Bobos da corte maranhense refestelam-se no carnaval carioca: o povo paga a conta
Ontem encaminhei ao Vias de Fato a página de cultura da edição deste mês, que chegará às bancas junto com o terceiro número da revista Pitomba!: o lançamento desta está marcado para esta sexta (16), às 19h, no Bar do Porto, aberto ao público (a revista custa R$ 5,00).
O que fiz para o jornal “que não foge da raia”: uma retrospectiva cultural. Diversas personalidades da cultura do Maranhão responderam à pergunta “para o bem ou para o mal, no campo cultural, o que você destacaria numa retrospectiva particular do ano que se encerra?”
O resultado você poderá conferir na edição impressa do Vias de Fato (aqueles que foram questionados por e-mail e responderam após o fechamento da edição terão suas respostas publicadas cá no blogue, junto das dos que responderam a tempo) e talvez você estranhe eu tanto falar do jornal quando o post deseja outra coisa.
O lance é o seguinte: entre as boas lembranças de alguns agentes culturais está o nascimento, a consolidação da revista Pitomba! Houve mesmo quem lembrasse da polêmica, de que tomou parte este blogue, envolvendo a publicação e o leitor-livreiro José Lorêdo, cujo texto que remonta à inquisição, acabou indo parar nas páginas do número 3 da de-vez-em-quandal editada por Bruno Azevêdo, Celso Borges e Reuben da Cunha Rocha. Dúvida que não quer calar: venderá a livraria Resistência Cultural este número da Pitomba!?
Abre este post poster encartado no caroço da revista, publicado com exclusividade neste blogue, retratando personalidades como a cantora Alcione, o secretário de saúde Ricardo Murad, o de cultura Luiz Bulcão, a governadora Roseana Sarney, o “sempre ridículo” Pergentino Holanda (cf. Flávio Reis) e outros “poderosos”, baba-ovos e quetais. Os maranhenses na festa carioca da Beija-Flor, paga com dinheiro dos que não serão convidados para esta festa podre. O derramamento de dinheiro público para bancar o carnaval alheio, de samba-enredo fruto de ensandecimento coletivo, foi outro fato lembrado na retrospectiva cultural do Vias de Fato, “para o mal”.
Apesar da turma ilustrada por Joka, 2011 fecha com saldo positivo, as sobrevivências de Pitomba! e Vias de Fato, sem o apoio de quaisquer verbas governamentais, provas incontestes disso, exceto, é claro, em se tratando das contas bancárias dos editores das publicações.
Abaixo, detalhes sobre o lançamento do novo número da Pitomba! e os nomes de quem está nesta edição.
O relançamento acontece no Papoético, organizado semanalmente, sempre às quintas-feiras, pelo poeta Paulo Melo Sousa, vulgo Paulão.
Acontece no Chico Discos, sebo charmoso que ocupa o segundo piso do prédio em cujo primeiro está o Banco Bonsucesso, na esquina das ruas Treze de Maio e Afogados, no centro da capital maranhense.
Em tempo: tristeza ver, esquinas antes, um banco, uma “loja de crédito” ocupando a casa em que outrora funcionou a saudosa Livraria Athenas.
Ingressos para o Papoético grátis. A Pitomba! sai por apenas R$ 5.
Para ler, baixar e/ou imprimir (e queimar em praça pública), vão aí os dois números da Pitomba! publicados até agora (em breve o site da editora homônima estará no ar). Pois como disse meu amigo-irmão Reuben da Cunha Rocha, um de seus editores, “se seguirão outros números ainda piores, aos trancos & barrancos”. Divirtam-se, pois como ele também disse, antes, a revista que ele edita com Bruno Azevêdo e Celso Borges é “dedicada a proporcionar o máximo de diversão possível através do maior número possível de provocações — & isso basta”.
Minha primeira reação é catar numa estante o segundo volume dos Ensaios reunidos [Topbooks, 2005] de Otto Maria Carpeaux, que há tempos comprei usado no sebo Papiros do Egito. Lá está a assinatura indicando-lhe o antigo dono: Lorêdo Filho, a quem não conheço pessoalmente mas aprendi a respeitar como grande leitor, já que além da obra citada, comprei vários outros usados seus, a preços quase sempre salgados, porém, em perfeito estado de conservação.
Amigo de Moema, a proprietária do Papiros, desde meus dez ou onze anos, quando fui morar na Rua de Santaninha e seu sebo se localizava na Rua dos Afogados (hoje fica na da Cruz, depois de herdar o nome do tempo em que funcionou na do Egito), uma ida até sua loja nunca é apenas o vasculhar de algum título e/ou sua compra: é sempre uma visita, quase sempre com longas conversas sobre os mais variados temas – das últimas vezes conversamos bastante sobre os usos úteis do facebook e ela, blogueira “novata”, contava-me de sua vontade de recontar a história de Pinheiro, sua cidade natal, sobre o que tem lido bastante e publicado, vez por outra.
Nessas visitas, sempre vi a indefectível assinatura de Lorêdo, acompanhada da data, nos livros usados que ele ali deixava – ou ainda deixa? – para que Moema os revenda. Minha curiosidade era despertada sobretudo pelo fato de os livros serem novíssimos, o que me fazia deduzir que ele, grande leitor, repito, não sofria do “acervismo” que me acomete – e agora olho para pilhas de livros, jornais e revistas espalhados no quarto enquanto escrevo, a ansiedade de minha esposa para que eu dê-lhes logo o destino e a plena arrumação do cômodo que chamo pretensiosamente de biblioteca.
Moema me dizia também que Lorêdo abriria uma livraria, o que me entusiasmava, já que São Luís padece da quase inexistência desses espaços – e não vi ninguém chorar o fechamento (espero que temporário) da Athenas. Alô, Arteiro! Caso tu leias isso, dá um alô que eu tou querendo falar contigo. Mas estou, como diria Luiz Gonzaga quando achava de contar causos em shows, entre as músicas, levando vocês na conversa. Soube, da pior maneira possível, que a livraria de Lorêdo, a Resistência Cultural, já está aberta e funcionando: num texto dele sobre a revista Pitomba!.
Embora se justifique, afirmando de cara que não defende um retorno a práticas medievais – de tortura, inclusive – Lorêdo evoca um “ordonnance” (decreto) de Carlos VI, rei da França, para comentar a revista Pitomba!, em que deu “uma breve folheada”.
Católico fervoroso, Lorêdo julga o todo pela parte e, a seu ver, a revista editada por Bruno Azevêdo, Celso Borges e Reuben da Cunha Rocha é simplesmente torpe, execrável, repugnante e depravada – para usar adjetivos colhidos ao longo de seu texto. O livreiro-editor, ao se reportar apenas aos quadrinhos Cuidado! Jesus vai voltar, esquece o trabalho de todos os envolvidos – ops! – na feitura do segundo número da publicação: as fotografias de Marilia de Laroche, os textos de Celso Borges e Flávio Reis, os poemas de Dyl Pires, os quadrinhos de Bruno Azevêdo, as traduções de Reuben da Cunha Rocha – o Sensacionalista certamente não hesitaria em dizer que os editores da Pitomba! temem a excomunhão.
A ação do trio Pitomba! despertou a ira – sei que é pecado capital, mas na falta de palavra melhor – de Lorêdo, que chega a sugerir que um conhecido mostre a revista ao arcebispo de São Luís, D. José Belisário, que a meu ver tem mais com o que se ocupar.
A reação de Lorêdo foi a pior possível: uma reação reacionária, com o perdão do trocadilho infame, com argumentos vazios – qual teria, aliás, sido sua reação se, em vez de com o catolicismo, o autor dos quadrinhos e os editores tivessem feito piada com, por exemplo, a umbanda ou o budismo? Desqualificar a revista, pura e simplesmente, não a mantendo nas prateleiras de sua livraria é agir como algumas igrejas: não ouvir música e/ou não ler literatura “do mundo”, como eles dizem, é apenas garantir um nicho de mercado.
Sou católico, vou à missa uma vez por semana e creio mesmo que meu trabalho ajude – ou tente ajudar – a construir mundo e sociedade mais justos, um dos propósitos, aliás, de Nosso Senhor Jesus Cristo, com quem nem de longe quero me comparar, mas cujos ensinamentos procuro seguir.
Como leio Cuidado! Jesus vai voltar? Como uma piada, livre de patrulhamentos, quiçá uma crítica à fé cega que permite que o povo “se deixe enganar por falsos líderes”, contrariando a letra de Zé Geraldo. Talvez a piada-crítica seja direta demais – algo a que não estamos (tão) acostumados – e choque. Nada que ainda assuste a quem já tenha assistido a um episódio de South Park, por exempo.
O tiro de Lorêdo vai terminar saindo pela culatra: seja pelo título equivocado de seu post, Pitomba neles! – afinal de contas, ele ‘tá vendendo a revista ou queimando-a em praça pública? – seja pela reprodução das três páginas da revista ocupadas pelos quadrinhos de Rafael Rosa, a mente criativa de Cuidado! Jesus vai voltar.
Lorêdo erra ainda ao dizer que o trio de editores quer apenas “lavar a burra”, sinônimo de “encher os bolsos”: quem ganha alguma coisa vendando 500 exemplares de Pitomba!? Prazer e sensação de missão cumprida são as moedas de seus salários. Ao menos em uma coisa Lorêdo acerta: quando afirma que eles “bem ou mal, estão criando numa terra onde as ideias em geral jamais vicejam” (aqui em grafia já atualizada de acordo com o novo acordo ortográfico).
Assim, resta-nos desejar vida longa à Pitomba! e à livraria-editora Resistência Cultural, de preferência com Pitomba!s em suas prateleiras.
Era de se esperar que boa parte da plateia (pequena) passasse quase todo o filme gargalhando. Malditos cartunistas [documentário, Brasil, 2010, 93min., direção: Daniel Garcia e Daniel Paiva], exibido anteontem (7) no Teatro Alcione Nazaré (Maranhão na Tela), conta com depoimentos importantes de cartunistas, chargistas, quadrinhistas, desenhistas, tiristas – “existe isso?”, um deles se pergunta –, ou tudo isso ao mesmo tempo. Ou, antes de tudo isso, simplesmente humoristas.
De Jaguar e Ziraldo (O Pasquim) a Ota (Mad), passando por Angeli (Chiclete com Banana), Adão Iturrusgarai (Aline), Allan Sieber (Vida de estagiário), Glauco (Abobrinhas da Brasilônia) em sua última entrevista (foi assassinado em março do ano passado junto ao filho Raoni; a eles o filme é dedicado), Laerte (Piratas do Tietê), André Dahmer (Malvados), Lourenço Mutarelli (creditado como o desenhista que abandonou os quadrinhos para se dedicar à literatura), Chiquinha (única mulher do grupo) e Maurício de Souza (Turma da Mônica), entre outros.
O pai de Cascão, Cebolinha e Magali, aliás, destoa dos demais da turma, por ter sido o primeiro a assumir um padrão industrial de produção: muitas das histórias de Maurício de Souza – para não dizer quase todas – hoje são criadas por profissionais contratados por seu estúdio, que há muito já nem se dedica mais exclusivamente aos gibis. Mas disso já sabíamos, antes mesmo de assistir o documentário. O que não tira o brilho do filme. Nem a importância do desenhista.
A maldição dos cartunistas sugerida pelo título é relativa: com Chiclete com Banana Angeli chegou a vender quase 200 mil exemplares da revista em bancas nos anos 1980 e hoje publica tiras na Folha de S. Paulo, comooutros noutros jornais; Ziraldo é apresentador de tevê e teve diversos personagens seus levados à telinha (O menino maluquinho, Pererê), Reinaldo era Ótima Bernardes (entre outros personagens) no global Casseta & Planeta Urgente!, vários deles têm sistematicamente sido (re-)publicados em edições de bolso pela L&PM e vários etc.
Os depoimentos de Malditos cartunistas são hilários, constantes a auto-tiração de sarro, a auto-ironia, o rir da própria desgraça (antes de desenhar a própria e/ou a alheia). Os olhares sempre bem humorados acerca de diversas temáticas: a profissão em si, cultura, humor, política, poder, dinheiro, sexo, machismo, censura (engana-se quem pensa que acabou com o fim da ditadura)…
Mutarelli é o mais engraçado, mesmo que não quisesse. Confessa chutar “manicure” quando indagado sobre sua profissão ao preencher fichas em hotéis; e diz que convidado para um evento como cartunista “me pagaram 300 paus; pouco depois, fui como escritor, recebi um pau e 600”; o mais careta, sem graça e, por que não?, sério é Maurício de Souza, em uma imponente “mesa de chefe” – antes, a câmera passeia por seus estúdios, com uma funcionária explicando o passo-a-passo da feitura da Turma da Mônica até os gibis chegarem às mãos de seus filhos. Sobre os cenários, aliás, vale destacar: prestem bem atenção neles e nos trajes de nossas personalidades. Estantes, pilhas de livros, mesas e pranchetas de trabalho, computadores, lixo e camisas com motivos animados nos ajudam a entender um pouco melhor o universo dessas figuras.
São vários “humoristas” falando sobre as mesmas coisas, depoimentos em sequência, um aceso na bagana do outro, mas não acerta quem pensa em cansaço, enfado ou sono durante a sessão – isso seria como acreditar que “quadrinhos são coisa de criança”. O doc mostra (explicitamente) que não.
Se nem os próprios cartunistas se levam tão a sério, imagine a sociedade em geral: quadrinhos ou são “coisa de criança” ou são apenas para serem vistos e lidos, uma risada rápida e acabou. Ledo engano. Muitas vezes um cartoon, uma charge, uma tira, nos fazem compreender melhor determinada situação, apesar de uma página ou mais, com matéria(s) sobre o assunto, no mesmo jornal. É a tradução risonha do “uma imagem vale mais que mil palavras” – se vier com legenda ou balões, então…
Levando a sério quem ri e tira sarro de si mesmo o tempo todo durante as entrevistas, Malditos cartunistas joga luz em personalidades importantes, quase sempre marginalizadas, em geral rotuladas de produtores de “sub-cultura” ou coisa que o valha. A estrutura do filme em si é simples: depoimentos, depoimentos e mais depoimentos, no melhor esquema “faça você mesmo”. Certamente muito material ficou de fora e as figuraças que desfilam pela tela bem poderiam falar mais e mais e mais. O filme não angariou recursos públicos – é dos raros em que não vemos as logomarcas de sempre no início da projeção – e deve ter saído barato. Entre aspas: seus realizadores também desenham e, fãs do elenco, o que deve ter facilitado um pouco as coisas, pagaram tudo do próprio bolso, às próprias custas s. a., mestre Itamar.
O doc resgata até mesmo um fato ocorrido em Porto Alegre, quando a prefeitura financiou uma revista de funcionários da municipalidade. Anos depois a cena é engraçada, um apresentador de tevê rotulando os editores de pornógrafos, defendendo a moral e os bons costumes, os “réus” nervosos, defendendo seu ponto de vista. Adão respondeu a processo durante anos pelo episódio. E a Prefeitura Municipal da capital gaúcha desde então não mais financiou a produção/publicação de quadrinhos.
Ainda durante a sessão impossível não lembrar de filmes, digamos, correlatos: Wood & Stock e Dossiê Rê Bordosa, baseados em personagens de Angeli. Bom seria um doc para cada um dos malditos entrevistados. Oxalá!
Deixo os poucos-mas-fieis leitores com o trailer do documentário.
A quem interessar possa, haverá outra sessão de Malditos cartunistas no Maranhão na Tela (programação completa aqui; chegar com meia hora de antecedência para retirada de ingressos, gratuitos, na bilheteria): dia 15 (quinta-feira), às 21h, no Cine Praia Grande.
Os bróders Bruno Azevêdo, Celso Borges e Reuben da Cunha Rocha editam a revista Pitomba, cujo segundo número será lançado hoje, às 19h, no Bar do Porto (Praia Grande), com entrada franca (a revista será vendida por R$ 5,00).
Aos editores (os dois primeiros estarão no lançamento, Reuben está em SP), que assinam quadrinhos, poemas, traduções e manifestos, juntam-se bons nomes como Marilia de la Roche (fotos), Rafael Rosa (quadrinhos), Flávio Reis (artigo), Luís Inácio, Micheliny Verunschk, Carlos Loria, Tazio Zambi e Dyl Pires (poemas), entre outros.
Este blogue fica bastante contente com a chegada do segundo número da Pitomba às paradas e lhe deseja vida longa!
Há tempos com a revista em mãos, eu já devia ter escrito algo sobre. Voltaremos a ela, que motivos não faltam. Por enquanto, deixo vocês com o material de divulgação que recebi por e-mail. Roam!:
Muitos dos poucos mas fieis leitores deste blogue devem ter recebido por e-mail as imagens que colo abaixo, do genial Quino, cartunista argentino mundialmente famoso por sua Mafalda, eternamente contestadora e eternamente conquistadora de nossos corações de leitores (de HQs ou não ou não leitores).
A mensagem não me dá a data em que foram produzidos, mas a gente não enxerga o mundo de hoje no traço abaixo? É como diz o ditado: seria cômico se não fosse trágico.
Ao contrário do que parte da imprensa ilhéu noticiou, ainda na semana passada, não são Osgemeos que vêm à São Luís: são os gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá.
Os primeiros, Gustavo e Otávio Pandolfo, internacionalmente famosos por diversas intervenções urbanas espalhadas around the world, assinam o projeto gráfico do excelente Toda vez que eu dou um passo o mundo sai do lugar (2007), que o ex-Mestre Ambrósio Siba gravou com a Fuloresta do Samba, capa aí à esquerda; os segundos, também internacionalmente famosos, trazem na bagagem um Jabuti e um Eisner (a mais importante premiação de HQs nos Estados Unidos).
As duas figuras da foto aí à direita, Moon e Bá já estão na Ilha, de onde levarão nas memórias, as suas, as das máquinas fotográficas, em rascunhos, imagens da capital maranhense, que usarão para ilustrar mais um volume da série Cidades ilustradas, da editora carioca Casa 21. Os volumes já lançados, com outras cidades, estão disponíveis para download gratuito e legal no site Quadrinho.com. O volume dedicado à São Luís será lançado em 2012, quando a cidade completa 400 anos.
Os quadrinistas ficam em São Luís por todo o resto de maio. Nesta quinta (26), eles participam do Papoético, em debate-papo que terá mediação de Bruno Azevêdo. Acontece às 19h, no Chico Discos (Rua de São João, 389-A, Centro; esquina com Afogados – a do semáforo, sobre o Banco Bonsucesso), com entrada franca. Presentes pagam apenas o consumo.