(Pior que a en)comenda

Um não encomendado texto longo para falar de solenidade idem e cansativa. Solidário ao evento e a alguns de seus convidados/homenageados, nada diz.

Solenidade marcada para as 19h, o repórter adentrou o recinto com quarenta minutos de atraso. “Já começou?”, perguntou, fingindo-se preocupado com a própria demora, a uma das garotas do cerimonial, que ocupavam-se em anotar os nomes de todos os que chegavam, saber quem ia receber comenda, representando que entidade, enfim.

A tardança do repórter deveu-se também, em grande parte, à dificuldade para encontrar estacionamento. O do hotel, completamente lotado, bem como os arredores de um lado e outro da avenida. Chegando ao salão que abrigaria o evento, um dos do Rio Poty Hotel (Ponta d’Areia), o disco de Luiz Jr. era o muzak do ambiente.

Com uma única caneta bic no bolso, o repórter consegue uma emprestada com uma amiga, de tinta azul, com as cores da bandeira do Brasil – pelo que os leitores já podem imaginá-lo também desarmado de máquina fotográfica e por isso este texto, quiçá tão cansativo quanto a cerimônia, não dispor de ilustração. O ambiente era barulhento, o burburinho de convidados mesclando-se ao corre-corre das meninas do cerimonial e equipes de tevês com câmeras, microfones e refletores, que colaboravam para a ineficácia do ar-condicionado.

Somente às 20h25min chega o vice-governador do estado, com burburinho e movimentação próximos ao palco aumentando. Três minutos depois o som é interrompido e um burburinho absoluto toma conta do salão. Uma criança chora. Às 20h33min tem início a fala do cerimonial. O tradicional pedido para que as pessoas deixem seus celulares desligados ou no silencioso e o anúncio da solenidade de entrega da comenda Ordem do Mérito da Defensoria Pública do Estado do Maranhão – que ontem (19), completava 10 anos.

A comenda foi instituída pela resolução número 2, de 3 de maio passado. Seria atribuída a pessoas físicas e jurídicas e instituições – juro que não entendi a diferença entre as duas últimas – que trabalharam ao longo da última década – e antes, no caso de algumas entidades, sobretudo da sociedade civil, que lutaram por sua implantação – pelo fortalecimento da DP e na defesa dos direitos humanos.

Ao som de música instrumental – volta o disco de Luiz Jr., com a faixa Urrou do boi (Coxinho), Aldy Melo de Araújo Filho, defensor público geral e demais membros do Conselho Superior da DP adentram o recinto.

O cerimonial compõe a mesa: Aldy Melo de Araújo Filho; Washington Luiz de Oliveira, vice governador do Maranhão; Antonio Arnaldo Alves de Melo, presidente da Assembleia Legislativa; Antonio Fernando Bayma Araújo, desembargador do Tribunal de Justiça; Luiz Fernando Moura da Silva, secretário chefe da Casa Civil; Fábio Gondim Pereira da Costa, secretário de estado de Planejamento, Orçamento e Gestão; Miguel de Almeida Lima, Chefe da DP da União no Maranhão; Helena Maria Cavalcante Haickel, Procuradora Geral do Estado; Maria de Fátima Rodrigues Travassos Cordeiro, Procuradora Geral de Justiça; Sérgio Vitor Tamer, secretário de Estado de Justiça e Administração Penitenciária; Denise Miranda Dantas, subdefensora geral da Defensoria Pública do Maranhão; Fabíola Almeida Barros, corregedora do órgão; Antonio Peterson Barros Rego Leal, presidente da Associação dos Defensores Públicos do Estado do Maranhão; Claudete de Jesus Ribeiro, secretária extraordinária de Estado da Igualdade Racial; Catarina Nunes Bacelar, secretária de Estado da Mulher; Luiza de Fátima Amorim Oliveira, secretária de Estado de Direitos Humanos e Cidadania; José Stélio Nunes Muniz, desembargador do Tribunal de Justiça; Ivanete da Silva Sousa, representante da sociedade civil; Pedro Freire, diretor presidente do jornal O Imparcial; e Aldir Dantas, diretor de jornalismo da TV Cidade.

Poupo os poucos mas fieis leitores dos qualificativos com que cada um/a foi apresentado/a. Seria tomar tempo demais de vocês. Na sequência – e aqui tento manter a ordem cronológica dos fatos – o Hino Nacional brasileiro foi executado por Alessandro Batista (voz), Rui Mário (acordeom) e Henrique Dualibe (piano). Os trabalhos foram decretados abertos por Aldy Melo. A mesma formação executou o Hino do Maranhão.

Não transcrevo o pronunciamento do defensor público geral, mas ele, em uma espécie de reprise do cerimonial cumprimentou a todos e todas da mesa, repetindo-lhes os nomes e cargos – tomando o tempo dos presentes como não quero tomar aqui o dos caros leitores. Sem mais, o trio interpretou Louvação a São Luís, de Bandeira Tribuzzi. Às 21h06min, brevíssima queda de energia interrompeu sua execução, sendo o Hino da capital maranhense retomado logo em seguida, do exato ponto em que foram obrigados a parar. A pequena microfonia que se sucedeu não o interrompeu novamente.

Em seguida, passou-se à entrega das comendas, mas a plateia não viu os homenageados, tantos eram os cameramen a cobrir o evento. Receberam-na a governadora Roseana Sarney, representada pelo vice; o próprio vice, Washington Luiz de Oliveira; Luiz Fernando Moura da Silva – e aqui passo a não repetir os cargos, que vocês já leram quando da composição da mesa –; Fábio Gondim Pereira da Costa; Luiza de Fátima Amorim Oliveira; Claudete de Jesus Ribeiro; Sérgio Vitor Tamer; Catarina Nunes Bacelar; Jamil de Miranda Gedeon Neto, presidente do Tribunal de Justiça, representado por Antonio Fernando Bayma Araújo, que recebeu também sua própria comenda, além da de Jorge Rachid Mubarack Maluf. Camila Guerreiro recebeu a de Antonio Guerreiro Jr., corregedor geral do Tribunal de Justiça. Mais comendas: para Antonio Arnaldo Alves de Melo; Maria de Fátima Rodrigues Travassos Cordeiro; Helena Maria Cavalcante Haickel; Miguel de Almeida Lima; Ana Flávia Melo Vidigal Sampaio, defensora pública geral do Maranhão (2006-2010).

Terminado o primeiro bloco de comendas (sim, caros leitores, mais virão), pronunciou-se o vice-governador. Para justificar o não ter o que dizer, saiu-se com esta, que ele pescou de alguém cujo nome o repórter não anotou e já não lembra: “discurso é que nem saia de mulher: não pode ser muito comprido para não entristecer, nem muito curto para não assustar”. As palmas, ensaiadas e constrangedoras, pareciam ter sido encomendadas antecipadamente.

O secretário chefe da Casa Civil teceu loas a si mesmo, lembrando de um serviço que implantou quando prefeito de São José de Ribamar, uma espécie de DP municipal, ainda ativo, mesmo com a implantação de núcleo da DP naquele município da ilha.

Outros agraciados também tiveram fala. A de Helena Maria Cavalcante Haickel, lida por ela, era recheada de citações: um “nenhum dever é mais importante que a gratidão” (Cícero) juntava-se a frases de juristas, historiadores e até mesmo santos, com direito a “abre aspas” e “fecha aspas” quando convinha.

Ainda havia comendas a serem entregues e homenageados para recebê-las: José Stélio Nunes Muniz; a Ordem dos Advogados do Brasil – seccional Maranhão, representada pelos ex-presidentes José Caldas Góes (2004-2009) e Raimundo Ferreira Marques (1995-2003); a ex-corregedora da DP Rosimar Salgueiro, representada por Lauro Salgueiro; Ruy Eduardo da Silva Almada Lima, ex-procurador do Estado.

Às 21h55min a mesa é desfeita, permanecendo Aldy Melo Filho e demais conselheiros. Algumas autoridades vão embora, entre elas o vice-governador. Baba-ovos e quetais retiram-se juntos e o salão é esvaziado, não completa, mas consideravalmente.

Mais comendas são entregues: à Cáritas Brasileira Regional Maranhão, representada por seu secretário executivo Ricarte Almeida Santos; Centro de Defesa Pe. Marcos Passerine, por Maria Ribeiro da Conceição; Comissão de Direitos Humanos da OAB/MA, por Luis Antonio Câmara Pedrosa; Comissão Arquidiocesana de Justiça e Paz de São Luís, por Rosa Maria Pinheiro; Comissão Pastoral da Terra, por Pe. Inaldo Serejo; Conselho Estadual de Defesa dos Direitos do Idoso do Maranhão, por Marcos Passinho; Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos de Açailância, por Ivanete da Silva Sousa; Pedro Freire; Estevam Almeida, diretor do jornal A Tarde; José Ribamar Rocha Gomes, diretor do jornal Tribuna do Nordeste, representado por Celso Lemos Nunes; Gildo Moraes, diretor do jornal Correio de Notícias; Roberto Prado, diretor de jornalismo da TV Mirante, representado por Olívia Franse; Marília Sffeir, diretora de jornalismo da TV Difusora, representou Paulinha Lobão, chamada pelo cerimonial, sem diminutivo, de Paula Lobão; Kátia Ribeiro, vice-presidente da TV Maranhense; Zildeni Falcão, presidente da Rádio-TV do Maranhão; José Arnold da Serra Costa Filho, diretor executivo da Rádio Universidade FM; Luiz Augusto Nascimento, diretor da rádio comunitária Bacanga FM; Aldir Dantas, além da dele, recebeu também a comenda de Marco Antonio Vieira da Silva, superintendente da TV Cidade.

O repórter, já de calo no dedo, parou de anotar nomes. Mas a partir daí seriam entregues comendas a defensores públicos e servidores da DP. Entre estes e os acima listados, foram mais de cem comendas – faltaram coerência e critério para distribuí-las. O cerimonial pediu a servidores que porventura não tivessem sido chamados que se identificassem para recebê-las. Constrangedor. Precaução ou desorganização, ainda sobraram comendas – alguém aí quer uma?

O defensor geral declarou a sessão encerrada às 22h50min. O cerimonial convidou para um coquetel, que seria servido em um salão contíguo. O repórter, apesar do estresse e da fome, mandou ver apenas um copo de Fanta laranja antes de se mandar. Duas perguntas ecoavam-lhe na cachola: quando seria a próxima distribuição de comendas da DP? (não que ele queira ir à cerimônia ou ganhar uma, longe disso), e quando acontecer, ainda haverá a quem homenagear?

2 respostas para “(Pior que a en)comenda”

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