“Eu não como ouro/ por que não sou tolo/ (…)/ meu santo é louco/ meu anjo é barroco/ eu não nasci pra fazer teste/ nem levo jeito pra réu/ eu tenho desde pivete/ ideia, suingue e chapéu/ ideia, motivo e cordel”, anuncia-se, logo na primeira faixa, Edvaldo Santana.
Parceiro de nomes como Itamar Assumpção (por exemplo no Blues caboclo de abertura, do excerto acima), Ademir Assunção (em Cabral, Gagarin e Bill Gates e Samba do japa) e Arnaldo Antunes, e já tendo gravado com nomes como Chico César, Lenine e Zélia Duncan, o cantor e compositor paulista, filho de piauiense com pernambucana, ainda não tem o merecido reconhecimento no cenário da música brasileira contemporânea.
Embora mereça: Ao vivo [2010, independente, distribuição: Tratore] dá provas de sobra disso. Nele, uma seleta de seus discos Lobo solitário (1993), Tá assustado? (1995), Edvaldo Santana (1999), Amor de periferia (2004) e Reserva de alegria (2006), além da quase-inédita O goleiro (Edvaldo Santana), gravada em estúdio e disponibilizada desde o ano passado para download em seu site, e da inédita Santa Clara (Sacadura Cabral) (Edvaldo Santana), cantada à capela e composta em agradecimento pelo brilho do sol em um dia de filmagem de um videoclipe do artista na comunidade que dá o segundo título à música.
Abre parênteses: O goleiro já havia sido tocada por este colunista em alguma edição do Chorinhos e Chorões (Rádio Universidade FM, 106,9MHz) em que tivemos a honrosa e desafiadora missão de substituir Ricarte Almeida Santos em certa manhã dominical. Além dessa faixa, tocamos também a versão original de Choro de outono (Edvaldo Santana), que também aparece neste Ao vivo. Fecha parêntese.
Ao vivo foi gravado em três dias no Teatro Fecap (São Paulo), em junho do ano passado. O ótimo resultado alcançado é fruto do entrosamento entre Edvaldo Santana (voz e violão) e uma banda enxuta, que já o acompanha há tempos, em discos e shows: Luiz Waack (guitarra, guitarra portuguesa, vocal), Ricardo Garcia (percussão, vocal) e Reinaldo Chulapa (contrabaixo, vocal). O disco conta ainda com as participações especiais de Dona Inah (voz) em Luana de maio (Arthur Shaker) e Antonio Bombarda (sanfona) em O goleiro.
Entre blues, soul, choro, samba e bolerock, eis uma ótima oportunidade para se conhecer Edvaldo Santana. Outra será quando algum produtor se sensibilizar e trazê-lo à São Luís. Mas essa pode demorar. No que espero estar redondamente enganado.
*O título desta resenha foi tirado de um pequeno texto de Augusto de Campos sobre Edvaldo Santana, do encarte de Ao vivo.

