Balanço da Mostra

Produtor local da 6ª. Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul, o cineasta Francisco Colombo analisa a realização da etapa ludovicense do maior evento do gênero no continente

POR ZEMA RIBEIRO

A cantilena de que São Luís padece de falta de espaços para a fruição de cinema de qualidade parece perder o sentido, em parte, se observarmos a quantidade de festivais que a capital maranhense tem recebido nos últimos tempos: Festival Lume, Maranhão na Tela, Guarnicê, Mostra de Cinema Infantil e, mais recentemente, a 6ª. Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul, encerrada domingo passado (6 de novembro). Em parte, frise-se: fora um ou outro cineclube, o Cine Praia Grande ainda é a única sala a exibir produções fora do circuito comercial, o que o torna palco natural e privilegiado para eventos do porte, não fossem os problemas que veremos a seguir.

Realização da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH-PR) com produção da Cinemateca Brasileira e patrocínio da Petrobras, através da Lei Rouanet, a Mostra chegou pela segunda vez à São Luís, trazendo 47 filmes – 46 de dez países da América do Sul, mais Morango e chocolate, coprodução de Cuba e México – em 25 sessões, durante sete dias, tendo início em 31 de outubro.

Pela segunda vez entrevistado pelo Vias de Fato – a primeira há um ano, em novembro passado, sobre a quinta edição da Mostra –, o cineasta Francisco Colombo, produtor local, concedeu, via msn messenger, a entrevista a seguir.

ENTREVISTA: FRANCISCO COLOMBO

Vias de FatoQual o seu balanço após a realização da etapa São Luís da 6ª. Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul?
Francisco Colombo – Acho que deu tudo certo apesar de algumas variáveis que não estavam sob controle, digamos, da produção: a sequência de feriados – interpretada de modo diferenciado pelos poderes executivos estadual e municipal, judiciário e Ministério Público. Isso influiu na mobilização de públicos e na disponibilização, por exemplo, de transporte para entidades ou grupos. No Odylo Costa, filho, a Mostra era a única coisa que funcionava em alguns dias. Além disso, o ar-condicionado do cinema estava muito ruim. Quando vamos ao cinema queremos conforto, queremos nos desligar um pouco do mundo. E fica difícil no calor.

É a segunda vez que a Mostra chega à São Luís. Qual o comparativo entre as duas edições recebidas pela capital maranhense? Houve uma pequena, mínima, queda de público. Mas como disse anteriormente, isso se deveu às variáveis mencionadas. Vi muita gente diferente nessa edição da Mostra. Acho que conseguimos cativar mais gente. A cobertura da imprensa também foi muito boa. A expectativa gerada para a abertura, por parte dessa cobertura toda, em particular da televisiva, foi excelente.

A grande concorrência gerada pela sessão de abertura tem também a ver, ainda que minimamente, com a distribuição dos kits-brindes da Mostra. A sessão de O céu sem eternidade [sexta-feira, 4/11, 19h], no entanto, superou, a de abertura [segunda-feira, 31/10, 19h]. O filme foi rodado em Alcântara/MA e trata do embate dos quilombolas com a base espacial. Você recebeu isso com surpresa ou esperava? A distribuição de kits é uma ferramenta importante na promoção da Mostra. Ao contrário de muita gente que questiona sobre o interesse em parcela significativa do público na ida à Mostra, pra mim tudo é positivo. Imagino que, mesmo que alguns queiram apenas o kit, ainda assim terão contato com os filmes da Mostra e, é claro, serão tocados, ainda que minimamente, pela questão dos Direitos Humanos. Quanto à sessão de O céu sem eternidade, havia sim a expectativa por um público numeroso. Não dava pra imaginar é que superaria ao da abertura.

Ainda é cedo ou já é possível falar em perspectivas para a 7ª. Mostra? A produção local continuará em tuas mãos? O Cine Praia Grande continuará sendo o palco? Aprendemos muita coisa nessas duas edições da Mostra em São Luís. Creio não ser cedo pra falar na próxima. Acho que continuo com a produção, que alia certo conhecimento de cinema, de produção e um trânsito junto à imprensa, ao poder público, à iniciativa privada, às instituições e aos movimentos sociais. Quanto ao Cine Praia Grande, apesar da boa vontade de Frederico Machado e da Lume Filmes, não sei se será possível mantermos a Mostra por lá. Acho que é preciso um lugar um pouco maior, porque assim as pessoas se sentirão, inclusive, mais seguras para arriscar prestigiar a sessão de abertura ou a de exemplos como O céu sem eternidade, e que agregue conforto, boa localização e acessibilidade. Acho que a Mostra tem potencial pra crescer e isso estará, irremediavelmente, associado ao local de realização.

A programação da 6ª. Mostra trouxe 46 filmes de 10 países, incluindo o clássico Morango e Chocolate, coprodução de Cuba e México. Não se faz, por exemplo, entre os filmes brasileiros, uma divisão por estado. O céu sem eternidade foi rodado aqui, com colaboração de gente daqui, mas não é um filme “maranhense”. Cabe perguntar: a que se deve a não participação de produções maranhenses? Existe uma convocatória nacional para a Mostra. Isso equivale a uma abertura de seleção, como em qualquer outro festival. Infelizmente, apesar de eu ter repassado a alguns realizadores, e mesmo de algum jornal ter publicado nota sobre essa convocatória, não houve inscrições de obras maranhenses. Na verdade tenho a impressão de que os realizadores locais, com algumas exceções (pouquíssimas mesmo), fazem filmes ou vídeos para serem vistos apenas em um ou outro festival maranhense. Além da convocatória, há também um trabalho de curadoria, realizado pelo Francisco César Filho, o Chiquinho, lá em São Paulo. O céu sem eternidade, de fato, foi rodado no Maranhão, tendo sido dirigido por Eliane Café, mas não é uma produção maranhense.

Outro problema encontrado pela produção local foi com as constantes quedas de energia no Centro Histórico, sobretudo no último dia da Mostra, quando as sessões chegaram a ter um atraso de até uma hora e meia. Aliado ao abandono do Centro Histórico e a questões estruturais, como falta de transporte e segurança pública, isso certamente também ajudou a diminuir o público. A Mostra é uma realização de um órgão público, a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, que envolve vários outros parceiros, públicos e privados. Falta sintonia por parte dos poderes públicos locais para um maior sucesso da Mostra? A falta de energia é um problema, a meu ver, inaceitável. Não falo isso apenas por causa da Mostra. Ali é o Centro Histórico. Apesar do número de turistas ser reduzido, a Praia Grande é também frequentada por maranhenses que querem, simplesmente, dar uma volta, passear. Como se não bastasse a falta de segurança, o acúmulo de lixo, o mau odor, o abandono generalizado… falta também energia. É demais mesmo! Houve uma articulação e parcerias para a Mostra, mas não creio que tenha faltado sintonia. Acho apenas que a Secretaria de Estado da Cultura podia ter um tipo de envolvimento um pouco maior. A nossa equipe tratava de captar público pra Mostra e eu me perguntava: por que a Secma não se preocupa em captar público pros equipamentos do estado?

A questão dos direitos humanos está em voga atualmente, sobretudo com relação à temática do Direito à Memória e à Verdade, assunto abordado em diversos filmes da 6ª. Mostra. O que você tem a dizer sobre o assunto? A história do Brasil é muito mal contada. Particularmente, temos um grande problema com o período da ditadura militar que começou em 1964 e da qual o atual presidente do Senado foi colaborador contumaz. Aqui não se buscou responsabilizar os culpados pelas torturas, pelos assassinatos, pelos desaparecimentos… Creio que o cinema ajude um pouco a preencher essa lacuna. Veja que, quando me refiro à história brasileira, não falo apenas no período ditatorial. Outro exemplo: quem sabe alguma coisa sobre a Balaiada? Uma das maiores revoltas populares da América Latina e talvez do mundo! As pessoas que estão no poder não querem que saibamos de história! Talvez tenham medo de que aprendamos com os exemplos e, portanto, preferem nos manter na ignorância.

Em a Mostra, em São Luís, deixando o Cine Praia Grande, certamente irá para uma sala maior. No entanto, cidades maiores, como Brasília e Rio de Janeiro, atualmente, realizam suas etapas da Mostra em salas menores que o Cine Praia Grande. Qual a tua opinião sobre isso? Às vezes é difícil conseguir um bom espaço. Não sei se é essa a questão. Mas acredito que aqui, onde as violações de direitos humanos são extremas, quero alcançar o maior número possível de pessoas. E isso é, de fato, uma posição pessoal.

[Vias de Fato, novembro/2011]

O engodo Paula Fernandes

(OU: A FALSA NINFETA)

“A marca registrada da mineira são os figurinos com cintura marcada, decotes e minissaias. Ela sabe o que isso provoca. “Paula sempre pede para encurtar a saia e apertar a cintura o máximo que puder”, conta Fabiola Senra, consultora de estilo da artista. Fora dos palcos, usa blusinha e calça jeans. “Ela já me disse que não gosta do visual ‘Barbie sertaneja’, mas são negócios”, diz o amigo e ex-assessor da cantora, Mauricio Santini. Gostando ou não, o fato é que Paula não está preocupada em ser cool. Ela representa o oposto das cantoras festejadas pelos críticos, como Tiê, Karina Buhr e que tais: usa de todo o seu arsenal para ser cada vez mais popular e ganhar dinheiro. Tem funcionado.”

Antes do vídeo, trecho da matéria Lady Paula, assinada por Ana Luiza Leal na revista Alfa [nº. 15, nov.2011, p. 78-79, Pelé na capa].

No vídeo, Paula Fernandes canta e dança um tema da novela global O Clone, recentemente reexibida [a ele chegamos, na busca do YouTube, através de dica em outro trecho da matéria, p. 80].

A confissão acerca do visual ‘Barbie sertaneja’, na modesta opinião deste blogueiro, traduz o que de fato é Paula Fernandes: um engodo. Antes, confesso: o er… an… crítico musical que aqui lhes escreve um dos que sempre que necessário elogia merecidamente estrelas como Tiê, Karina Buhr e não só, Céu, Mariana Aydar, Tulipa Ruiz, Juliana Kehl, Ceumar, Patrícia Ahmaral, Roberta Sá, Lena Machado, Tássia Campos e tantos outros nomes deste país de cantoras.

Quiçá não seja só o virual ‘Barbie sertaneja’ o que lhe desagrada: talvez Paula Fernandes sequer goste de música sertaneja, tendo caído de paraquedas no filão. Isto é, canta música sertaneja como poderia cantar qualquer outra coisa que esteja (ou estivesse) fazendo sucesso (forró, pagode, calipso etc.) e isso nada tem a ver com versatilidade. Se não, vejamos: ela estourou para o Brasil após um mise-en-scène em que era a ninfeta derramando-se para o “coroa” mais popular do país (em termos musicais, já que outro “coroa” superpopular estrela a capa de Alfa): Roberto Carlos. A partir daí tem sabido como ninguém explorar sua imagem, vide, novamente, as confissões da matéria (ou do trecho que recortamos para acá).

Ou seja, “a imagem sexy no palco e o vozeirão de mulher em contraste com o jeitinho virginal e meio moleca virou a cabeça dos homens” [Alfa 15, p. 76]. O que ela quer é capitalizar, discordo com o “vozeirão” (ela quase não abre a boca para cantar e isto está longe da naturalidade de, por exemplo, Marisa Monte). Paula Fernandes sabe que a beleza não dura para sempre, logo, o quanto puder ganhar em menos tempo, usando mais da beleza (fabricada?) que do canto (idem?), ganhará, para que, em poucos anos, passado seu boom, possa gozar uma confortável aposentadoria.

Em tempo: Paula Fernandes se apresenta hoje em São Luís, na Nova Batuque (Cohama), à caça de mais níqueis para atingir seu intento.

Dois anos do Vias de Fato: um jornal necessário

Antes de mais nada: necessário, sim. Um jornal cujas “multinacionais” que o apoiam – Cáritas Brasileira Regional Maranhão, Chico Discos, Sociedade Maranhense de Direitos Humanos, Poeme-se – não interferem no conteúdo; cujo departamento comercial não se sobrepõe à redação; em que o compromisso com a verdade e a paixão pelo ofício – com seus ossos e “a dor e a delícia de ser o que é” – estão acima de quaisquer etc. Um jornal de esquerda, elogiado e criticado por esquerda, centro e direita, não necessariamente nessa ordem, a depender da edição, do assunto, da matéria…

Ainda lembro o primeiro panfleto do Vias de Fato: um boneco gorducho e baixinho gritava, nas mãos um exemplar do jornal que ainda ia sair. Dois anos se passaram. Mais de dois, na verdade, que as coisas naquele jornal mensal não são assim tão certinhas: o aniversário de dois anos é comemorado quando a criança já conta 25 meses, caminhando para 26.

Antes disso, lembro do cortejo de catirinas famintas em uma peça de teatro de rua, O batizado do boi de taipa, salvo engano era esse o nome, catirinas e boi e músicos e interessados em geral, artistas e espectadores misturavam-se, percorrendo a Praia Grande – numa época em que o bairro ainda não havia caído no estado de total abandono e putrefação a que ora se encontra relegado.

Lembro também a feijoada em comemoração ao primeiro aniversário do jornal, uma tarde descontraída na beira da praia: aquele dia era aniversário de Jonas Borges, que recentemente defendeu sua monografia e venceu uma doce aposta que tinha comigo.

Recentemente os editores Cesar Teixeira e Emílio Azevedo e os coordenadores Alice Pires e Altemar Moraes resolveram “acabar” com o expediente do jornal: havia se chegado à conclusão de que ali ninguém dá expediente. É verdade! Não há redação fixa, mas as coisas funcionam.

Tem sido um prazer muito grande e é uma honra enorme integrar essa família – sei lá há quantas edições venho colaborando com as páginas de cultura. Outra alegria são as reuniões do “conselho”: este blogueiro, Emílio Azevedo e Flávio Reis, desde sempre um entusiasta do mensal que “não foge da raia”.

Hoje (9), logo mais às 18h30min, no Auditório Che Guevara do Sindicato dos Bancários (Rua do Sol, 413/417, Centro), acontece o debate “Mídia alternativa, sociedade civil e luta social”, marcando o segundo aniversário do Vias de Fato.

Participam o jornalista Igor Felippe Santos, editor do site do MST e integrante do Centro de Estudos Barão de Itararé e da Rede de Comunicadores pela Reforma Agrária, o professor Flávio Reis, do curso de Ciências Sociais da UFMA, autor dos livros Cenas marginaisGrupos políticos e estrutura oligárquica no Maranhão, além do inédito Guerrilhas (a sair em breve com os selos Pitomba! e Vias de Fato), e a jornalista, socióloga e professora Helciane Araújo, da UEMA, autora do livro Memória, mediação e campesinato: as representações de uma liderança sobre as lutas camponesas na pré-Amazônia maranhense.

Como anuncia o panfleto: “o evento faz parte da comemoração pelos dois anos de fundação do jornal Vias de Fato. A entrada é franca. Ao final do debate teremos música, cachaça e camarão seco”.

Em meio à avacalhação geral

o jornal Vias de Fato completou dois anos. Para marcar a passagem realiza dia 9 (quarta que vem) o interessantíssimo e imperdível debate abaixo:

Ficção científica alarmou a população*

O que você faria se ligasse o rádio e escutasse que a terra – sobretudo a sua terrinha – está sendo invadida por extraterrestres? Homenzinhos verdes descendo de naves espaciais com antenas na cabeça, capacetes transparentes e com consequências inimagináveis.

Hoje em dia, provavelmente você acessaria a internet, à caça de maiores informações. Ou dispararia torpedos a torto e a direito em busca de saber mais de seus amigos.

Mas e há quarenta anos, quando não existiam internet ou telefones celulares?

30 de outubro de 1971. A Rádio Difusora havia completado, no dia anterior, 16 anos. Para comemorar a data, uma turma levou ao ar o programa A Guerra dos Mundos, que simulava a tal invasão com que se abre este texto.

O feito já havia sido realizado nos Estados Unidos, em 1938, por iniciativa de Orson Welles, que viria, depois, a ficar mundialmente famoso com Cidadão Kane, um dos melhores filmes já realizados em todos os tempos, na opinião de, entre muitos outros, Elvas Ribeiro, o insuspeito Parafuso, um dos envolvidos na empreitada.

A diferença? Nos Estados Unidos de mais de 30 anos antes, as pessoas sabiam tratar-se de um programa de ficção, da adaptação radiofônica do livro homônimo de H. G. Wells. Em São Luís, a incauta população foi pega de surpresa – os avisos de que se tratava de uma obra de ficção foram colocados depois, nos espaços “em branco” da fita, para evitar problemas com a Polícia Federal.

Graças a Parafuso uma equipe coordenada pelo professor Francisco Gonçalves da Conceição (UFMA) conseguiu recuperar a gravação do programa: ela está em um cd encartado em Outubro de 71 – Memórias fantásticas da Guerra dos Mundos, que faz o resgate deste importantíssimo capítulo da radiofonia maranhense – a historinha da fita apenas uma das inúmeras e deliciosas lembradas no livro.

A equipe: Aline Cristina Ribeiro Alves, Andréia de Lima Silva, Elen Barbosa Mateus, Kamila de Mesquita Campos, Karla Maria Silva de Miranda, Mariela Costa Carvalho, Romulo Fernando Lemos Gomes e Sarita Bastos Costa. Privilegiadamente, este blogueiro já havia escutado trechos dessa história, a “memória fantástica” de Parafuso, sempre bem acompanhado de seu copo de uísque, habitué do Bar do Léo, onde vez por outra nos encontramos. Agora, recontada em livro com maior riqueza de detalhes e visões múltiplas.

A obra celebra os 40 anos do ocorrido em entrevistas com cinco personagens que trabalharam no acontecimento: Sérgio Brito (roteiro), Pereirinha (direção técnica), o citado Parafuso (sonoplastia), J. Alves (reportagem) e Rayol Filho (locução) – as entrevistas foram concedidas entre 2005 e 2006 e o resultado final foi lido e aprovado pelos entrevistados, já neste 2011.

Outubro de 71, o livro, resgata também o script original do programa. Um trabalho silencioso, árduo, mas certamente prazeroso. Francisco Gonçalves e seu time nos pegam de surpresa, como há 40 anos o foram os ouvintes da Difusora. À época, pânico, terror, bares e lojas fechados, o saldo dA Guerra dos Mundos. Outra historinha deliciosa: um pastor protestante que reuniu a família para ler o livro do Apocalipse, a fim de se preparar para o fim do mundo; ao descobrir a “farsa”, ligou para a rádio e “esculhambou” o conhecido Parafuso – mais não conto.

ServiçoHoje (26) será diferente: às 19h, no Palácio Cristo Rei (Praça Gonçalves Dias), acontece o lançamento de Outubro de 71 – Memórias fantásticas da Guerra dos Mundos. Entrada franca. O livro – com cd encartado – será vendido por R$ 30,00.

*Manchete de capa do jornal O Imparcial de 31 de outubro de 1971

Ficção e realidade em corda bamba sobre o oceano

Em março do ano passado o escritor Luís Cardoso esteve no Brasil para lançar o romance Requiem para o navegador solitário [Língua Geral, Coleção Ponta de Lança, 303 p.], seu primeiro livro publicado no Brasil – de 2007, aportou por aqui em 2009. Noites de autógrafos no Rio de Janeiro e em São Paulo com aquele que é considerado o mais importante escritor de Timor Leste – país-ilha onde também se fala o português –, cujas obras já foram traduzidas para o alemão, francês e inglês, entre outras.

Prosa de alta voltagem poética, personagens fortes marcam as páginas do Requiem: a própria ilha natal de Cardoso e a doce e inocente Catirina, que cresce com seus dramas, como o povo timorense querendo apenas recuperar o que é seu.

Aproveitando a passagem do escritor pelo Brasil, Zema Ribeiro entrevistou-o, ainda em março de 2010, por e-mail. Talvez os mistérios dos mares das páginas de Cardoso possam explicar o porquê de a entrevista ter permanecido inédita por mais de ano e meio. Vias de Fato recupera-a e presenteia seus leitores (optamos por manter a grafia com que o autor respondeu ao e-mail com o bloco de perguntas enviado).

Cardoso esteve no Brasil ano passado. "Requiem para o navegador solitário" é seu primeiro título publicado aqui
ENTREVISTA: LUIS CARDOSO
POR ZEMA RIBEIRO

Vias de Fato – Para começar, gostaria que você falasse de sua infância. Nasceu em Timor Leste, mudou-se para Portugal com que idade? Com quantos anos a literatura entra na tua vida, seja como leitor e/ou escritor? Luís Cardoso – Nasci em Timor-Leste, no dia 8 de Dezembro de 1958, numa localidade chamada Cailaco. O meu pai era enfermeiro e tinha que se deslocar de uma localidade para outra, pelo que pude contactar com vários idiomas e vários povos no território que hoje se chama Timor-Leste. Mas, o local com que mais me afeiçoei foi a ilha de Ataúro. Para onde as autoridades mandavam os presos políticos. Assim o fizeram os portugueses, os japoneses e os indonésios durante as ocupações. Em 1975 fui para Portugal para continuar os estudos. Uma vez terminado o liceu ingressei no curso de medicina. Contudo, esta opção não se revelou a mais acertada: consigo aguentar melhor as minhas dores do que as dores de outros. Desta forma, depois de um ano a estudar medicina optei pela Silvicultura. A invasão de Timor pela Indonésia deu-se na altura em que estava em Portugal. Comecei a fazer parte da Resistência Timorense e mais tarde da sua Frente Diplomática. A literatura entrou muito tarde na minha vida. Só quando cheguei a Portugal tive oportunidade de ler as obras literárias de vários escritores portugueses e estrangeiros. Mas a escrita aconteceu muito cedo, desde os tempos da escola primária, quando tinha que fazer as minhas redacções e as de um colega, filho de um desterrado português que tinha uma padaria. Normalmente fazia duas versões do mesmo tema, uma para ele e outra para mim, e recebia como recompensa um pão com manteiga. Um bem apenas acessível aos endinheirados. Posso dizer que foi a escrita que, pela primeira vez, me deu a ganhar o pão.

Quais as suas principais referências literárias, livros a que você sempre volta para novas leituras? Infelizmente não pude ler os livros dos grandes mestres da literatura na altura em que toda a gente o fazia. Simplesmente porque não chegavam a Timor. As autoridades coloniais portuguesas não o permitiam. Na infância o único livro que me deram a ler foi a Bíblia. Releio muitas vezes.

Você é tido como o primeiro romancista de Timor, última colônia portuguesa a deixar essa condição. Você citaria algum outro escritor timorense de destaque? Cito o poeta Borja Costa, a quem eu chamo de Pablo Neruda timorense. Foi morto pelos indonésios no dia da invasão em 7 de dezembro de 1975. Também faço referência a um outro poeta desconhecido que se chama Jorge Lautém.

Como é morar em Portugal e ter sido um dos ativos militantes pró-independência do Timor? Morar em Portugal foi uma opção. Libertada a Pátria, libertei-me da Pátria. Sou um homem livre, sem que contudo tenha abdicado da minha identidade timorense. Timor hoje é um país independente, onde há democracia e os cidadãos são livres de escolherem o que pretendem fazer das suas vidas. Alguns dos meus colegas dos anos da Resistência elegeram a política como actividade principal das suas vidas. Eu escolhi a literatura e viver fora do meu país foi uma opção, como a de muitos brasileiros que vivem na Europa, nos Estados Unidos ou na África. Ser cidadão de um país não quer dizer que se tenha de viver amarrado a um território.

Como ocorreram as negociações para o lançamento de seu livro no Brasil, pela Língua Geral? É o primeiro livro publicado no Brasil. O contacto foi feito pelo meu colega e amigo José Eduardo Agualusa [romancista e contista angolano, contemporâneo de Cardoso, autor de Estação das chuvas e As mulheres do meu pai, entre outros].

Há no romance certa tendência ao poético, seja na construção dos parágrafos, por vezes deixando, no bom sentido, confuso o leitor, se a fala é a continuação da fala de determinado personagem ou da narradora, seja nos nomes dados aos gatos e mesmo no imaginário de navegantes que permeia o enredo. Você escreve poesia? Não, não escrevo poesia. Mas gosto e adoro poesia. Leio mais poesia que romances. Os meus escritores preferidos são mais poetas que romancistas. Cito os portugueses António Lobo Antunes, que embora escrevendo prosa é um grande poeta, Sophia de Mello Breyner Andresen, Ruy Cinatti, os timorenses Borja Costa e Jorge Lautém, os brasileiros Manuel Bandeira e Drummond de Andrade.

Quanto há no livro de ficção e de realidade? Há personagens reais que povoaram sua infância e adolescência? Em Timor a ficção e a realidade confundem-se. Muitos desses personagens povoaram a minha infância. Navegadores solitários, aventureiros, presos políticos, antropólogos que um dia aportaram em Timor. Mas também outros seres fantásticos que povoam o fabuloso imaginário timorense.

Você já visitava o Brasil, vez por outra, e agora volta como escritor, para lançar um livro. Que novas impressões leva do país? O Brasil é tão grande e tão pujante que se renova com uma velocidade estonteante. Para o conhecer é preciso ter tempo. Das outras vezes que estive no Brasil também não tive oportunidade para o conhecer bem, uma vez que a minha prioridade era tentar convencer o Itamaraty que a independência de Timor não era uma utopia, fora dos parâmetros do pragmatismo económico.

Em Requiem, cada gato, além de um nome, substantivo, recebe um adjetivo. Que adjetivo definiria melhor Luis Cardoso? Talvez amigo. Deve ser por isso que adoro ouvir a Canção da América do Milton Nascimento.

[Vias de Fato, agosto/2011]

Clipping

Dando um sinal de vida, duas materinhas que andei publicando por aí, estes dias.

Com Emílio Azevedo entrevistei Ricarte Almeida Santos (visto acima em clique deste que vos bafeja) para o Vias de Fato de agosto. Íntegra da entrevista aqui.

E para o Jornal Pequeno escrevi sobre as reivindicações de parte da população luziense por uma estrada de 62 km, que conduz os moradores do povoado Campo Grande à sede e vice-versa. A matéria saiu domingo (4) no JP, também com fotos minhas (acima, cruzes sinalizam mortes ocorridas em acidentes no citado percurso). Versão pré-edição aqui.

Berrando no terreiro alheio

O bumba meu boi surgiu no Maranhão ou no Piauí? Ou em outro lugar?

ZEMA RIBEIRO

“O meu boi morreu/ que será de mim/ manda buscar outro, maninha/ lá no Piauí”. A quadra popular me vem imediatamente à cabeça quando o Overmundo me alcança com a encomenda de uma matéria que aborde as discordâncias entre maranhenses e seus vizinhos do Piauí em relação ao bumba meu boi – diriam os segundos que o folguedo teria origem lá; afirmam os primeiros que bois como os nossos só existem aqui, como se de bumba boi tivesse falado Gonçalves Dias em seu célebre poema Canção do exílio.

O primeiro comentário que faço é com minha esposa: “Eu nunca ouvi falar nem em boi no Piauí, quanto mais que o boi teria surgido lá”, ela afirma, aqui o boi como sinônimo de bumba meu boi, a manifestação cultural, não aquele que vai ao matadouro e berra menos que o homem, como na máxima de Torquato Neto, o ilustre piauiense da Tropicália: “Leve um boi e um homem ao matadouro. Aquele que berrar mais é o homem, mesmo que seja o boi”.

Como a bandeira maranhense idealizada pelo poeta Sousândrade, o bumba meu boi traz elementos das três raças que constituíram o povo do Maranhão: o negro, o índio e o branco. Para o folclorista Luís da Câmara Cascudo, “o bumba meu boi surgiu no meio da escravaria do nosso país, bailando, saltando, espalhando o povo folião, suscitando grito, correria, emulação. O negro, que desejava reviver as folganças que trouxera da terra distante, para distender os músculos e afogar as mágoas do cativeiro nos meneios febricitantes de danças lascivas, teve participação decisiva nessa criação genial, nela aparecendo dançando, cantando, enfim, vivendo. Os indígenas logo simpatizaram com a ‘brincadeira’, foram conquistados por ela e passaram a representá-la, incorporando-lhe também suas características. O branco entrou de quebra, como o elemento a ser satirizado e posto em cheque pela sua situação dominante”.

Cláudia Márcia Ferreira organizou o livro Festas populares brasileiras, onde aponta as denominações que a ‘brincadeira’ ganha no país: “Folguedo de origem ibérica, difundiu-se por todo o Brasil. Está presente nos mais variados festejos dos ciclos junino, natalino e carnavalesco, com denominações diferentes. Tem as seguintes variantes: boi-bumbá (Amazonas e Pará); boi-de-reis (Acre, Ceará, Paraíba e Espírito Santo); boi-calemba (Rio Grande do Norte); boi surubim (Ceará); boi malhadinho ou boi-pintadinho (Rio de Janeiro); boi ou boizinho (São Paulo e Rio Grande do Sul); e boi-de-mamão (Pernambuco e Santa Catarina). Como bumba-meu-boi ocorre nos estados do Maranhão, Piauí, Pernambuco, Alagoas e a Bahia”.

Domingos Vieira Filho, que hoje batiza importante Centro de Cultura Popular localizado na Praia Grande, um dos três bairros do Centro Histórico da capital maranhense, afirmou: “É quase certo que nos veio a folgança através dos negros escravos que saindo da Bahia atingiram o Maranhão através do Piauí. Em terras maranhenses se acrescentou de novos elementos num processo comum ao folclore, e se diferenciou da brincadeira do boi na área do Nordeste açucareiro, embora conserve muitos pontos em comum no que concerne ao fio temático e à personália”.

O folclorista maranhense seria taxativo ao afirmar que “não existem mais dúvidas quanto às origens históricas desse folguedo dramatizado que resiste ao passar dos anos”. Menos, seu Domingos, menos. As respostas, entre brincantes ouvidos por este repórter em um arraial, não reconheciam o Piauí como possível origem para o bumba meu boi e algumas tiravam um Parnaíba de sarro com os vizinhos. “Boi no Piauí? Não! Lá seria bumba meu bode”, “Se o boi começou no Piauí e hoje eles não têm nada, os maranhenses trouxeram tudo pra cá. É meio sem rumo isso do boi ter começado lá” e “Pode até ser, ter boi lá hoje, ou mesmo ter começado lá. Mas tudo que tem no Piauí no Maranhão tem melhor” eram as respostas mais comuns.

Originário do Maranhão ou do Piauí, o primeiro provável registro sobre o bumba meu boi na imprensa brasileira vem de Pernambuco e data de 1840. Foi feito pelo Pe. Miguel do Sacramento Lopes Gama, que editava O Carapuceiro, um dos pioneiros na crônica de costumes do país – não confundir com o colunismo social insosso que se lê por aqui, aí e além. Em A estultice do bumba-meu-boi, de 11 de janeiro daquele ano, o frei mestre criticava a ridicularização da figura de um sacerdote entre os personagens do bumba pernambucano e criticava a sociedade em geral por conhecer mais de novelas que da Bíblia.

Definido em seu cabeçalho como um “periódico sempre moral e só per accidens político”, assim terminava o texto do jornal naquela data: “Mas como há de se proibir o bumba-meu-boi, se dona Mariquinhas, dona Teté, dona Canexa, dona Chiquinha, dona Belinha, dona Faustolina, dona Fandangolina, dona Galopinda, dona Caxuxolina gostam tanto deste precioso divertimento? Alardeamos os nossos progressos de civilização, e ainda aplaudimos o bumba-meu-boi, folguedo que, sobre o que tem de imoral, pode-se chamar o non plus ultra da estupidez e da tolice! Não sei quando tomaremos juízo”.

As principais críticas recebidas pelos grupos de bumba meu boi no Maranhão dizem respeito à sua parintinização: se outrora eram formados por pessoas das comunidades em que os bois estavam inseridos e/ou se formavam, atualmente é adotado certo padrão de beleza, com índios “sarados” e índias “malhadas”. O termo diz respeito à cidade de Parintins, no Amazonas, onde os bois bumbás mais se assemelham às escolas de samba cariocas que aos bois maranhenses.

Na região amazônica a disputa é ferrenha, com apenas dois grupos – Caprichoso e Garantido – brigando pelos títulos, ano a ano. Por lá a lata de coca-cola, originalmente vermelha, já chegou a ser pintada de azul para satisfazer uma das torcidas. É algo mais acirrado que Vasco e Flamengo, Grêmio e Internacional, ou para ficarmos aqui por nossas fronteiras, Sampaio e Moto ou River e Flamengo do Piauí.

No Piauí, embora o número de grupos seja maior, há também o caráter competitivo no período junino. É o que nos informa o Proparnaíba, sobre o São João 2011, cujo título ficou dividido entre os bois Garantido e Rei da Boiada. No Maranhão não há competição entre grupos – nem mesmo quando estes se encontram nos louvores dedicados a São Pedro (29) e São Marçal (30 de junho) – o máximo que acontece são desafios, em que um cantador tira uma toada de improviso em desafio a outro, de outro batalhão – como são denominados por aqui os grupos de bumba meu boi.

Para Andréa Oliveira, jornalista que escreveu Nome aos bois: tragédia e comédia no bumba-meu-boi do Maranhão – de onde laçamos várias citações ao longo desta reportagem – a polêmica Maranhão-Piauí acerca do folguedo não existe: “Isso é mais aquela venha mania de querer colocar Maranhão e Piauí como rivais em tudo”, afirma. “Não creio que os piauienses se arvorem a querer a paternidade do bumba meu boi. E nós, no Maranhão, às vezes podemos achar que somos os pais da manifestação por que ela é o que há de mais representativo em nossa cultura popular, como no Piauí o são as quadrilhas. É impossível precisar onde surge o bumba meu boi, que ganhou características diversas, sendo incorporado de diferentes maneiras em diversas culturas. Com diferentes nomes ele está presente em diversos estados do país”.

Se o bumba meu boi nasceu no Maranhão, no Piauí ou em outro lugar, pouco importa: é polêmica para mesa de bar – ou para aquelas cervejas tomadas em pé arraiais afora. O que importa são o brilho e a beleza das festas juninas – no Maranhão, no Piauí ou em qualquer canto do país. Polêmica por polêmica o saudoso Antonio Vieira, compositor maranhense de primeira grandeza, subido há pouco mais de dois anos, alimentava a de que o carimbó é uma invenção do Maranhão roubada pelos paraenses. Mas essa já é outra história – pra boi dormir?

[Materinha que escrevi pro número 2 da revista Overmundo]

Quilombolas decidem acabar greve de fome

Garantia da vinda da ministras (sic) de Direitos Humanos e da Igualdade Racial a (sic) São Luís, além do encaminhamento de alguns itens da pauta de reindivicações (sic), levou ao fim do acampamento e do protesto realizados na sede do Incra, situado no bairro do Anil

Da Redação

O anúncio da visita das ministras de Direitos Humanos e da Secretaria de Promoção de Políticas de Igualdade Racial, além de representantes do Ministério do Desenvolvimento Agrário, à São Luís suspendeu, ao menos até o próximo dia 22 de junho o Acampamento Negro Flaviano e a greve de fome a que se submeteram 18 lideranças e simpatizantes.

Na data acontecerá uma audiência na sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, na capital maranhense, para tratar da pauta de reivindicações dos manifestantes. O anúncio da visita foi feito pela própria ministra de Direitos Humanos Maria do Rosário, por telefone – colocado em modo viva voz e ao microfone o compromisso foi assumido perante a plenária que lotava o auditório do Incra. Ela estava no vizinho Pará tratando de questões relativas ao assassinato de lideranças camponesas naquele estado.

Maria do Rosário também se prontificou a negociar com o Governo do Maranhão para que fossem assegurados o retorno dos quilombolas às suas comunidades, bem como a garantia de vida e segurança dos mesmos. Lideranças entenderam que a suspensão do acampamento não é uma derrota. “A ministra coloca o Maranhão na pauta e nos pede um prazo. Veremos que providências serão tomadas até e na audiência do dia 22. Não é o que queremos, mas dependendo dos resultados, o acampamento e as greves de fome serão retomadas”, afirmaram.

No último sábado dia 11, em reunião coordenada pelo vice-governador, Washington Luiz Oliveira, e com presença de secretários estaduais e de lideranças das comunidades do quilombo do Charco, de São Vicente Férrer, foram apresentados e discutidos os próximos pontos da pauta acertada e que ajudou a pôr fim à greve de fome dos quilombolas. Estiveram presentes as secretárias de estado de Direitos Humanos, Luiza Oliveira; de Desenvolvimento Agrário, Conceição Andrade; de Igualdade Racial, Claudett Ribeiro; e o delegado-geral de Polícia Civil, Nordman Ribeiro, representando o secretário de Segurança, Aluisio Mendes. Também participaram, a convite do vice-governador, os representantes da Associação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas do Maranhão (Aconeruq), Reinaldo Sales Avelar, e Maria José Palhano.

Chupa! – O Imparcial, Urbano, p. 2, hoje. O trecho em itálico é o texto que este blogueiro publicou no site da SMDH e no blogue do Tribunal Popular do Judiciário, sábado (11): um “com informações da assessoria” não cairia mal. Apenas o título  e o sutiã foram modificados, além de acrescido um quarto parágrafo, fazendo com que o jornal entre em contradição: uma coisa é acabar, outra coisa é ser suspenso (temporariamente). Torço para que o acampamento tenha, de fato, acabado; mas disso só se saberá dia 22: jornalismo deve informar, não torcer, nem distorcer.

Esse cara é massa!

CELSO BORGES*
ESPECIAL PARA ESTE HUMILDE BLOGUE

Xico Sá (foto) tá em São Luís. E isso não é pouco. É difícil a gente encontrar um profissional do nível dele, que combina bom texto + humanismo + ironia + 1 dose de pinga + Waldick Soriano na vitrola + Dom Quixote no coração. Esse cabra do Crato (CE) é um craque da palavra. Desses raros que a gente anda atrás pra saber o que anda escrevendo. E não é pouco. Em 26 anos de jornalismo espalhou seu estilo muito pessoal prum mundaréu de jornais e revistas e ganhou os prêmios Esso e Abril. Na TV faz parte da equipe do programa Cartão Verde, da TV Cultura/SP, ao lado do ex-jogador Sócrates.

Além disso, tem parcerias musicais com o grupo Mundo Livre S/A, é coautor de roteiros de longa-metragem, fez pontas como ator em Crime delicado e O cheiro do ralo. Mas quem disse que é só isso? Xico é também um grande escritor. Nem vou citar todos os títulos. Eu já li dois e adorei: Chabadabadá e Caballeros Solitários Rumo ao Sol Poente. A mim resta incitá-los a procurar nas casas do ramo. É provável que não se ache aqui em São Luís. Grande novidade. Alô livreiros, pelo amor à literatura, peçam os títulos de Xico Sá!

Nunca é demais repetir: Xico é um craque da palavra. Só que ao invés de vesti-la com paletó e gravata, vai buscar excelência de linguagem na poeira das ruas. Em lugar de cátedras, mesas de bar. Cita do suicida da esquina que acabou de tomar formicida e se matou por amor ao valente e essencial Nietzsche. Sabe que no balde da vida a sabedoria tá num e noutro. Em lugar de Mahler, Magal, ou melhor, Mahler e Magal. É antológica sua apresentação ao lado de Sidney Magal.

Diferente de intelectuais e jornalistas formados (alguns deformados) dos anos 50 e 100 (sim, eles continuam vivos), Xico também bebe com prazer do lixo pop. No seu caldeirão de referências coloca o que seria incabível para os letrados de araque. Sou fã da coluna que ele escreve sobre futebol na Folha de S. Paulo. Depois de À sombra das chuteiras imortais, de Nelson Rodrigues, eu pensei que nada fosse me comover tanto.

Eu encontrei Xico umas três, quatro vezes, duas delas em lançamentos de livro, mas é como se fôssemos velhos conhecidos. Tasco-lhe sempre um abraço enorme, que é uma forma de expressar a alegria por tê-lo perto dividindo espantos. Dessa vez não será diferente. Pena que não vai dar tempo de levar esse cara pruma rodada dupla do campeonato maranhense no Nhozinho Santos. Logo ele torcedor do Ibis (PE) e do Santos (SP), amante e devoto de peladas homéricas. Salve, irmão! Seja bem-vindo!

*Celso Borges é jornalista e poeta. Seus títulos mais recentes são Belle epoque (2010), Música (2006) e XXI (2000).