SAMBA DE ROQUE: PARA MOÇAS E MOÇOS. OU NÃO.
Clécia Queiroz dedica disco ao repertório do conterrâneo Roque Ferreira.

[Samba de Roque. Capa. Reprodução]
Para além do Samba pras moças (Roque Ferreira/ Grazielle Ferreira), sucesso na voz de Zeca Pagodinho, o compositor baiano Roque Ferreira ainda é (quase) um ilustre desconhecido, infelizmente.
Em 2004, lançou Tem samba no mar (Biscoito Fino/ Acari Records/ Quelé), onde cantou ele mesmo, sua obra, incluindo o sucesso citado, sob as bênçãos de Paulo César Pinheiro, parceiro em 13 das 17 obras registradas em 14 faixas.
O cenário parece estar mudando e, de uns tempos para cá, Roque Ferreira – e o público brasileiro – tem visto artistas como Maria Bethânia, Pedro Miranda – Pimenteira (Roque Ferreira) é o título de seu segundo disco, recém-lançado – e Roberta Sá incluírem peças suas no repertório de discos e shows.
A potiguar, aliás, vem anunciando desde 2007, a gravação de um álbum todo dedicado ao repertório de Roque, com o luxuoso acompanhamento do Trio Madeira Brasil, o que vem sendo mostrado e testado em shows. Deve ser lançado ainda este ano. Mariene de Castro também anunciou a ideia – originalmente de Roberta Sá.
Como grande compositor que é, saudemos toda iniciativa que faça tornar-se mais conhecida a obra do sambista que leva o nome, abrasileirado, do gênero que consagrou Elvis Presley.
Com o trocadilho, aliás, a cantora, atriz e performer baiana Clécia Queiroz intitula seu Samba de Roque [independente, 2009], disco inteiramente dedicado à obra de Roque Ferreira. Ou quase inteiramente: traz duas faixas-bônus: Chulas (domínio público) e Ciúmes (Dalva Damiana de Freitas).
As outras 11 são Roque puro, isto é, samba (de roda), chula e choro da melhor qualidade. Daqueles discos que dá vontade de tirar a sandália e dançar no meio da sala, marcando o passo batendo palmas.
Samba de Roque é um mergulho profundo no samba de roda baiano, patrimônio cultural imaterial brasileiro. É beleza na simplicidade, herança ancestral da mãe África, tudo temperado com o melhor dendê musical da Bahia, um disco para ser ouvido por todos aqueles que apreciem um samba de qualidade, baiano(s) ou não.
Não à toa, a cantora foi apelidada carinhosamente por seus pares de “dama do samba da Bahia”. Lançou, em 1997, seu disco de estreia, Chegar à Bahia. Guiada e abençoada por todos os santos, mais a estrela Dalva Damiana e Roque Ferreira, chega agora a este segundo, um primor. Sucesso e vida longa aos compositores, instrumentistas e à intérprete. Energia, pimenta, dendê, maré, lua e samba!
[Tribuna do Nordeste, ontem]
