Após longo hiato a poeta Noélia Ribeiro lança Atarantada, livro que reúne poemas antigos e recentes.

[Atarantada. Capa. Reprodução]
Versos como “sou fera, sou bicho, sou anjo e sou mulher/ sou minha mãe, minha filha, minha irmã, minha menina” (Renato Russo, 1º. de julho) e “ainda sou a operária/ doméstica, humilhada/ eu sou a fiel e a safada/ aquela que vê a novela/ a que disse não” (Geraldo Azevedo e Neila Tavares, Mulher) podem ser boas traduções de Noélia Ribeiro, poeta que traz em si – e em sua poesia – várias mulheres em uma.
Ela e sua poesia, indissociáveis, como assinala o poeta brasiliense Nicolas Behr na orelha de Atarantada [Verbis Editora, 2009, 78 páginas], livro que tem sabor de (re)estreia, tanto tempo passou a pernambucana-carioca radicada em Brasília afastada da ribalta literária.
Ao primeiro, dedica o poema Punk, aludindo ao Aborto Elétrico, primeira banda do saudoso líder da Legião Urbana, que conheceu pessoalmente: “Um som estridente/ cheio de dentes/ mordendo minha vontade/ de dançar./ Um som espremido/ de alguém parindo/ eletricamente/ um aborto colorido” (p. 27).
Noélia Ribeiro é lenda viva na capital federal: Uma outra estação (1997), primeiro disco da Legião Urbana lançado após o falecimento de Renato Russo, trazia a gravação da banda para a “oração” Travessia do Eixão (Nonato Veras e Nicolas Behr), originalmente lançada pela trupe do Liga-Tripa, em Informal ao vivo (1988), sua estreia em disco. A letra: “Nossa Senhora do Cerrado/ protetora dos pedestres/ que atravessam o eixão/ às seis horas da tarde/ fazei com que eu chegue são e salvo/ na casa da Noélia”.
Ao Liga-Tripa também ela devolve a homenagem: “Liga a dança breve da vida/ no momento exato da tua loucura./ Liga o lance da ligação/ que não é só de tripa mas também de coração.// Liga a tua carne branca/ à minha carne mole,/ e vamos nos envenenar/ atravessando o Eixão.// Liga toda a cidade numa festa inconsequente/ de palhaços bonitos sem passado/ nem presente./ Liga o tempo todo contra fome e contra o tédio./ Mas depois vem dançar comigo./ Será o teu melhor remédio…” (Religação, p. 76), o poema citando várias letras de Informal.
A poesia de Noélia Ribeiro é feita com amor e é o amor o tema mais abordado em Atarantada – o amor, o tema mais comum em se tratando de poesia. Difícil conseguir soar original hoje em dia. Ela consegue. Chora a falta do pai, homenageia amigos – Véspera e Atemporal são dedicados a Nicolas Behr, sob o apelido carinhoso de Niki –, tem erotismo e bom humor: “No quase breu do carro/ em meio à névoa seca,/ suas bocas sussurravam/ que sim.// Porém,/ no quarto quase iluminado,/ espelhos delatores/ tiraram-lhes o véu.// E aquele tesão/ tão vivo no drive-in/ não resistiu ao motel” (Quase breu, p. 77).
[Tribuna Cultural, Tribuna do Nordeste, ontem]

Ganhei esse livro de uma pessoa muito especial para mim, e adoro ele… como tive o prazer de conhecer Noelia, ao menos, rapidamente…
noélia é uma figura adorável. sua poesia idem. concordemos com o niki: a pessoa e a poesia não se separam.
abração!
O tempo passou mas o livro ainda me rende momentos maravilhosos. Beijo, Zema e Fernanda.
também a quem o revisita, noélia, este o grande lance da poesia. beijo!