
[Nervos de aço, 1973. Capa. Reprodução]
Como era criar uma arte contestatória durante uma ditadura?
Era um embate. A censura cerceava a informação e nos forçava a ser criativos. Fazíamos o registro do momento por meio de metáforas. Era um grande desafio trabalhar, muitas vezes, com censores na própria redação. Mas não acho que a censura tenha acabado. Ela apenas se transformou e hoje é exercida pela mídia e pelo poder econômico. A quantidade de lixo nas bancas e nas tevês é absurda. Se espremer a programação, pouca coisa é relevante. Por trás disso está o interesse de alienar e não discutir os problemas do país. Se a tevê é uma concessão pública, por que não tem nenhum programa educativo no horário nobre?
Como você vê a questão dos direitos humanos hoje no Brasil?
São muito pouco respeitados, a começar pelo direito das crianças. Somos um país perverso com uma grande maioria vivendo na pobreza. Quando comecei a trabalhar, muitas das figuras políticas já estavam aí, legislando em causa própria. Uma realidade que mudou muito pouco em mais de 40 anos.
Observando sua obra, percebe-se uma nítida ligação com a música popular brasileira. De que maneira as duas artes se encontram?
Faço parte de uma geração que, embora tenha sofrido com uma ditadura, foi vitoriosa. Uma geração talentosa da qual acabei fazendo parte como aquele que fazia a interpretação visual daquele momento. A música era uma voz forte contra o arbítrio. E meu trabalho era a síntese do que acontecia em uma única imagem, seja na música, no teatro ou em livros. Sempre tive a consciência de que o que fazia era o primeiro convite para as pessoas ouvirem o disco, assistirem a peça ou ler o livro. Eu tinha que assumir a responsabilidade de transformar graficamente aquelas criações.
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O homem que dá essas respostas (grifos do blogue) é autor da capa que ilustra este post, uma das mais bonitas da história da música brasileira. Trata-se de Elifas Andreato, cuja exposição As cores da resistência, no Memorial da Resistência, em São Paulo, traz ao público cerca de cem trabalhos seus, entre capas de discos, revistas, livros, cartazes e outros. A entrevista completa pode ser lida no site do jornal Brasil de Fato.
