Jornalismo cultural em debate hoje em São Luís

A convite da jornalista Vanessa Serra, participo hoje (5) da roda de conversa “Jornalismo cultural no Maranhão: reflexão e importância em tempos de mudanças”, que acontece às 18h30, no Café Teatro Cazumbá (Rua Portugal, esquina com Beco Catarina Mina, Praia Grande). O evento é gratuito e aberto ao público.

A moderação da mesa se completa com o jornalista e dj Pedro Sobrinho e a jornalista Flávia Regina, tendo como convidada a jornalista Larissa Corrêa, da Conteúdo Comunicação, que assessora o Instituto Itaú Cultural (em cujo site cheguei a assinar a coluna Emaranhado, entre 2017 e 18).

Quando perguntei, humilde e sinceramente, à convidante, o que eu ia fazer lá, ela respondeu-me: “contar um pouco de sua experiência no jornalismo cultural”. E imediatamente me ocorreu a memória: foi ela uma das primeiras a me abrir as portas (as páginas, para ser mais exato) de sua coluna (hoje também blogue), o Diário de Bordo, publicada semanalmente no Jornal Pequeno – ela e o professor Alberico Carneiro, no mesmo período, início do século, então editor-chefe do Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante (a princípio semanal, depois quinzenal, até tornar-se ocasional).

Eu ainda nem tinha entrado na faculdade quando publiquei textos sobre os discos de estreia do grupo carioca de choro Regional Tira-Poeira e do compositor maranhense Cesar Teixeira (que fundara e então engrossava as fileiras dos colaboradores do Guesa) respectivamente, nos espaços citados (parece fazer tanto tempo que sequer há links para estes textos na internet; um dia eu procuro os recortes para mostrar à minha meia dúzia de leitores).

20 anos depois, na estrada sinuosa percorrida até aqui, muita água rolou. Jornais impressos deixaram de circular ou emagreceram, uns apregoaram a morte do jornalismo, outros, do jornalismo cultural; mas a julgar pelo pequeno time que se reúne hoje para debater experiências, cenários, relevância, perspectivas, estratégias, tecnologias, mudanças e o que mais pintar, o jornalismo cultural segue vivo e necessário – para além de puxar a brasa para nossa sardinha.

Este texto é uma tentativa inicial de evocar uma memória, uma estrela a guiar o rumo de minha prosa – o resto é no susto mesmo. Ou como diria Belchior: “a vida realmente é diferente, quer dizer, ao vivo é muito pior”.

Após o bate-papo haverá discotecagem com os djs Pedro Sobrinho, Vanessa Serra e Marcos Vinícius.

Serviço

O quê: Roda de conversa “Jornalismo cultural no Maranhão: reflexão e importância em tempos de mudanças” e discotecagem
Quem: os jornalistas Larissa Corrêa, Flávia Regina, Pedro Sobrinho, Vanessa Serra e Zema Ribeiro
Quando: hoje (5), às 18h30
Onde: Café Teatro Cazumbá (Rua Portugal, esquina com Beco Catarina Mina, Praia Grande)
Quanto: grátis

Joãozinho Ribeiro e convidados conversam com público sobre ep “Apesar dos coronas contrários”

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Novo trabalho carnavalesco do compositor já está disponível nas plataformas de streaming

Apesar dos coronas contrários. Capa. Reprodução

Apesar dos coronas contrários” é o título do novo ep carnavalesco do poeta e compositor Joãozinho Ribeiro. Resistência em forma de arte, num tempo em que o carnaval é uma lembrança (de outros carnavais, diria um piadista mais apressado).

O trabalho já está disponível nas plataformas de streaming e traz algumas marcas da obra e do perfil de Joãozinho Ribeiro enquanto artista: a música nunca dissociada de sua postura de cidadão consciente, trazendo temas atuais para o centro do debate, sem perder o balanço exigido pela temporada carnavalesca, mesmo quando esta é somente virtual.

Agregador por natureza, Joãozinho Ribeiro não está sozinho: nos três frevos e dois sambas autorais e inéditos registrados neste novo trabalho, ele traz parcerias, entre composição e interpretação, com Zeca Baleiro, Flávia Bittencourt, Allysson Ribeiro, Marconi Rezende e Ronald Pinheiro.

Nesta segunda-feira (21), às 19h30, com transmissão pelo canal dos estúdios Zabumba Records no instagram (@zabumbarecords), acontecerá um bate-papo virtual, com a presença dos artistas que deram forma às criações de Joãozinho Ribeiro. Além do compositor e de seus convidados, o bate-papo terá mediação do jornalista Zema Ribeiro, coordenador de produção da Rádio Timbira e editor correspondente do site Farofafá.

“Infelizmente a pandemia ainda não acabou e não podemos fazer o que gostaríamos, que seria reunir toda essa constelação de artistas de primeira grandeza em um palco para defendermos esse trabalho, que esperamos que colabore para minimizar a ausência e a saudade das festas do período momesco. Então vamos conversar com o público pela internet, sobre processo criativo, bastidores das gravações e matar a curiosidade das pessoas que interagirem conosco durante a transmissão”, promete Joãozinho Ribeiro.

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Ouça o ep:

Serviço

O quê: bate-papo virtual de lançamento do ep “Apesar dos coronas contrários”
Quem: o compositor Joãozinho Ribeiro, os convidados Zeca Baleiro, Flávia Bittencourt, Alysson Ribeiro, Marconi Rezende e Ronald Pinheiro e o mediador Zema Ribeiro
Quando: dia 21 (segunda-feira), às 19h30
Onde: no instagram @zabumbarecords
Quanto: grátis

Em São Luís, Mário Rodrigues antecipa novo romance

Foto: Windisley Thiago. Ascom/Secult

 

Há diversas maneiras e razões pelas quais alguém se torna escritor. Inclusive, de uns tempos pra cá, após cursos de escrita criativa, laboratórios, oficinas, cursos superiores de Letras e que tais.

Há quem acredite em dom ou talento inato. Ou destino. Ou acaso.

Na tarde de ontem (21), no Espaço Juventude da 12ª. Feira do Livro de São Luís (FeliS), o bem-humorado escritor garanhuense Mário Rodrigues conversou com a jornalista e escritora Talita Guimarães em mais uma edição do Literatura Mútua.

Ele contou uma história bonita, que me deixou, como diria Paulo Mendes Campos, “comovido como o diabo”, que tento reproduzir aqui.

O pai do menino Mário foi demitido e o patrão não tinha como lhe pagar indenização. Entre o prejuízo completo, o ex-empregador resolveu dar-lhe, em compensação, cinco máquinas de escrever. Ao então desempregado de nada serviriam, mas era melhor que nada. Tinha quatro filhos, deu uma máquina de escrever a cada um.

A Mário restou uma Olivetti vermelha, daquelas que ao serem fechadas se transformam em uma maletinha. Diante da máquina, o menino colocou uma folha de papel a4 no cilindro e começou a batucar um conto, nada original, nada inspirado, segundo o relato do autor de A cobrança [Record, 2018], relatando a situação: um menino que ganha uma máquina de escrever do pai.

“Meu pai era aquele homem de pedra, nordestino autêntico, daqueles que nunca se viu rir ou chorar”, lembrou. “O macho-jurubeba no dizer de Xico Sá”, pensei na plateia, mas não quis interromper a história. “Mas eu gosto de imaginar que ao ler, na minha frente, aquele conto que lhe entreguei, vi seus olhos marejarem”, continuou. Anos depois, quando da morte do pai, descobriu que ele havia guardado o texto pelo resto da vida.

Os anos se passaram e Mário se tornou professor de português, literatura e redação e autor merecidamente festejado: com o volume de contos Receita para se fazer um monstro [Record, 2016] venceu o prêmio Sesc de Literatura e foi finalista do Jabuti.

O autor continua morando na Garanhuns natal, tida como Suíça brasileira, pelo frio que faz à noite, terra que também deu ao Brasil Luís Inácio Lula da Silva. Fui vê-lo à tarde numa espécie de preparação para a mesa que eu mediaria à noite, com o tema “A taça do mundo não foi nossa”.

Mário Rodrigues discorreu sobre influências – Cormac McCarthy, Raymond Carver, Rubem Fonseca e principalmente Graciliano Ramos, com quem mais se identifica graças à dicção. Lembrou-se do zumbido dos minutos iniciais da adaptação cinematográfica de Vidas secas, por Nelson Pereira dos Santos, a dizer que é o tipo de detalhe que persegue ao fazer literatura.

Ao comentar seu processo criativo, revelou primeiro eleger um assunto. Depois mergulhar em uma meticulosa pesquisa sobre. E só depois colocar tudo no papel. No intervalo entre uma mesa e outra conversamos um pouco. E o que ele me revelou, me deixou curioso e ansioso de tal modo, que não pude evitar pedir-lhe que compartilhasse aquela novidade com o público presente.

Mário Rodrigues era, para mim, um autor recém-descoberto, ainda estou sob o impacto da leitura de A cobrança, assunto do post anterior deste blogue. Não li (ainda) Receita para se fazer um monstro, que é um livro de contos que versa sobre a formação de um ser humano repugnante – o monstro do título.

A mesa da noite também transcorreu em clima descontraído, entre aspectos do futebol e (da história) do Brasil abordados por sua ficção ancorada na realidade. As semelhanças nos messianismos de Fernando Collor em 1989 e Jair Bolsonaro em 2018, a vingança coletiva, contra o país que tudo lhe negou, tramada pelo protagonista de A cobrança, seu gracejo ao responder uma curiosidade da plateia: seria, necessariamente, um escritor que escreve tão bem sobre futebol, um bom jogador de futebol? “Há uma característica raríssima em jogadores de futebol que os diferenciam de todos os outros: escanear o campo. O jogador sabe exatamente onde estão seus companheiros e seus adversários. Eu só conheço quatro, com essa capacidade: Pelé, Tostão, Lionel Messi e eu”, revelou, esbanjando bom humor, para gargalhada geral dos presentes.

E discorreu em detalhes sobre o futebol-arte, lembrando partidas antológicas de diversas seleções brasileiras, de 1930, ano da primeira Copa do Mundo, no Uruguai, até o Brasil inventar sua própria maneira de jogar bola, em 1950. “Depois, em 1958, o Brasil vence sua primeira Copa do Mundo. Era o Brasil sendo o melhor no que todo mundo queria ser. É fácil o Brasil ser bom em samba: só tem samba no Brasil”, comparou.

Lembrou os campeonatos mundiais conquistados em 1962 e 1970. Descreveu à perfeição lances antológicos, como o drible que Pelé dá, sem tocar na bola, em Mazurkiewicz, goleiro uruguaio, na semifinal da Copa de 1970. “Após o passe de Tostão, na medida, Pelé surge do nada, feito um raio, e após tirar o goleiro com o corpo, por milímetros a bola vai pra fora”, relembrou o não-gol mais bonito da história do futebol.

Depois algumas seleções memoráveis, sobretudo a de 1982, “com o melhor meio-campo de todos os tempos: Zico, Sócrates, Falcão e Cerezo. Vejam a diferença, Zico do Flamengo, Sócrates do Corinthians, Falcão do Internacional, e Cerezo do Atlético Mineiro. Não apenas clubes brasileiros estavam representados, mas estados”, comentou, antes de discorrer sobre a derrocada do futebol brasileiro, tema também de A cobrança. “Nos perdemos querendo imitar os europeus, graças à nossa síndrome de vira-latas, como diria o grande Nelson Rodrigues”.

Já havíamos falado do presente (A cobrança, publicado este ano) e do passado (Receita para se fazer um monstro, de 2016). Eu não podia, diante do impacto, perder a oportunidade. Repeti-lhe, diante do público, a pergunta-clichê, inevitável, que já havia feito em off, instantes antes da mesa: e o livro novo?

O argumento incrível e o inusitado de como a história lhe caiu no colo, até agora ribombando em minha cachola, me fez novamente pensar no que faz de alguém um escritor – acaso? Sorte?

Sem firulas, Mário Rodrigues não se fez de rogado e revelou o mote e parte do enredo: “eu estava, no carnaval, almoçando com umas tias setentonas, que comentavam sobre um tio, já falecido, que trabalhava no serviço secreto. Era um tio sensível, escrevia versos, tocava acordeom, me ensinou a dirigir, era aquele a quem todos da família recorriam quando tinham problemas. Quando eu era mais jovem e ouvia falar nesse serviço secreto, imaginava algo meio James Bond; fui pesquisar e descobri que ele era um agente da repressão, um torturador que trabalhou no Doi-Codi, sob o comando de Carlos Alberto Brilhante Ustra, nos anos mais pesados da ditadura militar. Ou do regime militar, como queiram. Era no governo Médici, tido como o mais duro do período. Meu tio cresceu tanto na hierarquia do exército que quando Médici ia até São Paulo, ele era escalado para ser seu motorista particular. O livro vai se chamar O motorista de Médici”, antecipou.

Cá estou, ansioso por ler, a esperar este seu novo livro, certamente uma das grandes obras da literatura brasileira em 2019.

Blablablá

Uma vez, a gente bebendo lá em Imperatriz, o Cuenca me disse que eu era “a cara do Pratinha”. Já não sei: do encontro com o autor de O único final feliz para uma história de amor é um acidente pra cá, ganhei peso mais do que devia. Outro dia uma queridamiga, que não sabia do que já havia me dito o escritor, disse a mesma coisa. É, talvez eu pareça um pouco, não sei… ao menos o Antonio Prata é engraçado, coisa que eu tento ser sempre, mesmo quando a maré não tá pra peixe.

Abaixo o cronista entrevistado por Ronaldo Bressane, na estreia do Blablablá, mês passado:

Murilo Santos no Papoético

O cineasta Murilo Santos posa com uma Kodak Rio 400, presente de seu pai

Fotógrafo, cineasta e professor, Murilo Santos (foto) é o convidado de hoje (20) do Papoético, que acontece a partir das 19h30min no Chico Discos (esquina das ruas Treze de Maio e Afogados, entrada pela primeira, sobre o banco Bonsucesso), de graça.

Sob mediação do poeta Paulo Melo Sousa, vulgo Paulão, Murilo conversará com o público presente sobre seus ofícios e exibirá o documentário francês Le bonheur est là-bas, en face, de Jean-Pierre Beaurenaut, cujo estilo influenciou o trabalho do maranhense.

O doc foi filmado no Maranhão (na capital São Luís e na comunidade quilombola de Ariquipá, Bequimão), na década de 70, e discute temas como comunidades quilombolas, migrações, cidade e urbanização, entre outros.