Pitomba neles!

POR FLÁVIO REIS

A primeira vez que ouvi falar em Pitomba como nome de uma editora foi mais ou menos há cinco anos. Era uma reunião entre amigos, inclusive livreiros, sobre a organização de uma editora e Bruno Azevêdo, que tinha ideia semelhante, foi contatado, aparecendo já com a sugestão do nome Pitomba, que causou estranheza geral. Achei até bom para os textos que ele fazia, bastante influenciados pela linguagem dos quadrinhos, mas ruim para os livros que tínhamos em mente publicar de imediato, sobre São Luís e o Maranhão. O projeto da editora “séria”, entretanto, gorou muito cedo. A obsessão de Bruno com a Pitomba, felizmente, não.

Conseguiu, então, um logotipo canalha para o selo, uma pitomba que é também uma bomba, expressando de forma bem inteligente a dupla face da coisa, e começou a publicar livros e outros materiais. Os livros sempre trazem seis tópicos colocados como manifesto, programa ou algo similar, ou talvez apenas uma grande tiração com isso tudo, afirmando que a palavra “não é palavra, antes de ser ouvida” e, se há de ser dito, “que seja dito com cacófatos e microfonias, pra que, assim, quem ouça também diga” (…) “porque a informação não se pertence e a posse de ter é a posse de dar e é essa posse que reivindicamos”. No resumo, “porque para além do caroço, que é quase tudo, existe a casca, que se quebra, e existe a polpa, que se quer: pitomba!” Sacou?

Pois é, muita gente sempre torceu o nariz pra esse “manifesto” da Pitomba, mas ele continuou lá. Nesse tempo ainda inicial, Celso Borges voltava de São Paulo, após vinte anos, enquanto Reuben da Cunha Rocha fazia o caminho inverso, não sem antes eles se cruzarem, resultando na invenção de uma revista sem periodicidade ou critério de classificação. Decidiram embarcar no nome e na tirada do logotipo e batizaram a nova cria com o mesmo nome da editora.

Nascia a Pitomba, uma revista fora do sério, pra provocar e avacalhar, na trilha da literatura, das artes, mas num clima underground, de liberdade e doideira, que aqui sempre é difícil. Nada muito sofisticado, apesar da elaborada e agressiva diagramação, nem de bairrismos, nordestinismos e outras baboseiras, tão comuns em publicações regionais, apesar de trazer em seu cerne um princípio corrosivo que se volta diretamente contra a antiga cultura ateniense e contra a exaltação publicitária da cultura popular.

Material cru, pra saborear com sangue: poesia variada (da boa e da ruim, quem sou eu, hein), traduções, frases-bomba, desenhos malucos, fotografias, quadrinhos, novelas, fotonovelas, pornografia variada, sátira política, crítica cultural e o que mais pintar. Em quase três anos e apenas cinco números lançados, acredito que este seja um caso muito estranho em que nem os editores nem os (poucos) leitores parecem saber ao certo do que trata mesmo a revista e até o que esperar dela. Justamente aí, no entanto, reside o melhor da coisa. Existe uma diferença entre a editora e a revista, a primeira saiu da cabeça de Bruno e é dirigida por ele, a segunda, não. Mas uma é a cara da outra na disposição anárquica, no traço de caravana.

Pitomba não chegou a se configurar como “movimento” ou “coletivo”, é bem menos complicada, nem tem objetivo claro ou programa é, antes, fruto de uma f(r)icção de individualismos, que se estimulam e energizam no coletivo. Talvez se resuma mesmo apenas a um “estado de espírito”, uma caravana aberta aos acasos, onde ressoa a necessidade urgente de acelerar a destruição de determinadas ideias canonizadas sobre cultura e literatura, num lugar onde estes termos tornaram-se sinônimos de tombamento,  de exaltação vazia. Para isto, apostaram decisivamente na estratégia do atrito. Como disse Celso em entrevista: “eu acho que tem que manter o atrito, é uma característica da revista. Isso a gente não tem que abrir mão, nem é essa coisa do atrito, é a coisa da irritação mesmo”.

Na cultura da afirmação e do elogio em que vivemos, mergulhados na sedação da mediocridade, a estranheza e o incômodo que a revista pode causar se traduziu apenas no silêncio, no desconhecimento puro e simples. Nada de espantar, Narciso só repara nos seus próprios movimentos e na situação atual da cidade, quatrocentona em estado terminal, não consegue esboçar mais nenhuma reação senão aos clichês do próprio espetáculo.

Entretanto, tal reação (ou ausência de) nunca mudou nada na determinação dos editores, na lógica radical explicitada por Reuben: “nós não temos apoio, portanto faremos”. É um caso de combinação, de articulação entre o individual e o coletivo, de pulsações que se encontram na mesma pegada. Sem a diagramação, a anarquia e a putaria de Bruno, a revista perderia sua linguagem mais atual e desconcertante; sem Celso, a cara da poesia, sua capacidade de misturar códigos e, principalmente, a disposição de juntar, a revista sequer existiria; e sem Reuben, perderia na crítica cultural, feita diretamente ou através de traduções que são também finas transposições de situações, reflexões, e na experimentação, ou seja, perderia em densidade e aventura, risco.

No geral, um não gosta de poesia, enquanto outro não vive sem ela, nem se sente à vontade com os quadrinhos e outro transita mais facilmente entre estas linguagens; um gosta de brega, outro é roqueiro de raiz, mas aberto, ouve de tudo, enquanto outro anda garimpando todo tipo de experimentalismo e doidice sonora. No fundo, eles terminam se encontrando na eletricidade do rock e na firme disposição em embaralhar e ampliar o escopo do que seja literatura, sem nenhuma preocupação com convenções, prêmios, público, nada.

Pra fazer a revista, não é fácil, é uma briga. Segundo o depoimento dado em entrevista preciosa ao Vias de Fato, feita por Zema Ribeiro e Igor de Sousa, Celso precisa tocaiar Bruno e “hostilizá-lo” para a coisa começar a sair do papel e das ideias para o computador. Recolher o material nem é tanto o problema quanto traduzir isso tudo em forma gráfica, em diagramação. O processo costuma ser mais fácil quando está presente o ponto de união entre os extremos, Reuben. Mas ele mora longe, tornando o lance mais complicado. Foi o que vimos neste segundo semestre. Celso, envolvido com várias coisas, não obteve êxito na tocaia e Bruno conseguiu escapar, colocando todos os esforços no Isabel Comics! ano II, no Baratão 66 e outras iniciativas da editora Pitomba. Era muito difícil mesmo a missão de Celso, mas agora ele terá a ajuda de Reuben para tocaiar e prender Bruno, o passo decisivo para a elaboração da Pitomba.

Não tem a revista no final do ano (e que ano intenso!), mas tem uma festa de arromba da editora nesta quarta 11/12, no QG de quase todas as experiências de doideira que tem rolado nos últimos anos por aqui, o Chico Discos. É a Pitomba espocando pra valer, lançando de uma tacada mais quatro publicações de seu já variado catálogo, que até agora comporta quadrinhos, “novela trezoitão”, poesia, ensaios, “romance festifud”, e experiências para além de qualquer classificação.

É o caso do livro de Reuben, As Aventuras de Cavalodada em + Realidades Q Canais de TV, o mais louco dos novos lançamentos.  Manipulando principalmente o aforismo e outras formas fragmentárias, como o anúncio, a citação, a colagem, no ritmo da escrita sintética das redes, saturada de visualização e sonorização, o livro destila veneno pra todo lado, numa percepção ácida e virulenta da cultura do espetáculo e da brutalização do cotidiano. Respira e transpira todo o clima de insurreição cultural que já se insinua claramente em certos círculos da moçada mais criativa das cidades.

Em movimentos rápidos, toca em temas como circulação e apropriação dos espaços urbanos, através de figuras tão inesperadas como o mijador de rua e o skatista; a crise dos sistemas de signos, através do pixador (assim mesmo), “cavalo das ruas”, o anunciador do “estado da escrita na realidade onde vivemos”; ou as relações entre diamba e bruxaria, vale dizer, entre a maconha e experimento de sensações, a questão crucial da alteração da percepção num mundo de sobrecarga visual e atrofia de sensibilidades.

As Aventuras de Cavalodada estão carregadas da experiência urbana contemporânea, da redefinição da relação com o espaço, buscando discernir a “camuflagem superposta da comunicação das ruas”. Tenta mesmo fundir novamente cidade e literatura, na esteira dos modernistas mais radicais, e neste sentido é texto complexo, um grito contra o “pensamento pobre” e o “pensamento conveniente”. Pode até ser lido como pura curtição, mas, no fundo, é de leitura densa, na leveza enganosa da colagem de curiosidades ou reflexões ditas de maneira extemporânea.

Depois de alguns trabalhos publicados, entre eles o incrível O Monstro Souza, seguramente um dos retratos mais cruéis e cômicos já feitos da cidade de São Luís, realismo fantástico do século XXI, Bruno traz à luz o Baratão 66 (ou 69, depende da hora), uma novela em quadrinhos, misturando erotismo, sátira e crítica de costumes, ao seu estilo. Agora, no entanto, aparece mais afiado, com o controle maior do ritmo e do entrelaçamento das partes da narrativa, feita em camadas que se revelam aos poucos, como um saco infindável de surpresas.

 Este é um traço em que ele vem caprichando, principalmente com a experiência de A Intrusa, novela erótica em 12 capítulos, publicada originalmente como folhetim no jornal alternativo mensal Vias de Fato e também já disponível em forma de livro pela Pitomba. O enredo, desta vez, se desenrola numa casa que, durante o dia, funciona para depilação, cuja especialidade são os desenhos nos pelos pubianos, o Baratão 66; e, durante a noite, transforma-se num puteiro, o Baratão 69, onde se aceita tudo, menos “fazer cu fiado”.

Bruno fala da sacanagem e dos puteiros como traço identitário do maranhense e satiriza um futuro reconhecimento como patrimônio da cultura, através da instalação da Casa de Cultura Baratão 66. A trama é cheia de surpresas, envolvendo Francinete, a dona do bordel e seus ataques com as lembranças do marido, suas filhas e a ambição de deixarem a vida de puta, o porteiro apaixonado pelo padre, mas com obrigação de comer a velha matrona, o representante da Piu-Piu, franquia de desenho de boceta e o governador, sonho de dez entre dez putas do Baratão que almejam algum golpe na dureza da vida.

A edição é cuidadosa e os desenhos de Luciano Irrthum são um ponto alto, onde afinal se materializa todo o tom de excesso da trama. O livro saiu com duas capas diferentes, à escolha do freguês e é repleto de detalhes gráficos. Tem ainda um posfácio escrito por quem entende do riscado. Enfim, uma beleza, presentão de natal, “quadrinhos para toda a família!”.

O pacote traz também o livro de Celso Borges, O futuro tem o coração antigo, uma experiência com “poemas fotográficos” e imagens do centro antigo, em fotografias tiradas por alunos do Curso Técnico em Artes Visuais do IFMA, utilizando um dos métodos mais antigos, sem lentes, com câmeras feitas à mão, com latas ou caixas, um furo em um dos lados e um pedaço de filme no outro. É o método pin hole, criando imagens não muito nítidas e que podem sofrer deformações ou alterações variadas, dependendo do formato das caixas e do tempo de exposição do filme à luz.

O resultado é um encontro conflituoso do poeta consigo mesmo e com a cidade, numa superposição de suas metamorfoses, em que os tempos se embaralham e a poesia tornada palavra-imagem e palavra-som (o trabalho se completa com o vídeo, feito em colaboração com Beto Matuck) se volta sem melancolia ou saudosismo, mas não sem saudade, para uma cidade que, numa palavra, simplesmente morreu, não existe mais. A edição, como sempre nos trabalhos de Celso, é caprichada, o texto todo datilografado numa máquina Hermes, criando um detalhe estético forte associado à questão do tempo, papel de primeira, textura em preto e branco, formato retangular, capa dura. Um luxo.

Tem ainda um romance que é a estreia de Jorgeana Braga na prosa, A Casa do Sentido Vermelho, ela que tem um livro de poesia publicado na Pitomba. Este ainda não li, vou adquirir no lançamento, mas já comecei a gostar pela capa, sem contar o que ouvi falar acerca da beleza de sua escrita. A conferir.

Enfim, com site na rede, um cartel de cerca de dez publicações (já com material fora de catálogo), uma caixa de madeira novinha pra venda ambulante e, principalmente, muita irreverência e disposição para chutar o pau da barraca, a Pitomba está em festa e justa celebração, literalmente “cuspindo os caroços”. Editora, revista, espaço de criação, base de lançamento… É Pitomba neles!

Só a arte nos salva

“A Praia Grande está abandonada!”

Não sei quantas vezes tenho ouvido, algumas não sem razão, a frase acima nos últimos anos. A ausência de políticas e ações mais efetivas de real valorização da área – e não se fala aqui apenas de prédios tombados pelo patrimônio histórico, mas também da valorização do patrimônio humano – explica-a em parte, assim como, em menor escala, a evasão de órgãos públicos, comércios e bares, deixou-a aos ratos, baratas e outros bichos escrotos.

É o cartão postal da cidade, cenário de comerciais, paisagem no imaginário de qualquer turista que a tenha visto na tevê ou ouvido alguém falar.

Ao “a Praia Grande está abandonada” soma-se agora o “a Praia Grande está tomada pelo crack”. As drogas em geral só chegam ali, como em qualquer lugar, pelo vazio deixado, inclusive por nós mesmos. Mas o problema do bairro não é só o consumo de drogas, ou mais particularmente de crack, como às vezes se quer crer: ele é mais um elemento, num conjunto de violência e ausência de infraestrutura, entre outros. Além do mais, sabemos, o crack não é um problema exclusivamente praiagrandense: é um problema social espalhado pelo Brasil e pelo mundo, cuja solução é mais complexa do que o que mostram inconvincentes propagandas no nível do “é possível vencer” e da defesa da internação compulsória – o que este blogue é terminantemente contra.

Dois exemplos louváveis de reocupação da Praia Grande aconteceram recentemente entre setembro e novembro: a 7ª. Feira do Livro de São Luís e a 8ª. Aldeia Sesc Guajajara de Artes, encerrada ontem (1º.), promovidos pela Fundação Municipal de Cultura (Func) e Serviço Social do Comércio (Sesc), respectivamente. Provaram que, com programação de qualidade, o bairro do Centro Histórico da capital ludovicense volta a ser a menina dos olhos de turistas e autóctones.

Os movimentos precisam continuar, cada um fazendo a sua parte, mas sem essa de “cada um no seu quadrado”: artistas fazem o que sabem, plateias aplaudem, a iniciativa privada incentiva, apoia, patrocina, e o poder público garante as condições para que este conjunto se torne possível – atualmente a presença do Estado por ali apenas é percebida apenas na figura da polícia, em geral em atuações desastradas, inclusive com a circulação de viaturas onde não é permitido o trânsito de veículos.

Amanhã (3), às 16h, um grupo de artistas se reúne para “ocuparte” os degraus da Escadaria Humberto de Campos (a do Moiras Drinks, subindo a rua João Gualberto, da Livraria Poeme-se). É o Ocupa com Arte – Rock & Blues, evento gratuito que visa continuar a citada reocupação cultural da Praia Grande.

Dará conta de todos os problemas (históricos) do bairro? Irá resolvê-los todos? Certamente não. Mas cumprirá um papel importante. A que devemos nos somar.

Quem disse que carnaval não tem nada a ver com direitos humanos?

IV Baile do Parangolé festeja 34 anos da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos (SMDH). A festa, gratuita, acontece sábado (9), no Porto da Gabi (Aterro do Bacanga)

Fundada em 12 de fevereiro de 1979, em meio às lutas contra a ditadura militar então vigente no país e pela anistia, a Sociedade Maranhense de Direitos Humanos (SMDH) completa 34 anos na próxima terça-feira de carnaval.

Uma coincidência que não se encerra no calendário. O carnaval é, por excelência, a festa da fantasia. Temporada de puro êxtase em que as pessoas se desligam do mundo real, se esquecem dos problemas cotidianos e caem na folia, “pra tudo se acabar na quarta-feira”, como determinaria o poeta.

Esta fantasia já foi cantada em verso e prosa e poupo os poucos mas fieis leitores de outros exemplos. A luta por direitos humanos é constante e não conhece folga ou férias. Carnaval é cultura e cultura é direito humano fundamental, devendo assim ser entendido e garantido, sem restringir-se apenas à festa e sem dissociar-se de outros direitos.

Batizado pelo coco de Cesar Teixeira, sócio da SMDH e seu ex-assessor de comunicação, o Baile do Parangolé, hoje já cravado nos calendários cultural e carnavalesco de nossa ilha capital, tem sido um espaço/momento de celebração e reencontros entre militantes de direitos humanos, amigos e familiares. Embora nunca tenha se fechado, este ano abre-se ainda mais, já que não haverá venda de camisas e/ou cobrança de ingressos, graças ao apoio da Fundação Municipal de Cultura (Func) e do Porto da Gabi.

O autor do Parangolé é homenageado no traço de Djalma Lúcio, que, especialmente para a ocasião, desenhou o jornalista e compositor, autor de vasto repertório carnavalesco – sambas, frevos, marchas e outros gêneros do período, algumas de suas músicas certamente comparecendo ao vesperal.

O baile terá como atrações Chico Nô e a Turma do Vandico e certamente contará com canjas de artistas militantes que se revezarão entre plateia e palco. A escolha do band leader não se dá ao acaso: é também uma forma de reconhecer seu compromisso com as lutas dos movimentos sociais maranhenses.

Isso tudo é só pra convidar vocês pra festa!

A cultura brasileira em debate e a liberdade de expressão

(OU: METENDO O BEDELHO ONDE NÃO FUI CHAMADO)

Enxerido que sou, não poderia deixar de meter minha colher nesse angu. O debate iniciado por Mino Carta em sua CartaCapital e Cynara Menezes em seu Socialista Morena. Sobre a cultura brasileira. O primeiro, sob o título A imbecilização do Brasil, falando em “deserto cultural”, a segunda apontando frutos prontos a serem colhidos, sob o título Em que tipo de arte você acredita? Ou: a imbecilização da elite. Fico com a segunda, fosse apenas para tomar partido.

O problema de todo saudosista, nostálgico, passadista ou coisa que o valha – como parece ser o caso de Mino – é achar que tudo só era bom no seu tempo. E aí os olhos fecham-se para o que de bom lhes passa bem debaixo do nariz. Quem acha que bom era no tempo de Bethânia, Caetano, Chico, Edu Lobo, Gal, Gil, Milton etc., todos gênios, cada qual a seu modo, jamais perceberá o talento de nomes como Bruno Batista, Junio Barreto, Karina Buhr, Kléber Albuquerque, Rodrigo Campos, Rômulo Fróes, Siba, Tulipa Ruiz etc., e é proposital que a segunda lista tenha mais nomes que a primeira. Isso para ficarmos apenas na música. Era bom naquele tempo? Sem dúvidas! É bom agora? Também!

Cynara pontua bem a apropriação pelas elites de gêneros hoje populares(cos) – e na grande maioria das vezes de péssima qualidade – e a imposição das mesmas ao povo pela via midiática. Mostra-se otimista em relação a tevê, coisa que não sou tanto: temos tevê pública, temos tevê paga – embora nem todo mundo possa pagar ou fazer gambiarra – e mudar de canal é muito fácil. Eu diria que nem tanto: conheço gente que passou a vida inteira se contentando com as novelas da Globo e as “verdades” do Jornal Nacional e, hoje, com 200 canais pagos, num combo que inclui ainda a internet, continua vendo também o Faustão aos domingos.

Muita coisa mudou no Brasil dos últimos 10 anos. Falo de inclusão social e econômica. De as pessoas poderem escolher queijos e iogurtes e não apenas contentar-se ao pão com manteiga – quando havia – e café preto. Produzir música nunca foi tão fácil e barato. As coisas, porém, não são automáticas e a ofensiva midiática é pesada, violenta. Muita porcaria ainda é lida, vista, ouvida no Brasil. Mas daí a negar que existam talentos e esperança é pessimismo demais para meu gosto.

Lembro-me de um colega de turma, devíamos ter uns 14, 15 anos, que dizia, na escola, não curtir Cartola e Chico Maranhão, nomes que eu então já admirava. Depois de algum tempo ele me aparece com um cd do primeiro, o que invejei, já que eu mesmo não tinha um. Ele me confessou não admitir admirar o compositor em público pois tinha vergonha de ser ou parecer estranho. Talvez isso aconteça ainda hoje ao menos com uma pequena parcela de carinhas que inviabilizam, do ponto de vista de sua finalidade original, o porta-malas do carro, com caixas de som que vão tocar em sabem Deus e a polícia quantos decibéis, músicas que desvalorizam a figura feminina, este apenas um exemplo dentre os temas preferidos dos compositores do forró de plástico, para ficarmos em um gênero musical que não aprecio – e poderia me fazer pessimista.

A discussão é complexa, até por que passa também por aquilo a que chamamos “questão de gosto”: cada um tem o seu e há os que acham que isso não se discute.

Algumas coisas, no conjunto, merecem aplausos. Capas, em geral, em jornais ou revistas, são dedicadas a notícias ruins, tragédias e coisas do tipo. A CartaCapital desta semana botou a cultura na capa, sem a pretensão de um consenso nos vários textos do “dossiê”. Se Mino parece pessimista, Alfredo Bosi, um dos entrevistados da edição, é otimista. Digo parece por que ele fundou a Veja e a IstoÉ e ao ver as crias tornarem-se outras coisas não cruzou os braços, fundando a CartaCapital (de que sou assinante, única semanal que leio com regularidade), este senhor será um eterno otimista.

Cynara Menezes cobriu outra pauta para a edição, mas deu seu pitaco em seu blogue: a discussão é saudável e abre portas para outras. Os poucos mas fieis leitores deste blogue imaginam profissionais (ou como queiram chamar: jornalistas, empregados etc.) da Folha, da Veja, da Globo, “respondendo” ao patrão em público? Se imaginam são casos raríssimos e em geral o “rebelde” é demitido em sequência – às vezes nem precisa a reação ser em público, basta ser numa reunião.

Incluindo a blogosfera suja, há quem não possa ouvir falar em “conselho de comunicação” e coisas do tipo que se treme todo e começa a falar besteiras como “a volta da censura” e/ou “a volta da ditadura” – que defendem quando lhes convêm. Um bom exemplo de liberdade de expressão é o saudável debate que me instigou a este texto. E que me faz admirar ainda mais seus protagonistas.

Carnaval de passarela: uma decisão que pode apontar novos rumos para a Cultura de São Luís

A certamente difícil decisão de não realizar o carnaval de passarela em São Luís é a primeira prova de fogo do presidente da Fundação Municipal de Cultura (Func) Chico Gonçalves e sua equipe. O órgão publicou hoje uma nota comunicando-a.

As opiniões certamente se dividirão, uns poucos apoiando a decisão, outros, a grande maioria, acreditamos, contrários a ela.

A Func não tomou a decisão sozinha: antes, as associações de blocos e união de escolas de samba resolveram que seus grupos filiados não participarão do desfile após o anúncio do não pagamento de cachês pelo poder público municipal, diante da terra arrasada deixada pela gestão de João Castelo (PSDB).

Ainda que não propositalmente, a suspensão do carnaval de passarela pode ser o primeiro passo para que se rediscuta o modelo de financiamento das manifestações culturais destas plagas, não só no carnaval, desejo expresso na nota hodierna.

Alguns exemplos e questionamentos. As cervejarias estão entre as empresas que mais lucram com a festa de momo, inclusive com bastante participação deste blogueiro, mas investem pouco ou quase nada. Que escola de samba ou bloco carnavalesco, em qualquer grupo e/ou categoria, tem se preocupado com a sustentabilidade para além dos cachês recebidos anualmente no período? O fomento à cultura é dever do Estado, mas deve ser promovido de acordo com os princípios da administração pública.

O fato é que há muito, grupos políticos têm se apropriado de manifestações culturais, inclusive inventando-as, em prol da legitimação deste ou daquele político, quando esta avaliação cabe às urnas, de preferência sem a maquiagem de “amigo da cultura (popular)” que tão bem lhes cai nas caras de pau (esta não é uma metáfora para as máscaras comumente usadas pelos fofões em nosso carnaval).

Seria precipitado dizer que a não realização do carnaval de passarela é uma decisão acertada ou um engano. Ela é fruto da atual conjuntura e certamente pega a todos de surpresa: gestores públicos, agremiações carnavalescas e principalmente a população. O cancelamento da passarela em cima da hora mostra também que aquele pedaço do carnaval é feito no improviso, a grande maioria dos grupos esperando pingar o troco do poder público para adquirir fantasias e preparar os carros alegóricos, alguns ficando prontos apenas na concentração. Vejamos quantos blocos e escolas de samba realizarão desfiles, bailes, festas em suas próprias comunidades, frutos dos esforços de seus dirigentes, brincantes e simpatizantes.

A decisão pode parecer radical, mas havia a possibilidade real de, mesmo com cachês garantidos, blocos e escolas não irem à avenida, ao menos alguns: com vistas à reeleição, o ex-prefeito João Castelo inflacionou cachês de agremiações em 2012. O resultado nocivo percebemos agora. Superá-lo pode deflagar outra política cultural.

De obituários

São ridículos os obituários do apresentador Jairzinho da Silva, morto na última sexta-feira (4), vítima de um ataque cardíaco. Das três, uma: ou o homem não tinha qualidades que merecessem registro e/ou destaque ou ninguém o conhecia e/ou admirava tanto a ponto de realizar um belo texto. Ou simplesmente a incompetência para a redação de um obituário decente reflete o atual cenário jornalístico do Maranhão.

Como sempre por aqui, optou-se pela santificação que faria corar o próprio defunto, se isto fosse possível. Na Sarneylândia a morte apaga quaisquer defeitos, basta lembrar do recente caso Décio Sá. Ou, antes, de Walter Rodrigues, para nos determos a jornalistas.

De uma hora para outra, baboseiras como “excelente vereador por três mandatos” e “referência na Comunicação do Maranhão” surgiram em textos paupérrimos, incluindo notas de pesar da Câmara Municipal e do Governo do Maranhão. Uns ainda lembraram sua condição de vice-prefeito quando a municipalidade foi comandada por Gardênia Gonçalves, esposa de João Castelo, recém-destituído. O tucano fez de tudo para superá-la em má-gestão, andando perto de conseguir, mas o título permanece com ela. Esse mês de atraso no salário dos barnabés é fichinha perto do que aprontou a ex-primeira dama quando prefeita. É claro que há aí, não neguemos, um quê de elegância e dignidade, de não dar conotação política à morte, muito embora o próprio Jairzinho, em vida, não tenha se preocupado muito com isso.

O apresentador era engraçado (para quem gostava), dizia alguns bordões, criou um boneco e a gíria “migué”, o nome do boneco, sinônimo de enrolação, golpe, hoje incorporada no “maranhês” que se fala por aqui. E só.

Imparcialidade jornalística não existe. Uma notícia sempre será a interpretação de um fato, um ponto de vista sobre determinado fato, nunca o fato em si. O problema é quando a “opinião” emitida por um jornalista não se resume às suas convicções e à interpretação do mesmo sobre determinado fato. Quando entram outros interesses, em geral escusos, no jogo, o que, infelizmente, movimenta a maior parte de nossa mídia, da tevê à blogosfera, passando por rádios e jornais, não sem um grau de irresponsabilidade.

Para ilustrar, lembro um recente episódio “dois em um”: o nome do cantor e compositor Zeca Baleiro foi proposto pela classe artística para assumir a presidência da Fundação Municipal de Cultura de São Luís na gestão de Edivaldo Holanda Jr., antes, é claro, deste assumir a prefeitura. Sabedor da repercussão da campanha sobretudo em redes sociais e do endosso de diversos artistas, Jairzinho não poupou preconceito ao supostamente alertar o então futuro prefeito de que se o mesmo fosse atrás de artistas, “a turma do fumacê”, estes iriam “queimar” o dinheiro do povo, numa clara alusão à tão maranhense diamba (maconha, traduzindo para os poucos mas fieis leitores de fora).

Depois, por isso chamo de episódio dois em um, Jairzinho chegou a afirmar em seu O povo com a palavra, programa que apresentou na TV Guará até falecer, que a gravação de Milhões de uns, disco de estreia de Joãozinho Ribeiro, em show ao vivo no Teatro Arthur Azevedo em novembro passado, seria um ato pró-Zeca Baleiro na Fundação Municipal de Cultura. E mais: que eles e Chico César integravam uma “esquadrilha da fumaça”, que tinham no repertório uma música chamada Mato verde (na verdade é Erva santa, de Joãozinho Ribeiro, já gravada por nomes como Papete e Fauzy Beidoun), e que os três estariam se juntando para exportar a boa maconha do Maranhão.

Este é apenas um pequeno exemplo do jornalismo cometido por Jairzinho, mas infelizmente não apenas por ele, para tentar esclarecer um pouco as coisas num ambiente de falsas lágrimas e elogios baratos.

Jairzinho, requiescat in pace.

Música e poesia em duas noites memoráveis

Joãozinho Ribeiro, "o gregário"
Joãozinho Ribeiro, “o gregário”

ZEMA RIBEIRO

Joãozinho Ribeiro adiou por muito tempo a gravação de seu disco de estreia, que reunirá pequena parte de sua significativa obra, fruto de mais de 30 anos de carreira, contados aqui a partir de sua participação em um festival de música universitária na capital maranhense em que nasceu em 1955.

Ocupou-se de outras missões, não menos nobres, tendo estudado engenharia e economia, sem concluir, formando-se bacharel em Direito. À época do citado festival era liderança ativa nos movimentos da greve da meia passagem e contra a ditadura militar então vigente. Hoje, ajuda a formar novos bacharéis, dividindo com o ofício de professor universitário a existência de também funcionário público e, não menos importante, poeta e compositor.

Não por acaso Do ofício de viver e outros vícios é título de um segundo livro, a ser lançado sabe-se lá quando, que as coisas com Joãozinho não funcionam de modo tão planejado, exceção feita às ocasiões em que foi gestor público. João Batista Ribeiro Filho, seu nome de pia, já foi presidente da Fundação Municipal de Cultura de São Luís e secretário de estado da Cultura do Maranhão, além de ter sido coordenador executivo da II Conferência Nacional de Cultura, função que ocupou no MinC, quando Juca Ferreira era o ministro. Aquele título se somará ao livro-poema Paisagem feita de tempo que ele publicou em 2006, 21 anos depois de concluído.

Milhões de uns, o disco de estreia, toma emprestado o título de sua música talvez mais conhecida, imortalizada na voz de Célia Maria, que venceu o Prêmio Universidade FM há mais de 10 anos. O disco foi gravado ao vivo nos últimos 27 e 28 de novembro, ao vivo, no Teatro Arthur Azevedo, em duas noites memoráveis. Noites de música, poesia, teatro, arte, encanto, beleza, vida, enfim.

Joãozinho Ribeiro entre os parceiros Chico César e Zeca Baleiro
Joãozinho Ribeiro entre os parceiros Chico César e Zeca Baleiro

Milhões de uns não é apenas um título de música. Ou de disco. É a mais perfeita tradução de Joãozinho Ribeiro, o “gregário”, como cravou Chico César, um de seus ilustres convidados, que presenteou o compositor e o público musicando-lhe um poema: Anonimato, que escrevera em homenagem ao vimarense João Situba, seu pai.

Só entre convidados e participações especiais estavam Alê Muniz, Célia Maria, Cesar Teixeira, Coral São João, Chico César, Chico Saldanha, Josias Sobrinho, Lena Machado, Milla Camões, Rosa Reis e Zeca Baleiro, fora o o ator Domingos Tourinho, que apresentou belas intervenções poéticas durante os shows. Fora a superbanda arregimentada por Joãozinho Ribeiro para o par de noites que deixou a plateia pisando em nuvens: Arlindo Carvalho (percussão e direção artística), Celson Mendes (participação especial ao violão), Firmino Campos (vocal), George Gomes (bateria), Hugo Barbosa (trompete), Josemar Ribeiro (percussionista convidado), Kleyjane Diniz (vocal), Luiz Jr. (violão, guitarra, viola, direção musical), Paulo Trabulsi (cavaquinho), Rui Mário (sanfona e teclado), Serginho Carvalho (contrabaixo), Wanderson Santos (percussão), Xororó (percussionista convidado) e Zezé Alves (flauta).

"Cantador que canta só canta mal acompanhado"
“Cantador que canta só canta mal acompanhado”

O público merece esse registro. Joãozinho, apesar de não ter disco gravado até hoje, é um de nossos mais gravados compositores, em vozes alheias. O próprio Joãozinho merecia – e se/nos devia – esse registro, como fez por merecer cada aplauso nestas noites memoráveis.

João foi ao fundo do baú. Ou melhor, do cofo. Milhões de uns botou na roda diversos gêneros musicais – choro, samba, bumba meu boi, tambor de crioula, blues, afoxé – feitos na solidão (nunca, que “cantador que canta só, canta mal acompanhado”, como ele mesmo canta) ou em parceria. Na primeira categoria estão Matraca matreira (interpretada por Chico Saldanha), Pegando fogo (por Rosa Reis), Amália, Erva santa (interpretada pelo autor com Chico César e Zeca Baleiro), Saracuramirá (interpretada pelo autor com Chico César), Saiba, rapaz (interpretada por Célia Maria), Esquina da Solidão (por Cesar Teixeira), Derradeiro trem (por Zeca Baleiro), Palavra (idem), Passamento, Terreiro de ninguém (por Josias Sobrinho) e Milhões de uns (que o autor cantou com o Coral São João). Na segunda, Samba do capiroto (parceria com Cesar Teixeira, que os dois cantaram juntos), Cidade minha (parceria com Marco Cruz, interpretada pelo Coral São João), Gaiola (parceria com Escrete, interpretada por Lena Machado), Rua Grande (parceria com Zezé Alves, idem), Tá chegando a hora (idem, que marcou o encerramento das noites, em que todos os convidados retornavam ao palco para cantá-la juntos) e Coisa de Deus (parceria com Betto Pereira), cuja interpretação arrebatadora de Milla Camões, programada para participar apenas do primeiro dia, fizesse a cantora voltar ao palco na noite seguinte, que protocolos e scripts não podem barrar sentimentos e/ou Joãozinho Ribeiro.

Há material para um cd duplo, no mínimo, e um dvd. A quem não foi, resta esperar. E a quem foi, também, torcer para poder reouvir/rever o quanto antes. Como já disse ao próprio “little John”, apelido carinhoso com que o tratamos alguns íntimos: o resultado não pode demorar (mais ainda) a ganhar estantes, coleções, cd-players, ouvidos, cabeças e corações.

Vias de Fato, dezembro/2012. Leia o texto que escrevi para o programa de Milhões de uns (distribuído aos espectadores por ocasião do espetáculo). Continue Lendo “Música e poesia em duas noites memoráveis”

Poetas Luís Inácio Oliveira e Josoaldo Lima Rêgo autografam novos livros no Chico Discos

POETAS CONTEMPORÂNEOS DE SÃO LUÍS LANÇAM LIVROS PELA 7LETRAS

Noite de autógrafos será realizada no bar Chico Discos

Dois representantes da poesia contemporânea do Maranhão, Josoaldo Lima Rêgo, 33, e Luís Inácio Oliveira, 43, lançam, no dia 22 de novembro (quinta-feira), às 20h, no Chico Discos (Rua de São João, 389C, Centro) os seus respectivos livros Variações do Mar e Forasteiro Rastro, lançados pela 7Letras, a mais importante editora de poesia do Brasil na atualidade.

Os trabalhos vêm movimentar a cena da poesia local e inserir mais valores na tradição poética da cidade. Ambos autores são professores universitários. Josoaldo Lima Rêgo é formado em Geografia e leciona na Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Estudou em São Luís, São Paulo e Coimbra (Portugal). Também professor da UFMA, Luís Inácio Oliveira é formado em Direito e cursa doutorado em Filosofia na Universidade de Campinas (Unicamp).

Pela 7Letras, Josoaldo Rêgo já tinha lançado Paisagens Possíveis em 2010, resultado de um prêmio concedido pela Pró-Reitoria de Cultura da Universidade de São Paulo (USP). Este primeiro trabalho teve o aval do respeitado poeta e tradutor paulista Cláudio Willer. Segundo Josoaldo, Variações do Mar pode ser percebido como uma continuação do anterior, porque nele aparecem muitos temas presentes no primeiro. “É marcado por deslocamentos (viagens), deambulações, mar, rios e cidades”, completa.

Sobre o conceito de mar presente no título, ele explica: “Pensei no mar como algo que representasse ‘intimidade’. Algo que vai de maneira sinuosa perpassando personagens, cidades e acontecimentos diversos. Tem um poema no começo do livro, chamado A Intimidade do Mar, que tem um único verso: “salitre nos ossos”. Sendo de São Luís, penso que o salitre é o nosso DNA”.

Tendo se destacado na geração da poesia maranhense dos anos 1990, quando lançou o seu primeiro livro, Luís Inácio Oliveira reaparece renovado e com a poética ampliada. Ele conta que os poemas de Forasteiro Rastro foram escritos desde o final dos anos 90 até 2010. Sendo assim, o livro é um projeto poético que foi se formando ao longo desse tempo. “É um trabalho que tem a ver com a experiência da viagem e do deslocamento espacial e temporal, com o olhar de estrangeiro, muitas vezes dirigido à minha própria cidade e com os rastros e as marcas deixados por essas experiências”, ressalta.

Em Forasteiro Rastro Luís Inácio enveredou pela primeira vez por poemas em prosa, que possuem logicamente um teor narrativo. “São tentativas de captar imagens reveladoras, como numa espécie de fotografia poética de rua. Por isso, são textos ligados também à experiência de perambular pela cidade (São Luís e outras por onde andei) com esse olhar meio forasteiro e se deixar afetar por coisas pequenas, mas surpreendentes”, conclui. (Release de Eduardo Júlio).

*

AGRESTE

Talvez rasgar as costas
na praia.
Ser pedra sem viagens
fora do lume.

Caminhar como um killer
qualquer.

Agreste entre agrestes,
nada. Só uma fresta aberta
com a palavra.

Josoaldo Lima Rêgo

*

ARREBOL

o que não mata a sede do aguardente
o que afoga dentro da voz da cantora
o violão de 7 cordas
o que naufraga a tempo de virar gesto
e degringola cacos
de vidro assim chamados madrigais
noturnos
o que te espera na próxima esquina
e nem te lembras com alarde
o que se deve à cicatriz de uma palavra
e é alado e ilegível

Luís Inácio Oliveira

*

SERVIÇO

Lançamento dos livros de poemas Variações do Mar, de Josoaldo Lima Rêgo, e Forasteiro Rastro, de Luís Inácio Oliveira.
Quando: Dia 22 (quinta-feira), às 20h.
Local: Chico Discos.
Preço de cada livro: R$ 20,00.
Aberto ao público.

“Prefiro continuar a ser um produtor de cultura que me tornar um gestor”

Baleiro em pose de “alto lá!”

Indagado pelo blogue sobre a campanha “Eu quero Zeca Baleiro Secretário de Cultura de São Luís”, que ganhou alguma repercussão no Facebook, assim manifestou-se o cantor e compositor maranhense, através de sua assessoria. Sábio Zeca!

Ao lado de diversos outros nomes, Baleiro participa nos próximos dias 27 e 28 de novembro, no Teatro Arthur Azevedo, do show Milhões de uns, de Joãozinho Ribeiro, quando este grava ao vivo o primeiro disco de sua carreira.

Que os anjos batuquem no céu para receber Michol literalmente à altura

Na Fonte do Ribeirão Michol fala, ladeada por brincantes de bloco tradicional em foto roubada do facebook de Letícia Cardoso

Um torpedo do amigo Joãozinho Ribeiro, ex-secretário de cultura do Estado do Maranhão, me alcança logo cedo, nem bem havia eu chegado ao trabalho. Dava conta do falecimento de Maria Michol Pinho de Carvalho, com quem tivemos a oportunidade de trabalhar.

Ela, ex-Superintendente de Cultura Popular do Maranhão, dirigente do Centro de Cultura Popular Domingos Vieira Filho, uma das casas de cultura do Maranhão ligadas à secretaria de Estado da Cultura. Era uma pessoa alegre e brincalhona, extremamente séria e zelosa com seus afazeres. Membro da Comissão Maranhense de Folclore, era uma apaixonada pelo que fazia.

Atuou ativamente no processo de inventário dos blocos tradicionais do Maranhão, que busca dar ao segmento status já obtido por outra manifestação cultural legitimamente nossa, o tambor de crioula. O processo está em tramitação no Ministério da Cultura, com as digitais de Michol.

“Melhor chefe que tive na vida! Michol foi essencial para que eu acreditasse em minha profissão, na minha escolha profissional. Além de chefe foi sempre uma incentivadora e, acima de tudo, amiga”, confessa-me Cris Ribeiro, jornalistamiga com quem também trabalhamos. Lembro que, à época em que chefiei a assessoria de comunicação da Secma, tentei “sequestrá-la” para integrar minha equipe. Pela amizade, companheirismo e confiança na saudosa Michol, Cris não deixaria a equipe do CCPDVF, apesar de não ser pequena também nossa amizade, carinho e respeito mútuos.

“Sem dúvidas a morte de Michol Carvalho é uma grande perda para todos os maranhenses, em especial os militantes da área cultural”, manifestou-se por e-mail o presidente da Fundação Municipal de Cultura Euclides Moreira Neto.

Também por e-mail o jornalista Joel Jacintho lamentou a perda: “Tive enorme prazer de trabalhar com Michol no inventário dos blocos tradicionais. Uma pessoa séria, incentivadora, humana e amiga, sem contar que levava a sério tudo o que envolvia a cultura. Com certeza uma grande perda”.

Professora do Departamento de Comunicação da UFMA, Letícia Cardoso criticou a cobertura da mídia local em relação ao falecimento da pesquisadora. “Os textos pobres de informações, quase idênticos (até a foto é a mesma!), não fazem jus à longa trajetória e à profunda dedicação da pesquisadora no campo da cultura popular maranhense. Eu cheguei a acompanhar alguns trabalhos de Michol, ela serviu de fonte para minha pesquisa de mestrado, tive alguns embates teóricos com ela em meu trabalho, mas reconheço que, a seu modo, desenvolveu um papel importantíssimo de luta pela legitimação e (re)conhecimento de diversas expressões culturais populares, como o Divino Espírito Santo, o Bumba meu boi, os rituais de Natal e mais recentemente os blocos carnavalescos. Os repórteres poderiam ter feito pelo menos uma breve pesquisa no currículo de Michol, não custava nada”, protestou em sua conta no Facebook.

Maria Michol faleceu na madrugada desta segunda-feira, em Fortaleza/CE, vítima de parada cardíaca. Tinha 62 anos. Seu corpo será velado na residência do percussionista Arlindo Carvalho, seu irmão, na Rua dos Afogados, Centro de São Luís, em frente à Padaria Santa Maria. Seu corpo está sendo velado na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, na Rua do Egito, Centro de São Luís. O sepultamento será amanhã à tarde, no Cemitério do Gavião, na Madre Deus.

Laborarte, 40 anos

O Laboratório de Expressões Artísticas do Maranhão (Laborarte) completa 40 anos de atividades na próxima quinta-feira, 11 de outubro. Uma intensa programação com diversas expressões artísticas trabalhadas pelo/ em torno da entidade acontecerá na data, a partir das 19h, no casarão 40 da rua Jansen Müller (Centro).

A retórica do ódio na cobertura

POR JAIME AMPARO ALVES*
OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA

Os brasileiros no exterior que acompanham o noticiário brasileiro pela internet têm uma impressão de que o país nunca esteve tão mal. Explodem os casos de corrupção, a crise ronda a economia, a inflação está de volta e o país vive imerso no caos moral. Isso é o que querem nos fazer crer as redações jornalísticas do eixo Rio-São Paulo. Com seus gatekeepers escolhidos a dedo, Folha de S. PauloEstado de S. PauloVeja e O Globo investem pesadamente no caos com duas intenções: inviabilizar o governo da presidenta Dilma Rousseff e destruir a imagem pública do ex-presidente Lula da Silva. Até aí, nada novo. Tanto Lula quanto Dilma sabem que a mídia não lhes dará trégua, embora não tenham – nem terão – a coragem de uma Cristina Kirchner de levar a cabo uma nova legislação que democratize os meios de comunicação e redistribua as verbas governamentais para o setor. Pelo contrário, a Polícia Federal segue perseguindo as rádios comunitárias e os conglomerados de mídia Globo e Abril celebram os recordes de cotas de publicidade governamentais. O PT sofre da síndrome de Estocolmo (aquela em que o sequestrado se apaixona pelo sequestrador) e o exemplo mais emblemático disso é a posição de Marta Suplicy como colunista de um jornal cuja marca tem sido o linchamento e a inviabilização política das duas administrações petistas em São Paulo.

O que chama a atenção na nova onda conservadora é o time de intelectuais e artistas com uma retórica que amedronta. Que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso use a gramática sociológica para confundir os menos atentos já era de se esperar, como é o caso das análises de Demétrio Magnoli, especialista sênior da imprensa em todas as áreas do conhecimento. Nunca alguém assumiu com tanta maestria e com tanta desenvoltura papel tão medíocre quanto Magnoli: especialista em políticas públicas, cotas raciais, sindicalismo, movimentos sociais, comunicação, direitos humanos, política internacional… Demétrio Magnoli é o porta-voz maior do que a direita brasileira tem de pior, ainda que seus artigos não resistam a uma análise crítica.

Jornalismo lombrosiano – Agora, a nova cruzada moral recebe, além dos já conhecidos defensores dos “valores civilizatórios”, nomes como Ferreira Gullar e João Ubaldo Ribeiro. A raiva com que escrevem poderia ser canalizada para causas bem mais nobres se ambos não se deixassem cativar pelo canto da sereia. Eles assumiram a construção midiática do escândalo, e do que chamam de degenerescência moral, como fato. E, porque estão convencidos de que o país está em perigo, de que o ex-presidente Lula é a encarnação do mal, e de que o PT deve ser extinto para que o país sobreviva, reproduzem a retórica dos conglomerados de mídia com uma ingenuidade inconcebível para quem tanto nos inspirou com sua imaginação literária.

Ferreira Gullar e João Ubaldo Ribeiro fazem parte agora daquela intelligentsia nacional que dá legitimidade científica a uma insidiosa prática jornalística que tem na Veja sua maior expressão. Para além das divergências ideológicas com o projeto político do PT – as quais eu também tenho –, o discurso político que emana dos colunistas dos jornalões paulistanos/cariocas impressiona pela brutalidade. Os mais sofisticados sugerem que, a exemplo de Getúlio Vargas, o ex-presidente Lula se suicide; os menos cínicos celebraram o “câncer” como a única forma de imobilizá-lo. Os leitores de tais jornais, claro, celebram seus argumentos com comentários irreproduzíveis aqui.

Quais os limites da retórica de ódio contra o ex-presidente metalúrgico? Seria o ódio contra o seu papel político, a sua condição nordestina, o lugar que ocupa no imaginário das elites? Como figuras públicas tão preparadas para a leitura social do mundo se juntam ao coro de um discurso tão cruel e tão covarde já fartamente reproduzido pelos colunistas de sempre? Se a morte biológica do inimigo político já é celebrada abertamente – e a morte simbólica ritualizada cotidianamente nos discursos desumanizadores – estaríamos inaugurando uma nova etapa no jornalismo lombrosiano?

O espetáculo da punição – Para além da nossa condenação aos crimes cometidos por dirigentes dos partidos políticos na era Lula, os textos de Demétrio Magnoli, Marco Antonio Villa, Ricardo Noblat, Merval Pereira, Dora Kramer, Reinaldo Azevedo, Augusto Nunes, Eliane Cantanhêde, além dos que agora se somam a eles, são fontes preciosas para as futuras gerações de jornalistas e estudiosos da comunicação entenderem o que Perseu Abramo chamou apropriadamente de “padrões de manipulação” na mídia brasileira. Seus textos serão utilizados nas disciplinas de deontologia jornalística não apenas como exemplos concretos da falência ética do jornalismo tal qual entendíamos até aqui, mas também como sintoma dos novos desafios para uma profissão cada vez mais dominada por uma economia da moralidade que confere legitimidade a práticas corporativas inquisitoriais vendidas como de interesse público.

O chamado “mensalão” tem recebido a projeção de uma bomba de Hiroshima não porque os barões da mídia e os seus gatekeepers estejam ultrajados em sua sensibilidade humana. Bobagem. Tamanha diligência não se viu em relação à série de assaltos à nação empreendida no governo do presidente sociólogo. A verdade é que o “mensalão” surge como a oportunidade histórica para que se faça o que a oposição – que nas palavras de um dos colunistas da Veja “se recusa a fazer o seu papel” – não conseguiu até aqui: destruir a biografia do presidente metalúrgico, inviabilizar o governo da presidenta Dilma Rousseff e reconduzir o projeto da elite “sudestina” ao Palácio do Planalto.

Minha esperança ingênua e utópica é que o Partido dos Trabalhadores aprenda a lição e leve adiante as propostas de refundação do país abandonadas como acordo tácito para uma trégua da mídia. Não haverá trégua, ainda que a nova ministra da Cultura se sinta tentada a corroborar com o lobby da Folha de S.Paulo pela lei dos direitos autorais, ou que o governo Dilma continue derramando milhões de reais nos cofres das organizações Globo e Abril via publicidade oficial. Não é o PT, o Congresso Nacional ou o governo federal que estão nas mãos da mídia. Somos todos reféns da meia dúzia de jornais que definem o que é notícia, as práticas de corrupção que merecem ser condenadas e, incrivelmente, quais e como devem ser julgadas pela mais alta corte de Justiça do país. Na última sessão do julgamento da Ação Penal 470, por exemplo, um furioso ministro-relator exigia a distribuição antecipada do voto do ministro-revisor para agilizar o trabalho da imprensa (!). O STF se transformou na nova arena midiática onde o enredo jornalístico do espetáculo da punição exemplar vai sendo sancionado.

Coragem de enfrentar o monstro – Depois de cinco anos morando fora do país, estou menos convencido por que diabos tenho um diploma de jornalismo em minhas mãos. Por outro lado, estou mais convencido de que estou melhor informado sobre o Brasil assistindo à imprensa internacional. Foi pelas agências de notícias internacionais que informei aos meus amigos no Brasil de que a política externa do ex-presidente metalúrgico se transformou em tema padrão na cobertura jornalística por aqui. Informei-os que o protagonismo político do Brasil na mediação de um acordo nuclear entre Irã e Turquia recebeu atenção muito mais generosa da mídia estadunidense, ainda que boicotado na mídia nacional. Informei-os que acompanhei daqui o presidente analfabeto receber o título de doutor honoris causa em instituições europeias e avisei-os que por causa da política soberana do governo do presidente metalúrgico, ser brasileiro no exterior passou a ter uma outra conotação. O Brasil finalmente recebeu um status de respeitabilidade e o presidente nordestino projetou para o mundo nossa estratégia de uma América Latina soberana.

Meus amigos no Brasil são privados do direito à informação e continuarão a ser porque nem o governo federal nem o Congresso Nacional estão dispostos a pagar o preço por uma “reforma” em área tão estratégica e tão fundamental para o exercício da cidadania. Com 70% de aprovação popular e com os movimentos sociais nas ruas, Lula da Silva não teve coragem de enfrentar o monstro e agora paga caro por sua covardia. Terá Dilma coragem com aprovação semelhante, ou nossa meia dúzia de Murdochs seguirão intocáveis sob o manto da liberdade de e(i)mpre(n)sa?

*Jaime Amparo Alves é jornalista e doutor em Antropologia Social, Universidade do Texas, Austin

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Cheguei a este texto via Ademir Assunção.

Brevíssimo panorama cultural da capital no período eleitoral

Já não há circo, mas os palhaços continuam por aí…

São Luís é uma Ilha. Não sai do lugar. No entanto, parece andar em círculos. Como se quisesse evitar que a cabeça da serpente lhe toque o rabo. Autoridades anunciam e iniciam obras como se estas fossem, num passe de mágica, melhorar a vida da população, tudo a toque de caixa – e não falo aqui do Divino ou do cacuriá –, sem a participação popular. O povo só participa na hora do voto, e olhe lá!

O mais novo anúncio é o de construção de um veículo leve sobre trilhos, que deverá resolver – ou amenizar – os problemas do trânsito, carregando passageiros do São Cristóvão até o Centro da cidade, ao menos em uma etapa inicial. Resolver, ou ao menos tentar, o problema do trânsito, nada mal. O problema é começar justamente desalojando um palco privilegiado, referência na cena cultural ludovicense.

O Circo Cultural Nelson Brito, popularmente conhecido por Circo da Cidade, deixará o Aterro do Bacanga para dar lugar a uma estação do VLT. Futuramente o equipamento cultural será reinstalado na área entre o antigo Espaço Cultural e a Praça Maria Aragão, nas imediações da Avenida Beira Mar. Se o Brasil é mesmo o país da piada pronta, conforme achincalha o colunista, que dizer destas plagas? Resolver um problema de trânsito criando outro, já que grande parte das vagas de estacionamento que passarão a servir os três espaços será ocupada pelo último. Isto é, quando hastearem a lona do Circo, sem data de previsão.

Os contentes dirão que choro de barriga cheia, que a municipalidade pode “matar” o Circo, afinal de contas “ressuscitou” o Cine Roxy, agora Cine Teatro Cidade de São Luís. Falta algo ao “milagre”: um equipamento cultural sem programação, uso e circulação de pessoas nada mais é que um prédio. E isso o Roxy já era antes de adquirido e reformado pela Prefeitura da capital maranhense.

São Luís carece de palcos, formação e sensibilização de plateias para uma cena que tem se virado para fazer (e) acontecer, quase completamente sem apoio dos poderes públicos e da iniciativa privada.

Atualmente dois bons exemplos têm movimentado esta cena. O primeiro, o BR-135, capitaneado por Alê Muniz e Luciana Simões, o duo Criolina, espaço que tem mostrado o que há de novo em música e mais, integrado artistas de diversos gêneros e expressões (música, poesia, teatro, artes plásticas etc.). O segundo, o Papoético, debate-papo semanal articulado pelo jornalista e poeta Paulo Melo Sousa, que tem botado na roda os mais variados temas relacionados à arte e cultura, além de produzir shows e realizar festivais – depois de realizado um de poesia, um concurso de fotopoesia que tem como tema o Centro Histórico de São Luís está com edital aberto.

Não são os únicos acontecimentos, mas suas feituras, na raça, na cara e na coragem, merecem destaque pelo alcance e repercussão, por mostrar que é possível fazer algo se movendo pela simples vontade de ver esse algo acontecendo, de dar a cara para bater, mostrando que isso é melhor que ficar pelos cantos se lamuriando ou pelas repartições correndo o pires em busca de migalhas.

A estas iniciativas é preciso que se somem outras. Estas e outras carecem do incentivo do Estado e da iniciativa privada, em relações republicanas e transparentes e não na manutenção do clientelismo e da obscura política de favores.

A cultura precisa ser cada vez mais entendida como um importante elemento de desenvolvimento, gerador de emprego e renda. Em época de campanha eleitoral precisa ser mais debatida – mas não apenas nesse período. No controverso aniversário de 400 anos de São Luís é preciso potencializar a vocação cultural de nossa capital. E isto não se faz passando trilhos por sobre uma casa de espetáculos.

*

Textinho que escrevi a pedido, às pressas, em julho passado, um pouco antes da reunião da SBPC em São Luís. Deveria ter integrado uma revista do Observatório Cultural da UFMA (não tenho certeza se é este o nome). A revista não saiu (ou saiu e eu não vi?), então resolvi pendurá-lo aqui. Já passaram os shows pelos 400 anos de São Luís. Logo, logo, passadas as eleições, o VLT vira uma realidade ou não. O tapume e a placa do “novo” Circo Cultural Nelson Brito já estão dispostos ao lado do Espaço Cultural, onde o mesmo será (?) instalado. O cirquinho vai ficar espremidinho, grande por aqui só mesmo a palhaçada.

O VLT e o abuso de poder político

A ser verdade o que escreve Gilberto Léda em VLT já está na cidade, post de hoje em seu blogue, temos aí o anúncio para breve de abuso de poder político pelo prefeito João Castelo (PSDB), candidato à reeleição.

“Pelo que contam fontes da Prefeitura, a ideia é deixá-lo operando no pequeno trecho entre o terminal [de Integração da Praia Grande] e o Mercado do Peixe até as eleições. Pelo menos 200 mil pessoas, que pegam ônibus na área todos os dias, verão o VLT diariamente”, escreve o blogueiro.

O tucano transformará o curto trecho em uma imensa vitrine, numa descabida propaganda eleitoral. Quem conhece sabe que os poucos metros que separam um de outro podem ser feitos rapidamente, a pé. De que serve o VLT operando ali, a não ser para tentar garantir uns votos a mais para João Castelo?

A “carreata” de que fala o blogueiro, quando da chegada de dois vagões (embora se fale em VLT são apenas dois vagões!), também deveria ser investigada pelos órgãos de controle que devem coibir o abuso de poder político e econômico nas campanhas eleitorais.

O prefeito anuncia a conclusão de 5 km da linha do VLT (do Terminal de Integração da Praia Grande até o Coroadinho) até dezembro. Resta saber se ele mantém a palavra caso não obtenha o resultado que espera nas urnas. A obra já começou da pior maneira possível, com o VLT atropelando a Cultura: o Circo Cultural Nelson Brito (Circo da Cidade) foi fechado, devendo ser transferido para ao lado do Espaço Cultural.

Faça sua festa no Ceprama. Ligue já para o Governo do Estado e faça sua reserva!

(OU: A MORTE DO CEPRAMA DEPRIME)

Ontem eu fui ao Ceprama. Por conta de uma demanda da Cáritas, uma das entidades a que presto assessoria. Dei bom dia a um homem na porta e entrei. Assustei-me ao ver o enorme salão vazio. Quer dizer, cheio de vigas, ou coisa que o valha, uma reforma em andamento, vi rápido, entre o susto e aquele embaço nas vistas, sempre ocorrido quando adentramos um ambiente fechado imediatamente após deixarmos o sol a pino.

Onde estavam os artesãos e suas obras de arte? Quedê azulejos, chaveiros, camisas, boizinhos, bijuterias, souvenires que tanto alegram os turistas que passam por aqui ou os parentes e amigos presenteados lá fora? Nada. As perguntas, inicialmente feitas de mim para mim, incrédulo, repeti ao homem que havia cumprimentado na entrada. “Eles estão lá no… como é o nome?”, começou a responder, perguntando a um terceiro. “Do quê?” “Do negócio que eles [os artesãos e as artesãs] ‘tão… ali na Beira Mar…”, continuou a perguntar, ao que chutei, certeiro: “Casa do Maranhão?”, “Isso!”. Agradeci e me dirigi ao carro, voltando do meio do caminho.

“Deixa eu te perturbar de novo. Faz quanto tempo?” “Uns quatro meses.” “E aqui, vai ser o quê?” “Uma casa de eventos, o Governo vai arrendar.”

Quatro meses! Ok, eu não leio jornais como deveria, às vezes o faço por mero dever de ofício, dada a qualidade de nossa mídia em geral. Mas essa minha ida por acaso ao Ceprama foi a primeira vez que ouvi falar na remoção dos artesãos dali para a Casa do Maranhão. Ok, o Ceprama não era lá um local que eu frequente habitualmente, mas acredito que essa notícia, nada nova, vá pegar de surpresa alguns dos poucos mas fieis leitores deste blogue.

Por conta da demanda da Cáritas, fui, em seguida, à Casa do Maranhão: superapertada com os artesãos instalados ali. “Como vocês vieram parar aqui?”, perguntei a um homem em um dos stands. “O pessoal do governo chegou lá e disse que a gente vinha pra cá.” “Só isso? Sem discussão, sem nada?” “Só, a gente tem que vir, não tem outro lugar, né?”, respondeu ele num tom conformado sem convencer sequer a si mesmo.

Resta saber como serão regidos e geridos (digeridos nunca!) os arrendamentos futuros do agora ex-Ceprama. Seguirão os princípios constitucionais da administração pública, da legalidade, impessoalidade, interesse público e transparência, entre outros? Ou será apenas palco privilegiado de barricas, marafolias e maracutaias?