Às vezes deixo de noticiar umas coisas aqui no blogue para deixar para dizer algo mais perto, sobretudo em se tratando de agenda cultural. É o tempo que eu tenho de, às vezes, falar com alguém envolvido com a produção, levantar uma informação a mais, enfim, preparar algo digno dos poucos mas fieis leitores deste modesto espaço.
Vez em quando acontece de eu não conseguir levantar maiores ou melhores informações. Ou de, por motivos de viagem ou da correria cotidiana, já que este é um blogue feito às próprias custas s. a., do jeito e na hora que dá e eu e Deus queremos, eu não conseguir sentar e escrever ou mesmo colar uma imagem/anúncio por aqui (evitamos releases, embora eu vá fazer uso dele neste post). Aí o evento passa e já era, fica pra próxima.
Para não correr esse risco com a encenação de O filho eterno, baseada no romance homônimo de Cristóvão Tezza, antecipo seu anúncio por aqui. A peça, conforme o release, “mostra a luta diária de um homem (…) que precisa lidar com as decepções que um filho pode trazer, focando no desafio de nossas limitações, sem perder o olhar elegante. Frases de impacto e inesperadas dão o tom poético dessa trama, em que vem à tona muitas questões que pensamos, mas que jamais teríamos coragem de dizer em voz alta. A chegada do primeiro filho com síndrome de down é apenas uma das diversas reflexões que envolvem a paternidade e são abordadas nessa já premiada história”.
Ficha técnica: adaptação: Bruno Lara Resende > direção: Daniel Herz > elenco: Charles Fricks > duração: 80 minutos > classificação indicativa: 12 anos.
Os ingressos serão trocados por um quilo de alimento não perecível, na bilheteria do teatro, uma hora antes do início do espetáculo, que integra o projeto Palco Giratório, do SESC, que está acontecendo em todo o Brasil.
O talentoso Lauande Aires reapresenta o aclamado O miolo da estória, em curta temporada no Teatro Alcione Nazaré (Centro de Criatividade Odylo Costa, filho, Praia Grande). Os ingressos podem ser trocados por um quilo de alimento não perecível, na bilheteria do teatro, uma hora antes do espetáculo. Os alimentos arrecadados serão destinados ao programa Mesa Brasil, do SESC.
Esta curta temporada em São Luís será uma espécie de aquecimento. Depois dela, o artista circulará por 32 cidades brasileiras com o espetáculo, começando por Fortaleza/CE, dia 13 de abril, integrando o projeto Palco Giratório, também do SESC.
Há algum tempo entrevistei o dramaturgo para o Vias de Fato, justo sobre O miolo da estória. Releia o papo.
A programação da 7ª. Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul em São Luís vai além das sessões de exibição dos 40 filmes que a compõem. A abertura, domingo passado (25), contou com a apresentação do Coral do Presídio Feminino. Nesta quarta-feira (28), o grupo teatral Cena Aberta apresentará fragmentos do experimento Negro Cosme em Movimento.
Cena de “Negro Cosme em movimento”
A apresentação se dará no Teatro da Cidade de São Luís (antigo Cine Roxy), que abriga a Mostra, no intervalo entre o fim da sessão das 17h e o início da sessão das 19h e qual toda a sua programação será gratuita. No mesmo dia, na sequência, o grupo se apresenta na abertura do seminário Reinvenção da Política: Contribuições da Educação, no jardim interno da entrada principal do Centro de Ciências Humanas da UFMA.
O work in progress faz parte do projeto Caras Pretas em Movimento, cujas experimentações continuarão pelos próximos dois anos. A pesquisa aborda questões afrodescendentes, com foco nas estações da Balaiada.
“A proposta da encenação é penetrar nas camadas obscuras da história e levantar hipóteses sobre a veracidade da historiografia oficial que não dá conta do fato como todo, e muitas vezes deixa em aberto ou esconde outras possibilidades de interpretar a nossa história (do Maranhão e do Brasil) . A manipulação da memória coletiva faz parte da estratégia do poder, que mantém a opinião pública na unilateralidade da reflexão, direcionado o foco para os heróis que na verdade massacraram os ideais de liberdade e justiça de nosso povo”, afirma o ator Wagner Heineck, da Cena Aberta.
Lauande Aires lança amanhã (19), às 18h30min, na Galeria de Artes do SESC (Praça Deodoro), Entre o chão e o tablado – A invenção de um dramaturgo, livro que ainda não tive a oportunidade de ver/ler, o que não me impede de recomendá-lo, já que reconheço em seu autor um dos grandes nomes de nossa dramaturgia contemporânea.
Leio no release enviado pelo SESC/MA, que apoia a publicação da obra, que Entre o Chão e o Tablado já foi lançado em Macapá, Manaus, Rio Branco, Porto Velho e Belém, por ocasião do Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz e projeto de circulação Teatro nos Passos do Boi: no miolo da Floresta; e que além disso, em 2013, a Santa Ignorância Cia de Artes, integrada por Lauande Aires, irá representar o Maranhão no projeto Palco Giratório, numa programação que inclui apresentação do espetáculo O miolo da estória, workshops, o lançamento do livro e debates em 37 cidades brasileiras.
Amanhã espero dar-lhe meu abraço e colher um autógrafo em meu exemplar do livro.
1974: Josias Sobrinho e Cesar Teixeira faziam uma dupla de violeiros em encenação de “Marémemória”, espetáculo multimídia (antes de a palavra existir) baseado no livro-poema de José Chagas
Fundado oficialmente em 11 de outubro de 1972, o Laborarte completa 40 anos, mas a história da sua criação começa bem antes. A ideia original de formar um coletivo de arte integrada – reunindo teatro, música, dança, artes plásticas, fotografia etc – partiu do Movimento Antroponáutica (1969-1972), até então estruturado em cima da poesia.
Houve uma primeira convocação geral dos artistas de São Luís, em 1970, sem discriminação de tendências estéticas ou ideologia política. Foi um erro. A reunião ocorrida no prédio do Liceu, num domingo, acabou em verdadeiro tumulto, com os antroponautas subindo nas carteiras de uma sala de aula e discutindo entre si.
Uma nova convocação foi realizada em meados de 1972, tendo sido convidados grupos já constituídos e afinados com a proposta, entre eles o Teatro de Férias do Maranhão (TEFEMA), dirigido por Tácito Borralho, e o Grupo Chamató de Danças Populares, sob o comando de Regina Telles. Em uma reunião noturna nas escadarias da Biblioteca Pública (Praça Deodoro) foi decidida a programação cultural para lançar o movimento.
A manifestação seria realizada no auditório daquela biblioteca, cujas escadarias seriam ocupadas por uma exposição de artes plásticas. No auditório haveria performances com teatro, dança e música, culminando com o lançamento do livro Às mãos do dia, do poeta Raimundo Fontenele, que deveria fazer um ácido discurso-manifesto no final das apresentações.
Entre os convidados estaria o Secretário de Educação, Prof. Luiz Rego, que, conforme planejado, deveria ficar sentado num vaso sanitário. No coquetel, em vez de vinho ou guaraná, seriam oferecidos aos presentes penicos de leite e caranguejos vivos. Sem falar que em cada lance de escada que dava acesso ao auditório haveria um boneco de pano enforcado, ali representando o próprio artista marginalizado por um governo conservador.
Nada disso aconteceu, pois a Polícia Federal soube da mirabolante programação e mandou vários agentes para o local.
Houve exposição, teatro, dança e apresentação musical com a participação de Chico Maranhão e Sérgio Habibe, além do lançamento do livro. Mas o discurso ficou preso na garganta do poeta, que teve de prestar depoimento à PF, sendo liberado após intervenção da escritora Arlete Nogueira, então diretora do Departamento de Cultura do Estado.
Contudo, o movimento foi em frente, tendo sido escolhido o nome Laborarte (Laboratório de Expressões Artísticas) quando o grupo já estava instalado no prédio da Rua Jansen Müller, 42, contando ainda com a participação de alguns atores do Grupo Armação, criado por Borralho quando era seminarista em Recife.
A proposta de uma linguagem artística integrada, com identidade própria e respeitando as raízes culturais, portanto, já existia antes e se consolidaria na convergência para o Laborarte, instituído em 11 de outubro de 1972, uma quarta-feira, ocasião em que foi lançado o folheto de poesia mimeografado Os ossos do hospício, de minha autoria.
Naquele lugar se deu uma verdadeira alquimia que ajudou a quebrar alguns tabus e influenciar positivamente as artes no Maranhão. Não só a música ali produzida, mas sobretudo o teatro, apoiado nos estudos de Grotowsky, Artaud, Suassuna, Boal, Stanislavsky e Brecht. Sem esquecer de rezar nas cartilhas de Eduardo Garrido, Bibi Geraldino e Cecílio Sá, teatrólogos de verve popular.
O trabalho do Laborarte rendeu o prêmio de Melhor Plasticidade no Festival Nacional de Teatro Jovem, em Niterói (1972), com Espectrofúria, e o Troféu MEC/ Mambembe, no Rio de Janeiro (1978), com O cavaleiro do destino. Enfim, a entidade fez o dever de casa, e o que começou numa sala de aula vazia acabou virando uma escola.
Infelizmente, não posso relatar mais detalhes da história, porque fui expulso do Laborarte no início de 1975 e não vi de perto o que aconteceria depois. Mesmo assim, ainda contribuí indiretamente escrevendo o Testamento de Judas, impresso em forma de cordel (antes era mimeografado), entre 1990 e 2005, o que provocaria a fúria de muitos “herdeiros”.
[Viajando a trabalho, não cheguei a ir ao Laborarte dia 11, quando estavam previstas diversas atividades pelos festejos de suas quatro décadas; deixo com os poucos mas fieis leitores a memória e a pena afiadas de um de seus fundadores]
Pode haver luz no fim do túnel, será um trem vindo na direção oposta?, Nossa Senhora da Vitória, rogai por nós!
POR ZEMA RIBEIRO
Um texto revoltado da cantora Nathália Ferro, publicado primeiro em sua conta no Facebook e depois repercutido por alguns periódicos locais, ganhou certa repercussão, apontando diversos problemas por que passa nossa produção cultural, digo, da Ilha de São Luís do Maranhão e do estado como um todo.
Criticava o marasmo a que está relegada a cena artística na capital maranhense, cujo aniversário de 400 anos se avizinha e sobre o que nada foi feito – aquele relógio ridículo na cabeceira da ponte do São Francisco, não conta.
A cantora criticava a tudo e a todos – e suas críticas, claro, eram merecidas, tendo sido repercutidas e comentadas também pelo poeta e compositor Joãozinho Ribeiro, ex-secretário de cultura do Estado do Maranhão, em sua coluna semanal no Jornal Pequeno.
Keyla Santana, atriz, também colocou a boca no trombone. Ela buscou o financiamento de uma peça em que atuava pela internet, num sistema de crowdfunding, financiamento coletivo já bastante utilizado no centro-sul do país, que aqui sequer engatinha, com razão: a iniciativa estatal aposta em mais do mesmo, a privada faz jus ao trocadilho. Como incentivar pessoas comuns, como este que escreve, o caro leitor, a cara leitora, a enfiar a mão no bolso e bancar o que quer que seja?
Diversos agentes culturais envolvidos com a feitura do projeto BR-135, capitaneado pelo casal Criolina, Alê Muniz e Luciana Simões, têm discutido propostas e possibilidades para que se avance no rumo da implementação de efetivas políticas públicas de cultura por estas plagas. Além de reuniões e debates, a galera está fazendo, se movimentando, mostrando nomes e coisas interessantes, misturando, experimentando. É daí e assim que pode surgir o novo.
Foi justamente o mote para o texto de Nathália Ferro: o pouco público presente às edições do BR-135, realizadas no Circo Cultural da Cidade, fruto inclusive, segundo ela, da desunião da classe artística local – alguns certamente mais preocupados com “meus projetos” e a procura por financiamentos (quase sempre estatais) para “meu próximo disco”, “meu próximo livro”, “minha próxima peça de teatro” ou mesmo para a inclusão de “meu show” no circuito junino.
O BR-135 tem a ideia de mostrar o que de novo a cena ilhéu tem produzido, numa demonstração de altruísmo digna de louvor: com o reconhecimento nacional que têm hoje, Alê Muniz e Luciana Simões sequer precisariam morar em São Luís. No entanto, preferem ficar, tentar fazer algo diferente e mostrar que é possível conquistar o país a partir da Ilha (sem qualquer daqueles adjetivos cuja maioria perdeu completamente o sentido).
Keyla Santana, pela internet, conseguiu algo próximo da metade dos três mil reais de que necessitava para botar seu bloco na rua, isto é, sua peça no palco de um teatro da capital, uma pequena temporada de dois dias. Para não perder o que alguns haviam investido, seu marido completou, do próprio bolso, a outra metade do valor restante.
Experiência bem sucedida de crowdfunding, fora da rede mundial de computadores, foi a realização do I Festival de Poesia do Papoético – Prêmio Maranhão Sobrinho, organizado pelo poeta e jornalista Paulo Melo Sousa. O Papoético, tertúlia semanal realizada no Bar Chico Discos, no centro da capital maranhense, é um espaço privilegiado para a discussão de assuntos relativos à arte e cultura, tendo aberto uma trincheira para os insatisfeitos com o status quo.
Paulão, como é mais conhecido seu mentor, levantou os fundos necessários à realização do festival principalmente entre os frequentadores habituais do debate-papo semanal, além de entre amigos, professores universitários e artistas em geral. O festival, cuja final será realizada dia 31 de maio no Teatro Alcione Nazaré, no Centro de Criatividade Odylo Costa, filho, na Praia Grande, premiará em dinheiro os primeiros lugares em poema e interpretação e os segundos e terceiros lugares em cada categoria com livros, discos, revistas e outros produtos culturais, tudo arrecadado entre aqueles citados doadores e com a realização de rifas.
A organização solicitou ao Comitê Gestor dos 400 anos de São Luís, integrado por secretarias e órgãos públicos municipais e estaduais, apoio para a realização do festival, de orçamento modestíssimo. Sequer recebeu resposta, mostrando o desinteresse generalizado dos poderes públicos para qualquer iniciativa criativa que não parta de sua burocracia interna. O problema é que nada criativo parece vir dali. O festival recebeu mais de 100 inscrições de diversas cidades do Brasil e custou menos de 3 mil reais, com cortes em gorduras como material de divulgação (folders e cartazes), importantes em qualquer empreitada cultural.
Teimosos, os organizadores do Papoético já anunciam sua próxima invenção: um concurso de fotografia terá regulamento anunciado já em junho, com base no mesmo esquema. Dia 7, Chico Saldanha e Josias Sobrinho apresentam, no Chico Discos, o show DoBrado ResSonante, que estreou em Brasília/DF. Os ingressos custam R$ 20,00 e podem ser adquiridos antecipadamente no local. Toda a renda será revertida para a realização do concurso de fotografia.
O Estado – tanto faz ler prefeitura e/ou governo – é tímido e continua apostando apenas em grandes festas populares, quais sejam, os períodos carnavalesco e junino, salvo raríssimas exceções. É o que dá mídia, é, em tese, o que dá voto – sobretudo, embora pareça óbvio, em ano eleitoral.
Faltam cerca de 100 dias para o aniversário da cidade. Não se ouve falar ainda em programação ou, antes, em planejamento de quaisquer ações comemorativas. Mas não é por isso, ou não só por isso, que clamam os artistas revoltados, aqueles que não se satisfazem com o tilintar de umas poucas moedas nos pires, um tapinha nas costas, a logomarca de um órgão público em seu disco, livro ou programa, e, no fundo, um grande “cala a boca” em qualquer vírgula que se oponha às péssimas gestões que hoje têm o Maranhão e sua capital São Luís. E aqui o comentário não se restringe ao aspecto cultural.
O que estes artistas requerem, com propriedade, é a pulsação constante da Capital Americana da Cultura, é que ela faça jus ao título. Mais que um troféu, um papel, um certificado, um evento, São Luís e o Maranhão precisam deixar o passado e a teoria de lado. É preciso viver o presente e vivê-lo na prática: já não somos Athenas Brasileira – se é que um dia fomos – e mais que bumba meu boi e/ou tambor de crioula para turista ver, é preciso que nossos logradouros sejam ocupados por arte permanentemente. É capital da cultura ou não é?
São Luís e o Maranhão não estão as maravilhas anunciadas na televisão pelas gestões municipal e estadual. Na propaganda, tudo parece correr às mil maravilhas, de propaganda nossos gestores são bons – pudera, é preciso descarregar toneladas de maquiagem para ludibriar o povo e garantir a perpetuação dos grupos no poder. A realidade é outra e é esta que precisa ser enfrentada para que algo mude. Que não emudeçam os artistas que estão corajosamente tocando as feridas para curá-las. E que ao coro dos descontentes somem-se cada vez mais artistas. Ou não, que cultura é coisa de todos nós.
A nossa miséria cultural está exposta, fratura que carece de urgente cura. Só não sente nem vê quem não quer. Já é mais que hora dessa serpente acordar!
A médica maranhense Maria José Aragão será homenageada nesta sexta-feira, 10 de fevereiro, pela passagem dos seus 102 anos de nascimento, com a reapresentação do monólogo A Besta Fera: Uma Biografia Cênica de Maria Aragão, às 18h, no Auditório do Memorial Maria Aragão (na praça homônima), interpretado pela atriz maranhense Maria Ethel, do Grupo Xama Teatro, com direção de Gisele Vasconcelos e trilha sonora de Cesar Teixeira. A entrada é gratuita.
Segundo o grupo, o espetáculo resgata a história de Maria José Camargo Aragão (1910-1991) em meio à pobreza extrema. “Em busca da superação da fome, do preconceito, da agressão e na perseguição do sonho de libertar a humanidade, através da conquista de uma profissão, a medicina, Maria Aragão entrega-se, apaixonadamente, às causas sociais, lutando por uma sociedade justa e igualitária”.
O evento é organizado pelo Instituto Maria Aragão (IMA), que também estará completando 11 anos de atividades. Conforme a psiquiatra Ironildes Vanderlei, vice-presidente da entidade, não houve um só episódio importante na história política contemporânea do Maranhão que não contasse com a presença de Maria Aragão.
“Desde a greve de 1951, passando pelas manifestações dos estudantes, dos camponeses, dos operários, dos médicos, das mulheres, dos professores e pelas mobilizações visando à anistia e as eleições diretas, apenas para citar algumas, a figura dela se fez presente”, comenta Ironildes.
Além de ser o principal responsável pela existência do Memorial Maria Aragão, na praça que também leva seu nome, o IMA desde 2001 organiza semanas politico-culturais em torno de Maria Aragão, tendo trazido para São Luís ilustres figuras do mundo político e cultural brasileiro, como o cineasta Silvio Tendler, Clara Charf (viúva de Carlos Marighella), e Luís Carlos Prestes Filho.
Em fevereiro do ano passado Tendler retornou a São Luís para o lançamento do seu filme Utopia e Barbárie, como parte da programação da 3ª. Semana Político-Cultural do IMA.
... será interpretada pela atriz Maria Ethel em A Besta Fera
A homenagem desta sexta-feira marca ainda a passagem por São Luís da atriz Maria Ethel, atualmente radicada no Rio de Janeiro. Em 2009, ela foi escolhida como Melhor Atriz pelo Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado do Maranhão (SATED/MA) por sua atuação em A Besta Fera, que também conquistou o prêmio de Melhor Espetáculo.
Já me perguntaram se essa foto é de minha autoria. Acho que sim. Coordenei o Departamento de Cinema e Fotografia do Laboratório de Expressões Artísticas (Laborarte), desde a sua fundação até meados de 1975. Antes disso, fiz parte do grupo que deu origem ao Laborarte, o Tefema, Teatro de Férias do Maranhão, fundado por Tácito Borralho em 1971. Desde então passei a fotografar e fazer iluminação de espetáculos. No Laborarte fiz fotos durante nossas pesquisas de campo e de espetáculos. A iluminação das peças também ficava a cargo do Departamento de Fotografia e Cinema. Lembro de ter feito uma foto semelhante a essa, desse mesmo ângulo. Lembro de ter aproveitado a placa de “proibido fumar” do Teatro Arthur Azevedo, enquadrando somente a palavra “proibido”, para sublinhar o tom de protesto do espetáculo e das músicas de Cesar Teixeira e Josias Sobrinho. Coisas da época. Se de fato a foto é de minha autoria, ela certamente foi feita durante um ensaio no Arthur Azevedo, momento em que eu aproveitava para sair da cabine de iluminação e fazer fotos para registro interno e divulgação dos espetáculos.
Com a adaptação da obra de José Chagas, Maré Memória, o Laborarte concretiza o sonho de integrar as diferentes linguagens desenvolvidas pelos chamados departamentos: Cênicas; Dança; Música; Fotografia e Cinema; Artes Plásticas e Artesanato; Propaganda; Imprensa.
O mastro que se vê na foto representa uma festa de São Benedito. Além das músicas compostas especialmente para o espetáculo, era cantado o tradicional bendito de São Benedito. Lembro que nesse momento os atores aceleravam progressivamente o cântico e o andamento de uma procissão em torno do mastro, até tornar-se uma correria. Geniais coisas do Tácito!
Para esse espetáculo, realizei dois filmes curtos em Super-8 filmados nas palafitas do bairro da Liberdade. Um documentário e outro que poderíamos chamar de experimental. A exemplo das músicas que eram cantadas e tocadas pelos músicos protagonistas da foto, assumindo personagens na cena, como forma de integrar também, o cinema ao espetáculo teatral, os filmes eram projetados num lençol estendido num momento determinado em um varal dessa palafita cenográfica que aparece na imagem. A ideia era fazer com que as imagens externas e reais compusessem a encenação no palco. Algo inédito para aquela época. Portanto, é em 1974, quando experimentamos de fato um laboratório de expressões artísticas integradas com Maré Memória é que se inicia o ciclo do Super-8 no Maranhão. Um início que tem na projeção desses filmes talvez as primeiras e únicas exibições para um público pagante
O curta experimental, se assim podemos classificá-lo, durava menos de três minutos. Neste filme, as imagens, quase sempre em closes, associavam estacas de palafitas aos buracos de caranguejos na lama, banhados pelo leve vai e vem das ondas da maré. O filme era projetado no instante em que o casal protagonista do espetáculo entrava em casa e se recolhia às suas intimidades. O público da peça pode ver o que podemos considerar talvez o único filme erótico do ciclo Super 8.
Guardo esta foto que registra as filmagens dos curtas para o espetáculo Maré Memória. No cenário de mangue e lama, a câmera Super-8 (uma Canon 1014 recém doada ao Laborarte) acha-se protegida por um saco plástico.
De pé no mangue (e lama) filmando para Maré Memória, o cineasta Murilo Santos fotografado por um palafitado
Josias Sobrinho e Cesar Teixeira faziam uma dupla de violeiros no espetáculo teatral homônimo, baseado no livro-poema Marémemória (1973), de José Chagas. Dirigida por Tácito Borralho, a peça foi encenada pelo Laborarte durante dez dias consecutivos no Teatro Arthur Azevedo, em maio de 1974.
Fisguei a foto acima na maré do acervo laborarteano, em pesquisa acerca da citada adaptação.
O Labô completa 40 anos ano que vem. Revirar as boas marés dessas memórias é ótima pedida. Um show celebrativo reunindo seus três músicos fundadores, os dois acima mais Sérgio Habibe, seria sensacional, não?
Do release que recebi por e-mail: “Vater é uma livre adaptação da obra O Pai, do dramaturgo alemão Heiner Müller, baseada na sua vivência de quando criança ao ver seu pai ser preso por volta de 1933 por não seguir mais o Partido Social Democrata Alemão e sim o Partido Socialista Operário. O autor penetra com seus escritos em esferas bastante contradotórias com o contexto político-social e cultural da RDA e ao mesmo tempo sobre uma esfera abrangente de onde brota uma arte de vanguarda conhecida no mundo todo”.
No palco, o monstruoso, no bom sentido, é claro!, Gilberto Martins [Reverso]. Serviço completo: dias 6 e 7 de outubro, às 20h, no Teatro João do Vale (Rua da Estrela, Praia Grande). Ingressos: R$ 20,00 à venda no local, com meia para estudantes com carteira. Encenação: Ivy Faladeli. Produção executiva: Leury Monteiro. Realização: DRAO Teatro da (In)constância. Maiores informações: (98) 8818-8408, 8827-2728.
O 18º. Festival de Monólogos Ana Maria Rêgo, realizado na capital piauiense entre os últimos dias 8 e 14 de agosto deu alguns troféus ao Maranhão. O espetáculo O Miolo da Estória, da Companhia de Artes Santa Ignorância, voltou do Teatro 4 de Setembro, em Teresina, com os títulos de Melhor Espetáculo, Melhor Cenário, Melhor Sonoplastia e Melhor Iluminação. O primeiro para a Santa Ignorância, o último para Eliomar Cardoso e Júlio César da Hora, o Jarrão, e os outros dois para Lauande Aires (fotos), que atua e assina direção e roteiro da peça.
A ideia de O Miolo da Estória já conta dez anos. Seu autor relembra: “Em 29 de junho de 2001, enquanto participávamos da tradicional boiada no largo de São Pedro, onde dezenas de grupos de bumba meu boi brincavam em homenagem ao santo, em meio à multidão que dançava, batucava, rezava e bebia, vimos a chegada de um novo boi, sotaque da baixada, e uma cena impressionante: o miolo do boi subia de joelhos os 47 degraus da igreja com seu boizinho nas costas. Subia lentamente num choro incontrolável, até chegar aos pés do santo no interior da igreja. Desde então ficamos a questionar: quem é esse anônimo que faz o boi?, qual a sua história, seu sonho, sua vida?, que dívida com o santo ele esteve a pagar naquela boiada?”
Lauande Aires desenvolveu a ideia com base no trabalho de importantes pesquisadores da cultura popular do Maranhão: Américo Azevedo Neto, José de Ribamar Reis, Maria do Socorro Araújo, Maria Michol Pinho de Carvalho e Regina Prado, entre outrros.
O Miolo da Estória, em seus cerca de 50 minutos de duração, conta a história de João Miolo, operário da construção civil e brincante de bumba meu boi – como “miolo” designa-se o homem que dança debaixo do boi, dando-lhe vida e movimento –, homem comum, de vida comum, como a de tantos outros operários, incluindo casa humilde, vida sofrida, pouco dinheiro no bolso e muita solidão. O solo teatral retrata o desejo de João Miolo vir a ser o cantador do grupamento em que brinca – entre o sacro e o profano – e ocupar uma posição de destaque na vida, retratando o homem em conflito com a fé e as relações sociais.
Jarrão comenta a premiação: “É importante porque nos faz acreditar ainda mais que nosso trabalho tem valor, afinal com a parceria do Eliomar Cardoso, que também divide o reconhecimento, alimenta nosso trabalho, faz crescer a importância do iluminador nos espetáculos”. E cobra reconhecimento ao teatro feito no Maranhão: “Tá na hora do reconhecimento local, afinal em Teresina tem festivais, mostras e encontros teatrais o ano inteiro”.
Sobre O Miolo da Estória e seu êxito no Piauí, Vias de Fato conversou, por e-mail, com o dramaturgo Lauande Aires.
ENTREVISTA: LAUANDE AIRES POR ZEMA RIBEIRO
Vias de Fato– Qual a importância desta premiação para o teatro maranhense e, particularmente, para você como a(u)tor? Lauande Aires – Há alguns anos sinto-me incomodado com certo sentimento de plateia em nossos produtores teatrais. É um sentimento de inferioridade, conformismo, desses que tentam nos fazer crer na impossibilidade de produzir um teatro à altura do cenário nacional. Premiações desta natureza, assim como premiações em editais públicos, colocam o Maranhão no circuito dos que fazem teatro e não apenas dos que recebem espetáculos em suas parcas programações. Como ator, autor e encenador sinto-me profundamente lisonjeado, pois ao enviar um material para ser analisado por uma curadoria, a nossa torcida é simplesmente em enquadrar o nosso trabalho na programação para ter a oportunidade de circular com os espetáculos, visto que no Maranhão é impossível a realização de temporadas devido a cobrança de pauta fechada ao mesmo nível das super produções.
A que você credita o fato dos vizinhos Maranhão e Piauí conhecerem tão pouco um do outro, seja no teatro, na literatura e/ou música contemporâneos, seja em quaisquer outras expressões artísticas? À falta de um movimento cultural articulado e à nossa dependência do sul e sudeste como referencial estético. Isso tem ficado muito claro na realização de nossos eventos de teatro. Poucas vezes conseguimos dialogar com os grupos do nordeste e abrir as portas para um intercâmbio.
O Miolo da Estória volta de Teresina com vários prêmios na bagagem, mas ainda encontra dificuldades para ser encenado no Maranhão. A seu ver, onde está o problema? Há seis anos retomamos o processo de Festival Nacional de Teatro, que é imprescindível para a evolução de nosso desenvolvimento estético-político. No entanto as mostras e festivais não configuram por si um projeto de teatro para o estado ou município. Nossa arte necessita de tempo, espaço e estrutura, muito mais que o dinheiro em si. Precisamos de tempo para criar, espaços para ensaiar e apresentar e estrutura física e humana para que isso possa chegar à plateia com a maior qualidade possível. Mas como conseguir produzir com qualidade sem espaços para salas de criação e montagem? Como produzir com qualidade se você apresenta seus espetáculos em programações oficiais a preços risíveis e tem de aguardar um ano ou mais para receber? – quando recebe! Como melhorar o meu espetáculo, agora premiado, se ele requer uma estrutura técnica que eu não tenho condições de custear devido ao alto preço das pautas em teatros públicos?
Em entrevista recente ao jornal O Estado do Maranhão o artista plástico Cordeiro anunciou mudança em definitivo do Maranhão. Ele parte para o Rio de Janeiro, refazendo um êxodo artístico do qual, parecia, nos livrávamos aos poucos. A seu ver “santo de casa não faz milagre”? Ainda não. Mas a meu ver a necessidade de mudança ocorre também pela necessidade de enfrentar novos desafios, de ampliar suas impressões de mundo e vencer o medo que temos de mudança. Podemos lembrar daquele soldado covarde e medroso que fora obrigado a participar de uma batalha: vai que ele dá a sorte de não morrer? Voltará como herói para os braços do seu povo!
O Maranhão tem um dos mais antigos e belos teatros brasileiros, o Arthur Azevedo, cuja pauta é quase que exclusivamente dedicada a shows musicais, espetáculos de humor de qualidade duvidosa e peças teatrais com medalhões televisivos, salvo raras exceções. Falta uma política efetiva de incentivo ao teatro local? Com certeza. Especialmente o formato de cobrança de pauta que nivela a produção local a qualquer projeto patrocinado nacional. Mas temos que entender que nem sempre os nossos espetáculos precisam ser produzidos para o Arthur Azevedo. Tenho visto muitos colegas insistirem nesse erro e realizarem apenas uma ou duas apresentações. O espetáculo entra para a história dos que não fizeram história, entende? Sei que o Teatro Arthur Azevedo é o único capaz de nos oferecer um arsenal técnico e que em determinados momentos devemos recorrer à sua estrutura. Eu mesmo já fiz isso com a Santa Ignorância, com a montagem do musical infantil O Cavalo Transparente. Mas o que não pode ocorrer é a vaidade de pisar no Arthur Azevedo e ocupar um teatro daquela estrutura sem ter condições de pôr mais de dez pessoas na plateia.