Documentário de Eduardo Mocarzel, Quebradeiras será exibido na sessão desta quarta-feira (11) do Cineclube Laborarte, às 18h30min, grátis, no Laborarte (Rua Jansen Müller, 42, Centro). “É um documentário etno-poético que focaliza as tradições seculares, as estratégias de sobrevivência e a rica cultura das quebradeiras de coco de babaçu da região do Bico do Papagaio, onde os estados do Maranhão, Tocantins e Pará se encontram”, diz a sinopse que recebi dum amanuense laborarteano, trailer abaixo:
Galo Preto no Cineclube Laborarte
Sinopse (que recebi por e-mail do Laborarte): “O filme/documentário, Galo
Preto, o Menestrel do Coco, 46min., do cineasta e roteirista Wilson Freire, conta a história do senhor Tomaz Aquino Leão, Mestre Galo Preto, que é o último representante vivo e ativo da tradição do coco do Quilombo de Rainha Isabel e da tradição de sua família. Com roteiro e pesquisa surpreendentes, cheio de surpresas e informações preciosas, que remontam à história do ritmo musical conhecido como coco e da música popular no país, trazendo à luz, personagens incríveis de seu convívio, este documento audiovisual torna-se uma peça indispensável para o avanço do reconhecimento dos grandes mestres negros e índios das culturas tradicionais. Além de ser um elemento que garante a preservação da memória deste singular artista que fez do coco e da embolada, enfim, da música, sua vida. Aos 75 anos de idade, o Mestre Galo Preto, continua ativo e criativo, dando à cultura que pertence, a perspectiva de continuidade e, é acima de tudo, um patrimônio de todos os brasileiros, merecendo este reconhecimento.”
A sessão é gratuita e acontece hoje (4), às 18h30min no Laborarte (Rua Jansen Müller, 42, Centro).
Cinema grátis e de qualidade
O cineasta Beto Matuck conversou rapidamente com este blogue sobre o Encontro com Cinema, que ele promove aos sábados, no Chico Discos
Há cerca de um mês outra atividade semanal começou a tomar conta do espaço do Chico Discos. Às quintas-feiras, desde novembro de 2010, sob coordenação do poeta e jornalista Paulo Melo Sousa, o Papoético tem realizado debates sobre os mais variados temas ligados à arte e cultura; desde o início deste março que finda amanhã, o cineasta Beto Matuck tem promovido o Encontro com Cinema, sempre aos sábados, às 19h.
Ambos os eventos têm entrada franca e mostram, por um lado, a carência ludovicense por estes acontecimentos, e por outro o fazer na raça de pessoas que, por quererem ver as coisas acontecendo, não esperam bons ventos: promovem, com chuva, sol ou lua, sem grana (por vezes tirando do próprio bolso – sem contar “no da cachaça”, que já sai quase naturalmente), sem esperar pelo apoio do poder público e/ou iniciativa privada.
“A gente faz as coisas do jeito que pode. É da doação de um aqui, de outro acolá. O Beto [Matuck], por exemplo, doou este telão”, Paulo Melo Sousa aponta o espaço de projeção do bar, usado aos sábados e, vez por outra, às quintas. Paulão, como é conhecido, e Chiquinho, proprietário do bar, lançaram, também na raça, o I Festival de Poesia do Papoético – Prêmio Maranhão Sobrinho, que distribuirá prêmios em dinheiro e literatura a novos poetas, daqui e/ou de fora.
Neste sábado (31), o Encontro com Cinema exibirá O espelho [Zerkalo, Rússia, 1975. Drama, 101min.], de Andrei Tarkovski, cuja sinopse resume: “Um homem em seus últimos dias de vida relembra o passado. Entre as memórias pessoais da infância e adolescência, da mãe, da Segunda Guerra Mundial e de um doloroso divórcio, estão também momentos que contam a história da Rússia numa mistura de flashbacks, tomadas históricas e poesia original”. O diretor usa poemas de seu pai, Arseni Tarkovski, no fechamento das cenas.
Autor do documentário Mané Rabo, que retrata a vida de um cantador do boi de costa de mão de Cururupu, Beto Matuck respondeu as perguntas abaixo, que lhe foram enviadas por e-mail.
![Rotas das Ilhas [http://www.rotasdasilhas.blogspot.com.br]. Reprodução](https://zemaribeiro.com/wp-content/uploads/2012/03/documentando.jpg?w=527&h=367)
BETO MATUCK – Não se trata de um cineclube. A ideia surgiu da necessidade de podermos assistir e discutir cinema e outras artes de maneira descontraída. Além de realizar filmes, eu sempre tive muito interesse pela exibição. Chico, o proprietário do espaço, como todos os amigos sabem, é um apaixonado por cinema e abriu o seu espaço para as nossas ideias.
A seleção dos filmes é tua? Está aberta a sugestões? A programação dos filmes é de minha responsabilidade, foi feita uma lista para o ano todo, mas nada impede de exibirmos contribuições de amigos, considerando a importância estética dos filmes.
Quem assume as pick-ups e faz rolar a música do mundo após as sessões? O som é responsabilidade do [poeta e jornalista] Eduardo Júlio, que faz uma pesquisa e apresenta música fora do circuito comercial – música do mundo. Não queremos personificar o encontro, queremos juntar forças para que muito mais aconteça em São Luís, tão carente de cultura mundial.
A coisa acontece nos moldes do Papoético, isto é, há debates sobre os filmes exibidos, ou a proposta é outra? Não há debates após as exibições, é filme e muita conversa enriquecedora.
Pai Euclides em Salvador
Docs lançam olhares sobre cultura popular do Maranhão
Serão lançados hoje, na Casa de Nhozinho, os documentários Mané Rabo, de Beto Matuck, e Reisado Careta Encanto da Terra, de Paloma Sá
Com 25 minutos de duração, o documentário Mané Rabo, do produtor e cineasta Beto Matuck, mostra passagens da vida do mestre de Boi de Costa de Mão, já falecido, que viveu em Cururupu, no litoral norte do Maranhão. O trabalho tem o patrocínio de Microprojetos da Amazônia Legal (Fundação Nacional de Arte – Funarte) e da Secretaria de Estado de Cultura (Secma).
Matuck viveu parte da sua carreira profissional em São Paulo e atualmente mora em São Luís desenvolvendo projetos de documentários artísticos e educacionais. Lá, fez trabalhos como produtor e diretor na área educacional, juntamente com o cineasta Joel Yamaji, e criou os Núcleos de Produção Cinematográfica do SENAC-SP e as Oficinas Culturais do Governo de São Paulo.
Dirigido por Paloma Sá, Reisado Careta Encanto da Terra registra saberes tradicionais de uma comunidade localizada no bairro Campos de Belém, em Caxias/MA, em especial o Reisado Careta. O documentário tem apoio da Secretaria de Cultura e Turismo de Caxias.
A diretora é mestre em Antropologia pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), professora da rede pública estadual e pesquisadora das culturas populares brasileiras.
Durante o lançamento dos docs, que tem início às 19h30min, haverá uma apresentação do Grupo Reisado Encanto da Terra, de Caxias. A entrada é gratuita.
As informações são da assessoria do evento.
Curta Sampaio!
Quem acompanha este blogue sabe o quanto sou fã de Sérgio Sampaio.
Nem preciso dizer nada. A não ser agradecer a Ademir Assunção, que já disse.
Péla na tela
Cineasta, professor universitário e fotógrafo, Murilo Santos está hoje em Rosário, mais precisamente no povoado São Simão, palco original da dança do lelê, também conhecida como péla-porco. Hoje (7) à noite, durante os festejos de Nossa Senhora da Conceição, ele exibe um documentário que realizou ainda na década de 1970 sobre a citada manifestação cultural.
Às próprias custas s. a., como diria Itamar Assumpção, Murilo Santos tem feito um trabalho importante de devolução de suas obras (filmes e fotografias) às comunidades que lhe serviram de cenário. Exemplo recente é A festa de Santa Tereza, exibido em Itamatatiua, comunidade alcantarense que lhe serve de palco (à festa e ao filme, que teve trechos usados em No fiel da balança, de Francisco Colombo).

O doc, de 1976, integrou a pesquisa A dança do lelê na cidade de Rosário, no Maranhão, projeto coordenado pelo antropólogo Sérgio Ferretti. Junto dele, também participaram dos trabalhos a pesquisadora Joila Moraes e o poeta Valdelino Cécio, à época do Departamento de Assuntos Culturais da Fundação Cultural do Maranhão.
Em algumas viagens ao povoado rosariense, a pesquisa foi acompanhada pelo folclorista Domingos Vieira Filho, então presidente da Fundação Cultural do Maranhão – em algumas fotos, ele aparece realizando pesquisa de campo. Os resultados do importante trabalho viraram livro em 1977, com fotografias de Murilo Santos – ele era fotógrafo da trupe e aproveitou as ocasiões para filmar, por conta própria. No ano seguinte a Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro, da Fundação Nacional de Arte (Funarte) do Ministério da Educação e Cultura (MEC), realizou uma nova publicação da pesquisa, na série Cadernos de Folclore, nº. 22.
No filme, um curta-metragem de 12 minutos, rodado em película 16mm, Domingos Vieira Filho aparece rapidamente – é sua única imagem filmada.
Nesta sexta-feira (9), às 19h30min, Murilo Santos exibe este documentário e, após, (de)bate papo com os presentes ao Papoético, evento semanal capitaneado pelo poeta e jornalista Paulo Melo Sousa, o Paulão, que já conta um ano de atividades ininterruptas.
O Papoético acontece no Chico Discos (Rua 13 de Maio, 389, esquina com Rua dos Afogados, sobre o Banco Bonsucesso). A entrada é gratuita.
Quero muito ver!
Soube desse filme há tempos. Alguém dá uma pista?
Deu bode no Papoético
Acima, primeira parte (de cinco, todas disponíveis no YouTube) do documentário Bode rei, cabra rainha [Brasil, 2008, 52min.], de Helena Tassara. O filme será exibido e debatido no Papoético de amanhã (24), às 19h30min, no Chico Discos (Rua de São João, 389, esquina com Afogados, sobre o banco Bonsucesso), com a presença da cineasta.
Conforme e-mail de Paulo Melo Sousa, vulgo Paulão, organizador e coordenador da tertúlia, o doc “prioriza como personagens o bode e a cabra, e inclui a fala de criadores, artistas populares, comerciantes e outras figuras cuja vida está profundamente ligada a esses animais, como o escritor Ariano Suassuna e Manelito Dantas, com participação de Zeca Baleiro, dentre outros artistas, na leitura e interpretação de textos. A música original é de Fabio Tagliaferri e Paulo Tatit”.
“A proposta da diretora, Helena Tassara, foi a de realizar um documentário divertido e rico, pontuado por histórias reais ou imaginárias, para ilustrar a essência da personalidade de seus protagonistas e a sua relação com os homens e mulheres nordestinos”, ainda segundo o e-mail.
Bode rei, cabra rainha, uma co-produção Fundação Padre Anchieta/ TV Cultura e Sesc TV, com produção da Cinematográfica Superfilmes, foi um dos vencedores do concurso Doc TV – Janela Brasil 2007 e já abocanhou diversos outros prêmios: melhor média metragem na 32ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (2008); melhor longa/média de temática nordestina na 36ª. Jornada Internacional de Cinema da Bahia (2009, Prêmio Especial do Banco do Nordeste); Troféu Nêgo Chico para o melhor filme/vídeo do 12º. Concurso Refestança concedido pelo Centro de Cultura Popular Domingos Vieira Filho da Superintendência de Cultura Popular da Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão no 32º. Festival Guarnicê de Cinema e Vídeo (2009); menção honrosa para melhor filme de média metragem no 11º. Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (FICA) de Goiás (2009); melhor filme, melhor documentário e melhor trilha sonora no III Festival de Vídeo e Cinema Rural de Piratuba/SC (2011).
O Papoético tem entrada franca e é o único lugar em São Luís (fora sua própria casa) em que se podem ver filmes tomando cerveja. Faltou só uma carninha de bode de tira-gosto…
Murilo Santos no Papoético

Fotógrafo, cineasta e professor, Murilo Santos (foto) é o convidado de hoje (20) do Papoético, que acontece a partir das 19h30min no Chico Discos (esquina das ruas Treze de Maio e Afogados, entrada pela primeira, sobre o banco Bonsucesso), de graça.
Sob mediação do poeta Paulo Melo Sousa, vulgo Paulão, Murilo conversará com o público presente sobre seus ofícios e exibirá o documentário francês Le bonheur est là-bas, en face, de Jean-Pierre Beaurenaut, cujo estilo influenciou o trabalho do maranhense.
O doc foi filmado no Maranhão (na capital São Luís e na comunidade quilombola de Ariquipá, Bequimão), na década de 70, e discute temas como comunidades quilombolas, migrações, cidade e urbanização, entre outros.
Doc didático reconta história do rock brasileiro, ainda que de forma superficial
Rock brasileiro – História em imagens [documentário, Brasil, 2009, 70min., direção: Bernardo Palmeiro], exibido ontem (9) no Maranhão na Tela, traça um panorama da cena rock no Brasil desde o seu início até os dias atuais. Do nascimento, entre a Jovem Guarda e a Tropicália, com Roberto e Erasmo Carlos, Gilberto Gil e Os Mutantes, passando por Novos Baianos e Raul Seixas – talvez o nome mais importante do gênero no Brasil até aqui –, até a falta de rebeldia e excesso de emotividade de nomes contemporâneos como Fresno e NX Zero.
É um filme linear e extremamente didático, perfeito para iniciantes no assunto – o filme foi feito para uso em escolas, fico sabendo depois da sessão. A montagem tem seus defeitos, com excesso de branco nos cortes e “colagens” das imagens anunciadas no título – fala-se, por exemplo, em Secos & Molhados, e fotos de Ney Matogrosso, João Ricardo e Gerson Conrad, integrantes do revolucionário conjunto, sobrepõem-se umas às outras, tentando em vão uma unidade. Incomodam também as capas de discos de Raul Seixas passando em frente ao depoimento de Charles Gavin (ex-baterista de Ira! e Titãs, responsável pelo relançamento em cd de discos fundamentais da música brasileira, hoje apresentador de programas sobre música no Canal Brasil).
Outro defeito pode ter sido justo a falta de recorte: impossível cumprir a promessa do título em pouco mais de uma hora de filme. O assunto dá muito pano pra manga e nomes importantes são esquecidos ou subestimados. Tim Maia, por exemplo, tem sua importância para o rock nacional, seja ao ensinar Roberto e Erasmo a tocar violão, seja ao influenciar Os Mutantes – “Qualquer semelhança com Tim Maia é mera coincidência”, nos avisam Rita e os irmãos Baptista no encarte do Jardim Elétrico (1971) –; Chico Science parece ser apenas mais um, surgido nos anos 1990. Não é. Francisco Ciência – como o chamaria um radical Ariano Suassuna – é o responsável pelo último movimento da música brasileira, o manguebeat, uma personalidade importantíssima no panorama da música brasileira recente.
Pitty, num depoimento que soa meio arrogante, diz algo como “não é por eu ser baiana que eu tenho que colocar um berimbau no rock”, referindo-se ao hibridismo que muitos tentaram, sem sucesso – ou com sucesso e sem qualidade. Acerta a moça ao dizer que na Nação Zumbi isso soa(va) natural, sem forçar a barra – eu acrescentaria aí o mundo livre s/a, para ficar apenas em mais um nome do movimento pernambucano. Lobão e Lulu Santos, gostemos ou não, são outros dois nomes simplesmente “esquecidos”. Vivas à lembrança de Júlio Barroso e sua Gang 90.
Embora o filme não traga imagens raras não deixa de ser pelo menos engraçado analisar o figurino de astros como Cazuza – com uma calça coladíssima num Rock in Rio – e/ou as bermudas e camisas coloridas d’Os Paralamas do Sucesso – noutro. Ou no mesmo. Ou num Hollywood Rock, sei lá.
Embora reconheçamos as dificuldades para se conseguir falar com determinados artistas, a voz em off do narrador é recurso que poderia facilmente ser dispensado com mais depoimentos. Os de Liminha são um capítulo à parte: tendo tocado com Os Mutantes, produziu discos d’Os Paralamas do Sucesso, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Nação Zumbi, entre outros. Ele, quase a própria história do rock brasileiro.
Malditos cartunistas, benditos Daniéis
Era de se esperar que boa parte da plateia (pequena) passasse quase todo o filme gargalhando. Malditos cartunistas [documentário, Brasil, 2010, 93min., direção: Daniel Garcia e Daniel Paiva], exibido anteontem (7) no Teatro Alcione Nazaré (Maranhão na Tela), conta com depoimentos importantes de cartunistas, chargistas, quadrinhistas, desenhistas, tiristas – “existe isso?”, um deles se pergunta –, ou tudo isso ao mesmo tempo. Ou, antes de tudo isso, simplesmente humoristas.
De Jaguar e Ziraldo (O Pasquim) a Ota (Mad), passando por Angeli (Chiclete com Banana), Adão Iturrusgarai (Aline), Allan Sieber (Vida de estagiário), Glauco (Abobrinhas da Brasilônia) em sua última entrevista (foi assassinado em março do ano passado junto ao filho Raoni; a eles o filme é dedicado), Laerte (Piratas do Tietê), André Dahmer (Malvados), Lourenço Mutarelli (creditado como o desenhista que abandonou os quadrinhos para se dedicar à literatura), Chiquinha (única mulher do grupo) e Maurício de Souza (Turma da Mônica), entre outros.
O pai de Cascão, Cebolinha e Magali, aliás, destoa dos demais da turma, por ter sido o primeiro a assumir um padrão industrial de produção: muitas das histórias de Maurício de Souza – para não dizer quase todas – hoje são criadas por profissionais contratados por seu estúdio, que há muito já nem se dedica mais exclusivamente aos gibis. Mas disso já sabíamos, antes mesmo de assistir o documentário. O que não tira o brilho do filme. Nem a importância do desenhista.
A maldição dos cartunistas sugerida pelo título é relativa: com Chiclete com Banana Angeli chegou a vender quase 200 mil exemplares da revista em bancas nos anos 1980 e hoje publica tiras na Folha de S. Paulo, como outros noutros jornais; Ziraldo é apresentador de tevê e teve diversos personagens seus levados à telinha (O menino maluquinho, Pererê), Reinaldo era Ótima Bernardes (entre outros personagens) no global Casseta & Planeta Urgente!, vários deles têm sistematicamente sido (re-)publicados em edições de bolso pela L&PM e vários etc.
Os depoimentos de Malditos cartunistas são hilários, constantes a auto-tiração de sarro, a auto-ironia, o rir da própria desgraça (antes de desenhar a própria e/ou a alheia). Os olhares sempre bem humorados acerca de diversas temáticas: a profissão em si, cultura, humor, política, poder, dinheiro, sexo, machismo, censura (engana-se quem pensa que acabou com o fim da ditadura)…
Mutarelli é o mais engraçado, mesmo que não quisesse. Confessa chutar “manicure” quando indagado sobre sua profissão ao preencher fichas em hotéis; e diz que convidado para um evento como cartunista “me pagaram 300 paus; pouco depois, fui como escritor, recebi um pau e 600”; o mais careta, sem graça e, por que não?, sério é Maurício de Souza, em uma imponente “mesa de chefe” – antes, a câmera passeia por seus estúdios, com uma funcionária explicando o passo-a-passo da feitura da Turma da Mônica até os gibis chegarem às mãos de seus filhos. Sobre os cenários, aliás, vale destacar: prestem bem atenção neles e nos trajes de nossas personalidades. Estantes, pilhas de livros, mesas e pranchetas de trabalho, computadores, lixo e camisas com motivos animados nos ajudam a entender um pouco melhor o universo dessas figuras.
São vários “humoristas” falando sobre as mesmas coisas, depoimentos em sequência, um aceso na bagana do outro, mas não acerta quem pensa em cansaço, enfado ou sono durante a sessão – isso seria como acreditar que “quadrinhos são coisa de criança”. O doc mostra (explicitamente) que não.
Se nem os próprios cartunistas se levam tão a sério, imagine a sociedade em geral: quadrinhos ou são “coisa de criança” ou são apenas para serem vistos e lidos, uma risada rápida e acabou. Ledo engano. Muitas vezes um cartoon, uma charge, uma tira, nos fazem compreender melhor determinada situação, apesar de uma página ou mais, com matéria(s) sobre o assunto, no mesmo jornal. É a tradução risonha do “uma imagem vale mais que mil palavras” – se vier com legenda ou balões, então…
Levando a sério quem ri e tira sarro de si mesmo o tempo todo durante as entrevistas, Malditos cartunistas joga luz em personalidades importantes, quase sempre marginalizadas, em geral rotuladas de produtores de “sub-cultura” ou coisa que o valha. A estrutura do filme em si é simples: depoimentos, depoimentos e mais depoimentos, no melhor esquema “faça você mesmo”. Certamente muito material ficou de fora e as figuraças que desfilam pela tela bem poderiam falar mais e mais e mais. O filme não angariou recursos públicos – é dos raros em que não vemos as logomarcas de sempre no início da projeção – e deve ter saído barato. Entre aspas: seus realizadores também desenham e, fãs do elenco, o que deve ter facilitado um pouco as coisas, pagaram tudo do próprio bolso, às próprias custas s. a., mestre Itamar.
O doc resgata até mesmo um fato ocorrido em Porto Alegre, quando a prefeitura financiou uma revista de funcionários da municipalidade. Anos depois a cena é engraçada, um apresentador de tevê rotulando os editores de pornógrafos, defendendo a moral e os bons costumes, os “réus” nervosos, defendendo seu ponto de vista. Adão respondeu a processo durante anos pelo episódio. E a Prefeitura Municipal da capital gaúcha desde então não mais financiou a produção/publicação de quadrinhos.
Ainda durante a sessão impossível não lembrar de filmes, digamos, correlatos: Wood & Stock e Dossiê Rê Bordosa, baseados em personagens de Angeli. Bom seria um doc para cada um dos malditos entrevistados. Oxalá!
Deixo os poucos-mas-fieis leitores com o trailer do documentário.
A quem interessar possa, haverá outra sessão de Malditos cartunistas no Maranhão na Tela (programação completa aqui; chegar com meia hora de antecedência para retirada de ingressos, gratuitos, na bilheteria): dia 15 (quinta-feira), às 21h, no Cine Praia Grande.
A foto na foto
Em homenagem ao Dia Mundial da Fotografia, celebrado ontem
Aperreio em mais um festival
Doc de Doty Luz e Humberto Capucci realizado por encomenda do Comitê de Monitoramento das Políticas Voltadas às Vítimas das Enchentes no Maranhão, formado por diversas organizações de direitos humanos do estado, Aperreio cumpriu as expectativas de denunciar as mazelas causadas pelas águas, “quando a seca não mata/ a chuva arrasa” (Joãozinho Ribeiro), e foi além. Tendo participado de diversos festivais desde seu lançamento, há quase um ano, acaba de ser selecionado para mais um: o Curta Kinoforum, o Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo, que em 2011 chega a sua 22ª. edição.
O festival acontece na terra da garoa entre 25 de agosto e 2 de setembro e os filmes que integram a mostra competitiva poderão, antes, ser vistos, baixados e votados pela internet, fiquem ligados.
Este blogue já pendurou Aperreio acá em duas partes.
Maranhão quilombola: olhares do cinema na década de 1970
[Não costumo pendurar releases acá. Mas quebro a regra, pois o assunto vale a pena e estes dias a correria não tem sido pequena]
Mostra de documentários de Jean-Pierre Beaurenaut e Murilo Santos
Nos dias 20 (quarta) e 21 (quinta-feira), às 19 horas, na Aliança Francesa (Rua do Giz, Praia Grande), o fotógrafo e cineasta Murilo Santos apresenta dois documentários realizados em meados da década de 1970 sobre comunidades negras rurais. No primeiro dia será exibido o documentário Le Bonheur Est Là-bas, em face, um média metragem (filmado em película 16mm) do cineasta francês Jean-Pierre Beaurenaut e, no segundo dia, A festa de Santa Teresa, um curta metragem de autoria de Murilo Santos, filmado em película Super-8 – ambos os documentários podem ser considerados as primeiras obras cinematográficas a abordarem comunidades negras rurais no Maranhão.
Em 1975, Murilo Santos, então cinegrafista da TV Educativa do Maranhão, teve como professor de cinema Jean-Pierre Beaurenaut, cujas influências o inspiraram em seu trabalho no que tange à forma de fazer documentário, num período também de grande culto ao etnólogo e cineasta francês Jean Rouch. Jean-Pierre filma alguns personagens da comunidade de Ariquipá, antigo engenho e fazenda de cana de açúcar no município de Bequimão, que se deslocam para São Luís em busca de melhores condições de vida – o subemprego surge como única alternativa. O título Le Bonheur Est Là-bas, em face traduz a frase de um dos personagens ao justificar seu êxodo para a cidade: “a felicidade está lá na frente”.
O documentário de Murilo Santos foi realizado no município de Alcântara, na comunidade quilombola de Itamatatíua – não muito distante de Ariquipá – e aborda a tradicional Festa de Santa Teresa. Ao contrário do filme anterior, este documentário enfoca a comunidade num período em que seus moradores, residentes em São Luís, retornam ao seu local de origem para a festa. O documentário A Festa de Santa Teresa conta com a participação da antropóloga Maristela de Paula Andrade e de Joaquim Santos que, nessa época, iniciava suas pesquisas no campo da etnomusicologia. A equipe de Jean-Pierre Beaurenaut teve como diretor de fotografia o cineasta Yves Billion, autor de Guerra de Pacificação na Amazônia (1973).
Os dois filmes trazem em seus cenários reais algumas preciosas particularidades. No filme de Murilo Santos o destaque, quanto à raridade de imagens, vai para as cenas do baile em Itamatatíua, ao som de uma das primeiras radiolas de reggae. Em Le Bonheur Est Là-bas, em face Jean-Pierre mostra um antigo engenho de cana de açúcar na baixada maranhense, cujas máquinas vindas de Liverpool na Inglaterra ainda funcionavam. Outras imagens preciosas em seu filme são locais da capital, hoje completamente transformados, como a região do cais da Praia Grande, o bairro do João Paulo com o Cine Rex ainda em funcionamento e o trem trafegando pela antiga Estrada da Vitória, desde a estação da Rffsa (Rede Ferroviária Federal S/A) na região, onde hoje se situa a Praça Maria Aragão.
Desde então, Murilo Santos não teve mais contato com seu ex-professor Jean-Pierre Beaurenaut, embora tenha estado no Brasil em 1990 para filmar, juntamente com Jorge Bodanzky e Patrick Menget, A Propos de Tristes Tropiques, documentário sobre Claude Lévi-Strauss, com foco em sua presença no Brasil entre 1935 e 1939.
Durante anos Murilo Santos alimentara a esperança de obter uma cópia do filme francês e exibi-lo em Ariquipá, porém, recentemente soube do lançamento na França do documentário de Beaurenaut e conseguiu adquirir uma cópia em DVD. O interesse de Murilo Santos com a comunidade de Ariquipá se dá a partir de um documentário sobre o reggae, para o qual filmou em 1996 os funerais de Antônio José, até então um dos mais famosos Djs de radiolas de reggae, morto em acidente de trânsito. Além disso, Antonio José – “O Lobo” da radiola “Estrela do Som” – era sobrinho de Pedro Silva “Calango”, líder sindical que Murilo Santos conhecera na década de 1970 quando produzia materiais audiovisuais para as ações educativas da Comissão Pastoral da Terra.
Pedro Silva e outro companheiro de Ariquipá aparecem ao lado do cineasta Jean Pierre Beaurenaut, na fotografia deixada pela equipe francesa durante as filmagens 1975. Esta imagem, ainda hoje existente na comunidade, é uma espécie de relíquia, que durante décadas parece corporificar a esperança de seus moradores de um dia ver as imagens filmadas pelo francês, especialmente os mais antigos.
A programação do evento na Aliança Francesa inclui fotografias e outras peças audiovisuais que ilustram o relato da experiência empreendida por Murilo Santos ao levar, de forma voluntária, esses dois filmes às comunidades, em 2008 e 2010, possibilitando um encontro dos personagens com suas imagens “congeladas” em películas cinematográficas por mais de 30 anos.











