Esta no ar a página do I Simpósio Nacional Nuppi de Arte e Mídia. O Nuppi é o Núcleo de Pesquisa e Produção de Imagem, nascido em 2007 e vinculado ao IFMA desde 2010, hoje dirigido pelo professor Ramúsyo Brasil.
A abertura do simpósio que a página divulga acontece nesta quarta (7), às 19h, no auditório do CCH-IFMA (Afonso Pena, 174, Centro). Na sequência, às 20h, O inventário como tática: a fotografia e a poética das coleções, conferência proferida pelo professor doutor Leandro Pimentel, da Escola de Comunicação da UFRJ.
Estão abertas até 16 de agosto, limitadas às 50 vagas oferecidas, as inscrições para o Curso de História da Arte – Da Arte Contemporânea à Moderna, realização do Itaú Cultural, através da Lei de Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura, com apoio do Sesc, que em São Luís sediará a atividade.
Gratuito, o curso será realizado no Auditório do Sesc Saúde (Rua do Sol, 616, Centro) e é dividido em três módulos, que acontecerão dias 27, 28 e 29 de agosto, das 9h ao meio dia e das 14h às 17h.
Com a capa do livro Guerrilhas de avatar e o nome do amigo e professor Flávio Reis, um falso perfil no facebook solicitou a amizade deste blogueiro ontem. Não aceitei de cara e desconfiei, chegando a ler as postagens: textos publicados por ele no jornal Vias de Fato, além de peças de divulgação de seu terceiro livro, lançado em 2012. O fake chegou a receber boas vindas de alguns amigos (reais) desavisados.
Por e-mail, o autor dos recém-relançados Cenas marginais e Grupos políticos e estrutura oligárquica no Maranhão, afirmou: “é claro que não sou eu. Tem como avisar lá? É muito chato alguém ficar falando como se fosse você”.
O recado está dado: o fã de João Gilberto – para citar alguém que tem perfil falso no facebook – não está nesta nem em qualquer rede social. O blogue ia noticiar marcando o fake, mas parece que quem quer que estivesse por trás disso já desistiu da empreitada.
Para não perder a velha mania de meter o bedelho onde não sou chamado: sobre o material de divulgação da Calourada de Serviço Social da UFMA
Sou casado com uma assistente social. Tenho várias amigas assistentes sociais. Trabalho com mais algumas assistentes sociais. Tenho uma prima que largou o curso e outra no terceiro período; o pai delas, meu tio, acaba de ir para o segundo período. Outra tia iniciou recentemente o curso na modalidade à distância. Posso dizer que estou rodeado de assistentes sociais, em casa, no trabalho e em momentos de lazer, sem contar uma passagem pela assessoria de comunicação do Conselho Regional de Serviço Social – 2ª. Região/ Maranhão (CRESS/MA).
Quando conheci minha esposa, colega de trabalho, demorei a entender uma porrada de coisas sobre essa profissão quase sempre vinculada a processos de resistência, à esquerda, ao marxismo, ao combate à violência, opressão, machismo, racismo, homofobia. É claro que há profissionais do Serviço Social que fazem o serviço sujo, como por exemplo, o convencimento de uma população que deve ser relocada (à força) em nome da implantação de um grande projeto de grande interesse do capital transnacional, mas essa é outra discussão.
Quando, começo de namoro, eu confundia Serviço Social com Assistência Social, imediatamente eu recebia uma micro-aula, estivéssemos até mesmo na mesa de um bar.
Não nego algumas dificuldades que tive em trabalhar com este povo “cri cri”, que quer tudo nos mínimos detalhes, e que nos obriga a apreender um monte de categorias e terminologias, às vezes um tanto difíceis para, no meu caso, um jornalista. Ter sido assessor de comunicação do CRESS/MA foi uma experiência de grande valia.
Mais que divulgar a calourada de Serviço Social, abrir este post com a imagem acima tem mais o objetivo de problematizá-la. Num tempo em que temos Marco Feliciano (PSC/SP), um pastor racista e homofóbico, na presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, disparando impropérios diários, num surreal politik freak show; num tempo em que um entrevistado “corre a mão” entre as coxas de uma apresentadora de televisão, a “estudante fashion e moderninha” que convida “vem que eu dou assistência” presta um desserviço aos avanços que a categoria das/os assistentes sociais vem tendo ao longo dos anos, vide a lei das 30h para ficar num exemplo recente e importante.
O cartaz é machista e este é apenas um problema (agudo em vez de crase, vou nem comentar). Além dele, reduz as possibilidades de intervenção da categoria à “assistência”, cujo nome já parece trazer em si mesmo a característica de transitoriedade desta política pública. Ou o anúncio da próxima calourada trará uma velhinha em trajes de freira lembrando o tempo em que o Serviço Social, vinculado à Igreja Católica, buscava quase catequizar os atendidos por aquela profissão que nascia?
A maioria absoluta dos profissionais do Serviço Social ainda é de mulheres. Motivo mais do que suficiente para as estudantes do 1º. período, as calouras, dizerem que “este cartaz não nos representa”. Nem a elas, nem às veteranas, nem às professoras, nem às assistentes sociais. Nem ao ainda pequeno percentual masculino de calouros, veteranos, professores e assistentes sociais.
Invasores profissionais estão devastando uma área verde de influência das nascentes do Rio Jaguarema, declarada pela Prefeitura Municipal de São Luís como Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE), conforme Lei nº. 4.770, de 22 de março de 2007. Na última quarta-feira (27/2), chegaram a atear fogo na mata, o que só não resultou em catástrofe devido à ação de policiais e bombeiros.
A área, localizada ao lado do Condomínio Parque das Mangueiras – Av. Santos Dumont, vem sendo ocupada desde o carnaval por invasores que chegaram à reserva portando facões e cordas plásticas, alguns de motocicletas e até de automóveis. Eles possuem casas e outras propriedades nas proximidades, mas já estão dividindo os lotes da área verde para especulação, visando lucros pessoais.
Segundo os moradores do condomínio, o caso já foi denunciado à Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMMAM), à Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Naturais (SEMA) e ao Batalhão de Polícia Ambiental do Estado, mas ainda não foram tomadas as medidas necessárias para afastar definitivamente os invasores, que desdenham da própria ação policial, que é tímida, ocasional, e não os assusta.
A área verde é densa, com mangueiras, cajueiros, babaçuais, barrigudeiras, entre outras árvores, sendo partilhada por várias espécies de aves, como siricoras, jacutingas, sabiás etc., além de animais de pequeno porte. Mas corre o risco de ser completamente derrubada ou queimada, levando à extinção da fauna e da flora ali existente. “Trata-se de um crime ambiental”, denunciam os moradores. (Cesar Teixeira)
Os posts recentes sobre a UFMA e seu reitor geraram algum debate, cá no blogue e fora dele. Alguns comentários grosseiros e/ou anônimos foram apagados, regras da casa. As caixas estão abertas a qualquer um/a, não precisa concordar comigo nem com qualquer autor que eu publique por aqui, mas carece ser educado/a, como buscamos sempre ser, e dar a cara pra bater, como sempre fazemos.
O texto abaixo, que recebi por e-mail, poderia estar na caixa de comentários, já que é resposta a um. Dada a importância do assunto, trago-o aqui para o espaço principal do blogue, provocar o bom debate uma de suas funções.
A Maria José a que ele se refere no início é a comentarista a quem responde, não é nenhum trocadilho infame e de viés homofóbico com o nome de pia do blogueiro, como já ousaram vis jornalistas, hoje desafetos, o morto & o vivo.
E cabe lembrar: é hoje (20) a eleição para a nova diretoria do Colégio Universitário (Colun).
Senhora Maria José, bom dia!
Sou Bartolomeu Mendonça, Sociólogo e titular da disciplina Sociologia no COLUN/UFMA. Não a conheço, mas frente a sua defesa do “Dono da UFMA” sustentada em uma pretensa verdade, achei-me no direito de lhe conceder algumas informações. As quais estendo ao debate.
1. É inverídico afirmar que a gestão anterior era composta por uma Diretora da APRUMA e mesmo que o fosse não há nada que impeça e é até saudável para a instituição ter gestores afinados com as causas dos servidores, das lutas trabalhistas que historicamente demonstram que contribuem para o aperfeiçoamento doas instituições públicas.
2. Quanto à sociologia e a perseguição ao professor:
A perseguição à Sociologia e ao seu ministrante no COLUN ocorreu logo após a Gestão não Eleita tomar posse. Quando solicitei minhas cadernetas da disciplina Sociologia, que já vinha ministrando normalmente desde o início do ano, a Coordenação de Ensino Médio, também não eleita, encaminhou-me documento, muito mal escrito, diga-se, informando que deveria procurar o Coordenador de minha área (Ciências Humanas) e redistribuir minha carga horária, numa indicação de que não mais deveria continuar ministrando as aulas. Neste ínterim, o coordenador indicado do Ensino Médio divulgou aos alunos das minhas turmas que a Sociologia não era disciplina obrigatória e que, portanto, eles não tinham nenhuma obrigação de participar das minhas aulas.
Isso tudo gerou um grande mal estar e cenas de constrangimento entre mim e os alunos. Pelo que eu e o professor Luiz Alberto, Coordenador da Área de Ciências Humanas, fomos procurar a Coordenação de Ensino Médio, e o coordenador informou que era aquilo mesmo, que não tinha Sociologia no 3º. ano do Ensino Médio, pois não constava do sistema de notas do COLUN. Nós retrucamos dizendo que ele não poderia interpretar as coisas daquela maneira, fazendo uma inversão, pois na prática desde o ano passado (2011) o professor (Bartolomeu) já ministrava regularmente a disciplina para essa série e que ao invés dele procurar inserir no sistema a disciplina preferiu perseguir o professor e usar de subterfúgio para desrespeitar a legislação federal que previa a obrigatoriedade da Sociologia nas três séries do Ensino Médio. O coordenador de ensino médio foi irredutível e disse que eu deveria parar minhas aulas no 3º. ano imediatamente.
Naquele momento eu disse que só sairia de sala de aula se ele formalizasse aquela ação, já que o documento que havia emitido anteriormente está mal feito e confuso, e se ele não formalizasse, só sairia se mandasse a segurança me tirar à força de sala. Depois disso as dificuldades em sala com alunos pioraram, geralmente um terço dos alunos de modo rotativo participavam das aulas por conta do boato de que eu estava irregular em sala.
Diante disso fizemos diversas campanhas públicas sobre o ataque que sofria a Sociologia no COLUN, informando que a direção não eleita estava retirando-a do 3º. ano. Depois da grande repercussão de nossa campanha, que atingiu os fóruns nacionais, a direção recuou, mas continuou criando situações embaraçosas entre mim e os alunos, como deixar que em meu horário eles saíssem para aulas de educação física. Embora essa disciplina seja também necessária, ela tem seu horário específico, não precisava criar tal situação.
Após uns meses com muitas cobranças houve uma sessão do Conselho Diretor do COLUN (que equivale à Assembleia Departamental nos Departamentos) e ali conseguimos reverter a proposição da direção e foi aprovada a inclusão da disciplina no sistema de notas, que na prática já estava na grade do 3º. ano desde 2011, embora a contragosto, expresso claramente por pelo menos um de seus membros que disse “vamos deixar isso para outro momento, vamos fazer uma comissão para discutir a situação”, numa clara manobra de postergar a decisão que já há muito estava atrasada e criar uma irregularidade artificializada para continuar atacando ao professor e a sua disciplina.
O resultado disso tudo é que muitos alunos incitados pela direção perderam conteúdos e ficaram de reposição e boa parte desses estão de prova final, já que conseguimos reverter a perseguição tanto à Sociologia quanto ao professor, que também é diretor da APRUMA, o que não é crime. Não aceito ser atacado porque me organizo com meus pares para lutar por melhorias no trabalho e na educação.
Enfim, a perseguição ocorreu e foi muito forte e deliberada, os asseclas da reitoria viram uma oportunidade de servir ao seu senhor, perseguindo um colega e subtraindo os direitos dos alunos à disciplina. Não fosse a nossa resistência teríamos saído de sala de aula com o “rabo entre as pernas”, como se diz, e os alunos ficariam sem a vivência e os conteúdos da disciplina.
Deturpar os fatos, invertendo-os, a ponto de apresentar a direção não eleita (ou melhor interventora) como responsável pela inclusão da disciplina é um expediente vergonhoso, mas, pelo que se vê, infelizmente tornado corriqueiro. Além de tudo isso, essa figura do interventor, mesmo prevista na legislação, é uma coisa anacrônica quando se busca o aumento da participação em todos os níveis e é mesmo lamentável que a reitoria da UFMA tenha optado por este caminho e, principalmente, que professores ainda se disponham a este papel.
“Confirmado concurso público para o HU”, afirma a manchete de capa de O Estado do Maranhão de hoje (17). No interior do jornal o que se lê é um mega-release (link para assinantes do jornal, com senha), embora o texto não seja tão longo, isto é, nada que justificasse uma manchete de capa, propaganda descarada da gestão do magnífico reitor Natalino Salgado.
Se não se trata disso, o que justifica um jornal anunciar com tamanho destaque um “concurso público” cujo edital só será lançado mês que vem?
Não se iludam a população em geral e em especial os concurseiros de plantão: os aprovados no “concurso público” não serão os novos servidores públicos federais; serão terceirizados, celetistas, com contrato temporário e consequente prazo de validade pré-determinado.
O jornal pode até chamar o “processo seletivo simplificado” de “concurso público”, já que qualquer pessoa que venha a atender os requisitos especificados no edital, quando este for publicado, poderá concorrer ao mesmo; mas não devia criar a falsa ilusão de que tudo corre às mil maravilhas e os problemas que restam serão sanados com “o maior concurso público já realizado na história do Maranhão”, conforme afirmou o megalômano reitor em matéria (link para assinantes do jornal, com senha) do mesmO Estado do Maranhão em 19 de janeiro passado, sobre o mesmo assunto.
Pasmem, poucos mas fieis leitores: a seleção de 3.500 novos servidores do Hospital Universitário, cujo edital somente será lançado em março próximo, já é notícia no jornal da família Sarney há um mês.
A quem interessa toda essa propaganda enganosa? É capaz de o jornal, mês que vem, publicar outra matéria, adiando o lançamento do edital: a adesão do HUUFMA à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH) é questionada pelo Ministério Público Federal; isto é, o processo seletivo simplificado pode sofrer adiamento. Ou nem acontecer. É à EBSERH que os novos servidores selecionados no “concurso” estarão vinculados. Serão terceirizados por uma empresa pública de direito privado, isto sim a realização da privatização da saúde usando recursos públicos do Sistema Único de Saúde (SUS).
O texto não foca no processo seletivo, assunto que talvez se resolvesse num parágrafo ou nota, jamais justificando manchete de capa. Alardeia “18 obras (…) em execução no HUUFMA” entre “reformas, ampliações e construção de novas alas” e lembra estar “entre as melhores organizações de saúde do mundo que se destacam na divulgação da produção científica”, conforme ranking do Webometrics Ranking of World Hospitals. Um trecho do texto chega a informar (?) até mesmo quantos acessos teve o site do HU de agosto para cá e o número de profissionais que compõe sua assessoria de comunicação. Estes, certamente empenhados: só assim para conseguir uma dominical manchete de capa com exercícios de futurologia.
O pseudo-concurso público do Hospital Universitário é encoberto por fumaça, não a da inocente diamba desde sempre fumada pelos blocos da UFMA, mas talvez também a do conclave que escolherá o próximo papa com a renúncia de Bento XVI: longe do assunto da capa dO Estado do Maranhão, na página de Opinião do jornal, o sumo pontífice, digo, o magnífico reitor escreve sobre a renúncia papal e a igreja (que frequenta assiduamente). Sob o título Exemplo de abnegação e altruísmo (link para assinantes do jornal, com senha), o texto de Natalino Salgado, imortal da Academia Maranhense de Letras, é só elogios a Ratzinger, cuja renúncia é por ele classificada de “atitude imprevisível e, ao mesmo tempo, corajosa”.
“Estranho ato, muitos disseram, mas que se coaduna com esta época em que a velocidade é o substantivo primordial. Ou, como lembra o sociólogo polonês Zigmunt Bauman, vivemos tempos líquidos, em que nada é feito para durar. Mal nos acostumamos com o teólogo Joseph Ratzinger a levar sobre si a missão petrina, deparamo-nos com seu perfil sereno a explicar que este seu radical ato é antecedido de demorada meditação e exame de consciência diante de Deus”, prossegue o reitor, parecendo esquecer-se da “solidez” de seus mandatos e dos de outro imortal, o dono do jornal em que escreve, mesmo sustentados por eleições ilegítimas. A última do reitor registrou “uma abstenção gigante, solenemente ignorada pela ASCOM, cada vez mais transformada em assessoria de comunicação do reitor e não da universidade, que alardeou uma vitória esmagadora”, conforme resgatou Flávio Reis em O dono da UFMA.
“As questões em jogo, na Itália e no mundo todo, transcendem a fé, sincera ou não. Vivemos uma época intelectualmente e moralmente pobre, instigada pelos avanços tecnológicos e arrepiada por demandas inovadoras em choque com a doutrina eclesiástica. De aborto a casamento gay. Enquanto isso, a Igreja de Pedro tenta em desespero impor seus vetos e se agarra aos dogmas, cada vez mais inviáveis à luz da razão”, bem lembra Mino Carta no editorial da CartaCapital desta semana, assuntos em que o reitor não toca em seu artigo, mantendo a média do costume bem maranhense de transformar em santo qualquer um que morra ou renuncie.
Voltando aO Estado do Maranhão: a Coluna do Sarney (link para assinantes do jornal, com senha) sobre os 43 anos da ponte do São Francisco é uma imodesta aberração em que ele se põe, por conta da efeméride, a evocar bravatas do tempo em que era governador. Mas Sarney sempre escreveu com o ego, e tão mal, que se seu artigo não fosse, cúmulo da egolatria, publicado na capa do jornal, muita gente sequer o leria ou saberia que existe.
A vizinhamiga Danyella Gomes produziu um vídeo para um trabalho escolar (está no 3º. ano, no Colun). No “anúncio de telefone” aparecem minhas sobrinhas Mariana (10), Manuela (6) e Maria Clara (3). Ok, são sobrinhas de minha esposa, minhas por tabela, portanto, mas isso não diminui o orgulho que tenho destas talentosas atrizes mirins.
Artistas, eu diria!: elas cantam, imitam, escrevem, desenham… e a gente se diverte.
1 Ontem bebi no Retão. Sim, reabriu. Funcionará, agora, apenas de quinta a sábado, sempre à noite. O garçom me disse que vão meio que ver no que dá, terminar 2012, avaliar se vale a pena e, se for o caso, alugar o ponto ano que vem. Torço pra que continue, vida longa ao Retão!
2 Tratei equivocadamente, por puro esquecimento mesmo, o disco A obra para violão de Paulinho da Viola como um disco dele. Não é. É um dos volumes de Brasil Instrumental, disco-brinde duplo distribuído por uma empresa mineira de mineração a clientes, amigos, parceiros, fornecedores e que tais em fins de 1985. No primeiro volume, o violonista maranhense João Pedro Borges executa 10 peças instrumentais de autoria de Paulinho da Viola, acompanhado por este ao cavaquinho e César Faria, pai do compositor, ao violão. No volume 2, Brasil, sax, violão, cello e trombone, um encontro sui generis, um quarteto, no mínimo inusitado, tanto quanto talentoso: Paulo Moura (sax, clarinete), Raphael Rabello (violão sete cordas), Jacques Morelembaum (violoncelo) e Zé da Velha (trombone). Brasil Instrumental nunca chegou ao formato digital, ao menos não oficialmente. Mas seus dois volumes podem ser abracadabaixados.
O Retão: saudades e lembranças, após mais de 30 anos de serviços prestados à boemia da Ilha
Localizado na Avenida Vitorino Freire (entre Camboa e Areinha), na altura da Vila Passos, o Restaurante Retão era um espaço por que tínhamos muito carinho, onde costumeiramente íamos beber, eu e minha esposa – que chegou a comemorar um aniversário no recinto –, nós e os pais dela, mamãe e alguns amigos iniciados em nosso particularíssimo roteiro de baixa gastronomia – às vezes este grupo inteiro somado, de uma vez.
“E aí, meu patrão?!”, sempre me saudava o garçom da noite, logo que eu lhes pisava a calçada, onde em geral ficávamos fugindo da parte interna, sempre mais abafadiça e barulhenta – a exceção eram as noites de chuva (o Retão sempre funcionava à noite, algo em torno de entre 18h e meia noite). Depois dos apertos de mãos e abraços, tanto faz termos ido ali ontem ou há muito sem aparecer, já devidamente instalados em uma mesa ao vento, saltava o pedido: “o de sempre!”. E cervejas começavam a ser enfileiradas enquanto o tira-gosto era preparado.
Espaço simples, mas muito agradável, sua calçada e vento era o que havia de bom na região, com sua cerveja gelada e tira-gosto de vitamina B3, os três bês de bom, bonito e barato – sempre ótimas pedidas seus pratos de alcatra, frango e carne de sol, entre outros, porções “consideradas”, sempre acompanhadas de batatas fritas, salada e farofa. As contas, trazidas por seus garçons oficiais, os dois únicos que se revezavam nas noites, sempre nos assustavam. “Só isso?”, indagávamo-nos entre os comensais, sempre esperando uma conta mais cara, diante de tantas garrafas vazias enfileiradas aos pés da mesa e um ou mais pratos já recolhidos por Humberto e George, eles, os dois garçons no revezamento noite após noite.
A música não era o seu ponto forte e o aparelho de DVD podia exalar tanto um forró de plástico da pior qualidade quanto uma coletânea “momentos de amor” anos 70-80 e até mesmo apresentações de manifestações juninas de nossa cultura popular, ao longo dos festejos de São João.
Era, às vezes, nossa esticada natural após fazer a feira semanal, nas noites de quinta. Ou a parada obrigatória na sexta, para um papo qualquer, extensão do trabalho ou apenas bobagens para descontrair e aliviar a seriedade da vida, sempre tão corrida, após mais uma semana de missão cumprida. Canto de matar o calor que castiga a Ilha cotidianamente, mesmo quando a noite já caiu.
Depois de mais de 30 anos de serviços prestados à boemia da capital maranhense, o Retão fechou as portas. Sem maiores detalhes, Humberto confidenciou-me prejuízos que sua mãe, proprietária do local, estaria tendo. O espaço está lá, fechado e bem localizado. Torço para que renasça feito Fênix pelas mãos de alguma alma bondosa que queira ver contentes alguns habitués dali. Do contrário, restarão boas lembranças e saudade – as que me ocorrem todo dia, toda vez que passo ali em frente. Como hoje, com este obituário já escrito, quando parei defronte para tirar a fotografia que o ilustra.
FICO. Não consigo acompanhar a marcha do progresso de minha mulher ou sou uma grande múmia que só pensa em múmias mesmo vivas e lindas feito a minha mulher na sua louca disparada para o progresso. Tenho saudades como os cariocas do tempo em que eu me sentia e achava que era um guia de cegos. Depois começaram a ver e enquanto me contorcia de dores o cacho de bananas caía.
De modo que FICO sossegado por aqui mesmo enquanto dure. Ana é uma SANTA de véu e grinalda com um palhaço empacotado ao lado. Não acredito em amor de múmias e é por isso que eu FICO e vou ficando por causa de este amor. Pra mim chega! Vocês aí, peço o favor de não sacudirem demais o Thiago. Ele pode acordar.
*
Bilhete deixado por Torquato Neto, quando de seu suicídio, há exatos 40 anos.
1974: Josias Sobrinho e Cesar Teixeira faziam uma dupla de violeiros em encenação de “Marémemória”, espetáculo multimídia (antes de a palavra existir) baseado no livro-poema de José Chagas
Fundado oficialmente em 11 de outubro de 1972, o Laborarte completa 40 anos, mas a história da sua criação começa bem antes. A ideia original de formar um coletivo de arte integrada – reunindo teatro, música, dança, artes plásticas, fotografia etc – partiu do Movimento Antroponáutica (1969-1972), até então estruturado em cima da poesia.
Houve uma primeira convocação geral dos artistas de São Luís, em 1970, sem discriminação de tendências estéticas ou ideologia política. Foi um erro. A reunião ocorrida no prédio do Liceu, num domingo, acabou em verdadeiro tumulto, com os antroponautas subindo nas carteiras de uma sala de aula e discutindo entre si.
Uma nova convocação foi realizada em meados de 1972, tendo sido convidados grupos já constituídos e afinados com a proposta, entre eles o Teatro de Férias do Maranhão (TEFEMA), dirigido por Tácito Borralho, e o Grupo Chamató de Danças Populares, sob o comando de Regina Telles. Em uma reunião noturna nas escadarias da Biblioteca Pública (Praça Deodoro) foi decidida a programação cultural para lançar o movimento.
A manifestação seria realizada no auditório daquela biblioteca, cujas escadarias seriam ocupadas por uma exposição de artes plásticas. No auditório haveria performances com teatro, dança e música, culminando com o lançamento do livro Às mãos do dia, do poeta Raimundo Fontenele, que deveria fazer um ácido discurso-manifesto no final das apresentações.
Entre os convidados estaria o Secretário de Educação, Prof. Luiz Rego, que, conforme planejado, deveria ficar sentado num vaso sanitário. No coquetel, em vez de vinho ou guaraná, seriam oferecidos aos presentes penicos de leite e caranguejos vivos. Sem falar que em cada lance de escada que dava acesso ao auditório haveria um boneco de pano enforcado, ali representando o próprio artista marginalizado por um governo conservador.
Nada disso aconteceu, pois a Polícia Federal soube da mirabolante programação e mandou vários agentes para o local.
Houve exposição, teatro, dança e apresentação musical com a participação de Chico Maranhão e Sérgio Habibe, além do lançamento do livro. Mas o discurso ficou preso na garganta do poeta, que teve de prestar depoimento à PF, sendo liberado após intervenção da escritora Arlete Nogueira, então diretora do Departamento de Cultura do Estado.
Contudo, o movimento foi em frente, tendo sido escolhido o nome Laborarte (Laboratório de Expressões Artísticas) quando o grupo já estava instalado no prédio da Rua Jansen Müller, 42, contando ainda com a participação de alguns atores do Grupo Armação, criado por Borralho quando era seminarista em Recife.
A proposta de uma linguagem artística integrada, com identidade própria e respeitando as raízes culturais, portanto, já existia antes e se consolidaria na convergência para o Laborarte, instituído em 11 de outubro de 1972, uma quarta-feira, ocasião em que foi lançado o folheto de poesia mimeografado Os ossos do hospício, de minha autoria.
Naquele lugar se deu uma verdadeira alquimia que ajudou a quebrar alguns tabus e influenciar positivamente as artes no Maranhão. Não só a música ali produzida, mas sobretudo o teatro, apoiado nos estudos de Grotowsky, Artaud, Suassuna, Boal, Stanislavsky e Brecht. Sem esquecer de rezar nas cartilhas de Eduardo Garrido, Bibi Geraldino e Cecílio Sá, teatrólogos de verve popular.
O trabalho do Laborarte rendeu o prêmio de Melhor Plasticidade no Festival Nacional de Teatro Jovem, em Niterói (1972), com Espectrofúria, e o Troféu MEC/ Mambembe, no Rio de Janeiro (1978), com O cavaleiro do destino. Enfim, a entidade fez o dever de casa, e o que começou numa sala de aula vazia acabou virando uma escola.
Infelizmente, não posso relatar mais detalhes da história, porque fui expulso do Laborarte no início de 1975 e não vi de perto o que aconteceria depois. Mesmo assim, ainda contribuí indiretamente escrevendo o Testamento de Judas, impresso em forma de cordel (antes era mimeografado), entre 1990 e 2005, o que provocaria a fúria de muitos “herdeiros”.
[Viajando a trabalho, não cheguei a ir ao Laborarte dia 11, quando estavam previstas diversas atividades pelos festejos de suas quatro décadas; deixo com os poucos mas fieis leitores a memória e a pena afiadas de um de seus fundadores]