Ficção barata

 

Os efeitos especiais são inversamente proporcionais à qualidade do roteiro. Como se uma dose exagerada daqueles pudesse sustentar a fragilidade deste.

De Uma dobra no tempo [Fantasia/ficção científica, EUA, 2018, 120 min.], megaprodução da Disney, salva-se apenas a mensagem para que crianças e adolescentes acreditem em seu potencial. E olhe lá! De resto, é uma mistura de ficção científica barata, aventura juvenil e autoajuda.

O argumento é frágil: o cientista Alex Murry (Chris Pine) desaparece ao descobrir a tal dobra no tempo do título do filme e fazer uma viagem no tempo e no espaço. Some sem deixar rastro, passando por pai desnaturado, deixando os filhos à mercê da gozação de colegas no colégio e diante do próprio sofrimento e da mãe, a também cientista Kate Murry (Gugu Mbatha-Raw).

É aí que, “acreditando em si próprios”, após visitas de estranhos seres mágicos dotados de erudição barata e nomes estranhos (Sra. Qual, interpretada por Oprah Winfrey; Quequeé, por Reese Witherspoon; e Sra. Quem, por Mindy Kaling), os filhos – Meg (Storm Reid) e Charles Wallace (Deric McCabe), um superdotado de seis anos –, mais o colega Calvin (Levi Miller), partem em busca do próprio pai embarcando também na tal dobra do tempo.

Baseado no livro homônimo de Madeleine L’engle, ao filme da diretora Ava DuVernay não faria mal meia hora a menos. Para quem ainda não descobriu dobras no próprio tempo, melhor aproveitá-lo de maneira mais útil.

A insubmissa

Magda. Capa. Reprodução
Magda. Capa. Reprodução

 

Negra, nordestina e lésbica, Magda [Quadrinhos na Cia., 2016, 144 p.; leia um trecho] é um misto de ser humano, robô e inseto na ficção científica homônima de Rafa Campos Rocha.

Misto é modo de dizer: na verdade, o corpo de Magda é ocupado por um ser com milhões de anos de idade. A fusão, ao mesmo tempo em que a torna poderosa e monstruosa, envolve-a em conflitos.

Uma epidemia se abate sobre o lugar e é dos possuídos pelo vírus que Magda se alimenta. Seus atributos físicos lembram um pouco os da protagonista de Deus, essa gostosa [Quadrinhos na Cia., 2012, 88 p.], também uma mulher negra.

Diversas referências permeiam a obra – A metamorfose, de Kafka, é apenas a mais óbvia: aqui e acolá aparecem Pavement, Fábrica de Animais, Paulo Vanzolini e até mesmo Patati e Patatá. Sobram críticas à nossa sociedade contemporânea, seu preconceito, hipocrisia e caretice, ao militarismo e ao impeachment da presidenta Dilma Rousseff.

Perturbador, Magda se equilibra entre cenas de extrema violência e momentos de pura doçura – é sublime a sequência do banho com a namorada.