Semana Sérgio Sampaio #2

Acima, trecho da apresentação de Eu quero é botar meu bloco na rua, de Sérgio Sampaio, na interpretação do autor, no Festival Internacional da Canção, em 1971. O trecho está disponível no dvd Phono 73 (de que tenho uma cópia em casa).

Abaixo, depoimento que o poeta Celso Borges, sampaiófilo, à época ainda morando em São Paulo, me deu, por e-mail, em 10 de abril de 2007:

Sérgio Sampaio é um dos poucos artistas que sempre ouço e reouço e nunca canso de ouvir, porque sinto verdade naquilo que canta. Parece cantar com o coração na mão, seja quando diz versos de amor ou quando critica o policial e o dentista ou o colunista social. É um filho verdadeiro dos anos 70, que nunca conseguiu aceitar o mercado que abriu as portas pra ele quando gravou Eu quero é botar meu bloco na rua. Foi um rebelde, um amargo, um inadaptado, um compositor que não se sentia bem no meio da “manada dos normais”, como bem disse seu parceiro e amigo Sérgio Natureza numa linda parceria com Sampaio. Sérgio não conseguia sorrir quando lhe pediam porque só conseguia sorrir quando o coração dele queria. E ele, por “ene” razões, não queria rir sempre. Alguns dias antes de ele morrer, vi na placa de um bar de São Paulo, no bairro do Paraíso: “Dia 14, show de Sérgio Sampaio”. Meu coração se iluminou. Putz, finalmente poderia ver o show de um cara que sempre desejei ver ao vivo. Na semana seguinte soube de sua morte. Ficou um gosto amargo na boca e no coração. Ao ouvi-lo, seja em suas próprias intepretações, seja na voz de [Luiz] Melodia ou na de Zeca Baleiro, que o resgatou de maneira profunda, sinto-me um homem feliz e pleno. Ali está um artista que tem verdadeiramente um pouco da alma do mundo.

CB, o homem-poesia, concedeu-me este depoimento para a matéria que eu escreveria sobre os 60 anos que Sampaio completaria naquele abril.

A Semana Sérgio Sampaio é a forma deste blogue homenageá-lo pelo relançamento de Sinceramente (1982) em cd, saravá, Zeca Baleiro!

Cinemúsica

Três curtas-metragens com nomes de música compõem a sessão de abertura da Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul, que em sua sexta edição chega pela segunda vez à São Luís.

Os filmes (todos ficções brasileiras de 2010, com classificação indicativa 14 anos) Doce de coco (20min.), de Allan Deberton, Tempo de criança (12min.), de Wagner Novais, e Máscara negra (15min.), de Rene Brasil, embora não necessariamente tenham sido inspirados nas músicas e/ou as mesmas não estejam em suas trilhas sonoras (aqui um palpite de quem ainda não viu os filmes), repetem os títulos Doce de coco, de Jacob do Bandolim, Meus tempos de criança, de Ataulfo Alves, e Máscara negra, de Zé Ketti e Hildebrando Pereira Matos.

Na capital maranhense a sessão de abertura da Mostra acontece dia 31/10 (segunda-feira), às 19h, no Cine Praia Grande (Centro de Criatividade Odylo Costa, filho, Praia Grande), com entrada franca, como todas as outras sessões do evento cinematográfico, conforme o e-flyer abaixo:

Semana Sérgio Sampaio

SARAVÁ RELANÇA SINCERAMENTE

Em 2005 Zeca Baleiro inaugurava seu selo Saravá Discos lançando Ode descontínua e remota para flauta e oboé – De Ariana para Dionísio, coleção de 10 poemas do livro Júbilo, Memória, Noviciado da Paixão (1974), de Hilda Hilst, musicados pelo maranhense e interpretados por um time feminino de primeira linha da MPB, e Cruel, póstumo inédito de Sérgio Sampaio.

Fã confesso de Sampaio, Baleiro anunciaria, pouco tempo depois, o desejo de trazer ao formato digital Sinceramente (1982), disco do capixaba que até pouco tempo era encontrado apenas em vinil ou para download na internet.

Demorou, mas Sinceramente finalmente é relançado: disco tão bom quanto raro, foi o último lançado em vida, de forma independente, por Sampaio, que morreria 12 anos depois, em 1994, aos 47 do primeiro tempo.

Em 2007, quando Sérgio Sampaio completaria 60 anos, fiz pequenas entrevistas com algumas pessoas acerca de sua vida e obra. A ideia era escrever uma matéria por ocasião da data. Acabou não rolando. As entrevistas e depoimentos permaneceram inéditos.

Para festejar o lançamento Saravá, inicio aqui uma série de posts para tirá-los das gavetas virtuais. Ou colocá-los, sabe-se lá.

Começo com Zeca Baleiro, que me respondeu por e-mail, dia 12 de abril de 2007, as cinco perguntas abaixo, sobre Sampaio, Cruel e um site dedicado à memória do artista (que este blogueiro não tem notícias atuais sobre o mesmo ter sido lançado ou não).

ENTREVISTA: ZECA BALEIRO

ZEMA RIBEIRO – Qual a importância, o devido lugar de Sérgio Sampaio na música popular brasileira?

ZECA BALEIRO – Acho que o Sérgio, junto a outros de sua geração como [Jards] Macalé, [Jorge] Mautner e [Luiz] Melodia [que participa de Sinceramente] inauguraram uma mistura de música brasileira com blues e rock, diferente da que foi experimentada pelos tropicalistas, muito bem-sucedida. Hoje seriam chamados de ecléticos, mas eram muito mais que isso, eram artistas muito intuitivos e sagazes que abriram uma picada nova, vigorosa e com muita, muita poesia.

Por que artistas de seu quilate morrem, na miséria, em quase completo desconhecimento por parte da maioria da população? Não saberia discorrer sobre o tema, que é muito complexo. Não gosto de simplificações, há sempre muitos fatores a serem analisados, inclusive a própria postura do artista diante do mundo, do mercado, do “sucesso”. Enfim, difícil dar qualquer palpite sobre isso.

O que significa para você produzir um disco póstumo de um grande ídolo? O resultado satisfez tuas expectativas, sejam elas comerciais, estéticas, emocionais etc.? Sobretudo emocionais. Pra mim foi um acerto de contas com o Sampaio, com o que a sua música causou em mim, de uma forma definitiva. Foi um disco também muito bem recebido pela crítica. E tem tido uma venda modesta mas satisfatória, sempre crescente.

De onde partiu a ideia de lançar um site, cuja intenção, imagino, é, além de preservar a obra de Sampaio, torná-la conhecida dos mais novos? Quem está envolvido neste projeto? Há muita gente envolvida no projeto, que começou após uma conversa com Angela e João, sua ex-mulher e seu filho. Há colaboradores como Sérgio Castellani, jornalista e grande fã do Sampaio; Rodrigo Moreira, que escreveu sua biografia e Sérgio Natureza, parceiro do Sampaio e grande poeta e compositor. Acho importante a existência do site, pois garante um pouco mais de permanência do Sampaio, o personagem, pois sua música já está no panteão dos grandes, mesmo que o mundo a desconheça.

O lançamento de Cruel cumpre uma função importantíssima no sentido de difundir a obra de Sampaio, mas a tiragem é pequena, bem como o relançamento dos discos do compositor em cd, cujas tiragens, idem, logo se esgotam. A que você credita o, ainda hoje, quase total desconhecimento da obra do autor de Eu quero é botar meu bloco na rua, como Sampaio é mais comumente lembrado, pelos brasileiros? Sampaio teve um sucesso estrondoso com o [Eu quero é botar meu] Bloco [na rua], vendeu mais de 500 mil cópias à época, um verdadeiro fenômeno de vendas, comparável apenas a Roberto Carlos, seu conterrâneo e maior vendedor de discos do país. Depois disso, sua carreira desandou, e embora tenha feito discos artisticamente fantásticos, foram grandes fiascos comerciais, o que o relegou a um grande ostracismo. A desinformação do público também colabora, por isso é tão importante a criação do site.

Eddie pousa na Ilha

Quem entregou foi a Thayane. A este blogueiro restava ir ao da mostra e conferir: os pernambucanos da Eddie tocam na Área de Vivência do SESC Deodoro, em São Luís, dia 20/10, às 21h, de graça.

Taí uma banda que há tempos eu esperava baixar na Ilha. Na buena, vão por mim: imperdível!

Cineminha com as crianças, pra curtir o feriado de meio de semana

O feriado cai numa quarta-feira e você acha isso “uó”: não dá para fazer aquela viagem emendando com o fim de semana. Fosse amanhã o dia da padroeira, sexta-feira era Tiradentes: enforcar e ser feliz.

O jeito é curtir a ressaca (ontem foi “sexta”, lembra?) e aproveitar. A dica é pegar os filhos, sobrinhos, netos ou qualquer outra criança, que hoje é dia delas, e levar ao Cine Praia Grande (Centro de Criatividade Odylo Costa, filho, Praia Grande). Lá, hoje (a partir das 16h) e amanhã (a partir das 17h), de graça, acontece a I Mostra de Cinema Infantil de São Luís, que exibirá, em seis programas, os 33 filmes que integram um box comemorativo de 10 anos da Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis.

Além dos filmes, brincadeiras e guloseimas para as crianças. A programação completa você acessa aqui.

Grande notícia!

O aclamado Eu não sei sofrer em inglês,  de Bruno Batista, finalmente ganha show de lançamento na capital maranhense: será dia 11 de novembro (sexta-feira), às 20h30min, no Teatro Arthur Azevedo.

Soube pelo tuiter do artista, com quem imediatamente troquei um e-mail em sequência confirmando as informações.

Bruno Batista será acompanhado por Chico Salem (violão e guitarras), Rovilson Pascoal (baixo e guitarras), Ricardo Prado (acordeom e teclados), Chico Valle (bateria) e Guilherme Kastrup (percussão). Participações especiais de Cláudio Lima e Criolina (Alê Muniz e Luciana Simões).

Detalhes em breve!

(Editei o post às 10h de 12/11 para corrigir a “escalação” da banda)

Maranhão nO Som do Vinil

A incômoda pergunta nada retórica que já (me) fiz aqui e acolá (e vez em quando torno a repetir), por que os discos de Chico Maranhão lançados pela gravadora Marcus Pereira nunca ganharam reedição em cd?, certamente não será respondida na ocasião. Mas esmiuçar dois discos importantíssimos para a música brasileira, Maranhão (1974) e Lances de Agora (1978), ambos na pergunta-condição/maldição, é saudável, necessário, fundamental.

O autor de Gabriela, Cirano, Meu samba choro, Ponto de fuga, Velho amigo poeta, Cabocla, Pastorinha e tantos outros clássicos, para citarmos apenas alguns destes dois discos, viaja para São Paulo neste dia das crianças para gravar sua participação nO Som do Vinil, coordenado por Tárik de Souza, dirigido e apresentado pelo ex-titã Charles Gavin, que tem dado importantíssima contribuição para recolocar títulos perdidos nas prateleiras das cada vez mais raras lojas de discos do país. Foi ele o responsável pelo relançamento de discos antológicos de Secos & Molhados, Belchior, Tom Zé e Walter Franco, para citar poucos.

Oportunidade ímpar para conhecer os discos, os contextos em que foram concebidos e as mais diversas histórias em torno de suas feituras. Talvez seja o caso de posteriormente a turma do Canal Brasil esmiuçar Bandeira de Aço, outro disco-divisor de águas da música produzida no Maranhão.

Chico Maranhão ladeado por Rolando Boldrin, Chico Teixeira e Renato Teixeira, quando de sua participação no Sr. Brasil em 6 de dezembro de 2005

Na sequência, Chico Maranhão grava, dia 18, sua participação no Sr. Brasil, programa apresentado por Rolando Boldrin na TV Cultura.

 

Mais diremos tão logo este blogue saiba as datas de exibição dos programas.

Em cima da hora: Pitomba! no Chico

Logo mais às 19h meus amigos Bruno Azevêdo e Celso Borges participam de debate-papo em que relançam o número 2 da revista Pitomba!, editada por ambos mais Reuben da Cunha Rocha, ora em SP.

O relançamento acontece no Papoético, organizado semanalmente, sempre às quintas-feiras, pelo poeta Paulo Melo Sousa, vulgo Paulão.

Acontece no Chico Discos, sebo charmoso que ocupa o segundo piso do prédio em cujo primeiro está o Banco Bonsucesso, na esquina das ruas Treze de Maio e Afogados, no centro da capital maranhense.

Em tempo: tristeza ver, esquinas antes, um banco, uma “loja de crédito” ocupando a casa em que outrora funcionou a saudosa Livraria Athenas.

Ingressos para o Papoético grátis. A Pitomba! sai por apenas R$ 5.

Aliado Involuntário em SP, Outros 400 na Ilha

Fernando Abreu lança seu novo livro hoje em SP:

Detalhes no Ponte Aérea São Luís.

E aqui tem Outros 400:

Detalhes idem.

Imperdível

O diretor Geneton Moraes Neto (D) observa Caetano Veloso

CANÇÕES DO EXÍLIO
Direção de Geneton Moraes Neto tem capítulo inédito.

Agora em quatro episódios – a série foi apresentada originalmente em três programas –, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Jards Macalé e Jorge Mautner relembram momentos marcantes em suas trajetórias na série dirigida por Geneton Moraes Neto.

A expatriação de Gil; o interrogatório a que Caetano foi submetido ao visitar sua terra natal; o choque de Macalé ao sair do Carnaval diretamente para o inverno londrino; as discussões de Mautner em defesa do Brasil como um país do futuro; e os diálogos com o cineasta Glauber Rocha são alguns dos temas abordados.

Sob a ótica dos próprios artistas que sofreram “na pele” com a ditadura, a atração apresenta, em quatro programas especiais, os principais acontecimentos decorrentes do cárcere, da vida no exílio e da tão aguardada volta para casa.

A posição contestadora e contrária ao regime dos entrevistados gerou alguns fatos curiosos como, por exemplo, a tentativa de influenciar Caetano a compor uma canção exaltando a Transamazônica, usando o argumento de que outros companheiros já estariam contribuindo com o governo; e os momentos vividos por Gil na prisão, onde teve seu cabelo cortado à força e foi obrigado a fazer um show.

No último e inédito episódio, Caetano e Gil falam sobre a relação com a música britânica durante o tempo vivido naquele país. Em quatro escalas, os baianos relembram as sensações vividas ao lado de Jimmy Hendrix – com quem conversaram após a apresentação considerada a última de sua carreira –; dos performáticos Rolling Stones; de Bob Dylan, que acabara de sofrer um grave acidente; e de John Lennon e Yoko Ono na experimental Plastic Ono Band.

Comentam ainda a importante influência dos rockeiros estrangeiros em seus trabalhos à época, citando principalmente a faixa O Sonho Acabou, inspirada nos versos de God, de John Lennon.

Produzida por Jorge Mansur, a série conta com a participação especial do ator Paulo Cesar Peréio, apresentador e ex-militante do Partido Comunista, que atuou na década de 1970 em diversos filmes contra o regime de exceção.

Estreia: terça, dia 18/10, às 23h.

Do site do Canal Brasil.