O Dondon do Araçagy

Chegamos ao local meio que por acaso, como quase sempre quando resolvemos descobrir lugares novos. É na doida, mesmo. “Vamos comer num lugar diferente”, decidimos, sem nunca ter lido nada a respeito ou sequer ouvido a indicação de qualquer amigo ou conhecido.

Assim rodamos um pedaço da Raposa até baixar no Bar e Restaurante O Dondon. Cantarolei o refrão “no tempo que Dondon jogava no Andaraí”, pagode que pesco numa k7 imaginária, com “clássicos do pagode” escrito a mão na lombada, tudo na minha cabeça. Troco o Andaraí da letra original por Araçagy.

O Dondon, o bar e restaurante, é uma espécie de megaquintal onde, em dias como ontem, é possível estacionar o carro na sombra das muitas palmeiras que ornam o local – a cada touceira, samambaias aos pés. Um brejo ao fundo termina de completar o frescor do lugar, garantindo uma temperatura agradável em meio ao calorão ilhéu. Acima dele se ergue uma espécie de flutuante, embora a estrutura seja fixa, com um tablado de madeira.

Sentamos sob uma das muitas barracas e pedimos uma cerveja enquanto a garçonete nos apresentava o cardápio, de preços muito bons. Por exemplo, uma peixada por 35 reais ou 40, no caso, acrescida de camarões. Ficamos na pescada frita, cuja satisfatória porção nos saiu pela bagatela de 25 reais, acompanhada de baião de dois, farofa e vinagrete. A porção de pirão, por fora, sai por menos que a cerveja, esta a cinco, aquela a apenas três reais.

Um senhor magro e de bigode aparece e comento que “aquele deve ser o Dondon”, ao que minha mulher retruca que “não tem cara”. Era ele. Atencioso – deve ser o tipo de dono de bar que conhece os fregueses pelo nome –, foi cumprimentar o casal que nunca havia visto. Conversamos um pouco. Elogiei-lhe o ambiente superagradável, perguntei se ele morava ali mesmo. “Sim, ali na frente”, respondeu, apontando uma casa ao lado do longo portão por onde entramos e já havíamos visto crianças correndo, brincando.

Dondon diz achar estranho o pouco movimento àquela hora, “aos domingos é sempre mais movimentado”. Eu já havia perguntado à garçonete o horário de funcionamento, “de terça a domingo, segunda é o descanso”, sempre do almoço “até coisa de seis, seis e meia”.

O nome de batismo de Dondon eu descobriria depois, num cartão que ele me deu, ilustrado com pequeníssimas fotografias da paisagem e de algumas iguarias servidas em seu estabelecimento.

De acordo com o cartão, a especialidade da casa é a galinha caipira ao molho pardo, mas é outra iguaria que Adonias Brasil, o Dondon, anuncia, quando perguntei se ele não fazia festas no local. “No último domingo de maio a gente faz o Festival do Peixe Serra”, diz, anunciando as bandas Tropical, Digital e Andréia Alves como atrações da grande seresta. “O ingresso é dez, dez”, diz, repetindo o valor, anunciando os preços pagos por homem e mulher. “Você paga o ingresso e a cerveja: o peixe é de graça, de meio dia à meia noite”, afirma.

Quando voltar por lá, levarei a máquina fotográfica para mostrar aos poucos-mas-fieis leitores deste blogue o espaço e as delícias. A quem não quiser esperar, taí o endereço: o Dondon fica na Rua São Sebastião, 47, Araçagy, Raposa/MA. Dica: vão lá. Sabor e brisa ainda não podem ser fotografados.

Cartão postal

Patrimônio esburacado da humanidade

Este blogue sempre teve o maior orgulho de sua cidade-sede. Continua tendo. Mas, paciência! Acima, um flagrante do descaso cotidiano, uma cratera na esquina das ruas do Alecrim e Pespontão, no Centro da Ilha, em frente ao tradicionalíssimo Bar do Jósimo. Alguma alma bondosa, sem eufemismos ou trocadilhos, enfiou um pau no buraco a fim de avisar motoristas e/ou pedestres distraídos, que aqui as moças há tempos não pisam nos astros.

Aqui iniciamos a série Cartão postal, que, aperiódica, irá catar coisas do tipo até os “400 anos” da Athenas Brasileira (que nos últimos anos fechou quase todas as suas livrarias, assunto para outro post).

Rosa Reis passa bem após acidente

Cantora chocou seu veículo contra um poste; ela deve sair do hospital ainda hoje

A cantora Rosa Reis (foto) foi vítima de um acidente de carro nesta madrugada (5). O veículo conduzido por ela colidiu com um poste por volta das 4h, nas proximidades da Assembleia Legislativa do Estado do Maranhão (Av. Jerônimo de Albuquerque, Cohafuma).

Rosa Reis está internada no Hospital UDI (Jaracaty), em observação, mas não sofreu sequer um arranhão. Com o impacto da batida, houve uma pressão sobre seu tórax. A artista já realizou todos os exames necessários e deve ser liberada ainda hoje.

Seus fãs podem ficar tranquilos: em breve ela poderá novamente ser vista e ouvida nos palcos da Ilha, por ocasião da programação carnavalesca, em especial a organizada pelo Laboratório de Expressões Artísticas (Laborarte), que coordena.

Rompimento de cabos de fibra ótica deixa usuários da Oi sem serviços de telefonia e internet

Problema prejudicou milhares de usuários da empresa no estado; também houve suspensão de serviços bancários e do atendimento pelo 116 da Cemar

RUBENITA CARVALHO
DA EDITORIA DE CONSUMIDOR

Mais uma vez os usuários maranhenses da empresa Oi, sejam de serviços de internet, de telefonia celular e de telefonia fixa, foram prejudicados na manhã e tarde de ontem por uma pane no sistema da operadora. Sem sinal para receber e efetuar ligações, nem para acessar a internet, os consumidores enfrentaram o “apagão” da operadora desde as primeiras horas da manhã. O problema afetou o sistema da Oi integrado aos bancos, prejudicando muitos clientes que precisaram realizar operações bancárias.

A Oi informou no meio da tarde que um duplo rompimento de fibra ótica, causado por obras civis sob a responsabilidade de terceiros, entre os municípios de São Luís, Santa Inês e Parnaíba (PI), ocorrido na manhã de ontem, afetou parcialmente os serviços de telefonia fixa, móvel e dados no Maranhão. Segundo a operadora, equipes técnicas foram acionadas e o serviço foi normalizado ainda na tarde de ontem.

Entre os bancos afetados em todo o Maranhão durante todo o horário bancário estão o Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Bradesco. Na porta de agências do Banco do Brasil e Caixa, era grande o número de pessoas que aguardavam o retorno do sistema. No Banco do Brasil no São Francisco a situação de quem esperava na porta da agência era semelhante à dos demais bancos. “Eu estou aqui desde as 10h, mas até o momento o sistema está fora do ar e preciso descontar um cheque de R$ 440,00. Estou precisando muito desse dinheiro e não posso nem voltar para casa”, afirmou Evanildo Lima Campos.

Em busca de sacar dinheiro para pagar algumas contas, o engenheiro Sadoc Fonseca Sodré contou que foi ao banco já preocupado em retirar dinheiro para cumprir compromissos financeiros cujo vencimento era ontem. “Lá em casa é celular que não tem sinal, é internet que não funciona e, agora, chego ao banco e também nada funciona. Isso é um descaso muito grande com a população”, queixou-se Sadoc Fonseca.

Em situação semelhante, o jornalista Anderson Corrêa contou que ontem pela manhã foi a uma das agências do Banco do Brasil, por duas vezes, mas não conseguiu sacar o dinheiro para quitar uma conta com vencimento ontem. “Eu quero saber quem vai arcar com os juros. Tentei pagar o débito, mas o sistema estava fora do ar”, reclamou.

As queixas de consumidores contra as operadores de telefonia móvel lideram o ranking de reclamações no Procon.

A Companhia Energética do Maranhão (Cemar) também foi afetada pela pane na Oi. A empresa informou que, por causa de problemas técnicos nos serviços de telefonia de responsabilidade da operadora OI/Telemar, a Central de Atendimento ao Cliente 116 não recebeu ligações desde as 10h30 de ontem. A companhia orientou os clientes a se dirigirem a alguma agência de atendimento mais próxima ou acessar o www.cemar116.com.br.

[O Estado do Maranhão, 25 de janeiro de 2012, Consumidor, p. 7, acesso exclusivo para assinantes com senha]

Comunidades da zona rural de Açailândia interditam obra de duplicação de trilhos da Vale

Desde o começo da manhã cerca de 700 funcionários da empresa estão cercados impedidos de circular pela região

AÇAILÂNDIA – Aproximadamente dois mil moradores da zona rural de Açailândia/MA, de Novo Oriente, Francisco Romão, Planalto I e II e acampamento João do Vale, ocupam desde a madrugada de hoje (19), a vicinal que dá acesso às obras de duplicação da Estrada de Ferro Carajás, sob concessão da mineradora Vale.

O motivo da interdição da via, onde cerca de 700 funcionários da empresa estão cercados pelos manifestantes, se dá pelo não cumprimento da mineradora às contrapartidas na região que foram acordadas com os moradores das comunidades, há dois meses junto à Prefeitura Municipal de Açailândia.

“Só encerraremos o protesto se representantes da empresa vierem negociar com a população, pois estamos solicitando à Vale várias compensações diante de seus projetos nas comunidades há muito tempo e agora foi o estopim, pois ela descumpriu prazos e o povo não aguenta mais e quer uma resposta”, esbraveja Ricardo Amaro de Sousa, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Açailândia, que habita na região.

Segundo documento entregue ao Ministério do Meio Ambiente e IBAMA pela Rede Justiça nos Trilhos, que monitora os problemas provocados pela Vale nas comunidades que margeiam a ferrovia no Maranhão, os impactos na zona rural de Açailândia são muitos.

“Atropelamento de pessoas e animais, trepidação e rachadura das casas, além do aterro de poços com a passagem do trem, poluição sonora, aumento do tráfego de carros, o envenenamento das terras da comunidade pelo veneno jogado nas plantações dos eucaliptos que cerceiam os assentamentos, devastação ambiental e constantes incêndios provocados pela locomotiva”, são alguns dos problemas que constam do documento.

Diante desse quadro, as contrapartidas requeridas pela comunidade e não cumpridas pela mineradora são: “melhorias na escola, construção de túneis para passagens de carros e passarelas para travessia de pedestres sob a estrada de ferro, valor justo de indenização para remoção das casas, recuperação dos reservatórios de água, trabalho de prevenção a incêndio, apoio às experiências ambientais, pesquisas para avaliar impacto dos agrotóxicos vindo do eucalipto na plantação dos assentamentos e um posto de saúde” (Márcio Zonta, da Rede Justiça nos Trilhos).

Via Expressa não vai atingir igreja do Vinhais Velho, diz secretário

Max Barros garante que obra não causará dano à Igreja de São Batista, que é tombada

 

Via Expressa não atingirá a igreja. E as pessoas?

 

O secretário de Estado de Infraestrutura, Max Barros, informou ontem que a obra da Via Expressa não acarretará qualquer dano à Igreja de São João Batista, no Vinhais Velho, que é tombada pelo Patrimônio Histórico Estadual. “Estamos tomando todos os cuidados necessários. Contratamos um escritório de arqueologia, que está acompanhando todos os passos do processo”, declarou.

De acordo com o secretário, a avenida passará a uma distância de 100m da igreja. Além disso, o prédio será beneficiado com um largo que será edificado na área existente em frente ao templo, para uso e diversão da comunidade.

Max Barros informou ainda que apenas oito imóveis estão no traçado da Via Expressa. Destes, dois já estão desocupados e os outros seis estão em processo de negociação com o Governo do Estado.

Obra – Com investimentos de mais de R$ 100 milhões, a Via Expressa é uma das obras construídas pelo governo para marcar a celebração dos 400 anos de São Luís e beneficiará 300 mil habitantes em diversos bairros de São Luís. O projeto prevê a ligação da Avenida Colares Moreira – passando pela Carlos Cunha – à Daniel de La Touche, na altura do Ipase.

A nova avenida terá cerca de 9 km de extensão, passando por mais de 20 bairros. De acordo com estudos da Sinfra, a via deve atrair pelo menos 30% do total de veículos que hoje trafegam pela Jerônimo de Albuquerque, entre os Elevados da Cohama e o do Trabalhador, o que vai contribuir para desafogar o trânsito na área.

Mais – A nova avenida interligará os Bairros Cohafuma, Vinhais e Maranhão Novo, por meio de alças acopladas às vias já existentes, que serão especialmente restauradas para a garantia de melhor fluxo de tráfego.

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Com uma obra e um sutiã a mais aqui e um mais a menos acolá, o texto acima foi publicado, quase sem tirar nem por vírgula, nas edições de hoje (18) dos jornais O Estado do Maranhão (Geral, p. 5) e Pequeno (Cidade, p. 13).

No primeiro, não é de se estranhar, já que trata-se de um veículo de comunicação do Sistema Mirante, de propriedade da família da governadora, quase um “diário oficial” de seu governo (não há Via Expressa que o coloque nos trilhos, nos eixos).

No segundo, dito de oposição à família Sarney (mesmo que isso, às vezes, signifique defender intransigentemente e/ou legitimar a péssima gestão tucana de João Castelo à frente da prefeitura ludovicense), o estranhamento é atenuado por ter se tornado comum, infelizmente, a prática nada saudável do control c control v em releases.

Em sua última página (Polícia, p. 16), o JP anunciou o Almoço da Resistência, ato organizado por moradores do Vinhais Velho, que acontece logo mais ao meio-dia. Ontem, a comunidade recebeu a visita do arcebispo de São Luís Dom José Belisário.

Mercadoença

Mais uma da máquina de moer gente que é o mundo cada vez mais capitalista (apesar das crises, cujos mais fodidos é que sempre pagam a conta) e cada vez mais selvagem: um interessante artigo de Martha Rosenberg traduzido por Daniela Frabasile revela os bastidores da indústria farmacêutica para fabricar e vender remédios. Ou, melhor dizendo: fabricar doenças e vender remédios.

Sou o tipo do cara que só consulta médicos em última instância e, não fosse a insistência de minha esposa, provavelmente sequer teria plano de saúde. Ignorância? Não sei. O ideal era termos um sistema de saúde público que funcionasse e garantisse atendimento rápido a qualquer um que dele precisasse. Como estamos bem longe disso, melhor garantir, apesar do SUS ser, do ponto de vista da garantia do direito à saúde, um dos sistemas mais avançados do mundo (não do ponto de vista técnico, obviamente).

O que quero dizer com isso? Duas coisas: que pago plano de saúde para não usar, por falta de necessidade ou de vontade: resolvo não frequentes dores de cabeça com dorflex ou neosaldina, compradas em qualquer farmácia ou boteco, embora não recomende aos poucos mas fieis leitores tentarem repetir isso em casa; e que acredito muito que a grande maioria dos problemas de saúde, digamos, mais simples, tem origem psicológica: você está doente, mas acredita que está mais doente do que realmente está e a tendência é piorar; como se parte da cura se devesse à crença de que você é mais forte que o mal que te aflige ou que você acha que te aflige. Placebo?

Sei que meto o bedelho bem fora da minha seara, mas fiquei perturbado com o artigo citado no início deste blá blá blá. Imaginemos uma conversa entre amigos: “o quê? Você não sofre disso? Que demodê!”. “Ah, mas eu sofro daquilo, que me causa isso, isso e isso”. Doença enquanto sinônimo de moda, sacam? Preocupante? Demais! Há gente para sucumbir à mídia farmacêutica, como há quem compre carros, roupas, comida e mesmo livros, discos e jornais apenas por que a propaganda lhes ordena.

“Como a indústria farmacêutica conseguiu que um terço da população dos Estados Unidos tome antidepressivos, estatinas, e estimulantes? Vendendo doenças como depressão, colesterol alto e refluxo gastrointestinal. Marketing impulsionado pela oferta, também conhecido como “existe um medicamento – precisa-se de uma doença e de pacientes”. Não apenas povoa a sociedade de hipocondríacos viciados em remédios, mas desvia os laboratórios do que deveria ser seu pepel essencial: desenvolver remédios reais para problemas médicos reais”, diz o primeiro parágrafo do artigo, cuja íntegra pode ser lida no Outras Palavras.

Cadê as autoridades?

Fiz a foto acima hoje (25) à tarde, por volta das 15h30min. Os dois veículos em destaque colidiram sobre a faixa de pedestres em que a Avenida Castelo Branco cruza com a Rua das Paparaúbas, no São Francisco.

O veículo da frente é do INSS, como indicam dois adesivos amarelos pregados em suas portas dianteiras. O detalhe: pela manhã, por volta de 9h, quando ia deixar minha esposa no trabalho, ambos já estavam colididos, represando o fluxo do tráfego.

Ou seja: cerca de seis horas e meia sem que os agentes da Secretaria Municipal de Trânsito e Transportes de João Castelo ou os policiais da Polícia Militar de Roseana Sarney aparecessem para a marcação do asfalto e/ou perícia e consequente liberação da via.

É apenas um exemplo, pequena amostra do descaso a que está relegada esta capital.

Em tempo, devo dizer: apenas fiz a foto. Não desci para conversar com ninguém. Este post não é, portanto, uma “matéria de cidade” ou coisa que o valha. Isto é: se a PM e/ou a SMTT e/ou ainda algum dos condutores quiser dizer o porquê da demora na desobstrução da via, a caixa de comentários deste blogue está às ordens.

Pitomba! e Resistência Cultural

Minha primeira reação é catar numa estante o segundo volume dos Ensaios reunidos [Topbooks, 2005] de Otto Maria Carpeaux, que há tempos comprei usado no sebo Papiros do Egito. Lá está a assinatura indicando-lhe o antigo dono: Lorêdo Filho, a quem não conheço pessoalmente mas aprendi a respeitar como grande leitor, já que além da obra citada, comprei vários outros usados seus, a preços quase sempre salgados, porém, em perfeito estado de conservação.

Amigo de Moema, a proprietária do Papiros, desde meus dez ou onze anos, quando fui morar na Rua de Santaninha e seu sebo se localizava na Rua dos Afogados (hoje fica na da Cruz, depois de herdar o nome do tempo em que funcionou na do Egito), uma ida até sua loja nunca é apenas o vasculhar de algum título e/ou sua compra: é sempre uma visita, quase sempre com longas conversas sobre os mais variados temas – das últimas vezes conversamos bastante sobre os usos úteis do facebook e ela, blogueira “novata”, contava-me de sua vontade de recontar a história de Pinheiro, sua cidade natal, sobre o que tem lido bastante e publicado, vez por outra.

Nessas visitas, sempre vi a indefectível assinatura de Lorêdo, acompanhada da data, nos livros usados que ele ali deixava – ou ainda deixa? – para que Moema os revenda. Minha curiosidade era despertada sobretudo pelo fato de os livros serem novíssimos, o que me fazia deduzir que ele, grande leitor, repito, não sofria do “acervismo” que me acomete – e agora olho para pilhas de livros, jornais e revistas espalhados no quarto enquanto escrevo, a ansiedade de minha esposa para que eu dê-lhes logo o destino e a plena arrumação do cômodo que chamo pretensiosamente de biblioteca.

Moema me dizia também que Lorêdo abriria uma livraria, o que me entusiasmava, já que São Luís padece da quase inexistência desses espaços – e não vi ninguém chorar o fechamento (espero que temporário) da Athenas. Alô, Arteiro! Caso tu leias isso, dá um alô que eu tou querendo falar contigo. Mas estou, como diria Luiz Gonzaga quando achava de contar causos em shows, entre as músicas, levando vocês na conversa. Soube, da pior maneira possível, que a livraria de Lorêdo, a Resistência Cultural, já está aberta e funcionando: num texto dele sobre a revista Pitomba!.

Embora se justifique, afirmando de cara que não defende um retorno a práticas medievais – de tortura, inclusive – Lorêdo evoca um “ordonnance” (decreto) de Carlos VI, rei da França, para comentar a revista Pitomba!, em que deu “uma breve folheada”.

Católico fervoroso, Lorêdo julga o todo pela parte e, a seu ver, a revista editada por Bruno Azevêdo, Celso Borges e Reuben da Cunha Rocha é simplesmente torpe, execrável, repugnante e depravada – para usar adjetivos colhidos ao longo de seu texto. O livreiro-editor, ao se reportar apenas aos quadrinhos Cuidado! Jesus vai voltar, esquece o trabalho de todos os envolvidos – ops! – na feitura do segundo número da publicação: as fotografias de Marilia de Laroche, os textos de Celso Borges e Flávio Reis, os poemas de Dyl Pires, os quadrinhos de Bruno Azevêdo, as traduções de Reuben da Cunha Rocha – o Sensacionalista certamente não hesitaria em dizer que os editores da Pitomba! temem a excomunhão.

A ação do trio Pitomba! despertou a ira – sei que é pecado capital, mas na falta de palavra melhor – de Lorêdo, que chega a sugerir que um conhecido mostre a revista ao arcebispo de São Luís, D. José Belisário, que a meu ver tem mais com o que se ocupar.

A reação de Lorêdo foi a pior possível: uma reação reacionária, com o perdão do trocadilho infame, com argumentos vazios – qual teria, aliás, sido sua reação se, em vez de com o catolicismo, o autor dos quadrinhos e os editores tivessem feito piada com, por exemplo, a umbanda ou o budismo? Desqualificar a revista, pura e simplesmente, não a mantendo nas prateleiras de sua livraria é agir como algumas igrejas: não ouvir música e/ou não ler literatura “do mundo”, como eles dizem, é apenas garantir um nicho de mercado.

Sou católico, vou à missa uma vez por semana e creio mesmo que meu trabalho ajude – ou tente ajudar – a construir mundo e sociedade mais justos, um dos propósitos, aliás, de Nosso Senhor Jesus Cristo, com quem nem de longe quero me comparar, mas cujos ensinamentos procuro seguir.

Como leio Cuidado! Jesus vai voltar? Como uma piada, livre de patrulhamentos, quiçá uma crítica à fé cega que permite que o povo “se deixe enganar por falsos líderes”, contrariando a letra de Zé Geraldo. Talvez a piada-crítica seja direta demais – algo a que não estamos (tão) acostumados – e choque. Nada que ainda assuste a quem já tenha assistido a um episódio de South Park, por exempo.

O tiro de Lorêdo vai terminar saindo pela culatra: seja pelo título equivocado de seu post, Pitomba neles! – afinal de contas, ele ‘tá vendendo a revista ou queimando-a em praça pública? – seja pela reprodução das três páginas da revista ocupadas pelos quadrinhos de Rafael Rosa, a mente criativa de Cuidado! Jesus vai voltar.

Lorêdo erra ainda ao dizer que o trio de editores quer apenas “lavar a burra”, sinônimo de “encher os bolsos”: quem ganha alguma coisa vendando 500 exemplares de Pitomba!? Prazer e sensação de missão cumprida são as moedas de seus salários. Ao menos em uma coisa Lorêdo acerta: quando afirma que eles “bem ou mal, estão criando numa terra onde as ideias em geral jamais vicejam” (aqui em grafia já atualizada de acordo com o novo acordo ortográfico).

Assim, resta-nos desejar vida longa à Pitomba! e à livraria-editora Resistência Cultural, de preferência com Pitomba!s em suas prateleiras.

Os buracos de São Luís, tema recorrente

Já falei de buracos, aliás, motivos das críticas mais recorrentes à gestão do tucano João Castelo em São Luís, que tem bem mais que buracos como bons motivos para elas.

Abaixo, filminho que fiz hoje pela manhã, quando transitava pela avenida Camboa, no rumo do trabalho. O que acontece: buracos que haviam sido recém-consertados estão novamente abertos, tornando o trânsito lento, expondo inclusive motoristas a multas.

Isso que mostro é coisa pequena, mas dá ideia do descaso com que a capital maranhense tem sido tratada pelas autoridades de plantão. As imagens podem ser toscas, a ideia pode não ser original, mas foi divertido fazer, apesar de arriscado e de eu torcer e trabalhar por uma cidade melhor.

Todo mundo fala em 400 anos, mas como a cidade estará ao completar os 399 que se avizinham?

O piti do dotô

Cena 1: médico chega atrasado a uma clínica Unihosp em São Luís, ontem (10) à tarde. Cena 2: alguém, com senso de humor, diz algo como “até que enfim, atrasadão”. Cena 3: médico, sem senso de humor, vai embora e diz que não vai atender ninguém e manda os pacientes que o aguardavam pacientemente (redundância intencional) tomarem naquele lugar (este blogue se reserva o direito de não publicar o termo de baixo calão utilizado por ele). Cena 4: o “piti” do médico, “doutor” José Mauro Carvalho (de camisa azul), chamando a todos de moleques, filmado abaixo pelo celular da bibliotecária Marla Silveira. Quem é mesmo o moleque? Alô, CRM!