Cineclubismo à ludovicense

Apreciadores da sétima arte juntam-se em bandos para fugir à ditadura do padrão hollywoodiano

ZEMA RIBEIRO
ESPECIAL PARA O IMPARCIAL


Reprodução. CosacNaify

A cinefilia surgiu na França em meados da década de 1950 – prima temporal, portanto, do rock’n roll que nascia, à época, nos Estados Unidos. Seus adeptos, os “mordidos por cinema”, elegiam seus cineastas prediletos, a quem defendiam com ardor. Lançado no Brasil no posfácio do ano passado, Cinefilia [CosacNaify, 464 p., R$ 82,00], de Antoine de Baecque, conta um pouco da história da paixão francesa que lhe empresta o título, valendo-se de vasta pesquisa, sobretudo em arquivos pessoais – François Truffaut e André Bazin, entre outros – e nos Cahiers du Cinéma, a mais conhecida revista sobre cinema em todos os tempos.

De cinefilia vem “cinéfilo”, o “viciado” em cinema, por excelência. Em São Luís, “única capital brasileira fundada pelos franceses”, como reza a lenda e apregoa(va) um apresentador de TV, ainda se encontram, resistem, assistem, debatem, apaixonam-se. Mas não são apenas as mais de cinco décadas de “fundação” da cinefilia até os dias atuais, o clima, ou mesmo um oceano que tornam diferente a prática, hoje em dia, na capital maranhense.

Se no nascedouro cinquentista da prática brotaram publicações para sempre lembradas, com a crítica de cinema alçada ao status de arte, a atividade cineclubista em São Luís é uma válvula de escape: a crítica cinematográfica – como de resto a crítica de quaisquer das artes – quase inexiste por aqui e grupos de amigos se reúnem para furar o cerco imposto pela maioria absoluta das poucas salas de cinema da Ilha, em geral voltadas tão-somente à produção hollywoodiana.

Cumprem seu papel, mas ainda assim, são poucos os cineclubes em atividade por aqui. O Cineclube Laborarte, ou Cine Labô, como é mais conhecido, tem sessões ordinárias aos sábados, mostrando, principalmente, documentários sobre música, artes e cultura popular em geral, pinçados dos pacotes da Programadora Brasil, “central de acesso ao cinema brasileiro”, como se apresenta no site, da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura. O Cine Labô funciona na sede do Laboratório de Expressões Artísticas, o Laborarte [Rua Jansen Müller, 42, Centro].

Em maio, a capital ganhará mais um cineclube: a Cinemateca Lume [Cobertura do Edifício Executive Center, Rua Queóps, Renascença] abre suas portas dia 17, com capacidade de oito lugares. Ao contrário das outras, gratuitas, esta cobrará R$ 5,00 de ingresso. O cineasta Frederico Machado, diretor da Lume, que também administra o Cine Praia Grande, explica: “É uma taxa simbólica, para manter o espaço. Não há patrocinador nenhum bancando o espaço”.

A Lume é também a maior distribuidora de cinema autoral e independente do país. “Mas não exibiremos apenas filmes lançados e relançados pela Lume. Temos fechadas parcerias com a Cinemateca Francesa, Instituto Goethe, Fundação Japão, Centro Cultural Banco do Brasil e diversos outros centros culturais, cinematecas e consulados, além de diversas distribuidoras”, afirma Fred.

O Cine Praia Grande é, em São Luís, a única sala de cinema voltada à exibição de filmes de arte e fora do circuito comercial. Sobre a possibilidade de vir a abrigar um cineclube, ele arremata: “Dificilmente, pelos próprios gastos com o espaço. A não ser que existisse um patrocinador forte que topasse a coisa”.

Outros cineclubes devem voltar à ativa em breve: articulam-se para isso o Calu, que deverá ocupar o Restaurante do Poeme-se [o misto de sebo, livraria e cybercafé que funciona na Rua João Gualberto, 52, Praia Grande], e o Cineclube Casarão 447, que em breve deve voltar a exibir filmes no MHAM [o Museu Histórico e Artístico do Maranhão, na Rua do Sol, 302, Centro].

O da Faculdade São Luís, coordenado pelo cineasta e professor universitário Francisco Colombo, está em fase de implementação. Já realizou eventos, cursos e oficinas e as primeiras sessões estão previstas ainda para maio. Acontecerão entre 18h e 19h, inicialmente com a exibição de curtas-metragens maranhenses: “Para não concorrer com as aulas”, explica o coordenador. O Cineclube São Luís já dispõe de sala equipada e já adquiriu pacotes da Programadora Brasil.

A central do MinC tem pacotes de filmes nacionais prontos para exibição em todo o país. O cadastro é simples, e os custos, baixos: o acervo adquirido passa a pertencer aos cineclubes, que podem funcionar em bares, padarias, escolas, faculdades, ONGs, entre outros estabelecimentos. Maiores informações podem ser obtidas na citada home-page, um bom caminho para quem se interessa por filmes, cinema e cineclubismo.

[O Imparcial, 2/5/2011]

2 respostas para “Cineclubismo à ludovicense”

  1. Como uma apaixonada por cinema, e por cineclubismo, fiquei deveras encantada por, finalmente, ter encontrado um texto sobre este assunto em São Luis.
    Vai ser de muita utilidade.
    Vc tem a matéria que saiu em O Imparcial? Gostaria de ter essa imagem para o meu trabalho. Se não tens, será que consigo no próprio jornal?
    Abraços,

    1. élida, é capaz de eu ter em casa, quase certo que sim. só que encontrá-la… mas vou dar uma busca e em encontrando te faço chegar às mãos. obrigado pelo interesse. abração!

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